10 discos para ouvir hoje: Darkside, BANKS, Panda Bear, Hope Tala e mais

Darkside / Lefteris Paraskevaidis

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Darkside, BANKS, Miya Folick, Everything Is Recorded, Panda Bear, Yves Jarvis, Deep Sea Diver, Hope Tala, Miami Horror e Cornelia Murr.

DarksideNothing
(Matador)

O terceiro álbum do Darkside, Nothing, representa uma transformação significativa no projeto de Nicolas Jaar e Dave Harrington, que agora contam com o baterista Tlacael Esparza, formando um trio. Diferente dos trabalhos anteriores, Psychic (2013) e Spiral (2021), que surgiram de ideias fragmentadas desenvolvidas em estúdio, Nothing nasce de sessões improvisadas, riffs acústicos e explorações digitais. A faixa “Graucha Max”, a primeira a ser divulgada, já anunciava essa nova direção, combinando sintetizadores psicodélicos, guitarras influenciadas pelo krautrock, ritmos tropicais, fragmentos de dancehall e vocais distorcidos. “S.N.C” – acrônimo para “Still No Center” – começa com riffs delicados e batidas suaves, evoluindo para uma atmosfera disco funk envolvente e sensual, que remete a uma mistura entre “Machine Gun” dos Commodores, Daft Punk e Tame Impala. Já “Are You Tired? (Keep on Singing)”, construída a partir de improvisações e experimentações acústicas e digitais, percorre diversas décadas em menos de sete minutos. “American References” traz um clima mais introspectivo e misterioso, com uma batida hipnótica de bongô e vocais em espanhol de Jaar, resultando em um techno experimental. A “Hell suite, Pt. I” incorpora uma interpolação de “Imagine”, de John Lennon, enquanto “Hell suite, Pt. II” é uma composição melódica e densa, sustentada por uma estrutura minimalista de dois acordes, sobre a qual se desdobram camadas de percussão fluida e letras melancólicas que abordam temas como a fuga da realidade. “Sin El Sol No Hay Nada” encerra o trabalho com uma sonoridade tranquila e discreta que explode em uma jornada sonora intensa e assustadora. O resultado é um som hipnótico e enigmático, que mescla guitarras sinuosas, texturas eletrônicas estranhas e percussões profundas, criando algo único, que só o Darkside poderia entregar neste momento específico de sua trajetória.

BANKSOff With Her Head
(Her Name Is Banks)

Off With Her Head simboliza um momento de profunda transformação para BANKS, completando uma década desde sua estreia com Goddess. Ao longo desses anos, ela enfrentou mudanças significativas tanto em sua vida pessoal quanto profissional, o que a levou a repensar sua abordagem musical. O álbum reflete essa renovação, trazendo emoções intensas e explorando uma liberdade criativa que resgata suas raízes no alt-pop e R&B, presentes em seus primeiros trabalhos, ao mesmo tempo em que apresenta faixas sólidas e cativantes. A abertura do disco, “Guillotine”, começa com sintetizadores densos e pulsantes, enquanto a voz celestial de BANKS entoa versos que simbolizam o fim de sua antiga identidade e a determinação de se reinventar. Já “I Hate Your Ex-Girlfriend”, com a participação de Doechii, destaca-se por sua produção sombria, repleta de batidas eletrônicas dançantes e sintetizadores que criam uma atmosfera ameaçadora, enquanto explora sentimentos intensos e conflituosos relacionados ao ciúme. Ela também demonstra sua habilidade em colaborações, trazendo a artista francesa Yseult para a envolvente “Move” e o britânico Sampha para o dueto glitchy “Make It Up”. Em “Love Is Unkind”, fruto de uma parceria com Lil Silva, produtor principal de seu álbum de estreia, ela combina sua sensibilidade pop com pads de sintetizador grandiosos e batidas de hip hop, enquanto sua voz emotiva mergulha no lado sombrio e confuso do amor. “Best Friends” surge como uma balada comovente, com guitarras dedilhadas, cordas orquestrais delicadas, batidas eletrônicas sutis e vocais melancólicos que narram o doloroso fim de uma amizade. Já “Meddle In The Mold”, possivelmente uma das melhores faixas do álbum e que poderia facilmente integrar o repertório de Rihanna, apresenta uma sonoridade teatral, com cordas dramáticas, piano pulsante e vocais que flertam com o rap, retratando a sensação de ser manipulada em um relacionamento. Em “River”, produzida por Totally Enormous Extinct Dinosaurs, BANKS revela uma faceta empoderada e sedutora, enquanto a faixa-título reforça o tema de renascimento e transformação. Como a própria artista já afirmou, Off With Her Head representa uma evolução de Goddess, reunindo a equipe original após uma década, mas marcando um novo capítulo em seu crescimento artístico e pessoal.

Miya FolickErotica Veronica
(Nettwerk Music Group)

Enquanto seus trabalhos anteriores, Premonitions e ROACH, foram interpretados como processos de amadurecimento, Erotica Veronica explora a sexualidade e o desejo com uma maturidade conquistada pela experiência. Depois de anos intensos em turnês e compondo trilhas sonoras, a cantora, compositora e produtora Miya Folick retorna ao seu universo pessoal, entregando um álbum marcado pela crueza e pela sinceridade. O disco foi criado em um ritmo acelerado, em apenas um mês e meio, e contou com a participação de músicos renomados, como Meg Duffy e Pat Kelly, valorizando performances ao vivo e espontâneas. Em termos de letras, Erotica Veronica explora desejos e contradições, especialmente a experiência queer dentro de um contexto heteronormativo. Canções como “Erotica” capturam o desejo romântico, enquanto “Fist” transborda uma raiva reprimida, que gradualmente se transforma em um grito catártico. A balada folk rock “This Time Around” revisita um relacionamento do passado com uma poesia carregada de dor. Já “La Da Da” traz uma sonoridade que remete ao rock alternativo dos anos 90, à la The Cranberries, mas com uma sensibilidade pop atual. Por fim, “Felicity”, a faixa mais experimental, brinca com sintetizadores e sopros para celebrar a expressão autêntica das emoções. No fim das contas, Erotica Veronica se apresenta como um retrato caleidoscópico de autodescoberta e integração, revelando as múltiplas camadas da identidade e da vivência humana.

Everything Is RecordedTemporary
(XL Recordings)

O projeto colaborativo Everything Is Recorded, liderado pelo produtor Richard Russell, lança seu terceiro álbum de estúdio, intitulado Temporary. A obra marca uma transformação na trajetória musical de Russell, priorizando melodias em detrimento de elementos rítmicos. Inspirado pela ideia de como a música folk poderia ter se “digitalizado” na década de 1980, o álbum aborda temas como luto e perda de forma sensível e luminosa. Com arranjos delicados e atmosféricos, o artista descreve o processo criativo como uma celebração da vida, culminando em um dos trabalhos mais emocionantes e delicados já produzidos sobre a morte. Desenvolvido ao longo de quatro anos, Temporary reúne uma extensa lista de colaborações, incluindo nomes como Bill Callahan e Noah Cyrus, que se destacam na balada folk despojada “Porcupine Tattoo”, Florence Welch e Sampha contribuem para a emotiva “Never Felt Better”, enquanto Clari Freeman-Taylor brilha na faixa de dream pop “Swamp Dream #3”. O álbum também conta com participações especiais de Maddy Prior, Berwyn, Alabaster Deplume, Jah Wobble, Kamasi Washington, Jack Peñate, Samantha Morton, Nourished By Time, entre outros. O grande destaque de Temporary está na habilidade de Russell em integrar vozes e estilos diversos em uma narrativa coesa e introspectiva. O resultado é uma obra que, embora profundamente pessoal, ressoa de maneira universal.

Panda BearSinister Grift
(Domino)

Sinister Grift, o primeiro álbum solo de Panda Bear em seis anos, apresenta Noah Lennox explorando ainda mais suas raízes influenciadas pelos Beach Boys, além de sua paixão por rocksteady e o dub. Diferente de seus trabalhos anteriores, que transitavam entre confidências pessoais e experimentações eletrônicas ousadas, este projeto se destaca por uma sonoridade acolhedora e direta. A faixa de abertura, “Praise”, estabelece o tom do álbum com harmonias que remetem aos Beach Boys, batidas dub e uma linha de baixo que evoca o doo wop dos anos 1950. Em “Ends Meet”, elementos do rock clássico se misturam com paisagens sonoras psicodélicas, criando uma atmosfera que lembra uma versão em transe de “La Bamba”, enquanto “Defense” carrega uma influência clássica na guitarra vintage de Cindy Lee – persona drag inspirada em cantoras dos anos 1960, do canadense Patrick Flegel. “Anywhere but Here” resgata o espírito do doo wop tradicional, com um toque especial nos versos em português interpretados por Nadja Lennox, filha do artista. O álbum também explora territórios do freak folk em “Elegy for Noah Lou”, enquanto “Ferry Lady” traz uma sonoridade pop com nuances dub e psicodélicas, refletindo sobre um relacionamento perdido. Gravado em seu estúdio caseiro em Lisboa, Lennox assume a maior parte dos instrumentos, transformando Panda Bear em algo que se aproxima de uma banda de rock clássica. O projeto ainda conta com a participação de Rivka Ravede (do Spirit of the Beehive) e, pela primeira vez em um trabalho solo, de todos os membros do Animal Collective, sua banda principal. Com uma mistura de influências que vão do pop clássico ao experimentalismo contemporâneo, Sinister Grift se consolida como uma obra que equilibra nostalgia e inovação.

Yves JarvisAll Cylinders
(In Real Life)

O músico canadense Yves Jarvis, nome artístico de Jean-Sébastien Yves Audet, retorna com All Cylinders, um álbum composto por 11 faixas gravadas e executadas inteiramente por ele, sem participações externas. Dessa vez, ele apresenta uma sonoridade mais direta e acessível, distanciando-se de sua abordagem anterior, mais experimental e espontânea. Inspirado pela clareza interpretativa de Frank Sinatra, Jarvis optou por uma estrutura mais convencional em suas composições, com versos, refrões e ganchos que se destacam. A faixa de abertura, “With A Grain”, começa com uma introdução que bebe do jazz brasileiro, mas logo se transforma em uma atmosfera próxima ao yacht rock, com vocais que ecoam o estilo neo soul. Já “Gold Filigree” traz uma sonoridade soul envolvente, com guitarras distorcidas e vibrantes, que evocam referências como Prince e D’Angelo. A faixa-título, por sua vez, combina elementos do yacht rock com influências do soul dos anos 70, enriquecida por letras delicadas e introspectivas. Em “Decision Tree”, o músico explora um dilema existencial, refletindo sobre a imprevisibilidade das escolhas com uma mistura de funk e pop em riffs de guitarra marcantes, palmas rítmicas e vocais calorosos. O álbum ainda passeia por diferentes estilos: dos teclados retrô de “I’m Your Boy”, passando pela atmosfera disco groove de “The Knife In Me”, até a fusão gospel e bluegrass de “Luck’s Last Luster”. Cada faixa revela um charme único, com um toque de improvisação que confere autenticidade ao trabalho. Gravado de maneira descontraída em casa, estúdios e apartamentos alugados em Montreal e Los Angeles, o disco foi produzido em um laptop antigo, sem o uso de plugins ou efeitos digitais. Essa escolha reflete uma busca pela essência da música, em um espírito semelhante ao de McCartney II. All Cylinders é, assim, seu trabalho mais sincero e despojado até o momento.

Deep Sea DiverBillboard Heart
(Sub Pop)

Em julho de 2023, Jessica Dobson, vocalista e líder do Deep Sea Diver, passou por um momento de bloqueio criativo durante as gravações de um novo álbum em Los Angeles. Ela sentia que as canções haviam perdido sua força original, o que a levou a interromper as sessões e retornar a Seattle. Foi nesse período de pausa que ela encontrou uma nova direção para a banda e seu som, com o apoio essencial de Andy Park, colaborador de longa data, e de seu parceiro Peter Mansen. Desse processo de reinvenção surgiu Billboard Heart, o quarto álbum do Deep Sea Diver e o primeiro lançado pela Sub Pop. O disco reflete a superação das incertezas e a reconquista da confiança artística. Com músicas como “Shovel”, “Loose Change”, “Let Me Go” (dueto com Madison Cunningham) e “What Do I Know” – um indie pop mercado por riffs épicos de guitarra -, Dobson explora novas dimensões do indie rock, aproximando-se de artistas como St. Vincent e TV on the Radio. O álbum foi concebido de maneira mais pessoal, com parte das gravações realizadas em casa, ao lado de Mansen. Além disso, Dobson assumiu novos papéis, como tocar baixo, após os altos custos das sessões em Los Angeles. Billboard Heart simboliza um momento de libertação para a artista, que deixou para trás o medo e as pressões da indústria para redescobrir o prazer da criação. O resultado é o trabalho mais consistente e genuíno da carreira do Deep Sea Diver até então.

Hope TalaHope Handwritten
(PMR Records)

Hope Tala finalmente lança seu tão esperado álbum de estreia, após quatro anos de dedicação e criação. A cantora e compositora britânica combina influências de R&B, ritmos latinos, neo soul e bossa nova (“Survival”, “Jumping the Gun”) em dezesseis faixas meticulosamente organizadas. Intitulado Hope Handwritten, o registro funciona como uma narrativa de amadurecimento, explorando as experiências da artista sobre independência, saúde mental, ancestralidade, relacionamentos conturbados (“Bad Love God”) e, consequentemente, o término (“Thank Goodness”). A voz suave de Tala flui graciosamente por arranjos que se desdobram com uma beleza serena, onde cada camada instrumental contribui para a profundidade da narrativa, sem nunca ofuscar a emoção crua que é o cerne de suas composições. Destaques incluem “Magic Or Medicine”, que aborda as batalhas internas da mente, “Phoenix”, uma ode ao amor platônico, e “I Can’t Even Cry”, considerada por Tala o coração do projeto, traçando “a jornada de ter esperança, perdê-la e reencontrá-la”. A produção cuidadosa e as letras profundas refletem um trabalho que vai além do entretenimento, alcançando um nível de expressão que ressoa autenticidade e introspecção. Hope Handwritten é um testemunho do talento de Hope Tala e de sua habilidade em retratar as diversas nuances das relações humanas.

Miami HorrorWe Always Had Tomorrow
(Nettwerk Music)

Miami Horror, liderado pelo produtor Benjamin Plant, australiano radicado em Los Angeles, está de volta com o álbum We Always Had Tomorrow lançado após nove anos de hiato. O trabalho é uma exploração profundamente pessoal, abordando temas como a infância (“Together”), o processo de amadurecimento e a interconexão do universo (“WE’RE ALL MADE OF STARS”). Inspirado pela fascinação de Plant pelo cosmos, algo que o acompanha desde sempre, o álbum mergulha em questões existenciais e na complexidade da condição humana (“GLOWIN'”). Para essa empreitada, o músico colaborou com diversos artistas australianos, como Telenova, Tim Ayre, Woodes, Beckah Amani e Ngaiire, além de nomes internacionais como RAC (“LOST SEASONS”), Robotaki, Ayoni, entre outros. O clima melancólico do álbum apresenta sua reflexão sobre a vida e o reencontro com o piano, combinando a energia dançante de samples – transformados em uma sonoridade que é ao mesmo tempo futurista e nostálgica –, influências de funk, disco, house e soul, e até trechos de filmes, criando uma narrativa sonora imersiva que se conecta profundamente com a experiência humana por meio da música. We Always Had Tomorrow é mais do que um conjunto de faixas; são fragmentos de uma jornada emocional que convida o ouvinte a refletir sobre o passado e o futuro. Com sua audácia sonora e profundidade temática, o álbum consolida o legado do Miami Horror como um dos projetos mais inovadores e atemporais da música eletrônica.

Cornelia MurrRun to the Center
(22 TWENTY)

Ao longo de 10 faixas hipnóticas de pop, Run to the Center apresenta Cornelia Murr cantando sobre sua vida na casa dos trinta, mergulhando em desejos, dúvidas e as grandes interrogações da existência. Após anos de tentativas frustradas de lançar um novo álbum, enfrentando desafios econômicos e globais, Murr finalmente iniciou o projeto na primavera de 2023, em parceria com o produtor Luke Temple (Adrienne Lenker, Hand Habits), que contribuiu para criar uma sonoridade mais expansiva e celestial. Com batidas marcantes e sintetizadores pulsantes, o disco amplia os horizontes de sua música, adentrando um futurismo minimalista enquanto a artista aceita as incertezas da vida. “How Do You Get By” mescla influências de indie, folk e dream pop, com uma melodia envolvente e celestial, remetendo a artistas como Beach House, Jessica Pratt e Weyes Blood. Já “Meantime” é uma balada folk pop delicada e emocional, que retrata a imobilidade em um relacionamento. A faixa “Skylight” envolta em atmosfera sonhadora, reflete sobre o amor, a passagem do tempo e a liberdade de permitir que o que é positivo se desenvolva. Enquanto isso, o tom melancólico e sereno de “Pushing East” aborda o afastamento emocional, a transformação de perspectivas e a expectativa de um reencontro no futuro. Grande parte do álbum foi composta em Red Cloud, Nebraska, onde Murr dedicou um período a restaurar uma casa antiga, encontrando ali seu equilíbrio interior. O resultado é um trabalho que explora temas profundos com sensibilidade e toques de humor, revelando uma artista totalmente sintonizada com sua essência e força criativa.