TOP 50 de discos de 2013 – # 01-10

#01. Beyoncé
(BEYONCÉ)

Beyoncé está passos além do cenário pop. Não se trata apenas da falta de marketing para lançar um álbum visual sem aviso prévio e causar comoção mundial, mas o status de diva alcançado numa batalha constante no mundo do entretenimento. Aqui, a cantora abre um diário – nos diversos trechos nostálgicos da garotinha de Houston e com um objetivo claro – num material substancial, confessional, humano e que expõe uma evolução diante do seu antecessor 4 que pregava influências essenciais do R&B e soul.

A artista revela-se extremamente sensual e explícita com a balada R&B “Rocket” – uma versão 2.0 de “Untitled (How Does It Feel)” de D’Angelo que abre com “let me sit this ass on you” -, vulnerável a relações (“Jealous” e “Mine” com a participação de Drake) e reflete a maternidade (“Blue”). O hino feminista “***Flawless” – anos luz do plastificado “Run The World (Girls)” – fortalece a balada “Pretty Hurts” que abre o álbum e os padrões cobrados pela sociedade no competitivo mundo do showbizz. Com a boogie woogie setentista “Blow” e a vibrante “XO”, o material alcança seus momentos mais radiofônicos, mas é o pop sombrio de “Haunted” que deixaria Madonna no vácuo ou correr para uma colaboração urgente com o The Weeknd.

Com toques de hip hop e R&B contemporâneo (“Drunk in Love” e “Superpower” com Frank Ocean), chillwave (em “No Angel”) e pop, BEYONCÉ é uma verdadeira obra da arte pop.

Dica de download: “Blow” (), “Partition” () e “XO” ()

#02. Kanye West
(Yeezus)

O hip hop de Kanye West é tomado pela eletrônica abrasiva e de imperfeições propositais (“I Am a God” e “On Sight”) de deixar o rock industrial do Nine Inch Nails de queixo caído. Não faltam críticas sociais (“New Slaves” na companhia discreta de Frank Ocean), abuso de drogas (“Hold My Liquor”) e revelações sexuais (“I’m In It” com sua pegada dancehall) para montar a sonoridade epiléptica nos contos de horror do rapper. O inferno astral de Yeezus encontra paz com “Bound 2” e o sample de Ponderosa Twins Plus One, numa declaração à Kim Kardashian (“one good girl is worth a thousand bitches”), após inúmeras decepções amorosas (“Blood on the Leaves” com o sample de “Strange Fruit” de Nina Simone e “Guilt Trip”). Brincar de Deus para o egocêntrico West é tarefa fácil em Yeezus.

Dica de download: “Black Skinhead” (), “Bound 2” () e “New Slaves “ ()

#03. Rhye
(Woman)

Antes de apresentar o seu disco de estreia Woman, o Rhye apareceu misteriosamente com faixas soltas na Internet em 2012. Eram canções levadas por uma sensibilidade neo soul feminina tocante aos moldes de Sade com Everything But the Girl ambientada para amantes. Quando o produtor Robin Hannibal (do Quadron) e o músico Milosh assumiram a identidade do duo, o trabalho tornou-se ainda mais admirável por tamanha delicadeza. Cercadas de mistério e sex appeal, com o vocal andrógeno de Milosh e sintetizadores minimalistas guiados por cordas elegantes (“Shed Some Blood” e “3 Days”), suas composições revelam dores (“The Fall”) e amores como canções de ninar (“Verse” e “One Of Those Summer Days”) após uma boa noite de sexo.

Dica de download: “Open” (), “The Fall” () e “3 Days” ()

#04. Vampire Weekend
(Modern Vampires of the City)

Em seu terceiro registro de estúdio, o Vampire Weekend destrincha todas as influências de seu antecessores num material orgânico e conceitual com Nova Iorque como pano de fundo ao encarar a maturidade com uma dose de crise existencial dos 30 (“It’s been twenty years and no one’s told the truth” como cantam em “Obvious Bicycle”). Com o tique taque do relógio com bateria marcial (“Hudson”), a cavalgada indie rock western (“Worship You”), o rockabilly energético a la Buddy Holly (“Diane Young” e que soa aos ouvidos como “Dying Young”), a conversa com Deus (em “Ya Hey”) e a conjuração de influências em “Finger Back” (que soa como a “A-Punk” ou “Cousins” do disco), o grupo de Ezra Koenig compila sua carreira para debater as preocupações naturais do ser humano.

Dica de download: “Ya Hey” (), “Diane Young” () e “Step” ()

#05. Disclosure
(Settle)

Os irmãos Lawrence, responsáveis pelo Disclosure, são detentores de animar qualquer pista de dança com o seu trabalho de estreia. De forma quase erudita viajam pela década de 70 com “Defeated No More”, recebem a aura oitentista com o eletrofunk missionário “When a Fire Starts to Burn” e buscam apelo melódico no trip hop dos 90 em “Help Me Lose My Mind” calcados pela house em sua sonoridade pop moderna e de ritmos irresistíveis. Participações de artistas como Jessie Ware (“Confess to Me”), AlunaGeorge (“White Noise”) e Eliza Doolittle (“You & Me”) garantem uma identidade única ao material imaculado. No início do trabalho, os Lawrence perguntam “como você se mantém motivado no meio de tudo o que está acontecendo?” e uma audição de Settle garante a resposta.

Dica de download: “F for You” (), “Latch” () e “White Noise” ()

#06. Arcade Fire
(Reflektor)

Reflektor é como o próprio líder da banda, Win Butler, define-o: “uma mistura de Studio 54 com vudu haitiano”. Agora, acrescente a eletrônica dançante do produtor James Murphy (a mente do LCD Soundsystem) e temos o divórcio da identidade do três trabalhos anteriores do Arcade Fire. O dub de “Flashbulb Eyes”, a festa caribenha de “Here Comes the Night Time”, o rock arte (“Normal Person”) e o toque pós-punk (“Joan of Arc”) representam o primeiro ato de Reflektor que tem como feito animar o seu público. Em sua segunda parte, adotam uma postura mais tranquila e luxuosa como em “Here Comes the Night Time II” e “Supersymmetry”, dando um basta na festa para o início de uma série de revelações fúnebres (“Afterlife”). O resultado é um ato de risco e renovação após a consagração – vindos com um Grammy – de The Suburbs. E o risco vale a pena.

Dica de download: “Normal Person” (), “Afterlife” () e “Reflektor” ()

#07. James Blake
(Overgrown)

Das baladas sombrias e minimalistas sobre solidão (em “Overgrown” com seus versos “ignore everybody else we’re alone now”) e avassaladoras (como a solitária ao piano “DLM”), o segundo registro de James Blake nos leva por uma jornada emocional com seu vocal angelical. Seja na participação de RZA numa aventura hip hop de texturas eletrônicas (“Take a Fall for Me”), faixas dançantes (“Voyeur”) ou na leveza dubstep soul própria do músico que perde o controle em loops de “hmmmm’s” hipnóticos (“Digital Lion”), o artista assume a responsabilidade do temido segundo disco de estúdio e entrega um trabalho conciso e grandioso.

Dica de download: “Overgrown” (), “Retrograde” () e “Digital Lion” ()

#08. Daft Punk
(Random Access Memories)

Um dos grandes méritos de Random Access Memories está na sua lista de colaborações e como o duo do Daft Punk entra no universo de cada um de seus convidados e não o contrário. Na companhia de Giorgio Moroder apresenta a história da música disco e seus sintetizadores (na biográfica “Giorgio Moroder”), com Pharrel Williams e Nile Rodgers recriam as pistas do Studio 54 (em “Get Lucky” e “Lose Yourself to Dance”), visitam as harmonias do pianista/produtor Chilly Gonzales (em “Within”), abraçam o Julian Casablancas solo de Phrazes For The Young (em “Instant Crush”) e as psicodelias pop do Panda Bear (em “Doin’ It Right”). Em Random Access Memories, Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter são mais acessíveis do que se pode imaginar.

Dica de download: “Doin’ it Right” (), “Instant Crush” () e “Giorgio by Moroder” ()

#09. Arctic Monkeys
(AM)

O Arctic Monkeys entra numa frequência em AM disposto a lançar o álbum mais maduro de sua carreira. Em seu rock inspirado em Black Sabbath (“Arabella”) e moldado pelo R&B (“Mad Sounds”), como assumem, o quinto registro de estúdio dos amigos de Alex Turner talvez não tenha a espontaneidade de materiais anteriores, mas soa brilhante nas letras (“Why’d You Only Call Me When You’re High?”) em que o líder do grupo é submisso a amores sem perder de vista as guitarras encorpadas (“R U Mine?”) e melodias cativantes (“Snap Out of It”) que o acompanham pelas madrugadas como o rock andarilho denso com levada bluesy de “Do I Wanna Know?”.

Dica de download: “One For The Road” (), “No.1 Party Anthem” () e “Why’d You Only Call Me When You’re High?” ()

#10. Autre Ne Veut
(Anxiety)

O produtor Arthur Ashin (a.k.a. Autre Ne Veut) desconstrói o R&B dos anos 80 com sua estética pop alucinogênica de pegada eletrônica (“Ego Free Sex Free”) e de falsetes sensuais (“Play by Play”) como um Justin Timberlake indie tomando conselhos durante uma sessão de terapia. Anxiety vai do pop (“Promises”) à presença guitarras arranhadas ao melhor estilo do Sleigh Bells (“Warning”) para jogar seus dramas amorosos como um adolescente em crise (“Gonna Die” e “A Lie”), sem perder o seu ouvinte em refrões contagiantes e fazê-lo dançar de maneira libidinosa (“I Wanna Dance With Somebody”).

Dica de download: “Ego Free Sex Free” (), “Play by Play” () e “Counting” ()