TOP 50 de discos de 2006 – # 01-10

# 01. Joanna Newsom
(Ys)

Em seu primeiro álbum (The Milk Eyed Mender), Joanna Newsom era o típico caso de ame ou odeie. A cantora/harpista apresentava acordes raríssimos e delicados auxiliados da voz incomum de tom infantil. Agora, sua habilidade instrumental ganha orquestrações luxuosas de Van Dyke Parks (responsável por Smile de Brian Wilson) nas cinco faixas que compõem Ys. Gravado por Steve Albini (Pixies e PJ Harvey) as canções variam entre 7 a 17 minutos e são acariciadas por uma aura medieval. A sensação é de que o ouvinte passa a ser conduzido pela mão a um mundo imaginário.

As fábulas criadas por Newsom apresentam estranheza e intimidade – como em “Emily” dedicada à irmã da cantora -, recriando-se melodicamente e poeticamente em seus longos minutos. Há uma densidade nas composições, nos violinos contrastados a harpa (“Cosmia”), banjos salientes (“Emily”) e orquestrações crescentes (“Only Skin”). A artista continua sendo o típico caso do ame ou odeie. Porém, Ys é mágico em suas mlodias eficientes e imagens visualmente formadas a partir do vocal renascentista da cantora.

Dica de download: “Only Skin”, “Cosmia” e “Emily”

# 02. Amy Winehouse
(Back to Black)

Back to Black é um álbum moderno com old school da Motown. Amy Winehouse aborda temas como drogas e amores perdidos em suas composições sem soar adolescente demais. O funky soul de “Rehab” garante qualidade no vocal climático e letra sobre não ser levada a uma clínica de reabilitação. Os elementos pop são desafiados ao domínio e postura clássica da artista. A qualidade gospel de “Me And Mr Jones” e as orquestrações de “You Know I´m no Good” evocam divãs como Etta James e Shirley Bassey, respectivamente. O jazz de “Love is a Losing Game”, o blues de “Wake Up Alone” e o R&B de “Some Unhole War” são peças que sustentam este clássico moderno.

Dica de download: “Wake Up Alone”, “Rehab” e “Tears Dry On Their Own”

# 03. Casey Dienel
(Wind-Up Canary)

O álbum de estréia de Casey Dienel foi gravado em uma casa abandonada, numa fazenda, com a ajuda de alguns amigos do conservatório. Ela canta, escreve suas composições e toca o piano de forma encantadora. A garota, que diz ter crescido escrevendo canções no seu quarto “de portas fechadas para que ninguém as pudessem ouvir”, traz influências de Joni Mitchell, David Bowie e Cole Porter. Suas músicas tratam de “loucura, bêbados, homens velhos, gatos e cachorros, cowboys (…) e love affairs que deram errados”. São canções de uma descrição rara e harmonias de texturas pegajosas. Não há excessos, tudo é muito bem estruturado e as gravações soam naturais – sem evidentes pressões de gravadoras.

Dica de download: “Frankie And Annette”, “Fat Old Man” e “Doctor Monroe”

# 04. Regina Spektor
(Begin to Hope)

A virtude de Regina Spektor é o estilo mutável que combina jazz, rock, R&B e música clássica. É criativa em suas composições e revela domínio ao piano que executa no pop barroco combinado a ritmos populares com audácia, sensibilidade (“Samson”) ou efervescência (“Après Moi”). Esta descendente de russos, mostra-se uma das artistas mais bem resolvidas no atual cenário musical com seu estilo próprio – seja na forma de cantar, na execução dos instrumentos que passeiam por diversos tempos na melodia ou quando volta as raízes e canta versos em russo, como acontece na faixa “Après Moi”, recitando frases do poeta Boris Pasternak, o autor do clássico Doutor Jivago.

Dica de download: “On the Radio”, “Summer in the City” e “Apres Moi”

# 05. The Raconteurs
(Broken Boy Soldiers)

O toque de Midas de Jack White está neste Broken Boy Soldier. Depois de encatar o público com o The White Stripes e renascer uma estrela apagada (Loretta Lynn), aposta num blues/rock com o amigo (e também talentoso) Brendan Benson. Os dois são a essência do The Raconteurs. Buscam referências no rock dos anos 70, eformulam a época de artistas como Led Zeppelin para contar suas histórias. Benson brilha na balada “Together”, enquanto White absorve originalidade em “Blue Veins” com seus vocais em reprodução invertida.

Dica de download: “Together”, “Hands” e “Steady as She Goes”

# 06. Cat Power
(The Greatest)

The Greatest é um dos melhores trabalhos de Power. A cantora lança seu sétimo disco de estúdio e mostra estar na grande fase de sua carreira. Carreira sólida de melodias e letras bem estruturadas. O disco, gravado em uma semana com músicos lendários de Memphis, começa com a tristeza da estrutura folk blues da faixa título. Tudo está em sintonia: o emprego de violinos de textura finíssima e crescente de “Love and Communication”, a delicadeza na voz e piano modesto de “Where is my Love?” e a levada country com influência jazz de “Empty Shell”. Obra-prima na discografia de Chan Marshall.

Dica de download: “Love and Communication”, “Willie” e “Could We”

# 07. TV on the Radio
(Return to Cookie Mountain)

De acordo com David Sytek, responsável pelos elementos eletrônicos, Return to Cookie Mountain tem por inspiração os acontecimentos apocalípticos e a sensação de fim do mundo pós-11 de Setembro. O segundo álbum do grupo mescla jazz, trip hop e rock de forma experimental. É um trabalho ousado e mais acessível que o anterior (Desperate Youth, Bloody Thirsty Babes). Há a sensação de ser uma jornada por lugares escuros (“Playhouses”), com momentos de fuga em melodias compactas (“Wolf Like Me” e “A Method”) e salvação nos vocais de David Bowie (“Province”).

Dica de download: “Province”, “I Was A Lover” e “Wolf Like Me”

# 08. Hot Chip
(The Warning)

O quinteto do Hot Chip trilha seu segundo disco à base de eletro rock, sintetizadores e letras bem humoradas. Os garotos confessam que adoram a música pop, mas não as pessoas que a fazem. E é assim que The Warning seduz: pelo pop alegre e despretensioso nas melodias dançantes com referências do anos 80 nas tecnologias e ritmos atuais. “Colours” soa uma composição de Simon & Garfunkel do século XXI, enquanto o groove pulsante de “Over and Over” indica o clima do trabalho. Um encontro entre o Beach Boys e o Kraftwerk é uma boa forma de defini-los.

Dica de download: “Over And Over”, “And I Was A Boy From School” e “(Just Like We) Breakdown”

#09. Juana Molina
(Son)

Com um estilo folk eletrônico próprio, Juana Molina encanta com seu quarto álbum. Os pequenos elementos sonoros caracterizam as composições introspectivas da cantora argentina – como o canto de pássaros inserido junto aos arranjos do violão em “La Verdad”. A artista nos transporta a um universo lúdico, no qual o experimentalismo causa sensações de conforto. O vocal suave chega a ser confundido com os sons mais minuciosos, enquanto a percussão dá vigor às melodias, como acontece na brilhante “Malherido”. Poderíamos dizer que ela é uma espécie de Björk da América do Sul.

Dica de download: “La Verdad”, “Un Beso Llega” e “No Seas Antipatica”

# 10. Junior Boys
(So This is Goodbye)

A eletrônica oitentista e os beat influenciados pelo R&B do Junior Boys remete artistas como o Depeche Mode e o Eurythmics. Tendo estas referências, o grupo mostra-se preocupado com a sensibilidade na percussão e sintentizadores. O vocal de Jeremy Greenspan expressa melancolia, agilidade quando necessário e sem soar exagerado nas lamentações – até mesmo em composições que soam animadas. Vale destacar a releitura moderna de “When No One Cares” de Frank Sinatra.

Dica de download: “FM”, “Like a Child” e “In the Morning”