O extraordinário Thom Yorke, o vocalista do Radiohead, publica o seu terceiro registro solo, intitulado de ANIMA, e que tem chamado em entrevistas de “um pesadelo eletrônico alimentado pela ansiedade de um mundo distópico”.
“Acho que a razão pela qual acabou sendo chamado de ‘ANIMA’ foi em parte porque estou obcecado com essa coisa de todo o sonho, e vem desse conceito que [Carl] Jung tinha. Mas também começamos a emular o que nossos dispositivos dizem sobre nós e emulamos a maneira como nos comportamos a partir disso”, diz Yorke.
O disco abre com a inquieta “Traffic”, uma faixa agonizante em sua maré de sintetizadores e beats desordenados para questionar a liberdade em versos como “eu não consigo respirar, não há água, eu pulo livremente”. Por sua vez, “Last I Heard (…He Was Circling The Drain)” é uma balada estarrecedora de frases de índole transgressora como “acordei com um sentimento que eu simplesmente não aguentava”.
Na otimista “Twist”, o músico entra em estado de transe em seus artefatos sonoros, loops e vocais hipnóticos até encontrar trégua em “Dawn Chorus” e um amor à deriva.
“Not The News” abre um novo caminho para o clímax agonizante no mundo distópico habitado por Yorke, enquanto “The Axe”, que melodicamente carrega características dos interlúdios da trilha sonora de ‘Suspiria’, instila um conceito de debanda do caos em que o músico encontra-se em ANIMA.
“Runwayaway” conclui a jornada de Yorke com guitarras meditativas, beats impulsivos e uma voz robótica interagindo dentro da cabeça do músico e que o incentiva a libertar-se desta prisão psicológica e rastrear sua essência ao receber frases como “é quando você sabe, é quando você não, é quando você sabe quem são seus amigos reais”.
Para o curta-metragem de ANIMA, disponível no Netflix e que funciona perfeitamente como um combo do disco, Yorke convida o diretor Paul Thomas Anderson para assumir o cargo. Ele é conhecido por filmes como ‘Magnolia’, ‘O Mestre’ e ‘Trama Fantasma’, mas já assinou inúmeros videoclipes para artistas como Fiona Apple, Joanna Newsom, HAIM e, o próprio, Radiohead.
ANIMA, o filme, é uma peça abstrata, mas romântica, que reflete a luta constante e sombria de Yorke com tons de ‘1984’ de George Orwell com sua representação de intimidade física e amor entre um mundo mecânico, estéril e vigiado.
Visualmente é um filme de dança distópico e poético como uma atualização dos trabalhadores que se deslocam em ‘Metropolis’ (1927) embaladas por três faixas do disco: “Not the News”, “Traffic” e “Dawn Chorus”.