Entrevista: DESAMPA

A real identidade do cantor/compositor DESAMPA é um mistério. Revela-se em suas texturas eletrônicas calculadas, acordes de piano compassivos, cordas astutas e vocal versátil que guiam suas composições sentimentais confortadas por uma eletrônica soul experimental.

Remetendo nomes como James Blake, SBTRKT e The Weeknd, o enigmático músico paulista prepara-se para o lançamento do EP Hue, o sucessor do compacto de estreia Err (2013), e conversa com o teco apple sobre identidade, influências, comparações com outros músicos, discos favoritos, o processo de produção de Hue e nossa faixa favorita do trabalho.


Quem é o “misterioso” DESAMPA? A identidade secreta ajuda ou atrapalha na divulgação?

DESAMPA: Ele é um cara legal, acho! Eu acredito que ajuda, as pessoas gostam de mistério, gostam de tentar adivinhar quem está por trás. E ao mesmo tempo faz com que foquem no que está explicito para elas, ou seja, não o meu rosto, mas sim a minha música.


De onde vem a inspiração de sua música e como a descreve?

DESAMPA: Minha inspiração vem de diversos lugares. Não sei direito dizer, é complicado. Ela pode vir quando estou estudando uma música clássica no piano, ou de alguma coisa inovadora que eu escuto, ou um quadro, foto, desenho. Raiva de alguma coisa. Eu tenho o poder de manipular a fonte da minha inspiração. Eu não consigo descrever minha música, eu acho que ela não se encaixa em nada, e é isso que eu gosto.


Comparações como o “The Weeknd brasileiro” ou “o SBTRKT tupiniquim” incomodam?

DESAMPA: Nem um pouco, eu gosto de ambos artistas pra caramba! Mas não tento ser eles, ou ninguém na verdade. Até porque as minhas composições vem de dentro, e quem criou o meu “dentro” foram meus pais, a não ser que o The Weeknd e o SBTRKT sejam meus irmãos.


O piano é o seu melhor amigo nas horas de compor?

DESAMPA: Super! Eu tenho uma relação bem estranha com o piano, não dá para explicar. As minhas músicas sempre saem dele.


Suas músicas soam como mantras (como os versos “love me deep down, don’t turn me down” em “Love?”). Acredita nisso? E o quanto a sua obra é ficcional e pessoal?

DESAMPA: Sim, eu acredito que minhas músicas estão aí para passar uma mensagem, fazer uma mudança nas pessoas. E não para serem um “hype” que as pessoas não vão mais se relacionar dentro de alguns meses. Minhas obras são pessoais.




Quais as influências na música e fora dela?

DESAMPA: Eu me influencio por tudo que me “tira do Terra”, que não seja comum. Eu quero ser único, tento trazer inovação. Eu tento ser o melhor. E isso me influencia muito fora e dentro das músicas. Em “Love?”, por exemplo, eu estava escutando bastante Etta James e Purity Ring, e a mistura dos dois, foi algo que me inspirou a compô-la. Assim como simetria e arquitetura me inspiraram também para esta e outras faixas.




Como funciona o seu processo criativo e quando sabe que uma música está finalizada?

DESAMPA: Quando assisto a um filme ou escuto uma música e me sinto inspirado, sinto um “calor interno”, eu vou para o piano e começo a tocar alguma peça de algum compositor como: Chopin ou Beethoven, e depois sequencias de acordes. Eu sinto que a música está começando a tomar forma quando meu coração começa a bater diferente. E nunca sei quando está finalizada. Acho que chega uma hora que não dá mais para mexer.


E o processo do EP ‘Hue’?

DESAMPA: Foi bem mais intenso que o processo do primeiro EP Err. Eu tinha acabado de me demitir do meu ex-emprego, então foquei 100% na música. Me alimentei de arte todos os dias, e começava a compor às 10 da manhã e só acabava umas 5 da tarde. E a noite assistia filmes que me inspirariam no dia seguinte. Ouvi bastante experimental e música eletrônica pesada. Fiquei inspiradíssimo com Yeezus. E óbvio, cores, é daí que saem as nuances de cada música e do nome do EP.


Já escutamos Hue e as canções percorrem por trilhas obscuras como se estivessem num processo de redenção. No entanto, há uma delas, “Not Afraid to Fail”, nossa favorita, que se mantêm neste caminho num apelo mais pop em seu clima sombrio eletrônico futurista com elementos do house. Poderia falar mais sobre ela em específico?

DESAMPA: Bem notado. Hue é composta por três cores diferentes que se traduzem em música para os ouvidos. Cada uma tem uma pegada diferente e transmite uma ideia diferente. No caso de “Not Afraid To Fail”, é uma cor mais quente que fala sobre não ligar para que os outros pensam e seguir seu próprio caminho, e também fala sobre poder e força. Na época, fiz uma pesquisa enorme de sonoridades eletrônicas que passariam a sensação de poder às pessoas.


Que efeito você gostaria que sua música causasse nas pessoas?

DESAMPA: Muitas pessoas dizem que minha música acalma e que faz com que reflitam sobre coisas. Mas eu não me preocupo muito com o efeito que ela causa. Espero que cada pessoa tenha uma relação distinta com minhas músicas. Sem explicação do sentido ou meu ponto de vista.




O que anda escutando ultimamente? Quais os seus discos favoritos da temporada passada e um guilty pleasure que poderia deixar de ser segredo?

DESAMPA: Escuto muita coisa, mas o que tem me “tocado” lá dentro, ultimamente, é Kelela e Blood Orange. Meus discos favoritos do ano passado são, como falei anteriormente, Yeezus do Kanye West, Reflektor do Arcade Fire, Apocalypse do Thundercat e os álbuns dos dois artistas que mencionei acima que tenho escutado. Não tenho guilty pleasures, não tenho vergonha de gostar de nenhuma música em específico.


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