No single “cor”, sucessor de “ELÔ, o paraense Reiner reflete sobre sua experiência como um pardo amazônida, mencionando a complexidade de ser classificado entre o branco e o preto. Ele destaca que a palavra “pardo” é polêmica e critica a divisão racial no Brasil, que ignora os povos indígenas, caboclos e ribeirinhos, que também enfrentam invisibilidade e têm culturas distintas.
“Na Amazônia, temos sangue indígena, preto e branco”, reflete o artista, que na letra da canção abre um debate a respeito da colocação de que “pardo é papel”, fazendo referência à exposição do artista Maxwell Alexandre. “Ele é um artista que admiro muito, mas na música faço uma crítica ao apagamento que existe dentro dessa afirmação. As pautas identitárias discutidas no sudeste do país não se aplicam ao que vivemos por aqui. Há um desconhecimento interno e externo. A única certeza é: não somos brancos e nem negros”, afirma Reiner.
As problemáticas da miscigenação abordadas na letra se refletem também musicalmente, como, por exemplo, na escolha do samba para conduzir a faixa e no fato de que ela se transforma em uma cúmbia no interlúdio, inspirada em grupos como Buena Vista Social Club e Los Mirlos.
“No contexto amazônico, a cúmbia influenciou muito os ritmos tradicionais da região. Além disso, optei por um vocal meio arrastado para tentar expressar esse não-lugar racial e social”, comenta o artista, que lança o álbum em outubro com apoio do Edital de Música da Lei Paulo Gustavo do Pará.