TOP 15 Filmes de 2004

#01. Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembraças é um trabalho completo de direção, roteiro, atuação, edição, arte e trilha sonora. Existe perfeição em cada quadro, diálogo e interpretação. Michel Gondry (diretor) retrata o tratamento de esquecer pessoas, do qual a personagem de Jim Carrey se submete após descobrir que a ex-namorada (Kate Winslet, com tudo para ser indicada ao Oscar) fez o mesmo, como uma corrida pelos caminhos misteriosos da mente humana – e ninguém mais visionário do que Gondry, ao lado do roteirista mais criativo e maluco de Hollywood (Charlie Kaufman), para fazer isso.

#02. Antes do Pôr-do-Sol

Nove anos se passaram. Jesse e Celine se reencontram para passar mais um dia juntos, relembrarem de como se conheceram e saber o rumo que a vida de cada um tomou. Ele (Ethan Hawke) agora é um conhecido escritor, enquanto ela (Julie Delpy, simplesmente cativante, deveria ganhar uma indicação ao Oscar – que provavelmente não terá) trabalha para uma organização de proteção ao meio-ambiente. Mesmo sendo uma longa caminhada entre as ruas de Paris, a fita não se torna chata devido aos seus diálogos práticos e espontâneos – identificações acontecerão. Para quem gostou do primeiro, irá se apaixonar pela sequência.

#03. Encontros e Desencontros

Sofia Coppola retrata solidão, destino e amizade. Solidão das personagens estarem num lugar que não se identificam, destino no encontro delas no bar do hotel em que estão hospedadas e amizade ao buscarem conforto um no outro. A diretora/roteirista não conta uma história de amor convencional, e sim uma experiência única de suas personagens. Enquanto Bob (Bill Murray) encontra-se no país para atuar em um comercial de uísque, Charlotte (Scarlett Johansson) acompanha seu marido, um fotógrafo workaholic que a deixa sozinha no hotel. Ambos sofrem com o fuso horário, não conseguem dormir e juntos descobrem uma cidade que não conheciam até então. Encontros e Desencontros conta com uma belíssima trilha sonora, no mínimo obrigatória.

#04. Elefante

Em Elefante, o diretor Gus Van Sant toca em uma das feridas dos Estados Unidos: o massacre ocorrido na Columbine High School – em abril de 1999, quando dois alunos munidos de armas e bombas caseiras mataram treze pessoas e deixaram mais de vinte feridos, entre alunos e professores. É o olhar cuidadoso de Van Sant que apresenta um pouco de cada um daqueles adolescentes e a estrutura da escola (com sua câmera que passeia pelos corredores, pátios, refeitórios, salas de aula e banheiros de forma arquitetônica), fazendo de Elefante uma obra-prima.

#05. Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas

Tim Burton é um cineasta extravagante, porém Peixe Grande é um trabalho delicado, repleto de fantasia e sensível. Ed Bloom (Albert Finney) é um contador de histórias que encanta as pessoas com as suas aventuras – com excessão de seu filho Will (Billy Crudup). Mas, as coisas tomam outro rumo quando Sandra (Jessica Lange), mãe de Will, tenta aproximar os dois ao saber que o marido encontra-se doente. Há uma inocência adulta em Peixe Grande que me fez chegar em casa e escutar “Man of the Hour” aos prantos – mas aí, depende como o filme afeta cada espectador.

#06. Kill Bill

Se a vingança é um prato que se serve frio, Quentin Tarantino (ao lado de Uma Thurman) agradece por ter sido um dos nomes mais quentes do ano com o seu projeto Kill Bill. Não é para menos. A história da “Noiva”, que após cinco anos em estado de coma procura dar o troco aos seus mal feitores, é regada de kung-fu, trilha sonora excepcional, referências da cultura pop e ainda apresenta uma Uma Thurman magnífica – dando vida à personagem de sua vida. Apesar de estar dividido em duas partes, um volume acaba complementando o outro, por isso os coloco aqui como uma unidade.

#07. Os Incríveis

Se a moda é fazer filmes sobre super-heróis e seus poderes, a Pixar que não é boba entrou na onda: lançar uma fita sobre eles. Mas, aqui são seres que levam uma vida pacata como a de qualquer ser humano. Eles trabalham, têm filhos, deveres de casa,…. O Sr. Incrível era um dos maiores heróis do planeta (com direito a fã-clube), mas após salvar um executivo que tentava o suícidio, é processado e condenado a uma série de procedimentos que resultaram em uma espécie de condenação aos super-heróis. Agora, Robert (a.k.a Sr. Incrível) trabalha em uma seguradora e leva a vida de casado – ao lado de Helen (a.k.a. Mulher Elástica). Porém, uma misteriosa missão dá início a uma série de peripécias que fará a família voltar à ativa. Vale destacar uma das personagens mais “carismáticas” de Os Incríveis, a adorável Edna Mode!

#08. Na Captura dos Friedmans

O que à princípio parecia ser apenas um documentário sobre o palhaço Silly Billy, um dos mais famosos animadores de festas infatis em Manhattan, acaba se tornando em uma fita (realista e) dramática. Na realidade o palhaço é David Friedman. Quinze anos antes, os Friedmans eram uma família típica – o pai, um professor premiado, que morava com sua esposa e seus três filhos. Mas, a máscara dos Friedmans cai quando a polícia entra na casa para uma busca após denúncias. Resultado: o pai (Arnold) e seu filho de dezoito anos (Jess) são acusados de pedofilia após terem sua correspondência interceptada contendo pornografia infantil – poucas semanas depois, recebem 91 acusações por abuso sexual de oito crianças que tinham aulas de computação na casa. A riqueza do documentário está na sua narrativa e veracidade do material de cenas exclusivas (filmadas por David, na época) do clã dos Friedmans e a desestruturação da família diante dos fatos.

#09. As Bicicletas de Belleville

Apesar do exagero e o leve humor negro é impossível não ficar torcendo pela Madame Souza. Uma vovô que atravessa o oceano de pedalinho acompanhada de seu fiel cão Bruno (que rouba a atenção do espectador com seus sonhos em preto-e-branco) para salvar o seu neto – um famoso corredor de bicicleta que foi seqüestrado. O jovem está sendo levado para Belleville, onde será usado por um mafioso num sistema de apostas. É chegando em Belleville (uma cidade fictícia que serve de crítica a um lugar que você vai reconhecer) que a velhinha, sem um tostão no bolso, encontra um trio veterano e divertido de canto e dança – as irmãs Belleville. Neste momento, a fita ganha um ritmo tão gostoso que se sustenta até o final com a deliciosa trilha sonora de Ben Charest.

#10. 21 Gramas

Paul Rivers (Sean Penn) sofre de uma doença terminal e sua mulher planeja engravidar através de inseminação artificial. Cristina Peck (Naomi Watts) é casada e tem duas filhas, mas um trágico acidente envolvendo a sua família faz com que ela perca todos os sentidos pelos quais vive. Já o ex-presidiário Jack Jordan (Benicio Del Toro) e sua mulher criam dois filhos com dificuldades, ao mesmo tempo em que ele busca recuperação na palavra de Deus. Porém, um acidente envolvendo a família de Christina e Jack, faz com que a vida dessas pessoas tomem rumos diferentes e inesperados até se encontrarem. O que mais incomoda no filme de Iñarritu (e, particularmente, é o que mais chama minha atenção) é a sua edição nada linear, que vai se explicando na medida em que o longa vai chegando ao seu fim.

#11. O Outro Lado da Rua

Pode parecer primeiro uma versão tupiniquim para o clássico de Hitchcock, Janela Indiscreta. Pode, mas não é. Regina (Montenegro) é uma senhora sem muitas preocupações e tem todo o tempo do mundo para si. Para não ficar vivendo na solidão, participa de um serviço de denúncia onde aposentados se encarregam de delatar pequenos crimes – isso para ela é uma distração perfeita. Mas, em uma noite no seu apartamento, acredita ter presenciado um homem matando a esposa com uma injeção letal – a polícia diz que a morte foi natural e deixa o caso de lado. Agora resta à ela provar o contrário, nem que para isso tenha que se envolver com o suposto assassino. O longa poderia sustentar-se facilmente na premissa de Hitchcock, mas vai além disso com seu roteiro autêntico – principalmente no que diz respeito aos diálogos sobre velhice (entre “Branca de Neve e Patolina”). Fernanda Montenegro e Raul Cortez trabalham em sintonia perfeita.

#12. Adeus, Lênin!

Antes da queda do muro de Berlim, uma senhora entra em coma e fica desacordada durante os dias que deram início a uma mudança radical no país. Porém, quando desperta (em meados dos anos 90), o seu filho Alexander (Daniel Brühl, ótimo ator que tem tudo para fazer uma carreira fora da Alemanha) teme a excitação da mãe e decide esconder todos os acontecimentos – nem que para isso ele precise omitir a queda do muro e a invasão capitalista do lado alemão que vivem.

#13. O Agente da Estação

Três personalidades, vidas e características diferentes. Um anão, uma artista que sofre com a perda do filho e o dono de um trailer (espécie de lanchonete móvel). O segredo de O Agente da Estação está na forma em que as distintas personagens cativam o espectador. O projeto desenvolve uma narrativa onde a amizade entre pessoas diferentes fica em primeiro plano – e isso que torna a fita em agradável e grandioso.

#14. Monster

Monster é uma história real sobre amor e violência. O destino colocou a prostituição e o abuso na vida de Aileen Wuornos / Lee (Theron) muito cedo, transformando-a em um mulher transtornada. Perto de cometer suícidio, conhece a adolescente Selby (Christina Ricci) que mora com os tios, em um lugar onde seus pais acreditam que terão a filha lésbica “curada”. Ricci está em uma ótima atuação, apresentando uma personagem fundamental para o desenvolvimento e criação do papel dado à Theron – ganhadora do Oscar de Atriz.

#15. Diários de Motocicleta

Em Diários de Motocicleta temos Ernesto (“Che”) Guevara de la Serna (Gael Garcia,…). Estudante do último ano de Medicina que abandona a faculdade para conhecer os países da América Latina ao lado de seu amigo, Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). Os dois saem da Argentina, rumo ao norte, em uma motocicleta que quebra após oito meses de viagem. Continuam a trajetória com caronas, caminhadas, ajuda de desconhecidos (afinal o dinheiro é escasso) até serem enviados à uma colônia de leprosos, no Perú – Lá, Guevara inicia uma série de questionamentos sócio-econômicos dos lugares que conheceram após presenciar um nível de extrema desiguldade entre os povos. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla, uma mistura de ritmos latinos com guitarras calmas (experimente a faixa “Apertura”), contribue muito ao projeto.