8 discos para ouvir hoje: terraplana, St. Lucia, Circuit des Yeux, Neal Francis e mais

terraplana / Livia Rodrigues

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: terraplana, St. Lucia, Twin Shadow, Circuit des Yeux, Mia Wray, Neal Francis, Bianca Steck e Whatever The Weather.

terraplananatural
(Balaclava Records)

A banda curitibana terraplana, reconhecida por sua sonoridade shoegaze, lança o segundo álbum de estúdio, intitulado natural, expandindo sua sonoridade sem se restringir a um único gênero. Para o trabalho, o quarteto, formado por Stephani Heuczuk (voz e baixo), Vinícius Lourenço (voz e guitarra), Cassiano Kruchelski (voz e guitarra) e Wendeu Silverio (bateria), colaborou com Joo-Joo Ashworth, produtor conhecido por trabalhar com artistas como SASAMI e Automatic, reforçando a sonoridade nostálgica e letras reflexivas que marcou a trajetória do grupo, incorporando com mais exatidão elementos de slowcore, post-hardcore e rock alternativo dos anos 90. O primeiro single, “charlie”, apresenta uma sonoridade revitalizada, com os vocais etéreos e dinâmicos de Heuczuk se destacando em meio a guitarras densas e barulhentas. A música aborda a importância de viver o presente. Já “hear a whisper”, faixa bilíngue com participação da conterrânea Samira Winter (Winter), é a única do álbum com versos em inglês. A canção traz uma linha de baixo marcante que remete a Joy Division, combinada com texturas etéreas e vocais contrastantes, explorando temas como a resistência das memórias e da identidade. Os guitarristas também assumem o microfone ocasionalmente, como em “amanhecer”, “todo dia” e “horas iguais”, apresentando uma interpretação direta e impactante de indie rock. A dinâmica entre vozes masculinas e femininas evoca bandas como The xx e Slowdive. “Airbag” é uma balada rock melancólica que lembra Smashing Pumpkins, enquanto “S.N.C.” se destaca pelas guitarras poderosas e uma virada de bateria que caberia num álbum do Radiohead. Fechando o álbum, “morro azul”, combina a melancolia nos vocais de Heuczuk com uma tensão nervosa, impulsionada por linhas de baixo intensas. A letra reflete sobre as dificuldades de ser diferente, a solidão e a busca por identidade, encerrando o trabalho com um tom emocionalmente carregado e introspectivo. Com natural, a terraplana consolida sua identidade musical, mesclando influências diversas e criando um álbum que dialoga com o passado enquanto se projeta para o futuro.

St. LuciaFata Morgana: Dawn
(Nettwerk Music)

O duo St. Lucia, formado por Jean-Philip Grobler e Patti Beranek, lança seu quinto álbum, Fata Morgana: Dawn. O trabalho apresenta uma mistura de pop psicodélico, explorando temas como isolamento, escapismo e evolução pessoal, enquanto combina elementos de música eletrônica, trilhas sonoras cinematográficas e outras influências sonoras. Produzido pelo próprio casal, o disco inclui participações especiais de Aly & AJ e bebe de referências como David Bowie, Electric Light Orchestra e Ennio Morricone. A faixa “Pie In The Sky” é um hino pop grandioso e orquestral, com um toque nostálgico dos anos 1970. Já “Falling Sleep” traz um pop alternativo cheio de energia, com arranjos de cordas refinados e uma letra que fala sobre oferecer apoio e conforto em momentos de dificuldade, ajudando a afastar pensamentos negativos. “In Your Arms” é profundamente influenciada por artistas brasileiros da década de 1970, como Milton Nascimento, além de capturar a essência do movimento musical da época, que reinterpretava bandas ocidentais, como The Beatles, com uma perspectiva singular. “Campari Lips & Soda”, em parceria com o duo de pop rock Aly & AJ, apresenta uma atmosfera tropical, com batidas eletrônicas, guitarras suaves, teclados atmosféricos, harmonias vocais cativantes e um saxofone envolvente. Em “Rolling Man”, o duo adota uma abordagem mais experimental e despojada, transitando entre o pop e um estilo mais relaxado, como se fossem envolvidos por uma produção energética à la Bruce Springsteen. “In The Light” combina um saxofone com nuances de jazz e uma batida marcante de chimbal, explorando as complexidades de personalidades carismáticas e a fascinação pelo que é considerado “sabedoria superior”. Já “Fear Of Falling” é uma reflexão emocional sobre a trajetória da vida, inspirada pelo nascimento do primeiro filho do casal, com uma instrumentação rica e influências psicodélicas das décadas de 1960 e 1970. Como banda, o St. Lucia sempre buscou levar os ouvintes em uma jornada sonora, e Fata Morgana: Dawn é, sem dúvida, a experiência mais intensa e envolvente que eles já criaram.

Twin ShadowGeorgie
(Dom Recs / Cheree Cheree)

O cantor, compositor e produtor George Lewis Jr. (a.k.a Twin Shadow) lança seu sexto álbum de estúdio, Georgie. O título é uma homenagem ao seu pai, falecido durante a criação do projeto, e não a si mesmo. A obra aborda a aceitação do fechamento de um ciclo e o começo de uma nova fase. Diferente da grandiosidade que marcou seus trabalhos anteriores, Georgie apresenta um alt-R&B minimalista, com foco emocional na superação de relacionamentos passados. As faixas transitam entre a melancolia e o romantismo, oferecendo uma experiência sonora cinematográfica e profundamente emotiva, que reforça a contínua evolução do artista. Neste disco, Lewis Jr. optou por uma abordagem incomum: criar um álbum sem bateria, desafiando as convenções da música pop contemporânea ao eliminar batidas marcantes. A faixa de abertura, “Totally Blue”, combina guitarras delicadas e arranjos de cordas envolventes, criando uma atmosfera que lembra os trabalhos de Blood Orange. Já “Good Times” é uma balada construída sobre um violão suave, sintetizadores etéreos e a voz cativante de George, que reflete sobre a complexidade de um relacionamento marcado por dor e lembranças. “As Soon As You Can” é uma canção serena e luminosa que explora as vulnerabilidades de um vínculo amoroso e o medo de uma separação iminente. “Funny Games” é um número acústico envolvente, repleto de romantismo, enquanto “You Already Know” aborda a angústia de aceitar o fim de algo que já não existe mais. “Emily”, com sua sonoridade delicada e emocionante, evoca a memória de um relacionamento intenso e inesquecível. Por fim, “Permanent Feeling” se destaca pela simplicidade, mesclando guitarras suaves, sintetizadores atmosféricos e a voz emotiva de Lewis Jr.. Georgie é um trabalho íntimo e minimalista, no qual o artista explora temas como luto, memória e uma reflexão silenciosa sobre si mesmo.

Circuit des YeuxHalo On The Inside
(Matador Records)

A compositora experimental e vocalista Haley Fohr, responsável pelo projeto Circuit des Yeux, apresenta Halo On The Inside, um álbum ousado que marca o início de uma nova e emocionante fase em sua carreira. A obra é uma explosão de sensações sonoras, mesclando ritmo intenso, elementos pagãos e instrumentais marcantes, com batidas pulsantes, linhas de baixo profundas e toques psicodélicos. Fohr reconecta o folk orquestral sombrio de seus trabalhos anteriores, agora visto através de uma perspectiva influenciada pelo darkwave, música industrial, rave e estéticas góticas. O resultado é uma sonoridade que mantém a poesia característica de suas composições, ao mesmo tempo que as eleva a novas dimensões e texturas sonoras. Em “Megaloner”, sintetizadores pulsantes e elementos eletrônicos se fundem em um pop expansivo e introspectivo, refletindo sobre a importância do desapego. Já “Canopy of Eden” mergulha em um darkwave industrial com distorções techno, evocando referências a Depeche Mode e The Chemical Brothers, enquanto letras emotivas e vocais hipnóticos acrescentam camadas de mistério e tensão. “Skeleton Key” inicia com uma atmosfera serena, explorando temas ligados à sexualidade por meio de pianos e sintetizadores delicados, para então culminar em uma explosão emocional com cordas e um solo de guitarra intenso. Em “Anthem of Me” guitarras distorcidas, batidas poderosas e elementos eletrônicos brilhantes se entrelaçam com sutis notas de piano, criando uma faixa angustiante e envolvente. A balada sombria “Cathexis” é conduzida por um órgão solene, acompanhado por uma colagem de vozes distorcidas e sussurros que simbolizam a entrega na submissão. Por fim, “Truth”, envolta em uma aura disco e impulsionada por ritmos irregulares, baixo e teclados, transforma-se em um mantra hipnótico que questiona a natureza subjetiva da verdade. Halo On The Inside é uma jornada intensa, sensual e cativante, que transforma a escuridão em uma experiência visceral e profundamente fascinante.

Mia Wrayhi, it’s nice to meet me
(Mushroom Music)

A cantora e compositora australiana Mia Wray, em seu álbum de estreia hi, it’s nice to meet me, demonstra uma evolução notável tanto em sua música quanto em sua trajetória pessoal, mesclando de forma impressionante estilos como bedroom pop, indie e rock. Após o fim de um relacionamento duradouro e a descoberta de sua identidade queer, o álbum reflete uma jornada de autodescoberta e autoaceitação. Com singles como a energética “Tell Her” e a emotiva “Sad But True”, Wray aborda temas como desejos contidos e a sensação de paralisia – vivida ao se apaixonar por uma mulher enquanto ainda dividia a vida com o namorado e alimentava expectativas de casamento. Já em faixas como “Nice To Meet Me” e “Not Enough”, com sua pegada pop rock, ela explora sua descoberta sexual e projeta esperanças para o futuro. O trabalho também evidencia sua versatilidade, com canções cativantes como “What If” e “The Way She Moves”, que trazem uma atmosfera dançante e influências de artistas como Florence Welch. “Get Out of My Way”, criada durante a frustração gerada pela pandemia, se destaca como um pop clássico e energético. O álbum se encerra com “Everybody Knows”, uma balada minimalista que reforça a maturidade artística de Wray. hi, it’s nice to meet me é um projeto expansivo e emocional, simbolizando um novo capítulo na carreira da artista e prometendo ecoar intensamente.

Neal FrancisReturn To Zero
(ATO Records)

O terceiro álbum do cantor, compositor e pianista Neal Francis, Return To Zero, combina elementos de rock nostálgico, soul e disco com uma abordagem contemporânea e inovadora, repleta de groove e inspirada em ícones como George Clinton, Hamilton Bohannon e outros pioneiros do proto-house dos anos 70. Com onze faixas, o álbum alterna entre momentos energéticos e baladas introspectivas, unindo riffs de guitarra intensos, grooves cativantes, arranjos de cordas e vocais potentes. Embora mantenha suas raízes funk, como na faixa de abertura “Need You Again”, Francis expande seus horizontes sonoros em canções como a disco cósmica “Can’t Get Enough” e o rock com traços de Squeeze em “Dirty Little Secret”. Em “Broken Glass”, ele adota um tom mais sombrio, abordando temas de submissão e devoção extrema, com riffs hipnóticos, passagens de piano marcantes e seu falsete acompanhado pelos vocais de apoio do grupo Say She She. Além disso, ele mergulha no soul em “Back It Up”, no indie rock em “What’s Left of Me”, no blues rock em “150 More Times” e na influência da cena musical de Laurel Canyon no final dos anos 60 em “What’s  Left O Me”, demonstrando sua versatilidade para emocionar. Com uma estética vintage e uma produção moderna, focada no rock e na era da música dance dos anos 70, Return To Zero representa um amadurecimento artístico.

Bianca SteckThe Joy of Coincidences
(Unday Records / N.E.W.S.)

O álbum The Joy of Coincidences marca a estreia da cantora e compositora Bianca Steck, natural de Barcelona e com raízes britânicas e alemãs. Motivada pela busca de serenidade e quietude em meio ao turbilhão das cidades, Bianca criou doze faixas em locais variados, como cafés, jardins públicos e a varanda de seu lar em Bruxelas. A obra traduz sua percepção atenta da sociedade e do universo que a cerca, adotando narrativas e emoções que revelam tanto a essência humana quanto a jornada interior. Com traços do folk e do pop, suas composições mesclam instrumentos tradicionais (harpa, violoncelo, piano, flugelhorn) com elementos contemporâneos (sintetizadores, bateria, guitarra baixo), resultando em uma atmosfera sonora suave e quase etérea. As letras narram vivências reais, mas filtradas por uma perspectiva criativa e poética. Para a artista, as coincidências são breves pausas lúdicas no ritmo do dia a dia, uma espécie de alívio essencial em períodos de instabilidade. Em “I Dream of An Island”, ela expressa o anseio por um refúgio de calma e harmonia, seja na fantasia ou na tentativa de concretizá-lo. Já “Old Fashioned Parade”, guiada por um piano soturno, questiona a ideia de avanço, destacando como certas coisas aparentam evoluir, mas no fundo continuam as mesmas. “Strange Room”, com sua melodia refinada e introspectiva, aborda dualidades afetivas, enquanto “Going Astray” reflete um distanciamento do mundo, onde a hiperconexão acaba gerando isolamento.  Produzido em parceria com o pianista catalão Nil Ciuró e com a participação especial de Hania Rani em “Dragon’s Eyes”, o disco foi inicialmente gravado em seu próprio lar e posteriormente finalizado em um estúdio nas montanhas da Catalunha. A obra exalta a singeleza e o encanto dos acasos, proporcionando um abrigo musical para as inquietações existenciais da atualidade.

Whatever The WeatherWhatever the Weather II
(Ghostly International)

Loraine James, produtora musical londrina, estabeleceu sua identidade artística em pouco mais de cinco anos, destacando-se por sua composição refinada, experimentação ousada e programação eletrônica intricada. Sob o pseudônimo Whatever The Weather, ela adota uma abordagem mais introspectiva e impressionista, contrastando com as colaborações vocais e influências do IDM presentes em seus trabalhos lançados sob seu próprio nome. No álbum Whatever The Weather II, James constrói paisagens sonoras ricas em texturas, transitando entre ambientes hipnóticos, ritmos fragmentados e colagens de gravações cotidianas. O resultado é uma beleza singular, que harmoniza elementos orgânicos e digitais de maneira envolvente. Cada faixa do registro recebe um título baseado na “temperatura emocional” que a artista experimentou durante o processo de gravação, embora ela ressalte que essas sensações podem se transformar ao revisitar as músicas. As faixas variam de ambientes granulares e estáticos (“1°C”) a paisagens sonoras glitchy e percussivas (“20°C”), sempre mantendo um toque de espontaneidade e improvisação. James prioriza o uso de hardware, como sintetizadores e pedais, criando arranjos que capturam o instante exato de sua criação. A sequência das faixas foi meticulosamente planejada para evocar uma sensação de fluxo sazonal e graça naturalística. O álbum atinge momentos de grande impacto emocional, como em “9°C”, que combina ecos de crianças em um parque com tons distorcidos, e “15°C”, que alterna entre melodias suaves e ritmos cíclicos inquietantes. A faixa final, “12°C”, mescla ambientes urbanos com uma batida concreta, encerrando o álbum com um violão acústico e uma batida suave, deixando um clima de ambiguidade e a promessa de novas explorações. Whatever The Weather II é uma obra que desafia convenções, unindo composição formal e experimentação audaciosa para criar uma experiência sonora única e repleta de surpresas.