Róisín Murphy interessou por música desde que cresceu em sua terra natal, a Irlanda. Mas foi em 1994, de um encontro casual com o baixista Mark Brydon em Sheffield, na Inglaterra, que nascia o Moloko. A dupla de dance pop tornou popularmente conhecida por clássicos dos clubes como “Sing It Back”, “The Time Is Now” e “Familiar Feeling”.
Desde o lançamento do primeiro álbum solo, Ruby Blue (2005), a artista tem testado os limites do pop, experimental e dance. Após uma série de álbuns, singles e EPs, antes da pandemia, Murphy preparava-se para lançar o quinto registro de estúdio, Róisín Machine (2020). Com as atividades restritas mundo afora, nada a impediu de colocar o trabalho nas ruas, transmitir apresentações ao vivo de sua casa e ser trilha sonora do isolamento de muitos que queriam dançar sem a perspectiva de uma balada à vista.
Com o mundo retomando as atividades, a artista volta à ativa. Retornou aos palcos do Reino Unido lotando casas de show, fez sua estreia como atriz na série de fantasia ‘Half Blood – O Filho Bastardo do Diabo’ da Netflix, tem um novo disco engatilhado para o próximo ano e nos deixa com esperanças para uma possível aparição em solo brasileiro.
Sua carreira é uma verdadeira montanha-russa. Nos anos 90, você surge como a voz do Moloko, nos anos 2000 inicia uma carreira solo que brilha até hoje. Como você define essa longa trajetória?
Róisín Murphy: Tem sido um trabalho árduo, mas muito divertido. Colaboro com pessoas incríveis que se tornaram como uma família para mim. Ao longo de tudo, fiz exatamente os discos que queria fazer. Acho que fui corajosa em minhas decisões e sempre acreditei em mim mesma. A turnê tem sido um componente essencial e a performance é meu primeiro amor. Tudo o que faço leva à performance e à conexão com os outros.
E a indústria da música? Tornou-se um ambiente melhor para trabalhar?
Róisín Murphy: Para mim, sim. Tenho muito controle sobre minha imagem e realmente gosto de dirigir vídeos e ser minha própria diretora criativa. Tudo isso aconteceu porque há menos dinheiro disponível e ferramentas muito mais acessíveis. Muitos dos produtores musicais com quem trabalhei são agora mais independentes do que jamais poderiam ser na indústria musical da velha guarda e isso me serviu bem. A indústria não é mais paternal e espera que a arte seja mais independente do que nunca. Acredito que eu e meus colegas prosperamos em tal ambiente.
Como você define o ritmo natural do seu processo criativo? Ficou mais fácil depois de todos esses anos?
Róisín Murphy: Sim, posso usar programas de música em casa para compor e gravar sempre que me apetecer. Há sempre mais de uma panela cozinhando no fogão. Antigamente, eu tinha que ir para o estúdio, tinha que ter ajuda na engenharia de gravação e então não podia ser tão espontâneo.
Você sabe que Róisín Machine foi um dos discos que salvaram mentalmente muitas pessoas durante o isolamento quando não havia festas e precisávamos ficar em casa, certo?
Róisín Murphy: Sei que as pessoas que amam a música encontraram uma relação ainda mais profunda com ele durante a pandemia, eu sei.
Quantas vezes você já leu a mensagem “Please Come To Brazil” enviada por brasileiros nas redes sociais? Como você se sente sobre isso?
Róisín Murphy: São muitas vezes. Impossível de contar. Eu sinto que devo isso a eles para que isso aconteça no ciclo da minha próxima turnê.
Além disso, os brasileiros são uma fábrica de memes. Recentemente, você colocou um com uma subcelebridade brasileira – e dizendo para ela lhe processar – numa rede social. Como você trabalha com uma assistente brasileira, tem a oportunidade de saber o que realmente está acontecendo? E o que você acha desses memes.
Róisín Murphy: Foram os memes de Isabella [a assistente de Róisín] que primeiro chamaram minha atenção para ela. Meu Deus, eu adoro rir e acho que é o que a Internet faz de melhor.
Recentemente, você fez sua estreia como atriz na série ‘Half Bad: O Filho Bastardo do Diabo’ da Netflix? Como surgiu o convite e podemos esperar mais trabalhos de Róisín na área?
Róisín Murphy: Eu sou uma atriz nata. Eu amo fazer um papel. Mas não fui atrás disso. O diretor era meu fã e estava pensando há muito tempo como poderia me colocar em algo que ele estava envolvido. Fiquei muito surpresa quando ele me perguntou. Mas, isso é exatamente como tudo que já aconteceu comigo na minha carreira, sem querer. As coisas acontecem acidentalmente e então cabe a mim fazer o melhor.
Na série, você interpreta uma bruxa glamourosa chamada Mercury. O que ela e Róisín têm em comum?
Róisín Murphy: Estilo.
Você está trabalhando intermitentemente há cinco anos no álbum sucessor de Róisín Machine. Você costuma trabalhar em um disco já pensando no próximo?
Róisín Murphy: Sim, como eu disse, geralmente há mais de um projeto de gravação em andamento a qualquer momento. Isso é ótimo porque não entro em pânico quando algo não está sendo concluído rápido o suficiente, apenas permito que as coisas aconteçam em seu próprio ritmo.
O que podemos esperar e quando teremos um gostinho do disco?
Róisín Murphy: É realmente um disco inacreditável. Todos que eu toquei na indústria da música também queriam estar envolvidos, até agora é de longe o disco mais amado universalmente que eu fiz. Tenho certeza que será um grande sucesso. Cuidado 2023, este vai ser o meu ano.
Se você pudesse colaborar com qualquer artista do passado ou do presente, com quem você colaboraria e por quê?
Róisín Murphy: Moodymann. Sua música fala com minha alma, espero pacientemente por cada lançamento dele.
Qual é o álbum que você pode ouvir várias vezes do começo ao fim?
Róisín Murphy: Veedon Fleece do Van Morrison.
Podemos ter fé em vê-la no Brasil no próximo ano?
Róisín Murphy: Planejando isso enquanto falamos.
O álbum Róisín Machine encontra-se disponível em todas as plataformas de streaming.