8 discos para ouvir hoje: Saya Gray, Basia Bulat, Youth Lagoon, Marble Raft e mais

Saya Gray / Divulgação

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Saya Gray, Basia Bulat, Youth Lagoon, NAO, Porridge Radio, Albertine Sarges, Marble Raft e YUDI.

Saya GraySAYA
(Dirty Hit)

Em seu disco de estreia, a cantora, compositora e multi-instrumentista nipo-canadense Saya Gray aborda temas como autoproteção, confiança, incertezas, perda e a força do amor. O projeto SAYA surgiu após o término de um relacionamento turbulento. Em 2023, a artista viajou sozinha para o Japão e percorreu o país de carro, buscando uma libertação emocional. Inspirada pela grandiosidade de discos dos Beatles, Led Zeppelin e Joni Mitchell, ela manteve um violão por perto para capturar momentos de inspiração. Durante as gravações, Gray aprimorou seu som, transformando a aspereza de trabalhos anteriores em um folk melódico e mais harmonioso. A faixa “..THUS IS WHY ( I DON’T SPRING 4 LOVE )”, com um groove de guitarra energético e uma batida suave, reflete sobre uma decepção amorosa. Já em “SHELL ( OF A MAN )”, o primeiro single do álbum, a artista mergulha em uma produção folk e country, com instrumentação envolvente e vibrante, explorando o desejo de deixar o passado para trás e seguir adiante. Em “LINE BACK 22”, ela expressa um sentimento de desencanto e distanciamento de um relacionamento, combinando R&B em ritmo lento com batidas caóticas, sons industriais e loops vocais. Em “PUDDLE ( OF ME )”, com um tom folk pop animado, Gray canaliza uma raiva reprimida contra parceiros indecisos que evitam compromissos sérios. Já “HOW LONG CAN YOU KEEP UP A LIE?” é uma balada delicada que expressa frustração diante da inconsistência de alguém que já foi digno de confiança. “H.B.W.”, um downtempo melancólico, traz batidas eletrônicas suaves, sintetizadores etéreos, piano delicado, violão acústico e vocais emotivos, abordando o luto e a solidão, enquanto mantém viva a memória de quem partiu. “EXHAUST THE TOPIC” combina acordes de guitarra, pedal steel e harpas, culminando em um rock psicodélico que reflete uma crise existencial. Por fim “LIE DOWN..”, que encerra o álbum, apresenta uma sonoridade minimalista, destacando os vocais de Gray e camadas de som, além de uma linha de baixo que reforça a reflexão sobre autenticidade, reconhecimento e o peso das escolhas na vida, tema central da letra. Assim como Hejira, de Joni Mitchell, sua grande influência, este é um trabalho concebido na estrada, onde a artista mergulhou profundamente em suas próprias emoções.

Basia BulatBasia’s Palace
(Secret City Records)

O álbum Basia’s Palace, sucessor de The Garden, da cantora e compositora canadense Basia Bulat, simboliza um ambiente íntimo e criativo, tanto no aspecto físico quanto emocional. O álbum começou a tomar forma em 2022, durante um período de transição em sua vida, quando a artista se mudou para uma nova residência e começou a construir uma família. Esse momento propiciou a exploração de memórias, histórias e influências diversas, como as madrugadas inspiradoras de Leonard Cohen e a nostalgia dos jogos de RPG, especialmente Dragon Warrior 4. Com uma mistura de sintetizadores retro, batidas contagiantes e referências a Cohen, Air e até mesmo à música polonesa de sua infância (como em “Disco Polo”, gênero apreciado por seu pai), o álbum equilibra emoções intensas com um toque de drama pop clássico. Canções como “My Angel” e “Laughter” mesclam mistério, romance e arranjos exuberantes, enquanto “Baby” traz uma vibe de folk pop sofisticado com nuances disco, abordando a sensação de estar perdida e presa em um ciclo de erros. Basia’s Palace é uma obra introspectiva e inovadora, marcada por uma mudança significativa em seu processo criativo, com os sintetizadores assumindo o protagonismo em detrimento do piano ou da guitarra. O álbum captura a essência da criação artística, celebrando os instantes mágicos em que a música ganha vida, transcendendo o espaço físico para se tornar uma expressão genuína de sua identidade e trajetória.

Youth LagoonRarely Do I Dream
(Fat Possum)

Inspirado por gravações caseiras encontradas no porão da casa de seus pais, Trevor Powers, o criador do projeto Youth Lagoon, fundiu lembranças da infância e momentos íntimos de sua vida familiar em suas composições, construindo uma narrativa que mescla realismo e toques de fantasia. O álbum é uma fusão de sons eletrônicos pulsantes e rock psicodélico, com letras que abordam temas como identidade, metamorfose e as complexidades da existência. “Neighborhood Scene”, a primeira faixa, é uma dedicação a todas as pessoas que Powers já amou, transformando uma rua tranquila de Idaho em um espaço sagrado e atemporal, enquanto ele reflete sobre o sentido de pertencimento e desvenda segredos familiares. “Gumshoe (Dracula From Arkansas)” entrelaça guitarras com efeitos de tremolo, sons ambientes de cachorros latindo e diálogos familiares, criando uma atmosfera que captura a dualidade da vida. “Speed Freak” é uma canção densa e sombria, com batidas grunge e sintetizadores energéticos, explorando a ideia de encarar a morte como uma transição, e não como um fim. Já “Seersucker” descreve uma história comovente sobre seu passado, enquanto “Football” aborda o peso de arrependimentos injustificados e os desafios de superá-los. Rarely Do I Dream representa um avanço criativo ainda mais ousado, com guitarras distorcidas, sintetizadores desgastados e melodias cativantes, consolidando-se como um marco na trajetória do artista. Powers busca constantemente evoluir, fugindo de repetições e abraçando a ousadia criativa, resultando em um trabalho que equilibra delicadeza e força, inovação e tradição.

NAOJupiter
(Little Tokyo Recordings)

Enquanto seu álbum de 2021, And Then Life Was Beautiful, emergiu sob os efeitos da pandemia de COVID-19, NAO conseguiu encontrar um brilho sensual mesmo em meio à adversidade, superando desafios pessoais. Diagnosticada com Síndrome da Fadiga Crônica antes do lançamento, a cantora londrina decidiu não realizar uma turnê, priorizando sua saúde e equilíbrio. Essa postura de autopreservação se reflete em seu trabalho posterior, Jupiter. Até os nomes das canções (“Happy People”, “Better Days”) transmitem uma sensação de otimismo e renovação, que define o tom do projeto, numa celebração ao seu amadurecimento pessoal (“30 Something”). A faixa de abertura, “Wildflowers” irradia uma energia confiante e libertadora, que ressoa ao longo de todo o disco. Do solo de guitarra expansivo e funky, reminiscente de Prince, na neo soul “Elevate”, às batidas cativantes de “We All Win” e o R&B emocionante de “All Of Me”, fica evidente que a artista está explorando sua criatividade com prazer, transitando com naturalidade entre gêneros e sentimentos, criando uma sonoridade que é ao mesmo tempo nostálgica e contemporânea.

Porridge RadioThe Machine Starts To Sing
(Secretly Canadian)

No início do ano, o grupo britânico de indie rock Porridge Radio anunciou que encerrará suas atividades após a turnê deste ano. Para dar início ao fim, o grupo compartilha o EP The Machine Starts To Sing, com músicas gravadas durante as sessões do álbum do ano passado, Clouds In The Sky They Will Always Be There For Me. A faixa de abertura,“Machine Starts To Sing”, sugere a ideia de encontrar conforto em lugares frios e distópicos, descobrindo sinais de vida em momentos de desconexão e alienação, como explica Dana Margolin. “OK”, uma balada mais calorosa e delicada, originalmente planejada para um lançamento solo inicial de Margolin, mas agora reinventada com a colaboração da banda. O single “Don’t Want To Dance”, uma música acústica crua e melancólica, fala sobre persistir, escolher a vida, viver e tentar novamente. Por fim, “I’ve Got a Feeling (Stay Lucky)” encerra o EP com uma nota otimista e catártica, celebrando o amor e a esperança. É uma tristeza pensar que as máquinas do Porridge Radio irão parar de cantar.

Albertine SargesGirl Missing
(Moshi Moshi Records)

Girl Missing é a obra mais completa de Albertine Sarges até hoje. Durante dois invernos em seu estúdio em Marzahn, em Berlim, ela meticulosamente selecionou, gravou e reinterpretou suas ideias. O álbum apresenta uma mistura de baladas, canções de rock e até mesmo folk (“Reflection”) e afrobeat (“Cocoon”), criando uma espécie de biografia sobre um amor especial. Além disso, explora a compreensão da perda sob a perspectiva da sororidade (como cantada na faixa-título). No centro da obra estão a vulnerabilidade e a saudade, intercaladas com momentos de alegria explosiva, como no single “Stand Near Your Fire”. Girl Missing é um trabalho catártico e terapêutico, uma peça artística única que abrange uma vasta gama de emoções e ideias – nostalgia, melancolia, alegria e muito mais. Musicalmente, o álbum é uma aventura, com camadas de órgãos, flautas e coros que se combinam para criar uma atmosfera emotiva. Liricamente, Girl Missing incorpora citações de ícones culturais como Anthony Bourdain, David Attenborough, A.C. Marias e Anne Carson. O resultado é um disco intrigante e definitivo em sua carreira, algo verdadeiramente singular.

Marble RaftDear Infrastructure
(Marble Raft)

Marble Raft é uma dupla sueca de indie pop composta pelos amigos Olle Söderström e Gabrielle Werme Baker. O projeto nasceu da paixão compartilhada por um som que mistura indie pop etéreo e exuberante. Juntos, eles constroem harmonias escapistas, com uma sonoridade atmosférica marcada por camadas de instrumentos como sintetizadores vintage e guitarras de 12 cordas. O segundo álbum de estúdio, Dear Infrastructure, reúne sete faixas brilhantes, que se somam aos singles já conhecidos: “Rites of Passage”“To Have and to Hold and to Break” e “Marble Halls”. O álbum etéreo e melódico conta a história de dois protagonistas adolescentes fictícios que, impulsionados pela curiosidade, vagam por uma metrópole desolada. A cada música, os protagonistas exploram diferentes partes da cidade – descobrindo o jardim botânico tomado pela vegetação, torres de concreto em deterioração, o zoológico onde a natureza selvagem retomou seu espaço e outros cenários desse ambiente urbano peculiar. Um exemplo é “Intersections, Alleys and Freeways”, um hino brilhante de indie pop que gira em torno da ideia de criar ordem a partir do caos. A saga neon musical é envolta em camadas de sintetizadores analógicos, guitarras de doze cordas, glockenspiel, mellotron e autoharp. A paisagem sonora oferece um abraço caloroso em meio a um cenário urbano frio.

YUDII Like What I Like
(YUDI)

YUDI, uma banda de indie folk, constrói canções que unem o etéreo e a essência humana. Em seu EP de estreia I Like What I Like, o grupo, comandado pela vocalista e compositora Yudi Ko, mergulha em ambientes sonoros melancólicos e ricos em texturas, mesclando a delicadeza do dream pop com a sensibilidade do folk. A faixa inicial “Cam”, mescla influências folclóricas e nuances latinas, abordando a superação de obstáculos físicos e emocionais em busca de conexão e paixão diante das incertezas da vida. Já “Moon Eyes” começa de forma delicada, mas evolui para uma grandiosidade quase sinfônica, contando a história dos lendários “Moon-Eyed People”, uma comunidade misteriosa e noturna dos Montes Apalaches, envolta em fascínio e mistério. “Tumbleweed” apresenta cordas luminosas e um ritmo envolvente que sustenta a música com firmeza, enquanto a faixa-título mergulha em camadas atmosféricas, com batidas que conferem urgência ao arranjo. “Ships” é uma balada carregada de emoção, e “Sunflower Garden” evoca nostalgia e sensibilidade, usando a metáfora de um jardim para retratar um relacionamento em que desafios se transformam em crescimento e afeto. I Like What I Like une profundidade emocional, atmosferas etéreas e influências folclóricas, consolidando uma identidade sonora única e marcante para o projeto.