Com um mundo virado de ponta-cabeça, decorrente da pandemia do novo coronavírus, a cantora e compositora Fiona Apple surpreende a indústria da música ao antecipar o lançamento do quinto disco (esperado para outubro) quando uma série de artistas adiam projetos para o segundo semestre do ano.
Fetch the Bolt Cutters, o sucessor de The Idler Wheel… (2012), é definido como “cru”, “estranho” e “de percussão pesada”. É um trabalho musical catártico e caseiro – que reflete a “artística” capa do disco e sua gravação feita no conforto do lar da artista – em que Apple lida com temas como tolerâncias / conflitos femininos (“Ladies” e “Newspaper”), julgamentos sociais (“For Her” com suas camadas vocais que soam como fofocas), relacionamentos amorosos problemáticos (“Rack of His” e “Drumset”) e a própria trajetória artística (“Fetch the Bolt Cutters”).
Por mais francas que as letras de Fiona sejam, elas continuam não sendo facilmente decodificadas como pura biografia. Seu vocal expressivo pode ser meloso ou carregado de raiva nos insultos de suas frases. É nessa tensão de ânimos que Fetch the Bolt Cutters liberta uma energia desafiadora.
É saliente e hipnótico em notas de piano dissonantes, mudanças repentinas de tempos, barulhos com utensílios caseiros, latidos de cachorros (devidamente creditados) e vozes em camadas. É uma jornada sentimental intensa e emocionante pela mente inquieta (“e isolada”) de Fiona Apple.