Ethel Cain encontra beleza na vulnerabilidade humana e no caos sonoro no EP ‘Perverts’

Ethel Cain / Silken Weinberg

A cantora, compositora e produtora Ethel Cain, alter ego biblicamente nomeado de Hayden Silas Anhedönia, lança o EP Perverts. Embora tenha uma duração de 90 minutos, a artista ressalta que o projeto não é um álbum. A obra explora um som ambiente profundo, com uma atmosfera americana intrigante e perturbadora, característica de Preacher’s Daughter, ao mesmo tempo em que introduz vozes distorcidas, frases assustadoras e sons claustrofóbicos, mesclando influências industriais que, em determinados momentos, evocam a sensação de um filme de terror.

A faixa-título, com 12 minutos de duração e que abre o álbum, começa com uma versão sombria e puída de “Mais Perto, Meu Deus, de Ti”, um hino protestante do século XIX escrito por Sarah Flower Adams. A canção segue com Ethel Cain refletindo sobre devoção e julgamento moral, acompanhada por sintetizadores etéreos e minutos de sons ambientes com uma qualidade drone crescente. “Punish” é um canto fúnebre minimalista, escrito a partir da perspectiva de um pedófilo – inspirado na história de Jeffery Doucet -, com um tom ameaçador nos acordes lentos de piano, guitarra barítono e lap steel de Vyva Melinkolya, além dos vocais melancólicos da artista, que transmitem um profundo sentimento de autodestruição e sofrimento.

Com recitações abafadas e a repetição de vários “eu te amo”, que adquirem a qualidade de um mantra, “Housofpsychoticwomn” é dominada por um angustiante e persistente loop industrial, enquanto os versos refletem sobre o amor e a dor que ele pode causar, terminando com um som alarmante. “Vacillator”, a única faixa com percussão, adota um tom de balada country rock ominosa, com guitarras lentas e ecoantes, onde Cain, com vocais murmurados, descreve a perspectiva de um abusador em um relacionamento manipulativo. “Onanist” é uma faixa lenta e assustadora, construída em sutis notas de piano, distorções sonoras e vocais ecoantes com um tom fantasmagórico, em versos que fazem uma referência explícita à masturbação, explorando a busca por um conflito interno, ao se deleitar nos prazeres de atos perversos e na vergonha que os acompanha. “Pulldrone”, com seu ruído industrial perturbador e versos falados, retrata uma jornada emocional e existencial, destacando sentimentos de apatia, dor e a busca por conhecimento.

“Etienne” é uma composição meditativa, construída com violão acústico e piano melancólico, que termina com um discurso gravado detalhando a história de um homem suicida que sai para correr na tentativa de induzir um infarto. Já a instrumental “Thatorchia” cria uma atmosfera aterrorizante com ruídos maçantes e camadas de guitarra imersas em reverb. “Amber Waves”, a faixa de encerramento e talvez a mais acessível do projeto, é sustentada por notas lentas de piano, uma guitarra country sutil e pelo canto esperançoso de Cain, que transmite um sentimento de perda, aceitação e vazio emocional, com versos poéticos como “o diabo que eu conheço é o diabo que eu quero”.

Com Perverts, Ethel Cain não só explora dimensões sonoras inquietantes, mas também nos guia por um percurso emocional profundo, onde a vulnerabilidade humana se mistura à dor e à busca por significado.