7 discos para ouvir hoje: Sharon Van Etten & The Attachment, Oklou, Biig Piig, Heartworms e mais

Sharon Van Etten & The Attachment / Beeld Devin Oktar Yalkin

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Sharon Van Etten & The Attachment, Oklou, Biig Piig, Heartworms, Olly Alexander, The Ocelots e Caroline Rose.

Sharon Van Etten & The AttachmentSharon Van Etten & The Attachment
(Jagjaguwar)

Sharon Van Etten e o álbum Sharon Van Etten & The Attachment marcam uma mudança sonora significativa em relação aos trabalhos anteriores da artista. Pela primeira vez, a artista escreveu e gravou em colaboração total com sua banda, encontrando liberdade ao se abrir para um processo coletivo. O resultado é uma nova dimensão emocionante em sua música e composição, mantendo temas clássicos como vida, amor e relacionamentos, mas com sons inovadores, bem definidos e afiados. ”Trouble” é uma balada de tom dramático que aborda um conflito interno envolvendo amor, culpa e arrependimento. Já “Southern Life (What It Must Be Like)” apresenta uma sonoridade sombria, reminiscente do rock alternativo dos anos 80, refletindo lutas internas. A teatral “Afterlife” combina elementos eletrônicos e de rock, destacando os vocais cativantes e expressivos de Sharon, que refletem sobre solidão, identidade e a esperança de reencontro na vida após a morte. “Idiot Box” é uma faixa de synthpop que critica a alienação causada pela tecnologia e incentiva a desconexão, enquanto “Indio” traz um rock direto sobre uma jornada de autoconhecimento e “I Can’t Imagine (Why You Feel This Way)” abraça totalmente uma atmosfera disco com batidas fortes. “Somethin’ Ain’t Right” apresenta uma sonoridade gótica e uma reflexão sobre inquietações em relações interpessoais, incluindo até mesmo inimigos, questionando responsabilidades diante da decadência das conexões. A cinematográfica “I Want You Here” encerra o álbum com uma melodia suave e letras que expressam o desejo de amor, mesmo diante da dor. Sharon Van Etten & The Attachment não só representa uma evolução sonora, mas também uma jornada introspectiva e coletiva, onde Van Etten explora novas texturas musicais enquanto mantém sua essência lírica profunda e emocional.

Oklouchoke enough
(True Panther Records)

O álbum de estreia choke enough de Oklou, pseudônimo da artista Marylou Mayniel, é uma obra densa e introspectiva que mergulha em múltiplas direções, experimentações e contrastes, espelhando os últimos anos da artista em um processo de deslocamento de si mesma. O trabalho traça um mapa emocional, mesclando produções calorosas e delicadas, típicas do estilo de Oklou, com elementos como sons ambientes, batidas club minimalistas, arpejos suaves de sintetizador e samples de ruídos cotidianos. A faixa que dá nome ao álbum simboliza a busca por sentido e a ânsia de ser impactada por algo, seja uma revelação grandiosa ou um instante banal. Já “family and friends” – que remete a uma versão cadenciada de “Aha!” de Imogen Heap – reflete essa busca por respostas a questionamentos não verbalizados, como se a artista estivesse tentando escapar de algo indefinível. As faixas que encerram o trabalho, “want to wanna come back” e “blade bird”, começam de forma contida, mas ganham força com suas orquestrações digitais, criando uma atmosfera intensa que convida à reflexão sobre laços afetivos, pertencimento e o desejo de encontrar equilíbrio entre rotina e conexão. Parte de uma geração de artistas moldados pela internet, Oklou construiu sua trajetória através de colaborações com nomes como Mura Masa, A. G. Cook e EASYFUN, além de remixes para artistas como Dua Lipa e Caroline Polachek. Sua mixtape galore (2020) foi um ponto de virada em sua carreira, mas choke enough representa um amadurecimento, deslocando o foco de si mesma para o mundo ao seu redor. Assim, o álbum transita entre o real e o onírico, capturando a dualidade da existência e do processo criativo, consolidando-se como uma obra que desafia fronteiras e convida à reflexão.

Biig Piig11:11
(Sony Music)

A cantora e compositora Jess Smyth (a.k.a. Biig Piig) lança seu tão esperado álbum de estreia, intitulado 11:11, aprofundando a abordagem sonora multifacetada apresentada na mixtape Bubblegum (2023). A faixa de abertura, “4AM”, estabelece o clima do trabalho, unindo serenidade a uma batida pulsante que oscila entre o indie e o eletropop, retratando a melancolia e o isolamento após uma noite intensa, enquanto evoca o desejo universal de companhia. Em “Decimal”, influências de house, disco groove e ritmos modernos de dance se fundem aos vocais suaves e sussurrados da artista, em inglês e espanhol, transmitindo uma conexão intensa e atração entre duas pessoas. “Favourite Girl” traz um pop contagiante com elementos funky e um toque nostálgico, enquanto “Ponytail” é uma balada dance pop envolta em uma atmosfera sombria, com Smyth expressando a dificuldade de lidar com a dinâmica tóxica de um relacionamento instável. Já “One Way Ticket” é uma canção melancólica, construída sobre um violão, batidas suaves e a voz emotiva da artista, que mergulha em um adeus emocional, abordando a perda e o processo de superação. O interlúdio “I Keep Losing Sleep” explora os limites da música contemporânea ao misturar eletrônica e R&B pop, em um clima que remete às produções de James Blake, abrindo caminho para “9-5”, uma faixa pop groovy e cativante que compara o comprometimento em um relacionamento amoroso à dedicação de uma rotina de trabalho. Com uma estreia cercada de expectativas, 11:11 prova que Biig Piig está à altura dos desafios, transitando entre momentos dançantes e introspectivos. A artista demonstra coragem ao explorar as complexidades das relações humanas, combinando vulnerabilidade e autoconfiança em uma obra coesa e envolvente.

HeartwormsGlutton For Punishment
(Speedy Wunderground / PIAS)

Heartworms, projeto solo da cantora e compositora Jojo Orme, apresenta seu álbum de estreia, Glutton For Punishment, produzido por Dan Carey (Fontaines D.C., black midi). A obra mescla influências motorik e góticas de Depeche Mode, a profundidade lírica de PJ Harvey e os ritmos descompassados de LCD Soundsystem, resultando em uma proposta sonora poderosa e distintamente marcada pela identidade de Orme. As canções exploram temas como lares desfeitos e relações conturbadas, com uma honestidade crua que sugere uma possível atração pelo caos. A abertura do disco, “In The Beginning”, é um prelúdio ambiental de caráter enigmático, com sons de vento, que logo dá lugar a uma energia mais intensa e sombria em “Just To Ask A Dance”, onde Orme declara guerra e amor em tons confessionais. “Jacked” mergulha no pós-punk, com guitarras cortantes, sintetizadores obscuros e batidas incisivas, enquanto “Mad Catch” incorpora elementos de indie dance para retratar a desordem emocional dos relacionamentos. Extraordinary Wings” traz uma atmosfera cinematográfica, fundindo pop, gótico e post-punk, enquanto reflete um embate interno em relação às próprias emoções, claramente inspirado pelo estilo de PJ Harvey. Já “Warplane” combina percussão vigorosa, baixo pulsante e vocais que alternam entre sussurros e explosões de energia, criando uma sonoridade militar com uma mensagem antiguerra impactante. A faixa final, “Smugglers Adventure”, que oferece um clímax intenso e memorável, evocando uma fusão entre Siouxsie Sioux e Radiohead. A faixa-título, uma balada introspectiva, encerra o trabalho com delicadeza e sutileza. Glutton For Punishment é uma estreia notável, repleta de personalidade e força criativa.

Olly AlexanderPolari
(Polydor)

O cantor e compositor Olly Alexander lança seu aguardado álbum de estreia solo, Polari – o primeiro trabalho do artista sob seu próprio nome, distanciando-se da sombra do Years & Years. Trata-se de uma poderosa obra queer que utiliza a história como ferramenta para o autoconhecimento. Em parceria com o produtor Danny L Harle (Caroline Polachek, Charli XCX), o álbum concentra-se no universo da música eletrônica dos anos 1980, explorando temas como desejo, intimidade, voyeurismo e destino. A faixa-título, que abre o disco, funciona como uma colagem sonora repleta de texturas eletrônicas e influências dos anos 1980, como Erasure e Pet Shop Boys, além de riffs de guitarra poderosos à la Prince e referências ao repertório de Janet Jackson. Já “When We Kiss” mergulha em uma sonoridade dance pop vibrante e envolvente, enquanto, “Shadow of Love” explora tensões sexuais. “Archangel” por sua vez, combina sintetizadores extasiados e batidas inspiradas na década de 1980. Em “Dizzy”, Alexander descreve a sensação de uma onda emocional tão intensa por alguém que chega a virar seu mundo de cabeça para baixo. “Cupid’s Bow” revela suas inseguranças em relação aos próprios desejos, enquanto a balada eufórica “Heal You” aborda temas de intimidade com uma sonoridade synthpop enérgica. Por fim “Language” celebra a necessidade de conexão humana. Polari é o álbum que Alexander esperou a vida toda para fazer como estrela pop: uma homenagem impecável e profundamente realizada à música pop dos anos 1980, que moldou não apenas sua carreira, mas também sua identidade musical.

The OcelotsEverything, When Said Slowly
(The Ocelots Music)

O segundo álbum de estúdio do duo irlandês de indie folk The Ocelots, formado pelos irmãos gêmeos Ashley e Brandon Watson, é uma obra que equilibra doçura e melancolia de forma envolvente. O disco aborda temas como a migração irlandesa, a passagem do tempo, o amor e os pequenos prazeres da vida, como pedalar. Com uma sonoridade que evoca uma nostalgia peculiar, as harmonias ricas muitas vezes contrastam com letras introspectivas e sombrias, em uma abordagem que lembra artistas como Beatles, Fleet Foxes e Iron & Wine. “About You” se destaca pelas harmonias vocais e violões, complementados por uma banda completa que inclui flauta e sintetizadores. Já “The Good of a Bad Year”, com sua melodia suave e acolhedora ao piano, busca capturar a beleza dos momentos simples, muitas vezes esquecidos, ao refletir sobre um ano sem grandes acontecimentos. A indie folk “Australia” aborda de maneira emocionante e pessoal a experiência da migração, transmitindo a sensação de despedida e os desafios de se adaptar a uma nova vida. “Started to Wonder” evoca as harmonias retrô dos anos 60, reminiscentes de Crosby, Stills and Nash, enquanto “Joy Outside” cria uma paisagem sonora rica, inspirada na psicodelia da mesma época. “Fool to Want You” traz uma sonoridade pulsante, marcada pela presença de um banjo, e “Tunnels” é um exemplo do pop folk característico da dupla, com versos que transbordam amor. Everything, When Said Slowly aquece o coração ao reinventar o folk tradicional, infundindo-o com uma energia revitalizante, perfeita para os desafios dos tempos modernos.

Caroline Roseyear of the slug
(Caroline Rose)

A cantora, compositora e produtora Caroline Rose lança o álbum year of the slug, que segue o aclamado The Art Of Forgetting. Diferente de lançamentos convencionais, o álbum está disponível exclusivamente no Bandcamp, proporcionando uma experiência sonora íntima e distante das grandes plataformas de streaming. Gravado diretamente no Garageband por meio de um celular, o projeto apresenta uma sonoridade crua e autêntica, criando uma atmosfera envolvente e repleta de emoção (“conversation with shiv (liquid k song)”). As letras, profundamente pessoais, remetem a páginas de um diário, explorando temas introspectivos e universais. Canções como “goddamn train” (com sua atmosfera western animado) e “to be lonely” capturam as nuances e desafios da existência contemporânea, enquanto faixas como “antigravity struggle” e “dirge (it’s trash day) aka trash day dirge” (com seu piano sereno) mergulham em paisagens sonoras mais introspectivas e oníricas. Com referências específicas a Los Angeles e uma produção minimalista, o disco se destaca pela sua sinceridade e vulnerabilidade, oferecendo uma jornada musical que conecta o ouvinte de maneira intensa e emocional. Caroline Rose consolida, assim, sua capacidade de transformar experiências pessoais em arte que ecoa de forma universal.