Os 10 melhores EPs de 2024

Da estreia na carreira solo de Jane Penny, vocalista da banda indie TOPS, ao universo de Flying Lotus e Bon Iver, passando pelas aventuras musicais de Indigo de Souza, as guitarras cruas e melodias marcantes dos suecos do Girl Scout, o alt-pop autêntico do Junior Varsity e a sonoridade onírica do Night Tapes, confira os 10 melhores EPs de 2024.

10. Jane Penny
(Surfacing)

Jane Penny, vocalista da banda indie TOPS, brilha em seu primeiro EP solo, Surfacing, lançado após o hiato da banda desde o álbum I Feel Alive. Inspirada por suas experiências em Berlim e pelo período de confinamento em Montreal, Penny cria uma atmosfera aquosa e introspectiva, entregando um pop sonhador e sedutor, marcado por sintetizadores cintilantes, batidas eletrônicas envolventes e seus vocais delicados. Com sete faixas que fluem perfeitamente entre sons etéreos (“Stream”), o synthpop dos anos 80 e o soul dos anos 90, a estreia de Penny aborda temas como a complexidade dos relacionamentos (“Wear You Out”), o medo da perda (“Beautiful Ordinary”) e o desejo de redescobrir a capacidade de apreciar a felicidade (“Messages”). Surfacing é uma obra fascinante que nos faz questionar como a artista levou tanto tempo para revelar seu talento em um projeto solo.

• Coloque para tocar: “Messages”

09. Flying Lotus
(Spirit Box)

Após lançar uma série de singles ao longo do ano, o produtor Steven Ellison (a.k.a. Flying Lotus) surpreendeu ao liberar de forma inesperada o EP Spirit Box. O trabalho começa com “Ajhussi”, que, assim como “Ingo Swann”, apresenta uma energia vibrante de house music, impulsionada por uma batida marcante e dançante. Em contraste “Garmonbozia” se destaca pelos sintetizadores sombrios que remetem ao som de ficção científica dos anos 80, combinados com batidas oscilantes e vocais distorcidos do artista. Já em “Let Me Cook”, encontramos uma mistura envolvente de R&B e funk, marcada pelos vocais calorosos de Dawn Richard, que transbordam confiança e autovalorização, além do baixo hipnótico de Thundercat. Para encerrar, “The Lost Girls”, colaboração com o cantor indiano Sid Sriram, entrega uma atmosfera soul enriquecida por uma percussão tribal que evoca um sentimento ritualístico. Spirit Box reafirma o talento visionário de Ellison, destacando sua habilidade de explorar diversos gêneros e criar uma obra repleta de nuances e colaborações inesquecíveis.

• Coloque para tocar: “Garmonbozia”

08. Bon Iver
(SABLE,)

Após colaborar com Charli XCX no álbum brat e it’s completely different but also still brat, o Bon Iver retorna com o EP SABLE,, seu primeiro material completo em cinco anos, após um período de introspecção. O trabalho é caracterizado pela voz e guitarra de Justin Vernon, que enfrentou anos de desafios, especialmente no início da pandemia. Diferente das camadas densas e texturas eletrônicas do álbum i,i  (2019), SABLE, apresenta uma produção minimalista que reflete sua vulnerabilidade e redenção, remetendo às primeiras produções folk mais orgânicas do projeto. O single “S P E Y S I D E” explora arrependimentos e o desejo de corrigir o passado, enquanto “THINGS BEHIND THINGS BEHIND THINGS” remonta a 2020, trazendo reflexões sobre ansiedade e medo diante das mudanças. Por sua vez “AWARDS SEASON” ganha força com instrumentos como saxofone e piano, oferecendo uma perspectiva otimista sobre sua jornada artística. Com SABLE,, o Bon Iver transforma desafios pessoais em arte introspectiva e profundamente comovente.

• Coloque para tocar: “THINGS BEHIND THINGS BEHIND THINGS”

07. Cecile Believe
(Tender the Spark)

Cecile Believe, projeto da produtora e compositora canadense Caila Thompson-Hannant – conhecida por colaborar em “Dang” de Caroline Polachek e por emprestar sua voz a diversas faixas do icônico álbum de estreia de SOPHIE -, retorna com o EP Tender the Spark, seu primeiro trabalho solo desde o álbum Plucking a Cherry from the Void de 2020. A faixa “Blink Twice” combina uma produção intensa e hipnótica com influências do pop e R&B dos anos 2000, apresentando batidas modernas e sintetizadores etéreos. Por sua vez, “Red Brick” é uma composição eletrônica sofisticada e sonhadora, que explora emoções conflitantes. Já “Ponytail” se destaca como uma balada pop poderosa e libertadora, refletindo sobre o passar do tempo, arrependimentos e transformações pessoais. Tender the Spark mistura pop experimental com paisagens sonoras eletrônicas etéreas, explorando temas íntimos e vulneráveis – como os versos de “The Pearl” e sua jornada emocional de perda e separação – dentro do universo único da artista.

• Coloque para tocar: “Ponytail””

06. Indigo De Souza
(WHOLESOME DEVIL FANTASY)

Com três faixas no EP WHOLESOME DEVIL FANTASY, a cantora e compositora Indigo De Souza mergulha no universo do hyperpop, explorando o uso intenso de autotune em colaboração com os produtores Jesse Schuster (ill peach) e Elliott Kozel (Eartheater, Yves Tumor). “WHOLESOME”, com seus glitches e vocais distorcidos, expressa uma paixão intensa, onde a artista enaltece o parceiro por como ele a faz se sentir com suas atitudes e palavras. “EVIL” assume um tom mais vulnerável e raivoso ao abordar uma relação tóxica, em que De Souza sente-se atraída por alguém que a fere emocionalmente. Por fim, “FANTASY” é um número eletrônico eufórico que explora as dúvidas e inseguranças em um relacionamento, questionando se o parceiro está realmente interessado ou apenas brincando com seus sentimentos. O resultado é uma obra experimental, intensa e direta.

• Coloque para tocar: “WHOLESOME”

05. Girl Scout
(Headache)

O quarteto sueco Girl Scout apresenta seu terceiro EP, Headache. Produzido por Alex Farrar (Indigo de Souza, Snail Mail), o trabalho explora momentos de vulnerabilidade ao combinar guitarras cruas com grandes melodias e o vocal irresistivelmente expressivo de Emma Jansson. A faixa “Desert Island Movies” é um indie rock vibrante, com vocais precisos e guitarras distorcidas, traduzindo a frustração de lidar com pessoas falsas. “Honey” se inicia com uma linha de guitarra que remete aos anos 2010, misturando elementos de pop clássico com as marcantes influências do indie rock da banda, ao abordar amizades tóxicas. Já “I Just Needed You To Know” chama atenção por seus riffs intensos e energia contagiante, enquanto “I’m So Sorry” começa de forma contida, crescendo até uma confissão emocional plena. Essa última faixa traduz a explosão de sentimentos acumulados ao longo do projeto, resultando em uma experiência profundamente catártica.

• Coloque para tocar: “Honey”

04. Yannis & the Yaw
(Lagos Paris London)

Em 2016, Yannis Philippakis, vocalista e guitarrista do Foals, teve a oportunidade de gravar com o lendário baterista Tony Allen. Juntos, criaram músicas que uniam culturas de forma única, misturando elementos de rock, eletrônica, funk, jazz e dub. Apesar de o projeto não ter sido finalizado antes do falecimento de Tony em 2020, Yannis decidiu concluí-lo como uma homenagem ao amigo. O EP Lagos Paris London, do projeto Yannis & The Yaw, reúne faixas como “Walk Through Fire” (sobre encontrar força em tempos de destruição), “Under the Strikes” (sobre a desintegração social), “Rain Can’t Reach Us” (que aborda dificuldades e o medo) e “Clementine” (gravada sem Allen, explorando temas de esperança e saudade). O EP é uma obra vibrante e leve, repleta de ritmos complexos, inspirada pelo legado de Tony, oferecendo uma escapada nostálgica para os dias de hoje.

• Coloque para tocar: “Walk Through Fire”

03. Junior Varsity
(My Star)

O Junior Varsity apresenta o EP My Star, o EP que encerra a trilogia iniciada em 2021, enquanto prepara o terreno para o aguardado álbum de estreia do agora trio norte-americano. O projeto destaca o alt-pop característico do grupo, que equilibra uma produção sofisticada com a autenticidade de suas raízes DIY. A faixa “Cross The Street” brilha com riffs de guitarra enérgicos e uma atmosfera de dance punk que remete ao Bloc Party, capturando a intensidade de uma paixão urgente e impulsiva. Por outro lado, “New York” canaliza a energia do garage punk para explorar o amor em meio ao caos urbano. A introspectiva “My Star” desacelera o ritmo com uma melodia delicada, criando um contraste nítido com as faixas anteriores. O tom vibrante retorna com “Give My Heart”, que traz influências do indie pop, e “Little Luck”, inspirada no alt-rock dos anos 90. Com uma mistura eclética de gêneros, melodias marcantes e ritmos pulsantes, My Star entrega uma experiência musical envolvente do início ao fim.

• Coloque para tocar: “New York”

02. Little Simz
(Drop 7)

A rapper britânica Simbiatu Abisola Abiola Ajikawo (a.k.a Little Simz) deu início à sua série de EPs Drop em 2014, com as cinco primeiras edições lançadas ao redor de seu álbum de estreia de 2015. Drop 6 chegou em 2020, funcionando como uma ponte entre os aclamados álbuns de estúdio GREY Area e Sometimes I Might Be Introvert. Diferente dos álbuns produzidos por Inflo (SAULT, Michael Kiwanuka), o EP de cinco faixas adota uma sonoridade mais experimental, com produção de Jakwob (Nia Archives). “Mood Swings”, com suas batidas rítmicas e vocais distorcidos, apresenta Little Simz alternando com maestria entre sussurros e rimas confiantes. Já “Fever”, uma homenagem ao Funk Mandelão, traz versos em português e referências à cidade de São Paulo (“de Londres a São Paulo / onde quer que eu vá, eu faço / da cidade o meu lugar”). Enquanto isso, “SOS”, um afrobeat ameaçador com influência de house, soa como uma faixa de M.I.A., destacando a sensação de movimento contínuo e a busca por conexão. O sombrio trap “I Ain’t Feelin It”, o interlúdio “Power” e a melódica “Far Away”, onde a artista troca suas rimas rápidas pelo canto, completam o trabalho. Drop 6 reafirma o talento de Little Simz no rap ao combinar techno e rap com influências afro, criando uma fusão envolvente de batidas impactantes e um som descontraído, perfeito para a pista de dança.

• Coloque para tocar: “Fever”

01. Night Tapes
(assisted memories)

O trio de dream pop Night Tapes apresenta o EP assisted memories, que traz uma sonoridade onírica e músicas envolventes. A voz suave e etérea de Iiris Vesik flutua sobre elementos rítmicos e românticos, enquanto o grupo mistura influências de disco, indie e shoegaze, criando um som único e cativante.

Inspirado pela vibrante vida noturna de Londres, o trio combina gravações de alta fidelidade e reflexões sinceras para construir paisagens sonoras atmosféricas. O resultado é um dream pop fresco e inovador, que transita entre o tangível e o metafísico, explorando o contraste entre o palpável e o intangível.

Composto por sete faixas, o EP inclui destaques como “projections”, uma música animada com batidas disco e sintetizadores dos anos 80, que aborda a superficialidade e a desconexão nas interações humanas. “every day is a game” é uma faixa meditativa que celebra a juventude e uma visão otimista da vida, enquanto “loner” aposta em um indie melancólico para refletir sobre o desejo de liberdade e a superação da solidão. Já “drifting”, com seu groove synthpop, critica o romantismo exagerado e a idealização do amor.

O repertório também inclui a deslumbrante “easy time to be alive”, influenciada pelo trip hop, que explora o desejo de conexão e, ao mesmo tempo, o impulso de se distanciar; a reverberante “waterfall”, que narra uma jornada intensa em busca do momento presente; e a introspectiva faixa-título, que mergulha em reflexões sobre os ciclos da vida e as profundezas da existência, através de um synthpop espiritual.

Com assisted memories, o Night Tapes entrega um EP envolvente e multifacetado, que equilibra as emoções humanas, as experiências cotidianas e as paisagens etéreas que nos cercam. O trabalho oferece ao ouvinte uma jornada sonora única e inesquecível, consolidando o trio como uma das promessas mais emocionantes do dream pop contemporâneo.

• Coloque para tocar: “loner””