Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Lil Silva, Lizzo, Steve Lacy, Superorganism, Interpol, black midi, beabadoobee e Wilt & Oceans.
• Lil Silva – Yesterday Is Heavy
(Nowhere Music)
Após anos de trabalhos para nomes como Adele, Damon Albarn, Mark Ronson, BANKS e até focando esporadicamente na carreira solo com alguns EPs, o produtor e compositor TJ Carter (a.k.a. Lil Silva), uma das mentes mais inventivas do Reino Unido dos últimos tempos, apresenta o primeiro disco completo. Em Yesterday Is Heavy, ele transita e reinventa com destreza seus sons com raízes profundas no funky, grime, dub e experimenta elementos de hip hop e jazz sobre ritmos dinâmicos, orquestrações deslumbrantes e samples de vocais fantasmagóricos. Com uma lista invejável de convidados – como serpentwithfeet (“Ends Now”), Sampha (“Backwards”), BADBADNOTGOOD (“To The Floor”), Little Dragon (“Be Cool”), Charlotte Day Wilson (“Leave It”), Skiifall (“What If?”) e muitos outros -, Lil Silva colhe os frutos da ampla gama de influências de mais de uma década para criar o álbum que sempre sonhou.
• Lizzo – Special
(Nice Life/Atlantic)
Lizzo retorna com o esplêndido Special, um material coeso com canções sobre positividade, empoderamento feminino e abordagem irônica comprometido com o pop e flertando com soul, disco e funk dos anos 1970 (“About Damn Time”, “Everybody’s Gay”) ao synthpop dos 1980 (“I Love You Bitch”). Com samples assertivos – de Kool & the Gang (em “Naked”) a Beastie Boys (em “Grrrls”), produções primordiais – Mark Ronson assume “Break Up Twice”, um tributo à Lauryn Hill e que caberia no repertório de Amy Winehouse, e Max Martin instigado por The Pointer Sisters na fantástica “2 Be Loved (Am I Ready)” -, instrumentações impressionantes e muito amor, o resultado é um trabalho revigorante em que até os momentos de vulnerabilidade da artista (“Naked”, “If You Love Me”) são superados em questão de segundos.
• Steve Lacy – Gemini Rights
(RCA Records)
Assim como o próprio Steve Lacy, Gemini Rights, o sucessor da estreia solo Apollo XXI, é descrito como uma combinação de referências e influências – de Caetono Veloso a André 3000 da era The Love Below, de Beatles a Sly Stone, os colegas do The Internet e muito mais. O registro encontra o artista recolhendo os cacos de um coração partido após o fim de um relacionamento. Canta sobre o término (“Static”), a angústia da perda (“Bad Habit”), o cuidado ao investir num novo amor (“Helmet”), a convivência com a própria solidão (“Buttons”, “Mercury”) e cogita a existência de um sentimento (“Sunshine” com vocais gloriosos de Fousheé) para um possível retorno (“Give You the World”). Gemini Rights é o processo de uma separação (e, talvez, um renascimento) apresentado de forma legítima por Lacy.
• Superorganism – World Wide Pop
(Domino)
Depois de uma obra de estreia repleta de estranhezas sonoras, criada despretensiosamente via troca de e-mails pelo grupo de amigos (até então) virtuais, o Superorganism retorna com o segundo disco com todas as qualidades frenéticas que os tornaram cativantes. World Wide Pop, uma reflexão enérgica e falha sobre tecnologia, alinha e intensifica o som excêntrico, colorido e catártico de vocais açucarados do coletivo sob o direcionamento focado dos produtores Stuart Price e John Hill. Colaborações improváveis de nomes como o roqueiro Stephen Malkmus do Pavement, o rapper britânico Dylan Cartlidge (“It’s Raining”), Gen Hoshino (“Into The Sun”), CHAI (“Teenager“) e Pi Ja Ma são a prova de que o grupo está aberto para novas conexões e experimentações em busca de prazer e diversão acima de tudo.
• Interpol – The Other Side of Make-Believe
(Matador Records)
Como tantos lançamentos deste ano, o sétimo álbum do Interpol foi concebido inteiramente em meio à pandemia de COVID-19 e vários bloqueios que forçaram uma mudança na forma de produzir da banda e que afeta na natureza do projeto. Neste contexto, a banda contrabalança pessimismo com esperança. Ilustra o medo do desconhecido personificado pela pandemia e a capacidade humana de ser resiliente (“Fables”). The Other Side of Make-Believe também explora as correntes mais sinistras dos dias atuais. Os arranjos de guitarra serpentina de Daniel Kessler atingem os céus em “Into The Night”, Samuel Fogarino quebra sua precisão percussiva em compassos inquietantes, enquanto os vocais de Paul Bank exalam uma vulnerabilidade profunda e ansiosa. Produzido pelos lendários Flood (U2, Depeche Mode, PJ Harvey) e Alan Moulder (White Lies, The Killers), o registro revela-se uma obra de melancolia, escuridão e introspecção.
• black midi – Hellfire
(Rough Trade Records)
Hellfire é um pacote absoluto de músicas exaltadas e deturpadas. O registro baseia-se nos elementos melódicos e harmônicos de Cavalcade, enquanto expande a brutalidade e intensidade do álbum de estreia, Schlagenheim. Se as histórias de Cavalcade foram contadas em terceira pessoa como um filme de drama, Hellfire é apresentado em primeira pessoa e retrata personagens moralmente suspeitos de forma épica. Uma ópera rock caótica e criativa (“Welcome To Hell”) enredada por guerras, doenças, assassinatos, exploração, cinismo e pecados capitais que abrangem prog-rock, pós-punk, pop, psicodelia, funk, jazz (“Sugar/Tzu”), música clássica, flamenco (“Eat Me Eat”) e tudo que pode ser abraçado pela banda e os vocais histéricos de Geordie Greep.
• beabadoobee – Beatopia
(Dirty Hit)
Beatopia – o título do álbum vem de um universo imaginário que beabadoobee inventou quando era uma criança de sete anos – é um retorno ao mundo fantástico de memórias da artista (“broken cd”) e que se apresenta mais aprimorado do que na estreia Fake It Flowers. O trabalho marca uma colossal progressão combinando guitarras surradas, baterias eletrônicas e vocais melancólicos que percorrem essencialmente os caminhos do indie rock dos anos 90 (“Talk”), shoegaze (“See You Soon”) e encontrando fugas para expandir a sonoridade com referências de outras eras – do samba / bossa nova (“the perfect pair”) ao emo (“picture of us” com Matt Healy do The 1975) e pop agridoce (“Sunny day”) – em números eufóricos e serenos (“Lovesong”).
• Wilt & Oceans – Wilt
(Shelflife Records)
O trio britânico Wilt e o duo australiano Oceans lançam o EP de estreia criado por trocas de mensagens online. Embora nunca tenham se encontrado pessoalmente durante a criação, o projeto entre as bandas foi co-escrito por meio de um fórum, onde eles decidiram se juntar para fazer um registro colaborativo shoegaze durante o isolamento por conta da pandemia de COVID-19. Com seis músicas no repertório, o compacto encontra os ambos atos unindo-se em absoluta harmonia e equilíbrio na paleta atmosféricas de post-rock (“Amour”), dreampop (“Blank Field”) e shoegaze.