11 discos para ouvir hoje: The Smile, Orla Gartland, Caribou, Abstract Crimewave e mais

The Smile / Divulgação

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: The Smile, Caribou, Geordie Greep, Orla Gartland, Dawn Richard & Spencer Zahn, Coldplay, FINNEAS, Half Waif, Thee Sacred Souls, Leon Bridges e Abstract Crimewave.

The SmileCutouts
(XL Recordings)

O The Smile, formado por Thom Yorke e Jonny Greenwood, do Radiohead, junto com Tom Skinner, do Sons of Kemet, apresenta seu segundo álbum de 2024, Cutouts. Embora tenha sido gravado no mesmo período que o registro anterior, Wall of Eyes, o trabalho revela uma identidade própria, com ritmos instáveis na percussão de Skinner e uma combinação de sintetizadores e arranjos magistrais de cordas da London Contemporary Orchestra que formam a base de diversas músicas. “Foreign Spies” traz uma sonoridade etérea, com sintetizadores astrais e vocais melancólicos de Yorke, criando um contraste entre a aparência de um mundo bonito e a realidade sombria que se esconde por trás dele. Por sua vez, “Instant Psalm” evoca o pop psicodélico dos anos 60, com uma atmosfera entusiasta, explorando sentimentos de solidão e a busca por conexão em meio ao caos emocional. “Zero Sum”, com sua batida intensa, destaca a entrega irônica de Yorke em uma crítica à confiança perturbada em sistemas falhos, como ilustrado nos versos “Windows 95”. “Eyes & Mouth” se destaca pela guitarra de Greenwood em escalas, acompanhada pelas batidas adiantadas de Skinner, enquanto acordes de piano e as harmonias de Yorke expandem a desordem sonora. “Don’t Get Me Started” revela uma musicalidade obscura, complementada por uma percussão inquieta voltada para o jazz, apresentando uma declaração de resistência do vocalista, que recusa ser contido e afirma que as palavras dos outros não têm valor. A faixa que encerra o disco, “Bodies Laughing”, é uma balada com progressões de acordes características do Radiohead, sintetizadores atmosféricos e percussão intrincada, com os vocais melancólicos de Thom explorando a vulnerabilidade humana e de como, diante da desordem, às vezes a única reação possível é rir da situação. Cutouts é um trabalho diversificado, repleto de fascínio e elegância musical, onde a independência criativa do trio – mais uma vez – se ressalta.

CaribouHoney
(Merge Records)

O compositor e produtor canadense Dan Snaith, conhecido também pelo projeto Daphni, retorna com seu pseudônimo Caribou e apresenta o álbum Honey. Enquanto os trabalhos anteriores, Our Love (2014) e Suddenly (2020), eram profundamente pessoais, Honey é decididamente mais acolhedor e acessível. Nele, Snaith incorpora elementos do Daphni, voltado para a música de clube, além de vocais digitalmente alterados para parecerem de outra pessoa (como na dançante “Broke My Heart”, que remete a “Tom’s Diner”, de Suzanne Vega), embora ele cante em todas as faixas. Na balada “Campfire”, ele canta como si mesmo e como um ciborgue feminino, além de se aventurar pelo rap. “Volume”, que presta homenagem ao clássico “Pump Up The Volume” (1987) do M/A/R/R/S, é complementada pela inspiradora visão de house de Snaith. “Come Find Me” combina elementos de French touch com sintetizadores suaves, “Do Without You” aposta no two-step clássico, enquanto a faixa-título explora o dubstep e o UK garage. Mesmo sem reinventar a roda e experimentando excessivamente o uso de inteligência artificial, o resultado final é uma coleção de músicas eletrônicas cativantes e dinâmicas para as pistas de dança.

Geordie GreepThe New Sound
(Rough Trade)

O álbum solo de estreia de Geordie Greep, The New Sound, traz um pop alternativo divertido e de alta qualidade – com influências de samba e bossa nova (“Terra”) -, equilibrando o ridículo e o brilhante. Greep, integrante da banda black midi, relata que a gravação deste álbum foi a primeira vez em que não teve que responder a ninguém, destacando a liberdade criativa que sentiu. O álbum envolveu mais de trinta músicos, com gravações em dois continentes, sendo metade das faixas gravadas no Brasil com músicos locais, em um processo rápido e espontâneo. Musicalmente, o álbum tem influências de Frank Zappa, Frank Sinatra e Scott Walker, e a faixa-título instrumental mistura jazz funk com elementos que poderiam servir como trilha sonora para séries ou musicais. As faixas variam de sussurros a gritos, sempre com um toque dramático e teatral. As histórias exploram temas de desespero e fantasia, com personagens se envolvendo em situações bizarras, como canibalismo e o nascimento de uma cabra. O álbum também reflete a vida urbana, ambientado em cafés, bares e museus estranhos, misturando paródia e sermão. A faixa “Holy Holy” apresenta uma fantasia romântica com acordes indie e uma banda latina vibrante. Greep planeja continuar com essa abordagem experimental, usando diferentes músicos e locais em seus futuros trabalhos, ressaltando que nada será igual com ele no comando.

Orla GartlandEverybody Needs A Hero
(New Friends Music)

Everybody Needs A Hero é o segundo álbum de estúdio da artista e produtora irlandesa Orla Gartland, lançado por meio de seu próprio selo, New Friends. O disco investiga como Gartland se transforma ao longo de um relacionamento duradouro e descobre como afirmar seu espaço em um contexto pós-feminista. Durante a obra, Orla explora o conceito de “herói”: uma figura admirada, que nos salva de nós mesmos e a qual usamos para escapar de nosso lado mais sombrio. Desde a pop punk “Little Chaos”, que retrata um conflito interno de alguém que deseja que outra pessoa tome decisões por ela, mas que também busca aceitação e amor apesar de suas falhas, até a balada folk “The Hit”, que descreve uma relação intensa e profunda entre duas pessoas que compartilham uma conexão quase mágica, como se fossem bonecos vodu, passando pela parceria dance punk “Late To The Party”, com Declan McKenna, Gartland navega por temas emocionalmente desafiadores em um testemunho de seu crescimento artístico, confiança gradativa e senso de independência, fundamentado em uma honestidade brutal.

Dawn Richard & Spencer ZahnQuiet In A World Full Of Noise
(Merge Records)

A artista de pop experimental Dawn Richard e o muti-instrumentista e compositor Spencer Zahn compartilham uma abordagem colaborativa, curiosidade musical e o desejo de fugir das convenções de gênero. Essa visão os uniu pela primeira vez em Pigments (2022) e agora os reúne novamente em Quiet in a World Full of Noise. O álbum mistura paisagens sonoras atmosféricas e orquestrais com soul, jazz e vocais confessionais. Richard está em sua forma mais crua e exposta, canalizando experiências traumáticas recentes, como o diagnóstico de câncer e os mini-AVCs de seu pai e o assassinato de seu primo Cisco (“Life In Numbers”). As letras refletem essas perdas, sendo deixadas nuas e humanas (“Diets”), sem processamento. Quiet In A World Full Of Noise expande as definições de R&B progressivo e vanguardista ao reescrevê-las completamente.

ColdplayMoon Music
(Parlophone Records)

O Coldplay apresenta o seu décimo registro de estúdio, Moon Music, retomando suas composições delicadas e grandiosas, explorando o amor em diversas formas e refletindo sobre a vida de maneira simples. A faixa-título, em parceria com Jon Hopkins, abre com uma orquestração cinematográfica, destacando a importância de abraçar as emoções. feelslikeimfallinginlove é uma balada eletropop feita sob medida para as grandiosas apresentações da banda, com sintetizadores atmosféricos e riffs de guitarra imponentes. Os versos falam sobre a sensação de se apaixonar intensamente, enfrentando medos e vulnerabilidades, e encontrando esperança em meio à escuridão emocional. Enquanto “GOOD FEELiNGS”, com a participação de Ayra Starr, traz uma sonoridade disco funk animada, que poderia facilmente estar na trilha sonora de ‘Trolls’, ao lado de “Can’t Stop The Feeling” de Justin Timberlake, “AETERNA” carrega elementos de synthpop e house, expressando uma experiência de felicidade intensa e transcendental. As faixas “🌈” e “ONE WORLD” buscam inspiração no universo onírico do Sigur Rós. “JUPiTER” é uma balada pop folk com belas orquestrações, que aborda a história de uma garota queer enfrentando a homofobia, enquanto “iAAM” busca um som grandioso sobre transformação emocional, e “ALL MY LOVE” é uma canção sentimental ao piano, inspirada em artistas como The Beatles e Elton John. “WE PRAY” inclui cordas dramáticas que lembram Viva La Vida e apresenta uma grande quantidade de artistas convidados, como a rapper britânica Little Simz, o superastro nigeriano do afrobeats Burna Boy, a artista de R&B palestino-chilena Elyanna e a argentina TINIMoon Music pode não ser revolucionário na discografia do Coldplay, mas entrega músicas categóricas para suas grandes apresentações ao vivo.

FINNEASFor Cryin’ Out Loud!
(Interscope)

O cantor e produtor FINNEAS retorna com For Cryin’ Out Loud!, seu segundo álbum de estúdio. O registro, produzido por ele mesmo, surgiu de uma série de sessões ao vivo em estúdios, reunindo alguns de seus amigos e colegas mais próximos. Diferente de seu álbum de estreia, Optimist, no qual ele escreveu e executou todos os instrumentos sozinho, For Cryin’ Out Loud! expande seus horizontes criativos com uma banda, proporcionando maior liberdade e resultando em sua obra mais animada e crua. Na balada de piano “Starfucker”, ele expressa frustração com alguém que parece prosperar em conflitos; na indie pop “Cleats”, canta para seu “eu adolescente” sobre um amor não correspondido, refletindo sobre como demorou a perceber que estava investindo em algo sem futuro; enquanto “What’s It Gonna Take To Break Your Heart?” começa suave e se estende para uma melodia envolvente sobre o amor, com um estilo de guitarra pop que caberia no repertório de Justin Timberlake. A faixa-título explora os altos e baixos de um relacionamento numa balada pop clássica, com batidas suaves, guitarras elétricas e um conjunto de metais. “Family Feud” destaca a dinâmica entre irmãos, com sua irmã Billie Eilish, refletindo sobre como a relação deles evoluiu ao longo do tempo e comentando sobre a fama inesperada dela. Com sua sonoridade soft rock e indie pop, FINNEAS se revela um contador de histórias nato, revelando diferentes facetas de si mesmo que não consegue explorar ao contribuir para outros artistas.

Half WaifSee You At The Maypole
(Anti-)

Após lançar álbuns mais sombrios e intensos, como The Caretaker e Mythopoetics, que abordam temas como trauma geracional e resistência, Nandi Rose Plunkett (a.k.a. Half Waif) planejava criar algo mais leve e celebratório, especialmente após descobrir que estava grávida. No entanto, seu sexto álbum, See You at the Maypole, acabou adquirindo uma ambientação mais complexa e profunda devido a perdas pessoais, incluindo doenças na família e um aborto espontâneo – “Fog Winter Balsam Jade”, com um coral envolvente e celestial, “Figurine” e “Mother Tongue” trazem referências ao evento, com letras que mencionam sua dor e seu processo de cura. O registro combina texturas calorosas e arranjos eletrônicos sombrios (“I-90”, “Dust”), além de composições enriquecidas com orquestrações cinematográficas (“Heartwood”, “The Museum”), que imprimem as emoções cruas da artista. See You at the Maypole é uma jornada complexa e honesta, onde a artista investiga sua dor com sensibilidade e desenvoltura musical, oferecendo um espaço para reflexão e recuperação em meio ao tormento (“King of Tides”), que se transforma em beleza.

Thee Sacred SoulsGot a Story to Tell
(Daptone Records)

A sequência do álbum de estreia autointitulado de 2022, Got a Story to Tell, da banda Thee Sacred Souls, apresenta 12 faixas originais que destacam a evolução do trio, formado pelo baterista Alex Garcia, o baixista Sal Samano e o cantor e compositor Josh Lane. O álbum é uma obra envolvente, com arranjos de cordas, guitarras, piano, congas e metais, resultando em um som mais maduro e intenso, influenciado pelas tradições da Motown, com temas de amor, desilusão e crescimento pessoal. “Lucid Girl” exalta mulheres independentes, com batidas e baixos robustos. “Waiting On The Right Time” apresenta uma pegada de psicodelia suave. A canção “One and the Same”, que remete a um clássico de Marvin Gaye, é um apelo por empatia, onde Lane canta sobre a necessidade de viver juntos em amor e não em medo. “On My Mind” traz uma orquestração grandiosa, com o vocalista lidando com as complexidades da busca pela felicidade. A produção destaca grooves, harmonias vocais clássicas e uma essência de soul retrô, criando uma experiência coesa e emocionalmente rica. Got a Story to Tell é uma celebração de décadas de música soul, resultando em um som atemporal e atual.

Leon BridgesLeon
(Columbia Records)

Leon é o quarto álbum e o primeiro lançamento solo em três anos do cantor e compositor texano Leon Bridges. As 13 faixas revelam uma fase mais pessoal e introspectiva na carreira do artista, ao explorar memórias e emoções de sua vida em Fort Worth, Texas, oferecendo um retrato mais vulnerável de si mesmo. A sonoridade do álbum abandona o estilo clássico de soul dos anos 60, predominante em seus registros anteriores, para incorporar influências que vão do blues e folk ao country, além de elementos de R&B dos anos 90 e 2000. A balada groovy “That’s What I Love” celebra momentos nostálgicos e prazerosos da vida; “Laredo” combina elementos de soul, folk e pop latino de maneira despretensiosa para expressar sua inexperiência no amor; “Peaceful Place” trata de uma jornada pessoal de Bridges, onde demonstra confiança em sua identidade atual e afirma estar exatamente onde deveria; “Simplify” aborda temas como a simplicidade da vida e as pressões do sucesso, refletindo sua jornada emocional; enquanto a balada etérea no piano “Panther City” oferece uma espécie de autobiografia, relembrando a juventude do artista. Com produção de Ian Fitchuk (Maggie Rogers, Sigrid), Daniel Tashian (Kacey Musgraves) e Tyler Johnson, Leon é um trabalho ambientado em uma sonoridade suave, cheio de alma e emocionalmente nostálgico.

Abstract CrimewaveThe Longest Night
(Chimp Limbs)

O duo Abstract Crimewave – anteriormente conhecido como Smile, nome que mudaram após o projeto de Thom Yorke dar as caras -, é formado por Björn Yttling (Peter Bjorn and John) e Joakim Åhlund (Teddybears, Caesars), e apresenta seu primeiro registro sob a nova identidade. O resultado é The Longest Night, um trabalho que sintetiza a essência da banda, refletindo o som da dupla em homenagem aos diversos estilos musicais que eles adoram. A faixa de abertura, “Heading Out”, é um indie pop leve e descontraído; “Sailing Away” faz uma homenagem ao krautrock com seu ritmo pulsante e atraente; e interlúdios atmosféricos como; e interlúdios atmosféricos como “The Lighthouse” e “Dämba Träsk” reforçam a sensação de que a dupla está construindo seu próprio universo sonoro. O registro ainda conta com convidados especiais, como Lykke Li, que traz sua voz sedutora no enigmático single “The Gambler”; Chrissie Hynde (do The Pretenders), cujo álbum de estreia, Stockholm, foi escrito e produzido por Åhlund e Yttling, contribuindo com seus vocais inconfundíveis na faixa-título; e Gustav Ejstes, vocalista do Dungen, que canta e toca flauta na animada “Flyga Fram”. Essa combinação resulta no material mais vigoroso do Abstract Crimewave até agora, uma jornada cósmica e contagiante em seu mundo maravilhosamente peculiar, perfeita para impulsionar sua nova identidade.