Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Florence and the Machine, The Smile, Desire, The Black Keys, Moderat, Elza Soares e Emanuela.
• Florence and the Machine – Dancer Fever
(Universal Music)
Escrito durante a pandemia, Dance Fever foi inspirado no fenômeno russo da “coreomania” – um acontecimento social ocorrido basicamente no continente europeu entre os séculos XIV e XVIII, onde as pessoas dançavam até o colapso, ocasionalmente espumando pela boca até desmaiarem de cansaço. Embora a coreografia sempre tenha sido um dos suportes dos shows de Florence Welch, talvez esteja mais entrelaçada do que nunca no quinto disco de estúdio, uma evolução natural de How Big, How Blue, How Beautiful e High As Hope. O trabalho traz de volta o lado mais hinário de Welch com tons de pop, dance, Iggy Pop dos anos 70, folk com saudade da estrada à la Lucinda Williams ou Emmylou Harris e mais. A artista explora seu poder ferindo a persona que criou (“Heaven Is Here”), enfrentando a escuridão e encontrando domínio na redenção (“King”). É um álbum que vê Welch no auge dos artifícios, chegando a um autoconhecimento plenamente realizado, zombando da própria personalidade criada (“Free”), ideias de identidade (“Dream Girl Evil”, com backing vocal de Maggie Rogers e lidando com os padrões duplos impostos sobre como as mulheres jovens devem agir em uma sociedade) e tormento geracional (“Daffodil”). Dance Fever é um ritual de redenção pós-pandemia para dançar nos ciclos mais sombrios.
• The Smile – A Light For Attracting Attention
(XL Recordings)
O supergrupo The Smile, banda de Thom Yorke e Jonny Greenwood do Radiohead com o baterista Tom Skinner do grupo de jazz britânico Sons of Kemet, lança o disco de estreia com produção de Nigel Godrich (Arcade Fire, Paul McCartney). Há um resgate das paisagens e bagagens sonoras do Radiohead nos sintetizadores de Kid A (“The Same”), no art rock despretensioso de Hail to the the Thief (“We Don’t Know What Tomorrow Brings”), nos números orquestrais e acústicos de A Moon Shaped Pool (“Free in the Knowledge”, “Pana-vision”) e guitarras arpejadas e reverberadas de In Rainbows (“Skrting On The Surface”). São canções de letras enigmáticas de desconforto e alienação construídas no vocal distinto de Yorke que se completam nos metais e cordas da Orquestra Contemporânea de Londres (“Speech Bubbles”) e na percussão efetiva de Skinner (“Thin Thing”, “A Hairdryer”). É um material com som familiar, longe de ser algo ruim, que corresponde a ausência de seis anos desde o último disco do Radiohead.
• Desire – Escape
(Italians Do It Better)
Após mais de uma década do disco de estreia, o Desire, projeto synthpop da cantora Megan Louise e do produtor Johnny Jewel, retorna com o segundo registro de estúdio. Escape é inspirado na aura sinistra e vívida dos filmes Giallo dos anos 1970 – de nomes como Mario Bava e Dario Argento – com uma série de instrumentos eletrônicos, melodias de grupos femininos, coros infantis e letras trilíngues. Quase como se estivessem fazendo a trilha sonora de um slasher descomedido. São histórias de amor e luxúria ilustradas por melodias pulsantes, sintetizadores cinematográficos e temíveis (“Black Latex”, “Zeros”), batidas dançantes, uma atmosfera de clube noturno à meia luz com espírito vintage italo disco (“Escape”) e synthwave nostálgico (“Liquid Dreams”) que sugerem um presságio maléfico (“Telling Me Lies”).
• The Black Keys – Dropout Boogie
(Nonesuch Records)
Como eles fizeram toda a sua carreira, o guitarrista Dan Auerbach e o baterista Patrick Carney escrevram todo o material no estúdio e capturam uma série de primeiras tomadas que remetem ao garage blues rock despojado (“War Child”) de seus primeiros dias fazendo música juntos nos porões de Akron. A crueza e as imperfeições foram algo que aprenderam com sons influentes do rock experimental dos anos 70 e do country blues (“Burn the Damn Thing Down”). Dropout Boogie, o décimo e primeiro disco de estúdio do The Black Keys, é um álbum imediato em sua explosão de 34 minutos. Procura retornar os primeiros dias do duo fazendo demos de blues rock nas guitarras estrondosas e grooves (“It Ain’t Over”), ao mesmo tempo em que convida grandes colaboradores a se juntarem pela primeira vez na história da banda – de Billy F. Gibbons (ZZ Top), para Greg Cartwright (Reigning Sound) a Angelo Petraglia (Kings of Leon).
• Moderat – MORE D4TA
(Monkeytown Records)
More D4TA, o quarto álbum do grupo, chega mais de seis anos depois de seu antecessor (III), mas o conteúdo é essencialmente do supergrupo eletrônico Moderat. Embora o hiato do trio tenha sido absolutamente real – exaustos após anos de turnê, Apparat (Sascha Ring) e Modeselektor (Gernot Bronsert e Sebastian Szary) passaram dois anos longe um do outro, concentrando-se projetos próprios – uma vez que decidiram voltar a trabalhar juntos, o trabalhou começou a fluir novamente. Depois de passar a maior parte de duas décadas fazendo música juntos, eles criaram um som e uma estética próprios e More D4TA apresenta um grupo que é recarregado de forma criativa e totalmente dedicado ao ofício de criar paisagens sonoras pulsantes (“EASY PREY”, “NEON RATS”), que abrem espaço para uma profunda exploração emocional (“NUMB BELL”).
• Elza Soares – Elza Ao Vivo No Municipal
(Deck)
O álbum póstumo Elza Ao Vivo no Municipal, último registro musical de Elza Soares, foi gravado no Theatro Municipal dois dias antes da morte da cantora, em janeiro deste ano, e inclui 15 canções – num show de caráter retrospectivo que passeia pelos 70 anos de carreira da artista – que conta passagens da vida da lendária cantora e de como ela enxergava o mundo aos 91 anos.
• Emanuela – MADE IN HEAVEN
(Ella Manuela Hill)
O disco de estreia de Emanuela é uma cacofonia pop distinta, ousado e sensual do início ao fim. Com uma agilidade de transformar paisagens angelicais e etéreas em batidas eletrônicas agitadas e com alguns blips de sintetizadores que lembram jogos retrô (“Made In Heave”), abusar de sintetizadores ruidosos e breakbeats incomprreesíveis (“Sick”) ou trazer batidas industriais que parecem invadir o universo de Björk e Grimes (“Young Boi”). MADE IN HEAVEN é imprevisível e cativante, possível visualizar o domínio criativo da artista sendo extraído em cada uma das produções.