O Amazofuturismo de Reiner combina guitarras inspiradas em Sepultura e sample de Portishead no álbum ‘ELÃ’

Reiner / Duda Santana

ELÃ, álbum de estreia do paraense Reiner, é dividido em dois lados – terra e água – e foi inspirado nas sonoridades de Belém, sua cidade natal. O artista define o disco como uma declaração de amor ao lugar onde vive, explorando uma Amazônia futurista que une o passado e o futuro, o local e o global. O trabalho combina influências da música negra e indígena com guitarras que remetem a Sepultura e samples de Portishead. Reiner explica que buscou unir dois mundos que ainda parecem desconectados.

Guiado por esse desejo, o artista mergulhou na música popular, foi às rodas de carimbó e se conectou com outras vozes do Norte, como a de Patrícia Bastos, que participa da releitura de “indauê-tupã”, single do disco que é versão da faixa presente no primeiro álbum de Fafá de Belém.

“Eu quis trazer o trip hop como ponto de partida da música. A partir disso, construímos uma base percussiva que faz a faixa pisar tanto em Bristol, quanto em um passeio de barco no Combu. E ter Patrícia Bastos cantando “indauê-tupã” traz uma importância histórica gigante para a música daqui”, conta Reiner.

O álbum conta com a participação da cantora quilombola Mainumy (“GATILHEIRO”), do músico Jayme Katarro (“PALAVRAS”), da rapper marajoara Bruna BG (“MITOS Y GRITOS”), do poeta roraimense Eliakin Rufino (“¿brasil PROFUNDO”), do cantor Íris da Selva (“tambor”) e do saxofonista francês Benoit Crauste (“MITOS Y GRITOS”). A produção musical é assinada pelo artista ao lado Léo Chermont, que conta:

“Há muitos caminhos nesse álbum, com momentos de energia muito alta e outros mais calmos. Acredito que quando o público sentar para escutá-lo será uma experiência muito bonita”.

A faixa de abertura, “GATILHEIRO”, homenageia o ativista Quintino Lira e traz samples da música “Threads” do Portishead com percussões indígenas. A faixa-título é inspirada no conceito de “Elã Vital” de Henri Bergson, representando a força da cultura nortista. Em “PALAVRAS”, Reiner expressa a raiva pela invisibilização da Amazônia e mistura rock, trap e música eletrônica. “MITOS Y GRITOS” transita entre rock psicodélico, jazz e referências ao álbum Roots do Sepultura. “¿brasil PROFUNDO” exalta a identidade amazônica e o Movimento Roraimeira.

O lado B do disco começa com “indauê-tupã”, reverenciando o deus Tupã e trazendo uma releitura de Fafá de Belém. “cor” reflete sobre as vivências de Reiner como pardo amazônida e questiona fronteiras raciais. “tambor” celebra o carimbó e o curimbó, integrando uma perspectiva LGBTQIAPN+. “<<urybóka>>” é uma faixa gravada ao ar livre, inspirada por “Hunter” do Portishead, funcionando como uma vinheta final. O álbum encerra com “Coisa de Louco”, uma versão de um clássico de Robson Nascimento, destacando o amor e a busca pela verdade cultural de Reiner em Belém.