TOP 15 – Filmes de 2005

#01. Ninguém Pode Saber

Ninguém Pode Saber é baseado em fatos reais e mostra de forma crua, num piscar de olhos, a infância perdida.
Quatro irmãos mudam-se com a mãe para um pequeno apartamento em Tóquio. Em seguida, as crianças são “abandonadas” pela responsável e é tarefa do primogênito (de 12 anos) cuidar das crianças. O longa deixa o espectador com um nó na garganta e apreensivo, na tentativa de fazer algo por aqueles pequenos.
Yûya Yagira, ganhador do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes, e o elenco infatil são magníficos e de uma ingenuidade “adulta” incrível. Já o diretor Hirokazu Koreeda, de Depois da Vida, desenvolve suas personagens de forma astuta, eficiente e lida de forma extraordinária com os atores mirins.

#02. Sideways – Entre Umas e Outras

Miles Raymond (Paul Giamatti) é um escritor / especialista em vinhos / professor que nunca teve seu romance publicado. Com o casamento de seu melhor amigo Jack (Thomas Haden Church) se aproximando, decide presenteá-lo com uma viagem pelas vinículas da Califórnia – uma espécie de adeus à vida de solteiro que os dois (quarentões) acham necessário. É neste passeio que ambos conhecem mulheres que vão fazer com que seus mundos ganhem novas perspectivas. Miles fica fascinado com a adorável garçonete Maya (Virginia Madsen, dona das melhores frases) e seu conhecimento em vinhos, enquanto Jack seduz Stephanie (Sandra Oh) de forma rápida com suas “falsas” juras de amor. É engraçado e verdadeiro como uma semana pode mudar a vida de todas as personagens. Deixar com que planos praticamente concretizados sejam abalados na estrutura. Sideways trata disso: um novo olhar. Uma nova vida. E mais uma garrafa de vinho.

#03. Crash – No Limite

O premiado roteirista de Menina de Ouro, Paul Haggis assina o roteiro e a direção deste Crash – No Limite. Um filme que poderia ser mais um exemplo de várias histórias que se interligam, no entanto torna-se complexo ao abordar questões raciais – não apenas entre brancos e negros, mas também latinos, orientais, árabes,…; A direção cuidadosa de Haggis obtem atuações inesperadas e promissoras de Sandra Bullock, Matt Dillon e Thandie Newton (os dois últimos, com uma das melhores cenas do ano). Resumindo o projeto em uma palavra: intensidade.

#04. Menina de Ouro

Apesar dos clichês (tratando de um “filme de esporte” são quase inevitáveis!), estes são administrados de forma cuidadosa pela lente de Clint Eastwood. Os conflitos das personagens faz Menina de Ouro ser admirável. As lutas representam dramas superados a cada oponente que Maggie (Hilary Swank) leva ao chão, escolhas são tomadas e conselhos de seu treinador seguidos. Se a personagem de Swank encontra a figura paterna em Frank (Eastwood), é o amor de uma filha que ele recebe em troca. Mais do que a brutalidade dos ringues, Menina de Ouro é humano e surpreendente da metade em diante – para aqueles que pouco sabem da história, como foi meu caso.

#05. O Jardineiro Fiel

Com a responsabilidade de dirigir um filme à altura de Cidade de Deus – que mostrou o trabalho do cineasta Fernando Meirelles ao mundo – esta adaptação do livro homônimo de John Le Carré apresenta roteiro bem desenvolvido e uma Rachel Weisz fenomenal. Tecnicamente, encontra resultado na montagem e na fotografia de constrastes, permitindo que o diretor brasileiro conquiste mais uma vez o mercado internacional. Um thriller de denúncia que resulta em uma bela história de amor, principalmente nos últimos minutos de película.

#06. Maria Cheia de Graça

O diretor Joshua Marston abala seu espectador quando insere sua protagonista na realidade das mulas – pessoas que ingerem drogas para contrabadear. Mesmo grávida, Maria (uma garota de 17 anos) desiste do “namorado” e da vida nos arredores de Bogotá, onde trabalha sendo mal-paga para cortar espinhos de rosas, em busca de uma vida melhor – o tal “amerian dream”. Mérito de Catalina Sandino Moreno, em atuação comovente e inquieta, e do roteiro de Marston que permite o pequeno projeto caminhar com suas pernas.

#07. Flores Partidas

Flores Partidas é delicado e de personagens fascinantes. Don Johnston (Bill Murray, em interpretação anestesiada) passa horas sentado no sofá de casa assistindo à TV e leva uma vida pacata. Seus dias ganham sentido quando é deixado pela namorada (Julie Delpy) e recebe uma carta anônima da cor rosa. O conteúdo desta: ele tem um filho de 19 anos. Agora, resta a Don fazer contato com as suas ex-amantes para descobrir o paradeiro de seu filho desconhecido. O elenco feminino, desde Sharon Stone a Jessica Lange, é sensacional. Já o ator Jeffrey Wright, como o vizinho “detetive”, garante as melhores piadas. E o diretor Jim Jarmusch filma um dos melhores finais do ano nesta comédia dramática que dosa os dois elementos na medida certa.

#08. Sin City – A Cidade do Pecado

O visual noir, a violência e o roteiro fiel aos quadrinhos de Frank Miller, faz de Sin City uma das melhores adaptações de gibis para a tela grande. Os anti-heróis, as prostitutas e a corrupção quando detalhadas em cores, num projeto produzido em preto-e-branco, causam delírio aos olhos. E por quê ninguém dá o crédito merecido a Mickey Rourke?

#09. Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais

Com tantas animações digitais sem a menor graça chegando em massa aos cinemas, surge uma luz “artesanal” no fim do túnel. O animador britânico Nick Park (A Fuga das Galinhas) realiza o primeiro longa dos seus dois personagens mais carismáticos: o invetor Wallace e seu fiel cão Gromit – bonecos de massinha de modelar com digitais “na cara” sem a menor preocupação. Esses ganham vida num roteiro bem elaborado que contagia crianças e adultos. O filme deve marcar presença na categoria de animação do próximo Oscar e ainda “papar” o prêmio facilmente.

#10. Mar Adentro

Um homem lutando pelo direito de morrer. As visões do tema são expressadas através de seus personagens. Temos a advogada que luta pela causa (Belén Rueda), uma operária (Lola Dueñas, excelente) que acredita que a vida é sagrada ou a negação/apoio da família – responsáveis por Ramón. Grande parte do projeto se passa em lugares fechados (dentro de casa), mas é a atuação de Bardem que sustenta o longa de forma esplendorosa. Tratando de um tema delicado, a eutanásia, Mar Adentro oferece muita vida ao seu personagem principal e aos coadjuvantes.

#11. Casa Vazia

O amor não se fala, sente-se. E os dois protagonistas de Casa Vazia são assim. Entendem-se sem as palavras, através do olhar numa relação praticamente impossível. Ele invade casa de estranhos (nunca leva objetos e faz pequenos consertos nas residências), aproveitando o “conforto dos lares”. Do outro lado, temos uma mulher solitária, infeliz com o casamento e que apanha do marido. Ambos se encontram quando a casa da moça é invadida e uma relação de aproximação se inicia. Um trabalho delicado com mensagem simples: a vida pode ser melhor. Tanto para ele, que pretende não invadir mais casas, como para ela que não quer conviver ao lado da pessoa que não ama. Um dos romances mais belos e engraçados que presenciei na tela grande.

#12. O Aviador

O Aviador começa engatilhado, numa curta cena de abertura, na super-produção cinematográfica Hell´s Angels. Há uma preocupação de limitar a história em uma fase da vida do milionário / diretor / aviador. As aventuras com os aviões, batalhas com a Pan Am e os affairs são bem explorados; mas é o nome de Hughes e sua essência na história de Hollywood onde o público encontra grande identificação. São quase três horas que passam voando (para alguns) e um dos fatores, que contribuem, é a ótima Katherine Hepburn criada pela atriz Cate Blanchett. Quanto a Leonardo DiCaprio, o ator mostra-se maduro para o papel, construindo muito bem a sua personagem, principalmente quando os transtornos psicológicos ganham proporções preocupantes na vida de Hughes.

#13. Marcas da Violência

É o trabalho mais fácil de compreender de David Cronenberg – diretor de A Mosca e outras bizarrices. Após evitar um assalto e matar, em legítima defesa, dois criminosos, Tom Stall (Viggo Mortesen) tem sua vida transformada pela mídia e vira herói na pequena cidade onde reside. No entanto, o ato de coragem faz com que acontecimentos e pessoas estranhas comecem a perseguir o “herói” local. Tudo piora com a chegada de um sujeito misterioso, que acredita que Tom lhe fez mal no passado. Agora, sua vida começa a virar de cabeça para baixo e abalar as estruturas de família “perfeita” que tem. A atriz Maria Bello é jóia rara entre as atrizes do ano.

#14. Tentação

Tentação toca numa ferida delicada: a traição. Jack (Mark Ruffalo) é um professor casado com Terry (Laura Dern, de Jurassic Park), mãe dedicada de duas crianças. É de se notar que com o passar dos anos, a relação entre os dois esfriou. O mesmo acontece com os seus melhores amigos: o casal Hank (Peter Krause, da série A Sete Palmos) e Edith (Naomi Watts). Hank é um escritor que não consegue escrever seu novo romance, enquanto Edith, a melhor amiga de Terry, dá suas escapadas com Jack – o que fica claro nas primeiras cenas do longa.
“Fico pensando como seremos pegos”, diz Edith ao amante após delicada cena de sexo na floresta. Filme pequeno de grandes atuações, principalmente de Dern, que assim como ferida exposta só o tempo cicatriza e imprime as devidas marcas.

EMPATE:

#15. Closer – Perto Demais

Adaptação da polêmica peça homônima de Patrick Marber, Closer – Perto Demais busca força não apenas em seu roteiro bem escrito, mas em seu elenco. Em qual outro momento você poderia assistir Julia Roberts discutir relação e comparar gosto de porra ou presenciar várias traições sem nenhuma cena de sexo? Não é filme apenas que está com você no cinema, mas te acompanha na rua, dentro do carro, em casa e quem sabe te visita no dia seguinte.

#15. O Segredo de Vera Drake

O Segredo de Vera Drake é interpretado de forma magistral por Imelda Staunton. Na medida em que o seu “segredo” é revelado aos parentes, tanto ela quanto a sua família desmoronaram de forma convincente no silêncio e no desespero contido na personagem título. Um projeto simples, lento e quieto que obtem resultado no roteiro e direção de Mike Leigh – extraindo o máximo de emoção de seus atores.