7 discos para ouvir hoje: Ela Minus, The Weather Station, jasmine.4.t, Rose Gray e mais

Ela Minus / Alvaro Arisó

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Ela Minus, The Weather Station, jasmine.4.t, Kele, Rose Gray, Mac Miller e Son Lux.

Ela MinusDÍA
(Domino)

No álbum DÍA, a artista colombiana Gabriela Jimeno Caldas (a.k.a. Ela Minus) apresenta uma abordagem mais introspectiva e expansiva em comparação ao seu disco de estreia, acts of rebellion, que tinha um tom mais intimista, como uma celebração em uma boate durante a madrugada. DÍA explora temas de transformação e autodescoberta, levantando questões sobre como seguir em frente após sermos quebrados, mas antes de aceitarmos permanecer assim para sempre. “BROKEN” utiliza sintetizadores luminosos e detalhes inquietantes que culminam em uma batida firme, transformando-se em um hino sobre reconhecer e suportar o sofrimento. Já “ONWARDS” combina a eletrônica hipnótica de Ela Minus com suas raízes no punk de Bogotá. “AND” é um interlúdio marcado por drones e ruídos, enquanto “UPWARDS”, descrita como uma “música-tema para se proteger”, é um pop viciante e esplendoroso que mistura sintetizadores intensos e batidas pulsantes, encerrando uma trinca de faixas interligadas no álbum. “QQQQ” combina batidas pulsantes de house, ritmos latinos sincopados, sintetizadores hipnóticos e vocais distorcidos que transmitem uma sensação de resignação e aceitação diante do fim dos tempos, desejando que, se for inevitável, o mundo termine de imediato. Por outro lado, “I WANT TO BE BETTER” reflete sobre os fracassos nos relacionamentos, com sintetizadores alucinantes que evocam o canto de pássaros em uma floresta mágica. A faixa de encerramento, “COMBAT”, apresenta sintetizadores celestiais e instrumentos de sopro, resultando em uma sinfonia que evoca tanto o techno clássico quanto o revivalismo da new age. Enquanto isso, os vocais de Ela Minus exploram a intensidade de sentimentos e emoções que permeiam todo o disco. Ao longo das 10 faixas, a artista equilibra a acessibilidade do pop com a ousadia do experimentalismo. Seus refrões luminosos são cercados por sonoridades meticulosas e criativas, revelando mais de sua essência como pessoa e produtora do que nunca.

The Weather StationHumanhood
(Fat Possum)

The Weather Station, projeto da cantora e compositora canadense Tamara Lindeman, retorna com Humanhood, sucessor de Ignorance (2021). Escrito durante um dos períodos mais difíceis da vida da artista, o álbum nasceu enquanto ela iniciava seu processo de recuperação, confrontando uma verdade complexa: às vezes, a vida tenta nos desmantelar, independentemente de como tudo pareça estar bem, e aceitar essa realidade é essencial para sobreviver. Embora 2022 tenha parecido, externamente, um ano de glória – com Ignorance sendo amplamente aclamado e seguido pelo álbum complementar How Is It That I Should Look at the Stars -, Lindeman enfrentava uma profunda crise de saúde mental. Foi nesse momento de confusão e perda de sentido que ela escreveu as canções que formariam Humanhood, um álbum narrativo que traduz a jornada da dissociação à reconexão. Lindeman e o coprodutor Marcus Paquin priorizaram a improvisação, permitindo que os músicos reagissem em tempo real às canções. Isso resultou em texturas que oscilam entre o orgânico e o sintético, compondo uma instrumentação elegante com piano marcante, percussão calorosa, guitarras suaves, sintetizadores etéreos e instrumentos de sopro, todos guiando os vocais leves e sussurrados da artista. Humanhood é um retrato intenso do que significa se perder em meio à confusão, ao desconforto e ao luto, por tanto tempo que se começa a duvidar de um desfecho. Assim como em Ignorance, as letras pessoais reverberam temas universais, abordando o enfrentamento de crises internas (“Window”, “Body Moves”) enquanto o mundo encara desastres climáticos e instabilidade (“Neon Signs”). Diferente de seus trabalhos anteriores, Lindeman escreveu no presente, vivenciando as emoções que descreve, o que resultou em uma obra urgente e conectada, servindo como um elo para aqueles que se sentem desconectados da vertiginosa realidade atual.

jasmine.4.tYou Are The Morning
(Saddest Factory Records)

A cantora e compositora trans Jasmine Cruickshank (a.k.a. jasmine.4.t) lança seu álbum de estreia, You Are The Morning, pelo selo Saddest Factory Records, de Phoebe Bridgers. No disco, a artista explora as alegrias, dores, amizades e solidões da experiência transfeminina. Jasmine começou sua jornada na música ao herdar o violão de um tio falecido, tocando em bandas de skate punk e lançando músicas de forma independente. Contudo, suas composições pós-transição refletem uma nova vitalidade e profundidade emocional. A música de jasmine.4.t combina dedilhados delicados de violão (“Highfield”) com a energia grunge e indie dos anos 90 (“Skin On Skin”) e vocais crus, somados ao brilho na produção de Bridgers e suas colegas de boygenius, Lucy Dacus e Julien Baker. O álbum se destaca tanto pela qualidade musical quanto pelas letras profundas, que abordam temas como a saída do armário, aceitação, amizade queer (na faixa-título) e o processo de transição de Cruickshank, trazendo mensagens de positividade em canções como “Elephant” e “Woman”, esta última com participação do Trans Chorus de Los Angeles. Na balada “New Shoes”, construída sobre uma melodia delicada de piano, guitarras distorcidas e vocais de apoio de Dacus, Jasmine reflete sobre o desgaste emocional. Já “Guy Fawkes Tesco Dissociation” apresenta um folk rock cativante com vocais de apoio de Bridgers, enquanto Baker contribui na comovente “Tall Girl”. Com uma honestidade visceral herdada de seu ídolo Elliott Smith, You Are The Morning é uma estreia magistral que aborda com sensibilidade temas como identidade, pertencimento e amor queer, estabelecendo Jasmine como uma nova voz necessária na música contemporânea.

KeleThe Singing Winds pt. 3
(KOLA Records / !K7)

Kele Okereke, líder do Bloc Party, lança The Singing Winds Pt. 3, terceiro volume de sua série iniciada durante a pandemia, intitulada The Elements, que já conta com os álbuns The Waves Pt. 1 e The Flames pt. 2. O trabalho, composto por guitarra, sons eletrônicos suaves e voz, traz uma atmosfera experimental e introspectiva. Com The Singing Winds pt. 3, Kele apresenta uma sutileza rara em sua discografia, explorando temas como identidade, conexão espiritual e liberdade em meio ao cenário urbano (“Hometown Edge”) e à rotina profissional (“Holy Work”, ccom guitarras ecoantes que remetem ao estilo do The xx). As canções também abordam a desconexão nos relacionamentos, como no mantra “Kintsugi”, e o término de um romance marcado por traição, retratado em “It Wasn’t Meant To Be”. O álbum equilibra momentos introspectivos com faixas mais animadas e dançantes, como “Money Trouble” e “Day and Night”, conectando o pós-punk característico de sua banda ao seu trabalho solo, voltado para as pistas de dança. Como exercício criativo, The Singing Winds pt. 3 surpreende como complemento ao repertório de Kele.

Rose GrayLouder, Please
(Play It Again Sam)

A inglesa Rose Gray, cconhecida por sua mistura de pop com influências da cultura de clubes e raves, apresenta seu disco de estreia, Louder, Please. Com uma energia que remete ao dance e pop das décadas de 1990 e 2000, o álbum é repleto de batidas pulsantes e sintetizadores vibrantes, explorando sensações e emoções extasiantes ao longo de suas faixas. Desde a abertura sombria e eletrizante de “Damn”, passando pela festiva “Just Two”, que faz referência ao clássico europop “Blue (Da Ba Dee)” do Eiffel 65 no refrão, até o pop envolvente de “Angel of Satisfaction”, que evoca nomes como Robyn e Lady Gaga, o registro é um passeio dinâmico pelo universo sonoro de Gray. A faixa “Party People” combina pop e dance, capturando a euforia de entrar em uma festa e se sentir completamente conectado ao ambiente. Já “Wet & Wild” aposta em batidas energéticas, sintetizadores cativantes e acordes de piano vibrantes, acompanhando a interpretação confiante de Gray sobre uma mulher empoderada explorando sua liberdade e independência. Em contraste, “Everything Changes (But I Won’t)” é uma balada reflexiva que se afasta do som mais vibrante do disco, oferecendo uma ode à resiliência e ao amor-próprio. Louder, Please reflete a autoconfiança de Rose Gray, tanto em relação a si mesma quanto ao que deseja expressar como artista. Essa afirmação é reforçada pela colaboração com grandes nomes do pop, como Justin Tranter (Dua Lipa, Chappell Roan) e Zhone (Troye Sivan, METTE), além de ícones da música eletrônica underground, como Seda Bodega, Uffie e Alex Metric. O trabalho combina verdades pessoais com um hedonismo dançante, evocando não apenas uma noite transformadora, mas também a trajetória de Rose Gray: uma vida vivida intensamente através da música. Louder, Please é, acima de tudo, uma celebração do poder da música e da autodescoberta.

Mac MillerBalloonerism
(Warner)

Para marcar o que teria sido o 33º aniversário de Mac Miller, seu espólio presenteou os fãs com um álbum inédito do saudoso astro do hip hop. Balloonerism – o segundo álbum póstumo do artista – destaca-se como um dos trabalhos mais psicodélicos e autênticos de sua carreira. O disco é repleto de instrumentação experimental, mesclando elementos de neo soul e jazz, como na faixa “Friendly Hallucinations”, além de trazer letras profundamente existenciais. Gravado entre 2013 e 2014, período que inclui o álbum Watching Movies With The Sound Off e a mixtape Faces, a obra reflete um dos momentos mais prolíficos da trajetória de Miller. Com 14 faixas, o álbum oferece uma imersão autêntica e atmosférica na psique do artista. Balloonerism conta com colaborações de peso, incluindo SZA no soul psicodélico de “DJ’s Chord Organ”, o alter ego musical de Miller, Delusional Thomas, em “Transformations”, e contribuições marcantes do baixista Thundercat e de seus irmãos Kintaro e Ronald Bruner Jr. em várias faixas. Como complemento ao lançamento, o álbum chega acompanhado de um filme dirigido por Samuel Jerome Mason.

Son LuxRisk Of Make Believe
(City Slang)

O trio Son Lux lança o EP Risk Of Make Believe, seu primeiro trabalho desde a trilha sonora indicada ao Oscar de ‘Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo’. O compacto reflete a criatividade indomável da banda, seu apetite pela experimentação e a habilidade de unir universos sonoros distintos em uma assinatura única e inconfundível. A faixa-título se destaca por sua paciência e serenidade. Com uma batida precisa e maleável, a música se desenvolve de forma gradual, enquanto Ryan Lott canta sobre abraçar as vulnerabilidades nos relacionamentos, incentivando a aceitação e a mudança. Já “Don’t Say It’s Too Late”, com a participação de Rob Moose, é uma balada atmosférica que equilibra saudade e esperança de reconciliação, combinando vocais, elementos eletrônicos e arranjos de cordas. Na segunda metade do EP, as músicas assumem um tom meditativo, remetendo às raízes minimalistas da banda. “Cocoon” explora a metamorfose de maneira cíclica e espaçosa, enquanto “Take Your Time With Me” mescla pop gracioso com experimentação destemida, encerrando o trabalho com uma combinação de clareza sonora e texturas vibrantes. Risk Of Make Believe captura o espírito de reinvenção e serve como uma prévia do próximo passo na trajetória criativa do Son Lux.