6 discos para ouvir hoje: FKA twigs, Baba Stiltz & Okay Kaya, Anna B Savage, KOMPROMAT e mais

FKA twigs / Divulgação

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: FKA twigs, Baba Stiltz & Okay Kaya, Anna B Savage, Benjamin Booker, KOMPROMAT e Tunng.

FKA twigsEUSEXUA
(Young)

Em EUSEXUA, FKA twigs se inspira na cena underground de techno rave de Praga – que vivenciou durante as filmagens de ‘O Corvo’ – e canaliza “o auge da experiência humana”, como define, ao longo do registro. A faixa-título, que abre o disco, traz uma sonoridade techno e ambient trance, evocando uma fusão das produções de Björk, Aphex Twin e Madonna nos anos 90, ao explorar sentimentos de conexão e transcendência, reforçados pelo termo “Eusexua”. “Girl Feels Good” mistura guitarras elétricas e sintetizadores de forma sensual e moderada, com uma vibe eletrônica que lembra William Orbith e seu trabalho em Ray of Light, abordando a importância do bem-estar feminino como uma força transformadora. “Perfect Stranger” mescla dance pop, techno e R&B de maneira contida – evocando nomes como Kylie Minogue, com uma batida que remete a “Can’t Get You Out of My Head”, e Janet Jackson -, explorando o perigo e a oportunidade de conhecer alguém novo. “Drums of Death” é um chamado para abandonar inibições e se entregar aos desejos sem limitações, com uma sonoridade energética de glitch pop, composta por batidas rápidas intercaladas com cortes de áudio do sample de “One of a Kind”, de G-Dragon. “Room of Fools”, com seu ritmo acelerado e um instrumental pulsante de house, soa como se Madonna e Björk tivessem feito algo juntas nos anos 90, tratando de liberdade e conexão em um ambiente caótico. “Sticky”, sobre se libertar da dor emocional e ansiar por amor, e “24hr Dog”, que explora uma dinâmica de submissão, são baladas etéreas trilhadas pelos sussurros autotunados da artista. “Childlike Things”, que apresenta um rap em inglês e japonês de North West, destaca um mundo de poderes supersônicos, desejos infantis e contrastes entre sonhos e tragédias. “Striptease” é uma faixa sensual de R&B, reminiscente do trabalho inicial de twigs, que faz uma transição para o drum ‘n’ bass nos minutos finais, expressando o desejo intenso de se entregar emocionalmente, comparando o processo de se abrir a um striptease. A faixa que encerra o disco, “Wanderlust”, é sonhadora e atmosférica, impulsionada por uma batida drum ‘n’ bass e vocais emotivos, transmitindo frustração ao tentar lidar com as expectativas e as próprias inseguranças. EUSEXUA oferece uma jornada sonora que transcende gêneros, explorando emoções profundas e complexas através de uma mistura de influências eletrônicas, pop e (até menos) experimentais, tornando-se um testemunho do poder da música como uma expressão única de identidade e desejo.

Baba Stiltz & Okay KayaBlurb
(Recorded Matters)

As estrelas escandinavas Baba Stiltz e Okay Kaya, responsável por um dos melhores discos do ano passado, estavam trilhando carreiras separadas nos Estados Unidos quando um amigo em comum sugeriu que colaborassem. Esse encontro resultou em uma conexão imediata, dando origem ao EP de estreia Blurb, uma cativante obra de folk pop inteligente e vulnerável, com influências de Velvet Underground e Bill Callahan. “I Believe in Love” combina sons delicados de guitarra elétrica, baixo minimalista e a impressionante harmonia vocal da dupla em versos que expressam uma crença profunda no amor, mesmo com suas imperfeições e contradições. Já “Beside” inicia com uma guitarra suave e evolui para distorções e notas de piano, acompanhando a harmonia vocal dos artistas enquanto exploram o desencanto com relações e convenções sociais. “Let Me Know”, guiada por uma guitarra elétrica dedilhada e pelos vocais calorosos de Kaya, transmite o afeto de alguém lidando com a distância de outra pessoa. A faixa exala compreensão e aceitação, mas também deixa transparecer um sutil sentimento de tristeza e desilusão. Além das canções originais, a dupla apresenta uma releitura de “Boys In The Girls Room”, da banda sueca Melody Club, transformando o pop vibrante de Kristofer Östergren em uma interpretação intimista, marcada por uma atmosfera nostálgica e cheia de memórias emocionantes. Blurb não apenas destaca o talento individual de Stiltz e Kaya, mas também evidencia a força de sua parceria artística, que brilha pela autenticidade e sensibilidade traduzidas em arranjos minimalistas e letras sinceras.

Anna B SavageYou and i are Earth
(City Slang)

A cantora e compositora inglesa Anna B Savage, influenciada por artistas como Leonard Cohen, Scott Walker e Patti Smith, une música e literatura, criando uma ponte entre o escrito e o cantado. Seu terceiro álbum, You and i are Earth, é uma carta de amor tanto para uma pessoa quanto para a Irlanda, onde vive há alguns anos, explorando temas como cura, curiosidade e pertencimento. A conexão com a terra é central em seu trabalho, especialmente na faixa “Agnes”, um pop folk dinâmico e fantasioso que reflete uma experiência de meditação profunda vivida pela artista. “Talk to Me” é suave como uma brisa delicada da natureza, com sons do mar, uma guitarra acústica delicadamente dedilhada e vocais quase sussurrados, onde Savage canta sobre o processo de aprender a amar novamente. Já “Lighthouse” é uma balada intimista, marcada por violão dedilhado, toques suaves de piano e os vocais aveludados da cantora, falando sobre encontrar um amor que guia e oferece segurança, como um farol que ilumina o caminho para casa. Em “Mo Cheol Thú” (que significa “Meu Coração é Teu” em irlandês), o acompanhamento de guitarra dedilhada e uma onda crescente de teclados destacam o vocal emotivo da artista, transmitindo a sensação de estar apaixonada. A relação de Savage com a natureza é evidente em sua música, onde elementos como pássaros, árvores e água ocupam um lugar especial. Esses detalhes são apresentados como sinais de magia, convidando o ouvinte a explorar mais profundamente as tradições da terra, da língua e da música irlandesa. Na faixa “Donegal”, ela questiona: “existe um lar aqui para mim para sempre?”, com sua voz cristalina acompanhada por arranjos inspirados na música tradicional irlandesa. O álbum é um convite para mergulhar no universo íntimo e encantado criado por Savage, onde a magia – inclusive a do dia a dia – está presente em cada elemento da natureza.

Benjamin BookerLOWER
(Fire Next Time Records / Thirty Tigers)

Benjamin Booker, conhecido por seu som de garage rock e soul com influências da música americana, desapareceu após lançar dois álbuns aclamados pela crítica, fazer turnês internacionais e abrir shows para artistas como Jack White, Tame Impala e Neil Young. Em busca de um novo estilo, passou anos explorando novas sonoridades. Colaborando remotamente com o mestre do hip hop underground de Los Angeles, Kenny Segal, o artista criou seu terceiro álbum e primeiro em sete anos, LOWER, que mistura hip hop experimental, dream pop e noise pop, oferecendo algo único, guiado por seu vocal rouco e acolhedor. As letras de Booker continuam a explorar a dor e o anseio (“LWA IN THE TRAILER PARK”), e sua habilidade de escrever sobre a vida é evidente na faixa de abertura, a perturbadora “BLACK OPPS”, que trata de violência racial. A ameaçadora “SPEAKING WITH THE DEAD”, com sintetizadores intensos, baixo, violoncelo e vocais de apoio, cria uma tensão crescente, com versos como “diga-me como viver uma boa vida / neste lugar tão ruim”. “REBECCA LATIMER FELTON TAKES A BBC” traz uma sonoridade sombria, com uma mistura de instrumentação tradicional e elementos digitais, e aborda Rebecca, uma feminista e supremacista branca do início do século 20, que foi a última senadora dos EUA a possuir escravizados, lidando com seu desejo não correspondido e o fato de seu parceiro se interessar por outra. “SAME KIND OF LONELY”, com guitarras estilhaçadas e bateria groovy, misturadas a gritos e tiros, além do riso de uma criança, cria uma experiência bela e perturbadora sobre a existência e o mundo natural. “SLOW DANCE IN A GAY BAR” é uma balada com guitarras difusas, teclados suaves e batidas lentas de trap, onde Booker expressa o desejo de encontrar alguém que enxergue sua verdadeira essência, enquanto “HEAVY ON MY MIND” transmite o mesmo sentimento profundo, com um canto emocionado nos minutos finais. O álbum se encerra com a vulnerável “HOPE FOR THE NIGHT”, que retrata uma jornada de altos e baixos em uma luta contra o vício, alternando momentos de esperança e determinação com recaídas. LOWER é um trabalho ousado, que se destaca pela crueza e originalidade.

KOMPROMATPLДYING / PRДYING
(WARRIORECORDS)

KOMPROMAT, a ambiciosa colaboração entre o renomado produtor francês Pascal Arbez-Nicolas (a.k.a. Vitalic) e a cantora Rebeka Warrior (Sexy Sushi, Mansfield.TYA), conquistou notoriedade por sua fusão ousada de EBM, Cold Wave, New Wave e eletroclash. Seis anos após o lançamento de seu impactante álbum de estreia, Traum und Existenz, o duo ressurge com PLДYING / PRДYING, uma obra poderosa e surpreendentemente mais luminosa. O disco marca uma reinvenção significativa na identidade sonora da dupla, que abandona parcialmente suas raízes mais clássicas para explorar uma estética sombria e romântica. Essa nova abordagem combina elementos contrastantes, como orações e gritos de guerra, criando um ambiente sonoro intenso e profundamente evocativo nos versos em inglês e francês (“LIFT ME UP”). O registro conta com uma série de colaborações notáveis que enriquecem sua narrativa musical e ampliam suas camadas criativas. Entre os destaques, estão Rahim Redcar (ex-Christine and the Queens) que participa na emotiva “I DID NOT FORGET YOU”, Farah Holly, que brilha na envolvente synthwave “GOD IS ON MY SIDE”, além da atriz Vimala Pons e Sonia DeVille, que contribuem com intensidade e textura na faixa “I LET MYSELF GO”. Descrito como um álbum concebido para ser vivenciado no palco, PLДYING / PRДYING é uma jornada emocional coletiva que celebra a transcendência e a comunhão através da música. É um trabalho que não apenas reafirma a essência provocadora do KOMPROMAT, mas também demonstra sua capacidade de se reinventar, entregando uma experiência artística visceral e marcante.

TunngLove You All Over Again
(Full Time Hobby)

Em janeiro de 2025, o álbum de estreia da banda, This is Tunng… Mother’s Daughter and Other Songs, completa 20 anos. Este trabalho, que combina guitarras acústicas e letras poéticas sobre natureza, mitologia e a condição humana, ainda soa como uma ousada fusão entre o rústico e o sintético, o arcano e o futurista. O som característico que a banda construiu ao longo de duas décadas ressurge em seu oitavo álbum de estúdio, Love You All Over Again. O registro mistura texturas e melodias, imagens intrigantes e produções dinâmicas, baseando-se em um reencontro consciente com os princípios que marcaram o início da banda. Mike Lindsay revelou que revisitou os dois primeiros álbuns para relembrar como eles fundiam diferentes gêneros, inspirando-se em nomes como Davy Graham, Pentangle e a trilha sonora de ‘O Homem de Palha’. Embora o som do Tunng tenha evoluído ao longo dos anos, ele sempre manteve algo da essência do álbum de estreia. Em vez de explorar novas direções, a banda decidiu retornar ao que fazia no início, o que, após tanto tempo, acabou sendo uma abordagem renovadora. Love You All Over Again representa uma forma da banda completar o ciclo de sua trajetória.