8 discos para ouvir hoje: Ribbon Skirt, Bon Iver, Jadu Heart, Daughter of Swords e mais

Ribbon Skirt / Divulgação

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Ribbon Skirt, Bon Iver, Jadu Heart, Daughter of Swords, Cold Specks, Vegyn, Lovi Did This e Jordan Firstman.

Ribbon SkirtBite Down
(Mint Records)

Os Anishinaabe são uma nação indígena cujas terras ancestrais abrangem regiões do sudeste canadense e do nordeste estadunidense. Tashiina Buswa, voz marcante do projeto de art-rock Ribbon Skirt (antes conhecido como Love Language), carrega consigo essa herança cultural – e seu primeiro álbum, Bite Down, é um reflexo dessa ligação. Nele, questões como a conexão com a natureza, a busca por cura interior e a reafirmação identitária se entrelaçam, mas sem cair em embates agressivos ou discursos de vingança histórica.

A abertura do disco, “Deadhorse” mergulha em um clima introspectivo, com bateria e guitarra repletas de efeitos, antes da entrada dos vocais, que destacam a presença de Tashiina como uma mulher Anishinaabe inserida no contexto ocidental contemporâneo. Já “Cellophane” começa com um ritmo acelerado e quase primal, mas logo se transforma em uma batida dançante e perturbadora, enquanto critica as estruturas imperialistas que tentam apagar culturas originárias.

Com um baixo bem definido e energia pós-punk, “Off Rez” traz versos irônicos sobre o desejo de liberdade. Em “Wrong Planet”, uma faixa crua e intensa que explora a sensação de deslocamento, os vocais potentes lembram Courtney Love, culminando em um refrão explosivo e catártico. “Mountains” é uma balada sombria que mistura grunge com distorções e percussão densa, revelando uma atmosfera melancólica, enquanto “Cut” apresenta um contraste com guitarras acústicas, piano e cordas delicadas, repercutindo conflitos internos.

“Look What You Did” surge como um indie pop urgente à la Wet Leg, enquanto “Earth Eater” eleva a sonoridade do Ribbon Skirt a outro patamar: camadas de guitarra e distorção constroem um clímax avassalador, com a voz hipnótica de Buswa servindo como um chamado ancestral no meio do caos. Com Bite Down, o Ribbon Skirt redefine sua trajetória pós-Love Language, mostrando um futuro promissor para o grupo – e, acima de tudo, resgatando uma história silenciada por séculos.

Bon IverSABLE, fABLE
(Jagjaguwar)

Bon Iver lança seu quinto álbum de estúdio, SABLE, fABLE, expandindo a narrativa iniciada no EP SABLE, divulgado no ano anterior.

Em SABLE,, com seu repertório de três canções, Justin Vernon apresenta composições centradas em voz e violão, revivendo a melancolia e a produção folk orgânica de seu álbum de estreia, For Emma, Forever Ago. As letras exploram vulnerabilidade e superação, refletindo um período de dificuldades pessoais, especialmente durante os primeiros momentos da pandemia. “S P E Y S I D E” é uma balada confessional, carregada de arrependimentos e a vontade de reparar erros do passado. “THINGS BEHIND THINGS BEHIND THINGS” escrita em 2020, aborda a ansiedade e o medo diante de um mundo em transformação, enquanto “AWARDS SEASON” oferece uma visão mais esperançosa sobre sua trajetória artística.

fABLE, a segunda parte do projeto e que resgata a sonoridade dos últimos trabalhos, abre com “Short Story”, uma faixa com uma atmosfera gospel repleta de emoção, onde o falsete de Vernon se entrelaça com harmonias vocais femininas etéreas. “Everything Is Peaceful Love” combina pop, soul e folk com uma vibe nostálgica dos anos 80, trocando a melancolia pela euforia do amor. “Walk Home” mistura batidas de hip hop e vocais processados em melodias grandiosas, celebrando a conexão afetiva e a sensação de pertencimento.

Em “Day One”, Vernon se une a Dijon e Jenn Wasner (do Flock of Dimes) em uma produção pop experimental e eufórica, enquanto “From” mescla guitarra country e batidas suaves para retratar a espera por um amor perdido. “I’ll Be There” evoca os anos 70, com Vernon quase emulando Marvin Gaye em uma sonoridade com ares de Prince. “If Only I Could Wait” , um dueto com Danielle Haim, traz uma perspectiva feminina em uma jornada de busca por significado diante das adversidades, com uma sonoridade etérea e acolhedora na fusão de elementos acústicos e eletrônicos.

O álbum segue com “There’s A Rhythm”, uma balada suave com teclados brilhantes e batidas eletrônicas, onde o músico reflete sobre encontrar seu próprio caminho. O fechamento fica por conta da instrumental “Au Revoir”, que transmite a sensação de um ciclo se completando. SABLE, fABLE apresenta dois lados contrastantes: o primeiro, sombrio e minimalista, mergulha na introspecção; já o segundo, luminoso e pop, celebra a renovação, revelando um Bon Iver mais radiante e otimista.

Jadu HeartPOST HEAVEN
(VLF Records)

Há quase uma década, o duo britânico Jadu Heart transita pela fronteira fluida e inesgotável entre o pop e o underground, seguindo impulsos criativos por trilhas surpreendentes – do funk eletrônico intrincado ao jazz e à música ambiente eletrônica, até o pós-shoegaze. Com o álbum Derealised (2023), um turbilhão sonoro carregado de angústia, o casal Diva Jeffrey e Alex Headford finalmente sentiram que haviam alcançado um novo nível. Fizeram uma turnê pelos EUA e voltaram cheios de energia. Depois, terminaram o relacionamento. Mas a banda continuou.

POST HEAVEN, o quarto álbum da dupla, ao mesmo tempo deslumbrante e marcado por feridas, captura Jeffrey e Headford no rescaldo desse abalo pessoal e profissional, enquanto revisitam os fragmentos de sua relação e os reorganizam. “You’re Dead” começa com sintetizadores brilhantes e batidas que remetem ao drum ‘n’ bass, antes de seguir em uma paisagem sombria e introspectiva, típica do shoegaze. “U”, inspirada em Magnetic Man, traz uma textura indietrônica com toques de neopsicodelia e uma sensibilidade pop, com letras que falam de uma ligação intensa, onde segredos, mentiras e aceitação se entrelaçam.

“Shake Your Ass” é uma faixa instrumental sintética que abre caminho para “AUX”, um rock alternativo sombrio que dialoga com o estilo do Phantogram, explorando um ciclo de cansaço, culpa e busca por perdão. “Entrypoint”, outro instrumental, mistura elementos etéreos e distorções, preparando o terreno para a faixa-título – uma canção melancólica, despojada de eletrônicos, que se destaca pela guitarra acústica e arranjos de cordas delicados, transmitindo a ideia de que, mesmo após o fim, emoções e conexões persistem.

A batida acelerada de “Mild To Moderate Pain” soa um breakbeat guiado por Thom Yorke, pintando um retrato da solidão, enquanto “Lambs.exe”, com sua eletrônica obscura e atmosfera que evoca Aphex Twin, é conduzida por guitarras sutis e vocais suaves, reforçando temas de intimidade e lealdade. “Dualism” combina uma batida arrastada, riffs marcantes e uma tensão sutil nos arranjos, ecoando uma despedida. E por fim, a balada pós-punk “SOS” fala de abraçar o caos, deixar a vida fluir e encontrar beleza nas imperfeições.

Nessa odisseia sonora sem amarras de gênero, a dupla celebra sua trajetória com clareza e empatia, criando uma memória musical em forma de dueto. Mesmo não sendo mais um casal, nunca foram tão potentes como banda.

Daughter of SwordsAlex
(Psychic Hotline)

Alex Sauser-Monnig já é uma figura consolidada no cenário indie, seja pelo trio folk Mountain Man ou pela dupla experimental The A’s. No álbum Alex, sucessor de Dawnbreaker, do projeto solo Daughter of Swords, a artista mescla influências ecléticas de suas colaborações anteriores, criando uma identidade sonora única que equilibra sintetizadores vibrantes, guitarras profundas e batidas pulsantes. O resultado é uma atmosfera imersiva, onde letras introspectivas abordam temas como paixão, desejo, raiva, alienação e os dilemas do capitalismo tardio.

A faixa “Alone Together” explode em indie rock, discutindo a dualidade entre a necessidade de conexão e o desejo de preservar o próprio espaço. Já “Talk To You” une uma leveza lúdica – com palmas, guitarras distorcidas e samples irreverentes – a versos que expressam um anseio intenso por intimidade. “Hard On” mergulha no new wave dos anos 80, celebrando momentos de prazer e conexão física, mesmo quando o interesse não é totalmente recíproco.

Em “Money Hits”, um ritmo pop animado contrasta com uma crítica ácida à obsessão por riqueza e sucesso. “All I Want Is You” é uma declaração de amor crua, com um rock que lembra Courtney Barnett, enquanto “Willow” embala o ouvinte em um devaneio poético, com piano, percussão suave e saxofone.

“Dance” traz uma batida hipnótica e sensual, misturando imagens do cotidiano com sentimentos de solidão. Em “Strange”, um refrão cativante e guitarras energéticas acompanham reflexões sobre a estranheza do mundo. “Song” reduz o ritmo em uma balada acústica melancólica, onde a artista busca consolo na própria música após uma despedida. Por fim, “West of West” encerra o álbum com leveza, combinando piano sereno e eletrônica num contraste entre caos e memórias afetivas.

Com pouco mais de 30 minutos de duração, Alex explora emoções humanas com uma musicalidade rica em referências, sem perder a originalidade. Sauser-Monnig entrega um trabalho coeso, cativante e repleto de liberdade criativa.

Cold SpecksLight for the Midnight
(Mute Artists)

A cantora, compositora e produtora canadense Al Spx, conhecida artisticamente como Cold Specks, lança seu quarto álbum de estúdio, Light for the Midnight. Com dez faixas, o trabalho reúne baladas intensas e canções atmosféricas, destacando a voz soul da artista em meio a arranjos expansivos. Trata-se de seu primeiro disco em mais de sete anos, marcado por reflexões íntimas e emocionais sobre resistência, sobrevivência e transformação, tudo envolto em uma estética que mistura soul, folk, gospel e elementos experimentais, com arranjos de cordas sublimes de Owen Pallett (colaborador de Lana Del Rey e Sampha) e contribuições de Graham Walsh (Holy Fuck).

Light for the Midnight foi gestado durante um período turbulento na vida de Spx, com composições surgidas em meio a batalhas contra questões de saúde mental – vivências que ecoam profundamente nas letras. Em “How it Feels”, a artista mergulha em um registro orquestral denso e pessoal, revisitando um momento decisivo de sua vida: o diagnóstico de transtorno bipolar, abordado com a clareza que só o tempo pode proporcionar. Já “Venus in Pisces” traz uma sonoridade alt-rock, com guitarras elétricas e orquestrações ágeis, versos de um amor ardente e quase obsessivo na voz intensa de Spx.

A simplicidade de “Wandering in the Wild” reflete o período em que a artista esteve internada em uma clínica psiquiátrica, capturando sua jornada antes do diagnóstico. “Cold Goodbye” flerta com um pop sofisticado, enriquecido por metais, enquanto “Lingering Ghosts” explora a batalha contra os fantasmas do passado e a busca por alívio em meio a uma existência marcada por pressão e angústia.

Em “Cheap Dreaming”, os arranjos orquestrais serenos contrastam com a melancolia da interpretação vocal. “Lovely Little Bones” é um lamento em forma de valsa, conduzido por violão e violino, que cresce junto com a expressividade da cantora. Por fim, “Closer” encerra o álbum com um pop inspirado nos anos 1960, transmitindo uma sensação de superação e renascimento.

O registro apresenta Cold Specks em seu momento mais frágil e, paradoxalmente, mais resistente, transformando histórias de dor em canções deslumbrantes e emotivas. Light for the Midnight é um trabalho sobre esperança e recomeço.

VegynBlue Moon Safari
(Warner Music)

Em uma ousada mistura de estilos e épocas, o produtor britânico e artista eletrônico Joe Thornalley, que atende pelo nome Vegyn, dá nova vida ao aclamado álbum de estreia do Air, Moon Safari (1998). Reconhecido por seu trabalho com nomes como Frank Ocean e Travis Scott, Vegyn se consolidou como um produtor inovador, mesclando paisagens sonoras atmosféricas com batidas experimentais e um toque de imprevisibilidade. Ao revisitar Moon Safari, ele aplica sua visão única ao clássico do ambient pop da dupla francesa, trazendo uma energia contemporânea e revitalizada.

Lançado originalmente nos anos 1990, Moon Safari revolucionou a cena eletrônica da época ao unir sintetizadores etéreos, linhas de baixo envolventes e melodias ricas, influenciando gerações de artistas. Canções como “Sexy Boy”, “All I Need” e “La Femme d’Argent” se tornaram ícones da sonoridade descontraída da época. Na releitura de Vegyn, essas faixas mantêm a essência do material original, mas exploram novos territórios. Seu trabalho não se limita a reproduzir o passado, mas sim a evoluí-lo. O resultado, intitulado Blue Moon Safari, equilibra nostalgia e modernidade, oferecendo uma releitura que atualiza o disco sem perder sua aura atemporal.

Lovi Did ThisTrenches
(S&B /Circus On Mars)

Lovi Did This, projeto musical da cantora sueca Karin Beckérus, lança o álbum Trenches, que segue o trabalho de estreia Monsters. A obra propõe uma reflexão sonora sobre os conflitos do mundo atual – tanto nas relações humanas quanto na tensão entre a civilização e a natureza.

Em Trenches, a artista constrói canções que funcionam como trincheiras emocionais, abordando temas como solidão e busca por conexão com uma sensibilidade singular. Sua voz, delicada e ao mesmo tempo intensa, permeia por atmosferas que mesclam melancolia, resiliência e uma beleza inquietante, acompanhadas por guitarras dissonantes, sintetizadores elaborados, theremin soturno e uma interpretação cheia de vulnerabilidade.

“Canary in a Goldmine” é um alt-rock com nuances exóticas e um toque sombrio, remetendo à estética de artistas como PJ Harvey e Anna Calvi, com uma atmosfera cinematográfica ideal para uma produção de David Lynch, carregada de mistério e tensão. “Enemy” é uma faixa crua e impactante, que expõe os horrores da guerra e a desumanização que ela traz, com um ritmo motorik e a ambientação gélida reforçando a brutalidade dos conflitos.

Em “Wedding”, uma balada sombria folk e cantanda em sueco, a artista retrata um amor profundo e eterno, celebrando a paixão e a cumplicidade que resistem ao tempo. “Imaginary Soldier” é um hino pós-punk energético, combinando vocais delicados com letras que questionam certezas absolutas e a complexa relação entre protetor e protegido. “Dog or Bone” aborda, de forma poética e hipnótica, as dinâmicas de poder nos relacionamentos, enquanto “Magnolias” contrasta a agitação do cotidiano com o anseio humano por serenidade. Fechando o álbum, “Forever” revela-se uma balada melancólica onde violoncelos distorcidos e um piano soturno acompanham a voz emotiva de Lovi Did This, transmitindo uma saudade que transcende o tempo – a lembrança de um amor que, mesmo perdido, nunca se apaga.

Jordan FirstmanSecrets
(Capitol Records)

O ator, roteirista e comediante Jordan Firstman, conhecido por sua atuação no filme ‘Rotting in the Sun’ e na série ‘O Professor’, embarca em uma nova fase criativa com Secrets, um álbum que mistura humor e sensibilidade com uma dinâmica puramente sexual. A obra, que atravessa diversos gêneros musicais, é uma expansão de sua famosa série nas redes sociais com o mesmo nome e conta com participações especiais de nomes como Rufus Wainwright, Julia Fox, Rachel Sennott, Suki Waterhouse, LAUNDRY DAY, Jimmy Pop (do Bloodhound Gang) e até a própria mãe do artista.

Secrets explora estilos como jazz, R&B com auto-tune, EDM, pós-punk, funk, rock e pop dos anos 90, sempre guiado pelos títulos criativos enviados pelos fãs – como a indie sleaze despretensiosa “I Wanna See My Friend’s Dicks”, a country “My sisters tryin’to fuck and she needs to chill” ou UK garage à la Pink Panthress de “I’m quitting my job tomorri”. Para dar vida às faixas, o artista colaborou com produtores renomados, incluindo Sega Bodega, parceiro de ShyGirl, e por Blake Slatkin, reconhecido por suas colaborações com artistas como Lil Nas X, Lizzo e Charli XCX. Ainda, o projeto conta com a participação de Zach Dawes, conhecido por seu trabalho frequente ao lado de Lana Del Rey. Secrets é música puramente divertida para não se levar a sério.