#01. Sufjan Stevens
(Carrie & Lowell)
“I want to save you from your sorrow”.
Sufjan Stevens sempre mostrou-se um belo contador de histórias. Basta pegar os pequenos contos do seu álbum Illinoise de 2005. Em Carrie & Lowell, o músico resgata memórias de sua infância, na companhia da mãe e do padastro – que dão nome ao registro -, em composições maduras e confessionais dedilhadas no violão e acompanhadas de melodias bem resolvidas com o sentimentalismo devastador e complexo das obras de Elliott Smith.
Se em “Should Have Know Better” revela o abandono nos primeiros anos de vida pela mãe, que possuía um triste histórico de esquizofrenia e dependência química, até mudar-se com ela e o padastro para Oregon (“Death With Dignity”), em “The Only Thing” o músico, já em vida adulta, adota um comportamento autodestrutivo para entender a conturbada mente de Carrie após a sua morte devido a um câncer em 2012.
Carrie & Lowell traz temas pessoais na vida de Stevens como ausência familiar, arrependimentos e morte num resultado emocionante para o próprio entender-se como pessoa. É um luto real de Stevens, mas que dói a cada audição em nós.
“I forgive you, mother, I can hear you”.
Dica de download: “Should Have Known Better” (), “Drawn To The Blood” () e “The Only Thing” ()
#02. Grimes
(Art Angels)
Após ser repreendida por ter um repertório muito pop num DJ set e entristecer-se com as críticas do direcionamento que seus trabalhos estavam tomando (“Go”), Grimes rompe os padrões entre o alternativo e o pop neste libertador Art Angels. Manda indiretas para os críticos (“California”) e para fãs desacreditados (“Flesh Without Blood”) em sua odisseia cyberpunk k-pop country post rock com destaque para as participações da rapper taiwanesa Aristophanes em “Scream” e uma Janelle Monáe fora da zona de conforto em “Venus Fly”. Art Angels é um liquidificador de ideias assertivas, das guitarras genéricas de “I’m Coming Out” de Diana Ross na faixa título ao espírito exaltado com essência de Le Tigre em “Kill V. Maim”, para idolatrar a artista ‘faz tudo’. Parece que o jogo virou.
Dica de download: “Kill V. Maim” (), “Venus Fly” e “California”
#03. Courtney Barnett
(Sometimes I Sit and Think, And Sometimes I Just Sit)
Os anseios e energia explosiva juvenil da cantora, compositora e guitarrista Courtney Barnett aparecem impressas em cada uma das inteligente composições deste Sometimes I Sit and Think, And Sometimes I Just Sit. Com seu rock punk firme, de riffs grandiosos e personalidade, a australiana é uma poeta da vida comum. Seus pequenos contos musicados envolvem anseios (“Pedestrian at Best”), momentos engraçados (na história do amigo confundido como um suicida em “Elevator Operator”), noites de insônia num hotel (“An Illustration of Loneliness (Sleepless in New York)”), humor negro (“Aqua Profunda!”) com doses existenciais (“Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party”) e tristezas amorosas (“Boxing Day Blues”) com uma fascinante vivacidade nos detalhes.
Dica de download: “Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party” (), “Pedestrian at Best” () e “Dead Fox” ()
#04. Joanna Newsom
(Divers)
Divers é como se Joanna Newsom levasse suas melodias medievais produzidas numa harpa ponderada para uma grande metrópole durante a década de 70. Nesta aventura visionária, a artista busca inspiração em Joni Mitchell, seja nos acordes ao piano inspirados em “River” da romântica faixa título ou na narrativa urbana da valsa “Sapokanikan”, ou no rock progressivo de guitarras elétricas em “Leaving The City”, mantendo sua essência pop barroco (“Goose Eggs” / “You Will Not Take My Heart Alive”) e propriedade no vocal infantil acrobático. A música de Newsom deveria garantir um gênero próprio.
Dica de download: “Divers” (), “Leaving The City” () e “Sapokanikan” ()
#05. Florence and the Machine
(How Big, How Blue, How Beautiful)
How Big, How Blue, How Beautiful é um disco de transição para o Florence and the Machine. Metaforicamente, soa como uma angelical Florence Welch expulsa dos céus e caindo no mundo real como uma humana pronta para sentir as dores física e sentimentais da vida comum em canções melodicamente pesadas (“What Kind Of Man” / “Ship to Wreck”) para expor suas devastadoras narrativas amorosas (“Queen Of Peace”) e libertar-se aos sons de guitarras (“Delilah”), sem perder o toque sensitivo épico (“Mother”), dramático e pessoal (nos versos “and I’m learning, so I’m leaving” de “St Jude”) das produções da banda.
Dica de download: “Delilah” (), “What Kind of Man” () e “Third Eye”
#06. Kendrick Lamar
(To Pimp A Butterfly)
O rapper Kendrick Lamar abraça todos os gêneros da música negra como soul, doo-wop, jazz, funk, blues e citações políticas para musicar seus calorosos versos envolvendo ódio racial e desigualdade social em seu terceiro registro de estúdio, o visionário e ambicioso To Pimp a Butterfly. De “King Kunta”, um funk groove setentista que cospe crítica social e racial como se estivesse numa conversa com Kunta Kinte – escravo do século XVIII e personagem principal do romance ‘Negras Raízes’ de Alex Haley – aos diálogos montados com o ícone do rap Tupac em “Mortal Man” e que o deixa sem respostas nos minutos finais, To Pimp A Butterfly faz o rapper questionar-se como artista bem sucedido, homem negro e ser humano na sociedade injusta em que vive.
Dica de download: “King Kunta” (), “Alright” () e “i” ()
#07. Georgia
(Georgia)
A multi-instrumentista e produtora Georgia soa como uma inventiva combinação de Kate Bush, Oneohtrix Point Never, M.I.A. na criação de seu pop metamorfósico e sem fronteiras para desenvolver suas crises existenciais e amores frustrados num raio-x musicado. Com eletrônica futurista tribal (“Kombine”) e exótica (“Move Systems”), beats metralhados, mantras (“you’re making me the enemy” em “Be Ache” ) e artimanhas melódicas (“Hold It”) com cadências R&B numa produção sci-fi (“Tell Me About It” soa como um hit adormecido de Timbaland), a estreia da garota é um eletropop apanhado de ideias artísticas e enlouquecedoras com caráter.
Dica de download: “Hold It” (), “Nothing Solutions” () e “Kombine” ()
#08. Tame Impala
(Currents)
O Tame Impala volta com seu rock psicodélico numa aventura eclética funk disco groove com primor dançante (na épica “Let It Happen” e “The Less I Know the Better”), serenatas enraizadas em sintetizadores sensuais com uma injeção do pop oitentista de Michael Jackson (“‘Cause I’m A Man”), guitarras distorcidas, experimentalismo e o vocal sereno de Kevin Parker que soa como um astronauta numa galáxia distante disposto a manipular seu ouvinte com suas confissões sentimentais e amargas (“Eventually”).
Dica de download: “Let It Happen” (), “Cause I’m a Man” () e “New Person, Same Old Mistakes”
#09. Björk
(Vulnicura)
Com produção do venezuelano Alejandro Ghersi (a.k.a. Arca), Bobby Krlic (a.k.a. The Haxan Cloak) e John Flynn, Vulnicura reflete a sensibilidade eletrônica e o pop lisérgico da islandesa em arranjos de cordas ricos (“Family” / “Lionsong”), remetendo a era Vespertine e Homogenic – com direito a “History of Touches” ser a “All Is Full of Love” do álbum – e ainda trazer a participação de Antony Hegarty (do Antony and the Johnsons) em “Atom Dance” para cantar seus sofrimentos amorosos após um relacionamento de longa data chegar ao fim e encontrar salvação em sua nova vida. Sim, Björk é humana.
Dica de download: “Lionsong” (), “Stonemilker” () e “Black Lake” ()
#10. Elza Soares
(Mulher Do Fim Do Mundo)
Um disco inédito de Elza Soares, a voz do milênio segundo a BBC, é capaz de despertar um samba adormecido e acomodado em seu próprio país. Na companhia de um afiado time da vanguarda musical paulistana, a cantora entrega um material corajoso e extremamente moderno. Elza é samba rock (“Pra Fuder”), samba eletrônico (“Mulher do Fim do Mundo”), samba feminista (“Maria da Vila Matilde”) e samba rap afrobeat (“Firmeza”) em arranjos e ruídos administrados magistralmente e dopados pelo vocal rouco marcante da artista nas letras críticas que refletem a vida urbana em temas como transsexualidade (“Benedita”), violência doméstica, a crise da água e morte. “Me deixem cantar até o fim…”.
Dica de download: “Maria da Vila Matilde – Porque se a da Penha é brava, imagine a da Vila Matilde” (), “Pra Fuder” () e “Mulher Do Fim Do Mundo” ()