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Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Art d’Ecco, Horsegirl, John Glacier, Alessia Cara, Pit Pony, Bartees Strange, Robert Ascroft e Denison Witmer.
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• Art d’Ecco – Serene Demon
(Paper Bag Records)
Serene Demon pode representar o projeto mais ousado da carreira de Art d’Ecco até o momento. A concepção do álbum teve início no final de 2022, enquanto o artista estava em Nova Iorque, absorvendo a atmosfera vibrante do Lower East Side e compondo esboços de canções em um piano vertical. Com a coprodução do renomado Joe Chiccarelli (um veterano do rock alternativo, com créditos que vão de Morrissey a Alanis Morissette e The Shins), o disco foi profundamente influenciado pela literatura existencialista e pelas trilhas de compositores como François de Roubaix, Ennio Morricone e John Barry. A faixa de abertura “True Believer”, embora carregada de mistério, estabelece uma ponte com o single “I Feel Alive”, lançado no ano anterior. A música apresenta uma mistura de pop rock progressivo, com percussão marcante, linhas de baixo dinâmicas, guitarras energéticas e arranjos grandiosos de sopro, explorando temas como desespero, sedução e entrega. Já “Tree of Life”, uma incursão pelo indie disco, traz um ritmo contagiante que remete a “You Should Be Dancing”, dos Bee Gees, usando a metáfora de plantar uma semente para falar sobre conexão e parceria. Em “Shell Shock”, os sintetizadores analógicos criam um groove fluido, evocando ecos de “Fly Like An Eagle”, de Steve Miller. A faixa-título é uma jornada épica de mais de sete minutos, mergulhando em sonoridades dos anos 70 e mesclando soul, jazz e art rock em uma reflexão sobre a busca por sentido na existência. “The Traveller” combina pop e art rock de forma vibrante e dançante, com influências que remetem a Sparks e T. Rex. Já “Meursault’s Walk” (uma referência ao romance ‘O Estrangeiro’ de Albert Camus) transita por uma instrumentação melancólica, enquanto “Honeycomb” se destaca como uma faixa pop animada, enriquecida por sons de tambor de aço. Assim como ícones como Bowie, Björk, Miles Davis e Kate Bush, Art d’Ecco busca desafiar e ampliar os limites da música, explorando ideias inéditas e abraçando o desconhecido. Ele acredita que seu trabalho estabelece um novo paradigma, permitindo que o pop evolua de maneira orgânica e harmoniosa, equilibrando inovação e ruptura de convenções com a criação de músicas cativantes e únicas.
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• Horsegirl – Phonetics On and On
(Matador)
A banda norte-americana de indie rock Horsegirl, composta pelas grandes amigas Nora Cheng, Penelope Lowenstein e Gigi Reece, lança seu segundo álbum de estúdio, intitulado Phonetics On and On. Produzido por Cate Le Bon (Devendra Banhart, Deerhunter, John Grant)e gravado no estúdio, do Wilco, em Chicago, o álbum apresenta uma abordagem mais expansiva, deixando de lado a distorção e o rock barulhento para explorar novos territórios sonoros, luminosos e cristalinos, que evidenciam a criatividade e a inventividade das novas composições. A faixa “2468” é uma música descontraída e cheia de energia, que combina cantos rítmicos sincronizados com camadas progressivas de percussão vibrante e violinos marcantes, reminiscentes do estilo da banda Raincoats. Já “Frontrunner” traz uma sonoridade lo-fi minimalista, com destaque para elementos acústicos. A música é conduzida por uma guitarra que alterna entre ritmos acelerados e notas suaves, percussão discreta e vocais melancólicos, que refletem temas como saudade, a transição para a vida adulta e as expectativas do futuro. Em “Switch Over”, o trio apresenta um ritmo quase motorik, mesclado com influências do indie rock dos anos 90. Enquanto isso, “Julie” se destaca como a peça central do álbum, com uma guitarra delicada e sintetizadores que acompanham os vocais introspectivos de Lowenstein, que canta sobre erros compartilhados e o desejo de conexão humana. A produção de Cate Le Bon trouxe uma orientação estilística refinada, incentivando o trio a experimentar com cordas e instrumentos de gamelão, demonstrando que as integrantes da Horsegirl não têm medo de explorar novas identidades sonoras e expandir seus horizontes musicais.
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• John Glacier – Like A Ribbon
(Young)
Após anos conquistando reconhecimento tanto na cena underground quanto no mainstream com seu som inovador e experimental, a rapper, poetisa e produtora John Glacier lança seu primeiro álbum, Like A Ribbon. O projeto, uma expansão do EP homônimo, explora as complexas relações e responsabilidades que se entrelaçam para formar o “laço” da existência contemporânea. Like A Ribbon narra a trajetória de vida de Glacier, desde sua infância modesta e introspectiva em Hackney até a projeção de suas histórias para o mundo, enquanto ela busca equilibrar a normalidade com uma vida repleta de singularidades. Em “Steady As I Am”, uma melodia hipnótica e repetitiva sobre um riff de guitarra acústica em loop e elementos eletrônicos distorcidos, Glacier mergulha em uma jornada autobiográfica introspectiva. A produção de Flume em “Nevasure” eleva o projeto a um clímax impactante, com um instrumental minimalista e amplo que serve como base ideal para o monólogo introspectivo de John Glacier, imersa em um cenário social. Já em faixas como “Satellites” e “Money Shows”, que contam com a participação de Eartheater, há uma inclinação para sonoridades inspiradas no pós-punk, marcadas por guitarras envolventes e hipnóticas. “Ocean Steppin’”, uma colaboração com Sampha, é uma canção motivadora que fala sobre a importância de permanecer autêntico e conectado à própria essência, resistindo às influências externas que possam desviar do caminho pessoal. “Found”, o single principal do álbum, encapsula de forma perfeita as atmosferas sutis e emotivas que permeiam Like A Ribbon. O álbum se encerra com “Heavens Sent“, que apresenta uma gravação de uma conversa telefônica intrigante sobre uma base de guitarra acústica delicada, celebrando as batalhas que moldaram a artista. Like A Ribbon é uma jornada emocional que atravessa a dor e culmina em uma celebração da autenticidade, destacando a importância de permanecer fiel a si mesmo e à própria realidade, sem se deixar influenciar pelas expectativas alheias.
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• Alessia Cara – Love & Hyperbole
(Def Jam)
Em Love & Hyperbole, quarto álbum completo de Alessia Cara, a artista se revela mais vulnerável e segura, mergulhando em uma variedade de vivências emocionais que refletem uma jornada de autodescoberta. O título Hyperbole remete às intensas emoções que Cara experimentou durante o processo de composição, inspirada por ícones como The Beatles (especialmente na fase Abbey Road) e Fleetwood Mac. Com 14 faixas, o álbum aborda desde a ansiedade e o isolamento em “Outside” até as complexidades dos relacionamentos em “(Isn’t It) Obvious”, que conta com a participação de John Mayer, e os romances mal-sucedidos em “Get To You”, demonstrando a maturidade temática e musical da cantora. Com uma fusão de arranjos que trazem influências do jazz e sua essência pop (“Slow Motion”), o disco combina metais, pianos marcantes e imagens poéticas para explorar sentimentos profundos. “Dead Man” surge como uma ode a Amy Winehouse e às trilhas sonoras de James Bond, expressando frustração e tristeza em relação a um parceiro. Já em “Fire”, que retrata uma paixão avassaladora e transformadora, o piano e a guitarra se unem em uma melodia suave, capturando a essência do sentimento. Love & Hyperbole é um trabalho refinado e cheio de confiança, que evidencia a evolução de Alessia Cara com uma abordagem mais despojada, resultando em uma obra madura e autêntica.
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• Pit Pony – Dead Stars
(Clue Records)
Em seu segundo álbum de estúdio, a banda britânica Pit Pony cmescla influências que vão desde o doo wop dos anos 1950 até o rock pesado, enquanto a vocalista Jackie Purver aborda temas que refletem as complexidades da vida contemporânea. Entre eles, destacam-se a maternidade, desilusões amorosas (“At Dawn”), a síndrome do impostor (“Cut Open”), o processo de envelhecimento e críticas sociais, como o aumento do custo de vida (“Well Well”) e a dependência das redes sociais (“Vacancy”). Mais ambicioso e coeso do que o álbum de estreia, World To Me, Dead Stars rapresenta uma produção mais detalhada e refinada. Com uma sonoridade profundamente conectada às suas raízes e inspirada tanto por artistas locais quanto por ícones como PJ Harvey, o disco foi gravado e produzido por Chris McManus e masterizado por Christian Wright, conhecido por seu trabalho com bandas como Wolf Alice e Fontaines D.C.. O resultado é um projeto mais equilibrado e introspectivo, que explora diversas nuances sonoras sem perder a autenticidade do sotaque característico de Jackie ou a unidade do álbum como um todo.
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• Bartees Strange – Horror
(4AD)
Bartees Strange cresceu imerso em narrativas assustadoras que sua família utilizava para transmitir ensinamentos importantes. Desde a infância, ele recorria a filmes de terror como uma forma de exercitar a coragem. Para um jovem negro e queer criado no interior dos Estados Unidos, o mundo muitas vezes parecia um lugar intimidante. Seu álbum Horror teve sua gênese em um estúdio caseiro, onde o foco inicial foi a produção musical. Parcerias com Yves e Lawrence Rothman (Yves Tumor, Lady Gaga) contribuíram para a construção da base rítmica e sonora de parte do projeto. Após estabelecer uma amizade com Jack Antonoff, os dois se uniram para finalizar o álbum, trabalhando as faixas de maneira orgânica e, posteriormente, aprimorando-as para criar uma atmosfera que evoca temor. A obra mescla realidades duras com uma tapeçaria sonora que reflete as influências musicais da infância de Strange, como Parliament Funkadelic, Fleetwood Mac e Teddy Pendergrass, aliadas à sua paixão por hip hop, country, indie rock e house. Em “Too Much”, ele funde indie rock e hip hop alternativo, abordando as incertezas que permeiam um relacionamento. Já “Wants/Needs” traz riffs de guitarra vibrantes, acompanhados de letras que exploram o receio de ser ignorado e a necessidade de vínculos autênticos. “Hit It Quit It” captura uma energia funk rock inspirada nos anos 70, enquanto “Baltimore” desacelera o ritmo, criando um clima acústico e introspectivo. “Lovers” incorpora nuances da house music dos anos 90, com versos que expressam saudade de um romance passado, misturada com sentimentos de dúvida e indecisão. Em “Loop Defenders”, o artista confronta o racismo através de uma fusão de trip hop e rock pesado. “Sober” mergulha no folk rock, refletindo sobre os desafios emocionais de manter a sobriedade em meio a sentimentos intensos. Por fim, Backseat Banton”, a faixa que encerra o álbum, une letras profundas a uma sonoridade marcante de indie pop. A música culmina em um tom esperançoso, que contrasta com as histórias de ansiedade e luta vividas por Bartees e sua família, concluindo o disco com um equilíbrio entre densidade emocional e um vislumbre de otimismo.
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• Robert Ascroft – Echo Still Remains
(Hand Drawn Dracula)
Um dos fotógrafos, diretores e produtores mais solicitados da atualidade, Robert Ascroft apresenta uma jornada musical envolvente, que remete ao encanto visual de ‘Até o Fim do Mundo’, de Wim Wenders, e à atmosfera etérea de This Mortal Coil. Em seu primeiro álbum, Echo Still Remains, Ascroft reúne uma variedade de artistas talentosos, trazendo performances vocais marcantes de Christopher Owens (“Should’ve Stayed in Bed”), Kid Congo Powers (“Devil Opens The Door”), Britta Phillips (“Where Did You Go”), Ora Cogan (“Dorian Gray”), Ruth Radalet (“Faded Photograph”), Tess Parks, Guy Blakeslee e Zumi Rosow. O resultado é uma ambientação densa e narrativa, que mescla elementos do pop, do rock e da psicodelia. A produção do álbum conta com a expertise do engenheiro de som Ted Young, vencedor do Grammy, mixagem de Larry Crane, contribuições adicionais de Manny Nieto e masterização de Josh Bonati, garantindo uma sonoridade complexa e vibrante. Reconhecido como fotógrafo desde os anos 2000, Ascroft já trabalhou com ícones do cinema e da música, incluindo Cate Blanchett e A$AP Rocky, consolidando-se por sua habilidade em retratar a essência de seus sujeitos com profundidade e sensibilidade narrativa. Como produtor musical e guitarrista clássico, ele entrelaça harmonias elaboradas e letras poéticas, imprimindo em seu trabalho uma visão cinematográfica única.
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• Denison Witmer – Anything At All
(Asthmatic Kitty Records)
Denison Witmer apresenta o álbum Anything At All, composto por dez faixas que unem energia e introspecção no universo do folk pop. Gravado e produzido por Sufjan Stevens, seu parceiro artístico de longa data, o disco retrata Denison em um momento de profunda contemplação, extraindo insights profundos da rotina e dos pequenos detalhes do cotidiano. Atividades como observar aves, trabalhar com madeira, cuidar de plantas e passear ao ar livre tornam-se gatilhos para explorar questões existenciais, como a vida, a morte, o sentido e o propósito. As canções transmitem a ideia de que uma existência atenta e dedicada pode conduzir a uma felicidade mais autêntica e significativa. Produzido de forma intermitente ao longo de dois anos, o álbum foi gravado principalmente no estúdio de Sufjan Stevens, localizado nas Montanhas de Catskills, durante o período da pandemia, com sessões complementares realizadas em Seattle. A obra conta com participações especiais de artistas como Sam Evian, Hannah Cohen e outros. Musicalmente, o projeto funde a essência folk e menonita de Denison com os arranjos marcantes de Sufjan, que incluem cordas, sopros, vozes femininas em coro e até mesmo solos de saxofone com nuances jazzísticas. O resultado é uma sonoridade que equilibra simplicidade com momentos de encantamento e deslumbramento, criando uma experiência auditiva que convida à reflexão e à apreciação.