6 discos para ouvir hoje: Tunde Adebimpe, Julien Baker & TORRES, quickly, quickly, Beirut e mais

Tunde Adebimpe / Sumner Dilworth

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Tunde Adebimpe, Julien Baker & TORRES, The Convenience, Beirut, quickly, quickly e Domino Kirke.

Tunde AdebimpeThee Black Boltz
(Sub Pop)

Tunde Adebimpe, conhecido como um dos fundadores, vocalista e principal compositor da banda TV On The Radio, lança seu primeiro álbum solo Thee Black Boltz. O disco surge como uma resposta artística ao clima de incerteza global no pós-pandemia, ao avanço de regimes autoritários e à dor íntima de lutos recentes – incluindo a perda trágica de sua irmã mais nova durante a produção do trabalho.

A faixa “Magnetic” revela-se um indie rock energético, que ecoa o clássico “Wolf Like Me”, de sua banda, com vocais intensos e letras que mergulham em reflexões sobre memórias e a existência. Já “Ate The Moon”explora um punk industrial, pintando uma metamorfose caótica e quase mítica, enquanto “Pinstack” mistura batidas Motown distorcidas, guitarras abrasivas e harmonias vocais, num convite para romper com as ilusões da vida e abraçar a transformação.

Em “Drop”, a base é construída com beatbox, sintetizadores e guitarras sutis, enquanto Adebimpe expõe uma inquietação filosófica. “ILY”, por sua vez, é uma balada acústica delicada, com violão ágil e uma declaração de amor comovente. “The Most” combina sintetizadores pulsantes dos anos 80 e um ritmo dancehall, usando o som de uma colisão de carros como metáfora para o fim de um relacionamento. “God Knows” aprofunda essa dor, com o lamento de uma guitarra pedal steel sobre riffs pesados e acordes sombrios de piano, ao transmitir a angústia e o desencanto de alguém que tenta salvar um relacionamento.

O momento mais pop do álbum, “Somebody New”, evoca a energia do New Order, com uma eletrônica brilhante e batidas dançantes – incluindo palmas sincronizadas -, transmitindo um anseio por renovação e um amor que vai além do comum. O fechamento, “Streetlight Nuevo” une batidas frenéticas, camadas de sintetizadores e piano, com letras repletas de simbolismo astrológico e poesia.

Thee Black Boltz marca um novo ciclo na carreira de Tunde Adebimpe, unindo liberdade criativa e profundidade emocional, sem abrir mão da vitalidade que sempre definiu sua música.

Julien Baker & TORRESSend A Prayer My Way
(Matador)

Julien Baker, do boygenius, e Mackenzie Scott (a.k.a. TORRES) unem forças em Send A Prayer My Way, um álbum country que foge dos clichês do gênero. Tudo começou em 2016, numa conversa pós-show, surgiu a ideia: “Por que não fazemos um álbum de country?”. Essa troca casual deu origem a uma colaboração poderosa entre duas vozes conhecidas por sua honestidade lírica e por transformar lutas pessoais em arte.

O resultado é um trabalho que, assim como os grandes clássicos do country, oferece conforto e conexão, provando que ninguém está verdadeiramente só. Com letras diretas e profundas, as artistas exploram temas como solidão, vícios, arrependimentos e vivências LGBTQIA+ com a intensidade de quem fala por experiência própria.

A abertura do disco, “Dirt”, é uma balada serena, embalada pelo som suave do pedal steel e dos violinos, enquanto Baker e Scott cantam sobre um amor conturbado. Já “Sugar in the Tank” traz uma atmosfera descontraída, mesclando guitarras marcantes e percussão pulsante para retratar um romance sáfico repleto de devoção, mesmo diante de incertezas.

Em “Bottom of a Bottle”, as artistas homenageiam o country dos anos 90, narrando a história de alguém que, após perder um grande amor, busca esquecer a dor no álcool. “Downhill Both Ways”, por sua vez, combina o lamento do pedal steel com o som do banjo em uma reflexão delicada sobre vício e exaustão em uma pequena cidade do interior. “No Desert Flower” surge como um hino folk de resiliência, enquanto “Tuesday” aborda o processo de cura diante da culpa e dos traumas causados pelo conservadorismo religioso — uma experiência comum a muitas pessoas queer. Baker, por sua vez, retorna à sua raiz introspectiva em “Showdown”, com riffs que ecoam seus trabalhos anteriores.

“Sylvia”, uma canção dedicada à cadela de Scott, evoca o folk clássico de Crosby, Stills, Nash & Young, enquanto o desfecho do disco, “Goodbye Baby”, começa com um diálogo descontraído entre as artistas no estúdio, mostrando que, mesmo em meio a temas dolorosos, houve espaço para leveza e alegria durante a criação.

The ConvenienceLike Cartoon Vampires
(Winspear)

Em seu segundo álbum, Like Cartoon Vampires, o duo de indie rock The Convenience, formada pelos multi-instrumentistas Nick Corson e Duncan Troast, explora uma sonoridade hipnótica e repleta de colagens sonoras, com uma abordagem espontânea e visceral na composição. O resultado é um universo avant-rock marcado por guitarras dissonantes, ritmos afiados e feedback estridente, representando uma reinvenção radical em relação ao pop rock funky oitentista inspirado em Prince, presente em seu álbum de estreia, Accelerator (2021).

As sessões de gravação foram pautadas por jams improvisados, nos quais a dupla experimentou com loops de fita cassete, sons capturados aleatoriamente e batidas de 808. Faixas como “Target Offer” e “Fake The Feeling” (com seus dez minutos de duração) explodem com distorções, “Dub Vultures” se destaca pela originalidade, com riffs frenéticos e ritmos mutantes, enquanto “Pray’r” e “Rats” as levadas dançantes em favor de um minimalismo sombrio. As influências pop de Accelerator cedem espaço a territórios mais excêntricos, sem, no entanto, perder a essência: o instinto funky e a maestria em criar texturas sonoras hipnóticas.

Nas letras ácidas, Like Cartoon Vampires retrata ansiedade, desespero e o caos do mundo moderno (“Western Pepsi Cola Town”), onde personagens são consumidos pelo vazio e pela vaidade, enquanto a sociedade ignora sua própria ruína. Por trás da aparente apatia, a música não é apenas expressão, mas uma forma visceral de existir.

BeirutA Study of Losses
(Pompeii Recording Co)

O cantor e compositor Zach Condon apresenta o álbum A Study of Losses, o mais amplo e surpreendente trabalho do Beirut até o momento. Composto por 18 músicas, o trabalho foi criado a pedido da companhia de circo sueca Kompani Giraff e se inspira no romance ‘Inventário de Algumas Perdas’, da escritora alemã Judith Schalansky. A obra aborda temas como desaparecimento, preservação e efemeridade, com referências sonoras que vão desde corais e música renascentista até o álbum 69 Love Songs, do Magnetic Fields.

Produzido e composto por Condon em Berlim, Alemanha, e em Stokmarknes, Noruega, com influências que remetem à Suécia e à Alemanha, A Study of Losses amplia ainda mais o universo sonoro que ele desenvolveu ao longo da trajetória do Beirut, desde que começou o projeto como um adolescente curioso e viajante aos 14 anos. O álbum percorre onze canções e sete peças instrumentais extensas, nomeadas em referência aos mares lunares e inspiradas pela história fascinante de um indivíduo dedicado a catalogar todos os pensamentos e obras esquecidos da humanidade.

A Study of Losses é uma ousada mudança de rumo que comprova a disposição de Zach Condon em explorar novos territórios – mesmo que esses agora busquem inspiração no imaginário. Uma prova da evolução da composição do artista e de sua habilidade em criar atmosferas vívidas.

quickly, quicklyI Heard That Noise
(Ghostly International)

O cantor, compositor e multi-instrumentista Graham Jonson explora a dualidade entre melodia e ruído, criando uma mistura única que evoca memórias e emoções. Seu projeto quickly, quickly, nascido em seu estúdio caseiro, é um universo psicodélico repleto de detalhes sonoros intrigantes. Desde seu aclamado álbum de estreia em 2021, Jonson expandiu seus horizontes, formando uma banda, lançando um EP (Easy Listening, 2023) e produzindo para outros artistas (Moses Sumney, Kid LAROI).

I Heard That Noise mescla folk rock com experimentações ruidosas, resultando em canções ambiciosas, mas íntimas, que refletem sua vida pessoal e suas influências – como Mount Eerie, Dijon e Nick Drake. Diferentemente do EP anterior, focado em baterias, este álbum explora espaços entre os sons, usando distorção, delays e mudanças bruscas que lembram sons cinematográficos assustadores.

As letras abordam desde um término doloroso até memórias de infância, como o misterioso zumbido do bairro que batizou seu estúdio (Kenton Sound). A faixa-título começa áspera e se transforma em uma balada delicada sobre aceitação, enquanto “Take It From Me” envolve a dor de um amor perdido ao som de violões acústicos e teclados suaves. Jonson também demonstra talento para interlúdios e contrastes, como em “Enything”, onde guitarras vibrantes se misturam a vocais harmonizados e atmosfera de uma música do MGMT para cantar um amor bobo, ou “I Punched Through The Wall”, que equilibra doçura pop com intensas distorções ao explorar extremos emocionais.

“Raven” mistura uma narrativa quase mitológica com a história triste de um amigo que se perdeu no caminho. No início, a música flui com um country suave e inocente, mas, de repente, Jonson entrega um peso quase metal. Esse contraste revela a essência de I Heard That Noise: ao explorar os extremos do seu som, ele não só extrai o melhor de si, como também abre infinitas formas de se conectar com sua música – cada vez mais acolhedora e sem limites.

Domino KirkeThe Most Familiar Star
(Many Hats)

A cantora, compositora, produtora e doula Domino Kirke lança o álbum The Most Familiar Star, sequência de Beyond Waves, uma obra luminosa e introspectiva que explora com profundidade as questões da identidade e da maternidade. Nascido de um período de reflexão pós-parto, o disco surgiu como uma tentativa íntima de reencontrar partes de si mesma que pareciam se perder entre os anos dedicados aos outros – seja nos cuidados maternos, nos relacionamentos ou no cotidiano. No entanto, a vida sempre reserva surpresas. No meio da divulgação do álbum, entre entrevistas, apresentações e a criação de sua narrativa visual, Kirke recebeu uma notícia inesperada: estava grávida novamente. E, desta vez, de gêmeos.

Com 10 faixas no repertório, The Most Familiar Star mergulha no processo complexo e não linear de renascer emocionalmente, transitando entre a saudade de quem já foi e a aceitação da mudança. O álbum conta com colaborações especiais, como a presença de Angel Olsen na melancólica “It’s Not There”, além da produção de Chris Taylor (Grizzly Bear) e Eliot Krimsky. A sonoridade do trabalho, marcada por sintetizadores etéreos, arranjos de cordas delicados e harmonias vocais intimistas, cria uma atmosfera calorosa. Músicas como “Secret Growing” (que fala sobre traumas da infância), “Teething” (uma reflexão sobre resistência) e “Stepchild” (uma homenagem a quem assume o papel de pai ou mãe sem laços de sangue) evelam uma trajetória de amor, identidade e a passagem do tempo.

Mais do que um reencontro consigo mesma, The Most Familiar Star se torna um farol para quem busca conciliar transformação e memória. Agora, à espera dos gêmeos, o álbum representa tanto um encerramento quanto um novo começo na vida de Kirke.