#01. Frank Ocean
(Blonde)
Frank Ocean canta com um primor à flor da pele seus fracassos amorosos (“Ivy” e “Nights”), encontros às escuras com rapazes (“Good Guy”), drogas (em “Be Yourself” com o discurso da mãe de um amigo de infância seguida por “Solo” e a necessidade de ficar “high”), valores familiares (“Futura Free”), consumismo (“Nikes” e a preocupação com a sociedade onde adolescentes perdem suas vidas junto a uma homenagem ao jovem Trayvon Martin – “R.I.P. Trayvon, that nigga look just like me”) e desejos eróticos (“Self Control”) levando-nos para dentro de sua mente reclusa desde o lançamento do álbum Channel Orange (2012).
Blonde é a representação das emoções de Ocean em melodias genuínas – de guitarras elétricas afrontadas por teclados e percussão R&B – como um reality show tardio para acompanhar seu viés introspectivo. Vale destacar a participação das vozes “coadjuvantes” de Beyoncé (em “Pink + White”) e Jazmine Sullivan (“Solo”), além do caprichado time de produtores – de Jon Brion a James Blake – que colaboram com o artista no registro.
Dica de download: “Solo”, “Self Control” e “Ivy”
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(Lemonade)
Lemonade é um grito travado na garganta para exorcizar infidelidade, racismo e despertar o espírito feminista com ousadia, a mesma que Beyoncé galanteia com confiança pelos gêneros do disco. Movimenta-se pelo blues rock pesado com Jack White em “Hurt Yourself”, arrisca-se no country em “Daddy Lessons”, diverte-se com o indie em “Hold Up” – com a mão de Ezra Koening (do Vampire Weekend), Diplo e sample do Yeah Yeah Yeahs -, no pop sombrio de “6 Inch” com The Weeknd e mostra vigor na libertadora “Freedom” com Kendrick Lamar. Como a própria coloca (nas palavras da vó de Jay Z): fez de limões – todos os temas azedos – uma bela limonada.
Dica de download: “Freedom”, “Sorry” () e “Hold Up” (
)
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(Puberty 2)
Puberty 2 é um relato autobiográfico traçado pela brutalidade e paixão exagerada no espírito de uma riot grrrl com guitarras carregadas (“My Body’s Made of Crushed Little Stars”). Nesta “puberdade” na fase adulta, Mitski crê que a felicidade é uma grande fantasia (“Happy”), a depressão é comum (“Fireworks”), as inseguranças são traumas de infância que nos acompanham (“A Burning Hill”) e os relacionamentos deveriam ser tratados de maneira mais modesta – mas nós os complicamos (“Thursday Girl” e Your Best American Girl”) – como canta neste manifesto sagaz e rabioso.
Dica de download: “Your Best American Girl” (), “Fireworks” e “Happy” (
)
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(Coloring Book)
Chance The Rapper com seu hip hop sermão, rap espiritual e pop religioso trilhado pela música gospel (“All We Got”) reflete crônicas da história negra como manifesto de libertação e amadurecimento pessoal (“Summer Friends” e “Same Drugs”) como artista. O garoto é Kanye West sem a loucura egocêntrica e Kendrick Lamar sem o fardo político, mas com olhar otimista para conversar com o homem lá em cima (“Blessings”) e elevar o espírito da galera na companhia de 2 Chainz, Justin Bieber, KAYTRANADA, Francis and the Lights, Future, Jay Electronica, Lil Wayne e Kanye West
Dica de download: “Summer Friends” (), “All Night” (
) e “No Problem” (
)
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(22, A Million)
Em seu terceiro registro de estúdio, o Bon Iver aventura-se numa produção críptica, de falhas e truques – assim como os títulos das faixas – a serem desvendados (“22 (OVER S∞∞N)”), combinando sons inovadores em sua estética folk fantasmagórica. Os vocoders exagerados revelam sua aura emotiva e os sintetizadores pop new age experimentais (“8 (circle)”) trilham uma influência complexa vinda do Radiohead, James Blake e Kanye West – principalmente da era Yeezus – para complementar seu repertório de beleza autêntica.
Dica de download: “33 “GOD” (), “10 d E A T h b R E a s T ⚄” (
) e “22 (OVER S∞∞N)” (
)
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(Hopelessness)
Com assinatura dos produtores eletrônicos Hudson Mohawke e Oneohtrix Point Never, a cantora ANOHNI teme pelo futuro da humanidade em tempos de crise ao reportar temas como ecocídio (“4 Degrees”), perda de liberdade (na sarcástica “Watch Me” direcionada à NSA), guerra de drones (“Crisis”), terrorismo (“Drone Bomb Me”) e um puxão de orelha em Obama (“Obama”) em seu acessível e urgente álbum protesto. Apesar do título e discussões, o vocal icônico da artista sugere que nem tudo está perdido e há motivos para se manter as esperanças.
Dica de download: “Watch Me”, “Drone Bomb Me” () e “I Don’t Love You Anymore” (
)
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(A Seat at the Table)
Com elegância em sua voz e instrumentações soul, Solange alcança uma maturidade musical inquestionável ao transmitir sua mensagem política e social com intenção de “provocar a cura e pavimentar uma jornada de empoderamento e autoafirmação” como revela. Canções como “Don’t Touch My Heair”, “F.U.B.U.” e os interlúdios (com seus pais em “Interlude: Tina Taught Me” e “Interlude: Dad Was Mad”) lidam com racismo e inconformação (“Mad”) de mãos dadas com seus convidados – Lil Wayne, Sampha, Tweet, André 3000 e Kelela – que fortalecem a mensagem de A Seat at the Table.
Dica de download: “Junie”, “Don’t Touch My Hair” () e “Cranes In The Sky” (
)
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(A Moon Shaped Pool)
As canções do Radiohead trafegam aos extremos. Podem ser nervosas, questionadoras (“Burn the Witch”), desconsoladoras (como na singular “True Love Waits” e “Daydreaming” em que Yorke canta o fim do relacionamento de anos com Rachel Owen) e políticas (“The Numbers”). A Moon Shaped Pool é uma combinação dos álbuns Kid A e In Rainbows com originalidade própria e visão (como todas as produções) muito além do habitual, numa experiência complexa e humana musicada pelo perfeccionismo bucólico da banda.
Dica de download: “True Love Waits”, “Daydreaming” () e “The Numbers” (
)
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(★ (Blackstar))
A morte e a salvação profetizam o enigmático e artístico ★ (Blackstar) de David Bowie. Suas canções abraçadas pelo rock jazz sombrio e denso, com aura contemporânea nas orquestrações lisérgicas (“Tis A Pity She Was A Whore”) e vocais característicos do músico, refletem uma odisseia angustiante nesta obra post-mortem que é uma despedida dolorosa deste mundo em forma de arte (“Lazarus”).
Dica de download: “Lazarus” (), “Tis A Pity She Was A Whore” (
) e “Dollar Days”
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(ANTI)
Acabou a farofa! Com versos como “I got to do things my own way, darling”, em “Consideration”, Rihanna livra-se do pop fácil e quer ser alguém para se levar a sério. Para isso corre riscos e abandona as pistas de dança – deixando “Work” com Drake exercer o papel de hit – de forma libertadora ao descobrir novas sonoridades para o seu vocal poderoso e acrobático. O atemporal ANTI é uma evolução natural para a artista que atinge perfeição na doo-wop (“Love On The Brain”), na atmosférica versão de “Same Ol’ Mistakes” (cover de Tame Impala), na sombria “Desperado” ou na sexy “Kiss It Better” (com suas guitarras à la Prince).
Dica de download: “Kiss It Better” (), “Desperado” e “Love On The Brain”
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