TOP 50 de discos de 2004 – # 01-10

# 01. Elliott Smith
(From a Basement on the Hill)

Com este lançamento póstumo, Elliott Smith prova que foi um dos melhores letristas da geração atual. From a Basement on the Hill é tão expressivo quanto seus discos anteriores – um encontro da música dos álbuns XO e a delicadeza de Either/Or.
Começa com um silêncio, interrompido por riffs de guitarras e bateria pesada, logo encontrando consolo na voz do cantor. Do belo piano que dá início a “King´s Crossing” ao violão dedilhado de “Memory Lane”, cria-se uma obra de adeus fundamentada em letras melancólicas proporcionando um conceito de que o (aparente) suicídio de Smith é resultado de uma vida infeliz. Frases como “This is not my life it’s just a fond farewell to a friend / it’s not what I’m like…” vêm a ser fantasmas que perseguem o seu ouvinte.
É provável de que agora em diante, seu nome seja alvo de vários exploradores do mercado fonográfico com “fetiche” ($$$) em lançar trabalhos póstumos.

Dica de download: “Fond Farewell”, “King´s Crossing” e “Pretty (Ugly Before)”

# 02. Joanna Newsom
(The Milk Eyed-Mender)

Na primeira audição o disco de Joanna Newsom soa estranho pela sua voz – imagine uma criança tentando bancar a Cerys Matthews e a Kate Bush. Por outro lado, sem o vocal de Newsom este poderia ser um álbum comum, mas não é. A garota de 21 anos, antes de ingressar na carreira artística, tocava harpa em festas de casamentos e aqui traz o instrumento como destaque. Impossível não admirar faixas como “Bridges and Balloons” ou “Sprout and the Bean” com os belíssimos arranjos. E se “This Side of the Blue” mixa uma guitarra deslizante junto a um orgão, o que dizer da sublime “Peach, Plum, Pear” na qual a voz rasgada de Newsom procura sintonia no cravo e nas crianças que a acompanham na canção?
Há uma beleza peculiar em The Milk-Eyed Mender que poucos reconhecerão.

Dica de download: “Sprout and the Bean”, “Sadie” e “Peach, Plum, Pear”

# 03. Juana Molina
(Tres Cosas)

Juana Molina é uma argentina que obteve prestígio internacional em 2003, com o seu segundo álbum (Segundo), e agora retorna com o seu delicado Tres Cosas. Tudo indicava que seu disco seria produzido para ser cantado em língua inglesa, porém a jovem optou em manter o espanhol. A voz suave de Molina não se perde em seu sotaque (pouco carregado comparado a outros artistas hispânicos) proporcionando uma atmosfera de fascinação. Musicalmente, trata-se de um pop sofisticado agregado a melodias eletrônicas eficientes (sem ser artificial) acompanhadas de violão e teclados.

Dica de download: “Tres Cosas”, “No Es Tan Cierto” e “Sálvase Quién Pueda”

# 04. Regina Spektor
(Soviet Kitsch)

De desconhecida à talentosa cantora – assim é Regina Spektor. A menina que saiu da Rússia aos dez anos de idade, para morar nos EUA com a família, pode ser considerada uma garota de sorte. Isso pelo fato de ter aberto alguns shows dos Strokes e ainda dividir a faixa “Modern Girls & Old Fashioned Men” (um b-side do single “Reptilia” do grupo) com Julian Casablanca. O estilo de Spektor é mutável como seu piano – algumas vezes audaciosa (Poor Little Rich Boy ou o interlúdio “Whisper”), sarcástica (“Ghost of Corporate Future” / “Ode to Divorce”) ou simplesmente energética (“Us”). É seu vigor e espírito criativo que fazem de Soviet Kitsch impecável. Agora é esperar e ver o que 2005 reserva à ela.

Dica de download: “Carbon Monoxide”, “Poor Little Rich Boy” e “The Ghost Of Corporate Future”

# 05. Björk
(Medúlla)

Björk poderia muito bem lançar um disco na linha de Post, Homogenic ou Vespertine, mas não. Inicialmente o trabalho soa difícil, mas após ter o ouvido acostumado, Medúlla é uma peça rara e reflexiva na carreira da cantora – concluindo que sonoridades originais e inovadoras perseguem o seu estilo. Os instrumentos praticamente saem de cena para que as vozes – da própria Björk, seus convidados ou do coral que a acompanha dêem estabilidade ao álbum. “Ancestors” apresenta um piano minucioso impondo-se a variações vocais, supiros e respirações. Do solo vocal de “Show me Forgiveness à participação de Mike Patton em “Where Is the Line”, “visionária” continua sendo o segundo nome da cantora.

Dica de download: “Ancestors”, “Where Is The Line?” e “Oceania”

# 06. Juliana Hatfield
(In Exile Deo)

Este é o melhor disco da carreira de Juliana Hatfield – que não lançava nada desde 2000. “Get in Line” é rápida, pesada, virtuosa e com um fantástico solo de guitarra. As baladas “Forever” e “Tomorrow Never Comes” seguram bem o disco – a primeira no estilo da cantora, enquanto a outra trata-se de um cover (de Dot Allison) melhor do que a versão original. Se a carreira de Juliana estava estagnada, In Exile Deo é uma reviravolta em sua vida artística.

Dica de download: “Tomorrow Never Comes”, “Get in Line” e “Tourist”

# 07. Nellie McKay
(Get Away From Me)

Get Away From Me (título irônico em relação ao multiplatinado disco de Norah Jones) é composto de jazz, soul, blues, dance pop, hip-hop e sim, muitos palavrões – visualize um Eminem clássico de saias. “David” trata do amor platônico de uma adolescente obcecada pelo professor (“David don’t you hear me at all / David won’t you give me a call / Waitin’ here not making a sound / David come around”), “Manhattan Avenue” passeia pelo jazz, “Sari” é um hip-hop regado de questões pessoais e políticas (como a fraude das eleições nos EUA em 2000, “at our own supposed sabotage of the elections at home”) e “Waiter” remete Pet Shop Boys (!!). McKay, com certeza, é uma das revelações mais importantes do ano.

Dica de download: “Sari”, “Toto Dies” e “Waiter”

# 08. I Heart Huckabees
(Trilha Sonora)

Jon Brion é um artista completo. Dedica-se à carreira solo, produz outros artistas (como Aimee Mann – aqui a faixa “Revolving Door” lembra a cantora) e se não bastasse ainda arranja tempo para fazer trilhas sonoras magníficas (algumas de seu currículo são: Magnólia, Embriagado de Amor e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças). Existe uma genialidade que cerca as composições de Brion – sempre únicas e excepcionais, harmonizando sons inocentes em tramas complexas.

Dica de download: “Knock Yourself Out”, “Didn´t Think It Would Turn Out Bad” e “Monday”

# 09. Loretta Lynn
(Van Lear Rose)

Nos anos anos 60/70, Loretta foi uma das cantoras mais famosas da country music e suas canções lideravam as paradas. Nos anos 90, aposentou-se da indústria para cuidar do marido doente e, conseqüentemente, foi caindo no esquecimento. Tentou voltar em 2000 com um disco de pouquíssima divulgação, mas 2004 lhe reservou algo especial. Juntou forças a Jack White (do White Stripes e admirador do trabalho da cantora) – responsável pela produção do álbum – e lançou o aclamado Van Lear Rose. O encontro de gerações resulta no estilo clássico de Lynn em parceria à agilidade de White. Não apenas sustentado de country, o álbum permite Loretta a aventurar-se no rock (“Mrs. Leroy Brown”). É de admirar a coragem desta senhora de setenta anos.

Dica de download: “Portland Oregon”, “High on the Mountain Top” e “Miss Being Mrs”

# 10. The Killers
(Hot Fuss)

Direto de Las Vegas, o grupo tem a sua estréia com este Hot Fuss – acabaram não tendo a sorte do Franz Ferdinand de serem a mais nova banda queridinha de todos. Embarcam em influências dos anos 70/80, tendo como diferencial ritmos mais dançantes. O som do The Killers é um encontro de Duran Duran, The Cure, New Order e Smiths jogados dentro do mesmo estúdio. A combinação apesar de extravagante, não poderia ser mais perfeita. São guitarras tocadas ao lado de sintetizadores remetendo a era new wave. Experimente ouvir “Smile Like You Mean It” e “Somebody Told Me, caso não gostar… desista.

Dica de download: “Smile Like You Mean It”, “Somebody Told Me e “Andy, You’re a Star”