TOP 50 de discos de 2005 – # 01-10

# 01. Fiona Apple
(Extraordinary Machine)

Foram campanhas de libertação (FreeFiona) e versões não oficiais vazando na internet de um trabalho que estaria pronto desde 2003. No entanto, este encontrava-se arquivado nos prédios da Sony por não ser comercial o suficiente, de acordo com os seus executivos. O sucesso (comercial via rede) fez com que a gravadora corresse atrás do tempo perdido e desengavetasse “a máquina extraordinária de Fiona Apple” com a assistência do produtor Mike Elizondo (grande nome do gênero hip hop).

As canções, escritas em sua maioria após o fim do relacionamento da cantora com o diretor Paul Thomas Anderson (de Magnólia), são introspectivas, tristes e esperançosas. “Extraordinary Machine” e “Better Version of Me” apresentam uma Fiona que acredita em si, mesmo quando um homem consegue desapontá-la (“Get Him Back”) ou/e sente-se desnorteada pelo romance na sensibilidade melódica de “Red Red Red”.

O piano solitário de “Parting Gift” permite apreciar a voz inconfundível e rasgada da artista numa composição pessoal. Outros momentos são intensos (“Window”), frenéticos melodicamente (“Not About Love”) e particulares (“Oh Well”), fazendo deste o trabalho mais acessível de Apple e com suas melhores composições (letras) até então.
Recentemente questionada sobre a origem do título do álbum, ela simplesmente respondeu: – “Sou eu”. Alguém ainda duvida disso?

Dica de download: “Red Red Red” (), “Tymps” (The Sick In The Head Song) () e “Not About Love” ()

# 02. Sufjan Stevens
(Illinois)

As canções de Sufjan Stevens, trabalhando de forma eficaz o seu folk-pop, injetam doses de emoção e melancolia. Illinois conta com excepcionais arranjos e instrumentações. Abre com uma faixa conduzida por um piano e flauta até que a voz doce do artista faça o disco fluir. A partir daí, somos conduzidos por paisagens em “Chicago” e apresentados à personagens nas faixas “John Wayne Gacy, Jr” – uma das canções mais bonitas e delicadas, retratando de forma sensível a história de um serial killer – e “Casimir Pulaski Day” sobre uma garota que desenvolve um tumor nos ossos.
O espírito-irônico também tem espaço entre as vinte e duas canções, como: “Come On! Feel The Illinoise” e The Man Of Metropolis Steals Our Hearts” – uma delícia pop dedicada ao Super-Homem, já que dizem que Metropolis fica em Illinois. Um resgate histórico de um estado norte-americano, cantado de forma épica.

Dica de download: “John Wayne Gacy, Jr.” (), “The Man of Metropolis Steals Our Hearts” () e “Concerning The UFO Sighting” ()

# 03. Yann Tiersen & Shannon Wright
(Yann Tiersen & Shannon Wright)

Shannon Wright é conhecida por suas canções a la Elliott Smith. Yann Tiersen por suas contribuições em trilhas sonoras. O projeto em questão é magnífico. “No Mercy for She” é conduzida por um clima sombrio e de fraqueza nos acordes, cordas e voz sussurrada de Wright. “Dragon Fly” tem uma atmosfera francesa em seu acordeão, mas sem o ânimo comum das composições de Tiersen. “Ode to a Friend” e “Sound the Bells” são energizadas pelo piano – na primeira apresentando tons de valsa, enquanto que a outra passa a ser peça delirante. Já “While You Sleep”, com os violinos arranhados, traz uma artista bebendo na fonte de PJ Harvey. A química da poesia de Wright nos arranjos expressivos de Tiersen resultam em obra-prima.

Dica de download: “No Mercy for She” (), “While You Sleep” () e “Dragonfly” ()

# 04. The New Pornographers
(Twin Cinema)

O New Pornographers é uma banda indie-rock que acerta em cheio neste Twin Cinema. As composições seguem um caminho (pop) turbulento estruturado nos vocais da nova integrante (a vocalista e pianista Kathryn Calder, sobrinha do líder da banda) e na presença sublime de Neko Case (“These are the Fables”).
As texturas sonoras de guitarras eficientes (“Sing Me Spanish Techno”), piano insistente (“The Bones of an Idol”) e canções simples de alto calibre harmonizam formidavelmente aqui. É um pop selvagem que deixa marca por aonde soa.

Dica de download: “Sing Me Spanish Techno” (), “These are the Fables” () e “Use It” ()

# 05. Kanye West
(Late Registration)

Conclusão: Há vida inteligente no cenário hip hop. Late Registration, segundo trabalho de Kanye West, apresenta uma estética “pop” – com o auxílio do produtor Jon Brion (Aimee Mann e Fiona Apple) dando pitadas nos arranjos inconfundíveis (“Gone”).
West acerta nas participações do canastrão Adam Levine (do Maroon 5) na singular “Heard´em Say”, Jamie “Ray Chales” Foxx na vibrante “Gold Digger”, Brandy na deliciosa “Bring Me Down” e Jay-Z mixando “Diamonds from Sierra Leone”. Suas composições abordam preconceito, critica a sociedade (“Crack Music”) e encontra suporte na família (“Hey Mama” e “Roses”). Este é mais um clássico na carreira do próprio artista.

Dica de download: “Gone” (), “Touch the Sky” () e “Hey Mama” ()

# 06. M.I.A.
(Arular)

M.I.A. é uma das melhores revelações do ano. Arular é estranho, virtuoso e sensual. Ficar parado passa a ser tarefa impossível. “10 Dollar” alcança originalidade no vocal versátil (“Oh-oh oh-oh oh-oh hey hey”), “Sunshowers” na percussão tribal e “Bucky Done Gone” no batidão funk carioca. No entanto, diante de tanta excitação, há força política nas composições de Maya Arulpragasam. Um exemplo é “Fire Fire”, na qual relata a guerra no Sri Lanka e a militância do pai.
M.I.A. fascina (“Pull Up the People”) seu ouvinte com criatividade e composições envolventes (“Galang”).

Dica de download: “10 Dollar” (), “Hombre” () e “Pull Up the People” ()

# 07. Clap Your Hands Say Yeah
(Clap Your Hands Say Yeah)

A mistura entre o elétrico e acústico faz com que muitos digam que o Clap Your Hands Say Yeah é o novo Arcade Fire. A banda praticamente mistura influências neste belíssimo registro. O vocal de Alec sugere de cara David Byrne (Talking Heads), como revela em “Let The Cool Goddess Rust Away”. A interferência new wave (“Over and Over Again”) e pop 80´s (“In This House on Ice”) também estão presentes. O álbum tornou-se sucesso graças a divulgação feita na internet, através de blogs, e apresenta um grupo com muito a fazer pela música.

Dica de download: “Let the Cool Goddess Rust Away” (), “Over And Over Again” (Lost And Found) () e “Details of the War” ()

# 08. Antony and The Johnsons
(I Am a Bird Now)

A voz de Antony, capaz de falsetes invejáveis e comparada a de Nina Simone, causa sensação de tristeza neste trabalho classificado como pop de câmara. A dramaticidade não está apenas no vocal, mas na orquestrações e acordes de piano (“For Today I am a Boy”). As participações contribuem muito ao projeto na serenidade de Rufus Wainwright (“What Can I Do?”), na leitura de um poema na voz de Lou Reed (“Fistful of Love”) ou em um abatido Boy George (“You Are My Sister”). O disco foi o grande vencedor do Mercury Prize, um dos prêmios mais importantes na Europa, deste ano.

Dica de download: “Hope There’s Someone” (), “What Can I Do?” () e “For Today I Am A Boy” ()

#09. Nikka Costa
(can’tneverdidnothin’)

can´tneverdidnothin´ é provocativo, ousado, sexy e o mais importante: rock – comparado ao seu antecessor. Há popices ao longo de 45 minutos, como o primeiro single “Till I Get to You” – um funk, rock pop de primeira com a colaboração de Lenny Kravitz na bateria. No entanto, são faixas como “can´tneverdidnothin” e “On & On”, principalmente a segunda, que demonstram uma identidade que falta no álbum anterior da cantora: algo mais concreto em guitarras e percussão, deixando os samples de lado.

Dica de download: “Can´tneverdidnothin´” (), “Fooled Ya Baby” () e “I Gotta Know” ()

# 10. Maria Taylor
(11:11)

Maria Taylor, do sensacional Azure Ray, arrisca-se em seu primeiro disco solo – saindo da sombra do grupo. As melodias precisas de cordas ajustam-se com seu vocal frágil e versátil. Em momentos sussurra de forma angelical “Irei esperar por você, mas por favor venha logo” na estrutura folk de pulsação eletrônica de “Leap Year”. Outras, canta de forma a la Jem a dançante “One for the Shareholders” e remete Patsy Cline no country arrastado por um banjo de “Speak Easy”. As batidas acústicas de “Xanax” e “Hitched” (uma composição que parece ter saído de um disco de Cat Power) são bons momentos. 11:11 é uma miscelânia que funciona.

Dica de download: “Leap Year” (), “Speak Easy” () e “Song Beneath”