
Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Perfume Genius, Hannah Cohen, Lucy Dacus, Yukimi, SPELLING, CocoRosie, girlpuppy, Polo & Pan, Bria Salmena, Destroyer, Great Grandpa e Sam Akpro.

• Perfume Genius – Glory
(Matador Records)
Glory, o sétimo álbum de Mike Hadreas, é vigoroso, moldado por seu parceiro na vida e na música, Alan Wyffels, e pelo produtor de longa data Blake Mills (Fiona Apple, Japanese Breakfast), além da banda mais potente que o Perfume Genius já reuniu: os guitarristas Meg Duffy e Greg Uhlmann, os bateristas Tim Carr e Jim Keltner, e o baixista Pat Kelly. Esses músicos canalizam sua força, enquanto Hadreas direciona suas imaginações macabras e humor sombrio para algo profundamente humano.
A faixa principal, “It’s a Mirror”, é uma balada com momentos grandiosos que combina rock e country, retratando uma relação conturbada, marcada por conflitos internos, memórias dolorosas e a sensação de estar preso ao passado. “Clean Heart” começa como uma doce canção de ninar, com arranjos delicados e cintilantes, mas logo se transforma em um art-pop expansivo, explorando a ideia de que o tempo cicatriza as feridas. Já “No Front Teeth”, parceria com Aldous Harding, é caracterizada por uma atmosfera densa e envolvente, impulsionada por variações dinâmicas de ritmo e um refrão impactante sobre como superar as marcas do passado.
“Me & Angel”, uma balada de piano melancólica que parece ecoar “I Started A Joke”, destaca a voz única e emotiva de Hadreas, que assume o papel de amante abandonado. Em “Left For Tomorrow”, envolvida por sintetizadores sinuosos e um solo de saxofone marcante, ele lamenta um futuro que ainda não chegou, confrontando o medo da eventual morte de alguém que ama.
“Full On” desliza sobre harpas trêmulas e sopros melancólicos de flauta, retratando a fragilidade e a incerteza do afeto, especialmente sob uma ótica queer. “Capezio”, por sua vez, aborda um ménage em que duas pessoas usam o mesmo indivíduo como tela para projeções compartilhadas.
“In a Row” mergulha em uma situação claustrofóbica e confusa: o artista se imagina preso no porta-malas de um carro em movimento, simbolizando sua própria falta de iniciativa para mudar – a ponto de se sentir confortável naquela condição, antecipando a inspiração que a experiência lhe trará. A instrumentação, com sintetizadores, guitarras e harmonias rebeldes, revela o caos na mente de Hadreas.
Na faixa-título de encerramento, “Glory”, o falsete do artista e a orquestração melancólica conduzem a uma reflexão sobre autoaceitação e crescimento pessoal, com a quietude de quem finalmente encontra paz no caos.

• Hannah Cohen – Earthstar Mountain
(Congrats Records)
Hannah Cohen, conhecida por sua voz etérea e composições introspectivas, apresenta o quarto álbum de estúdio, Earthstar Mountain. Gravado entre 2020 e 2024 no aconchegante estúdio Flying Cloud, nas montanhas Catskills – onde a cantora reside -, o projeto foi produzido em parceria com Sam Evian (colaborador de Kate Bollinger) e funciona como uma ode ao lugar que a inspira. Mais do que um disco, trata-se de um mosaico de memórias, tanto luminosas quanto difusas, que celebram laços afetivos, paisagens naturais e a passagem do tempo.
A abertura do álbum fica por conta de “Dusty”, uma balada que mistura influências do jazz e do pop vintage dos anos 1970, criando um clima nostálgico enquanto reflete sobre transformações pessoais. Em seguida, “Draggin’” surge com uma levada folk pop contagiante, abordando as complexidades dos vínculos familiares e a dor de testemunhar as lutas alheias. Já “Mountain” mergulha no universo country, com nuances que remetem a Fleetwood Mac e participação especial de Sufjan Stevens nos vocais, numa emotiva homenagem a um amigo perdido.
“Earthstar” desenha paisagens sonoras com sintetizadores flutuantes e melodias expansivas, questionando até que ponto é possível realmente conhecer outra pessoa. Um dos momentos mais surpreendentes é “Una Spiaggia”, releitura da obra de Ennio Morricone para o filme ‘A Noite da Vergonha’. A faixa, quase um interlúdio, destaca-se pela simplicidade: apenas as vozes de Cohen e de Clairo entrelaçadas em harmonias mínimas. Essa delicadeza contrasta com “Summer Sweat”, que incorpora elementos funk e coros arrebatadores, inspirada tanto em Morricone quanto em Chico Buarque.
“Shoe” explora sonoridades folk com camadas densas e guitarras distorcidas, discutindo a eterna busca por um lugar no mundo. Em “Baby, You’re Lying”, a artista opta por uma abordagem minimalista inicial — apenas piano e voz — para depois expandir-se com baixo, bateria e trompete, traduzindo a angústia da desconfiança amorosa. O fechamento fica a cargo de “Dog Years”, que mescla bossa nova com arranjos de cordas sublimes, propondo uma reflexão sobre a efemeridade da vida e a ideia de que alguns momentos, como os dos cães, são breves mas intensos.
Com Earthstar Mountain, Hannah Cohen não só consolida seu lugar como uma das vozes mais originais da música contemporânea, mas também oferece um trabalho que é, ao mesmo tempo, uma carta de amor geográfica e um manifesto sobre as relações humanas.

• Lucy Dacus – Forever Is A Feeling
(Geffen Records)
Após colher os frutos de sua colaboração no projeto boygenius, ao lado de Phoebe Bridgers e Julien Baker, Lucy Dacus retoma sua carreira solo com Forever Is A Feeling. A obra mergulha nas múltiplas facetas do amor — desde a paixão intensa até os desencantos que surgem com o tempo, percorrendo um caminho sonoro que vai do desejo ardente aos romances avassaladores.
Com uma variedade de arranjos que transitam entre orquestrações grandiosas e momentos de intimidade acústica, Lucy se entrega à missão de traduzir em música a efemeridade do “para sempre”. Em “Ankles”, batidas pulsantes e cordas exuberantes sustentam uma letra que oscila entre a atração física e a busca por uma conexão mais profunda. Já “Limerence”, com sua atmosfera reminiscente dos musicais clássicos, retrata a luta para manter viva uma relação diante do silêncio que a consome.
A faixa “Modigliani”, ganha um toque especial com os vocais de Phoebe Bridgers, enquanto Lucy mescla reflexões sobre a vida da amiga com trechos de “Garden Song”, música de Bridgers, nos versos. No contraste entre o indie rock tenso de “Talk” – que aborda a falha na comunicação de um casal – e a melancolia suave da balada folk “For Keeps”, o álbum revela suas camadas emocionais.
“Best Guess” surge como um hino ao amor queer, celebrando afeto genuíno e liberdade afetiva. Já “Most Wanted Man”, inspirado no romance entre Dacus e Baker, retrata um relacionamento inesperado e arrebatador. O álbum se encerra com “Lost Time”, que explode em uma instrumentação grandiosa nos minutos finais, transformando um amor outrora reprimido em uma declaração de devoção. A canção é um tributo à beleza dos pequenos momentos compartilhados, convertendo arrependimento em celebração.

• Yukimi – For You
(Ninja Tune)
Yukimi, vocalista e uma das fundadoras da banda Little Dragon, apresenta seu primeiro projeto solo: For You. Com uma entrega vocal que equilibra delicadeza e intensidade, a artista explora sonoridades que mesclam jazz, soul, pop eletrônico e psicodelia, enquanto suas letras abordam temas como amor, despedidas e empoderamento feminino.
Em “Break Me Down”, Yukimi une pop, R&B e soul alternativo, revelando uma faceta íntima e sincera, na qual expõe sua essência feminina sem reservas. Já “Sad Makeup” traz um momento introspectivo, com a cantora diante do espelho, confrontando sua própria imagem. “Winter Is Not Dead”, por sua vez, reflete sobre a influência da cultura escandinava e como as noites intermináveis do inverno estimulam a criatividade.
“Make Me Whole” é uma balada neo soul com vocais etéreos, que aborda a necessidade de preencher um vazio interno, mesmo que de forma passageira. Em “Stream of Consciousness”, em parceria com Lianne La Havas, a música vira um convite à autorreflexão, libertação e crescimento pessoal.
A faixa “Peace Reign” começa de forma comovente, com a voz do filho de Yukimi, e evolui para um groove envolvente, inspirado nos anos 60, propondo um mundo onde todos possam seguir seus sonhos livremente. “Jaxon” conta com a participação de Pos, do De La Soul, em um rap motivador que busca elevar as novas gerações. Por fim, “Feels Good to Cry”, com arranjos luminosos e um piano marcante, traz Yusuke Nagano, pai da cantora, encerrando o álbum com uma meditação sobre a transitoriedade da existência.

• SPELLLING – Portrait of My Heart
(Sacred Bones Records)
Em Portrait of My Heart, Chrystia Cabral, mente por trás do projeto avant-pop SPELLLING, explora temas como amor, vulnerabilidade, inquietação e isolamento, combinando instrumentais vibrantes com uma expressão emocional intensa e sua voz inconfundível. Desde o minimalismo sombrio de seus primeiros trabalhos até o prog-pop grandioso de The Turning Wheel (2021) e, agora, essa nova explosão de energia criativa, sua evolução musical reflete uma transição do álbum para sons mais dinâmicos e imediatos, potencializados pela colaboração de uma banda que expande os horizontes sonoros do projeto.
A faixa-título é um indie pop rock contundente, com batidas aceleradas, guitarras incisivas, teclados delicados e arranjos de cordas refinados, enquanto os vocais de Cabral transmitem uma sensação de deslocamento e introspecção. “Keep It Alive” funde a energia do pop punk com guitarras progressivas, e “Alibi”, originalmente uma demo no piano, ganha força em uma releitura inspirada no rock cru de Liz Phair. “Destiny Arrives” traz uma estética pop dramática e elaborada, com batidas pulsantes, piano, sintetizadores e cordas envolventes.
Já “Ammunition” começa com nuances de jazz e R&B, mas explode em um solo de guitarra épico, reminiscente dos grandes sucessos dos anos 80. “Drain” cresce até seu clímax com riffs caóticos de Braxton Marcellous (do Zulu) e ambiência grunge. Em contraste, “Mount Analogue”, com a participação de Chaz Bear (a.k.a. Toro y Moi), é uma viagem sensorial entre o soul melancólico e o trip hop, explorando os labirintos de um amor desconhecido. “Satisfaction” resgata a escuridão característica de seus trabalhos anteriores, mas com pesado em guitarras distorcidas e um tom metal. “Sometimes”, cover da clássica música do My Bloody Valentine, ganha nova dimensão com a voz cristalina de Cabral, que emerge com clareza onde a versão original se perdia em camadas guitarra. Portrait of My Heart resulta no trabalho mais acessível de SPELLLING, mas sem abrir mão de sua inovação e ousadia própria.

• CocoRosie – Little Death Wishes
(Joyful Noise Recordings)
Ao longo de vinte anos, o duo CocoRosie, formado pelas irmãs Bianca e Sierra Casady, tem trazido uma mistura singular de folk experimental e eletrônica, repleta de magia e singularidade. Em Little Death Wishes, elas elevam sua arte a novas alturas, incorporando nuances de hip hop e pop em uma sonoridade que é, ao mesmo tempo, cativante e hipnótica. O álbum mantém a franqueza e a sensibilidade que sempre marcaram seu trabalho, mas com uma maturidade ainda mais profunda.
As canções tecem uma narrativa multifacetada sobre as lutas geracionais das mulheres, as realidades fragmentadas de suas existências, a fragilidade da vida humana, as desilusões amorosas e um anseio por reconexão interior. Este disco sintetiza a essência mais pura do CocoRosie: a capacidade de transmutar dor em sabedoria, irmandade em resistência, o banal em poesia, e o kitsch em verdades renovadas.
“Least I Have You” captura a dinâmica da relação entre as irmãs após anos de jornada musical, com guitarras cortantes e batidas incisivas de Greg Saunier (do Deerhoof), evoluindo para um clímax de euforia contida. “Pushing Daisies” funde batidas de hip hop, texturas de bedroom pop, melodias folk e vocais líricos, oscilando entre delicadeza e explosão catártica. “Yesterday” é uma balada que equilibra doçura e dor, usando sons de caixa de música, ritmos pulsantes, teclados flutuantes e vocais infantis que carregam o peso de traumas profundos.
“Cut Stitch Scar” mergulha na incerteza e no medo da perda, buscando sentido em meio ao vazio existencial. Já “No Need For Money” resgata a vibe soul dos anos 1970 para questionar o materialismo, propondo um ideal de transcendência espiritual. “Nothing But Garbage” combina rap minimalista e R&B experimental para retratar relações familiares turbulentas, enquanto “Girl In Town”, com participação surpreendente de Chance the Rapper, traz uma abordagem pop sobre um romance que desafia expectativas.
Ao longo da carreira, as irmãs Casady foram infantilizadas, veneradas, fetichizadas e mal interpretadas pela mídia, que frequentemente tentou enquadrá-las como um mero capricho artístico. No entanto, o duo permanece inclassificável, desafiando convenções e explorando a vulnerabilidade humana com uma poesia transformadora. Little Death Wishes é mais um testemunho de sua coragem criativa – uma obra que desafia, encanta e ressoa longe após o último acorde.

• girlpuppy – Sweetness
(Captured Tracks)
Ao iniciar a produção do segundo álbum do girlpuppy, Sweetness, Becca Harvey percebeu que o processo criativo seria tão fundamental quanto o produto final. Seu disco de estreia, When I’m Alone (2022), combinava folk e alt-pop, mas ela sentia que ficava à sombra de seus colaboradores, ajustando suas letras a melodias criadas por outros. Agora, após sair de um relacionamento em que se sentia diminuída, Harvey assumiu as rédeas de sua música, escrevendo sozinha tanto as letras quanto as melodias. O resultado foi um trabalho mais intenso e ambicioso que o anterior, repleto de faixas emocionantes sobre superar culpas e inseguranças.
Com uma produção vigorosa, melodias envolventes e letras introspectivas, o álbum transborda autoconfiança, revelando uma artista que abraça plenamente sua criatividade e ouve seus instintos. Livre do medo de não poder ser compositora sem dominar um instrumento (inspirada por Matt Berninger, do The National), Harvey deu início ao projeto gravando memos vocais sem acompanhamento. Para desenvolver os arranjos, explorou referências – desde o country e o pop que ouvia na infância, na Geórgia, até artistas como Elliott Smith, Lana Del Rey e Yo La Tengo. Com a colaboração do produtor Alex Farrar e dos compositores Tom Sinclair e Holden Fincher, ela encontrou um equilíbrio entre shoegaze, dream pop e o pop rock dos anos 2000.
As faixas alternam entre nostalgia e energia crua, com guitarras distorcidas, baterias incisivas e refrões inesquecíveis. Em “I Just Do!”, ela captura a euforia de querer prolongar o tempo na cama com alguém, enquanto “I Was Her Too” brinca com referências sutis, como “The Whole of the Moon” do The Waterboys – uma música que um ex lhe dedicou sem maiores explicações, deixando-a perplexa. Esses momentos, entre o humor e a melancolia, mostram como pequenas incertezas ganham peso após o fim de um relacionamento.
Um dos pontos altos do álbum é “Windows”, que incorpora um riff de teclado inspirado em “Silver Springs”, do Fleetwood Mac. Sweetness é, acima de tudo, sobre encontrar a própria voz, defendê-la e escolher o que realmente importa. Misturando o lúdico e o doloroso, Harvey explora emoções catárticas e refrões impactantes, consolidando-se como uma das artistas indie pop mais ousadas de sua geração.

• Polo & Pan – 22:22
(Hamburger Records / Ekler)
A dupla francesa de música eletrônica Polo & Pan, formada por Paul Armand-Delille (Polo) e Alexandre Grynszpan (Pan), apresenta seu álbum 22:22, título que remete ao horário do espelho – um símbolo que pode ser lido como mensagem de encorajamento, afirmação ou sincronicidade. Misturando influências do house, do disco e do pop, o trabalho se desdobra como uma viagem por um universo onírico, repleto de riffs cativantes, melodias delicadas e batidas contagiantes que incitam ao movimento.
A abertura fica por conta de “The Piano & The Violin”, onde os instrumentos que nomeiam a faixa se entrelaçam à voz de uma criança recitando um poema sobre um pianista e um violinista que, ao se encontrarem, transformam suas vidas solitárias em uma harmonia amorosa. Em “Pareidolies”, sonoridades eletrônicas etéreas se mesclam a toques árabes e flautas de pan, criando uma atmosfera hipnótica. Já “Disco Nap”, em colaboração com o Metronomy, é uma ode ao amor e ao desejo intensificados sob as luzes da pista de dança.
Com participação de Estefani Brolo, cofundadora do coletivo mexicano I.M YONI, “Nenuphar” traz uma fusão de disco, pop francês e arranjos de cordas, equilibrando nostalgia e futurismo, enquanto versos em espanhol fluem em perfeita sintonia com a melodia. “Petite Étoile” se destaca com sua batida suave e envolvente, servindo de base para os vocais poderosos de Beth Ditto, que embarcam em uma jornada cósmica em busca de conexão.
“The Mirror” homenageia o brilho de ícones como Giorgio Moroder e Cerrone, carregando uma mensagem motivacional sobre vencer medos e incertezas. Em “Bluetopia”, com Kids Return, o synthpop ganha ares anos 90, mesclando a essência do selo DFA com o universo sonoro do Air. “A Different Side Of Us”, com PawPaw Rod, mergulha em uma vibe soul e eletrônica, acrescentando camadas sensuais ao disco.
O álbum se encerra com “La Nuit”, uma faixa de tom fantástico e influência doo-wop, onde Arthur Teboul (do Feu! Chatterton) canta um romance que resiste na escuridão, fugindo do amanhecer. 22:22 reflete a maturidade artística da dupla, unindo passado e futuro em uma experiência musical que celebra o diálogo entre sonho e realidade.

• Bria Salmena – Big Dog
(Sub Pop Records)
Big Dog, primeiro álbum solo de Bria Salmena, é uma narrativa íntima de transformação – uma jornada em busca de força e independência artística, construída através de colaborações significativas. Conhecida por liderar a banda FRIGS e por seu trabalho como vocalista nas turnês de Orville Peck, Salmena agora se consolida como uma artista única. Sua voz, que transita entre vulnerabilidade e potência, conduz o álbum por temas como coragem e afeto, revelando uma mulher que, enfim, encontra seu lugar.
A obra transborda emoção e ousadia sonora, mesclando krautrock pulsante, shoegaze luminoso, darkwave melancólico e texturas eletrônicas. No centro dessa tapeçaria sonora, suas letras poéticas e sua interpretação vocal hipnótica se destacam. A produção do disco reflete conexões artísticas e pessoais, especialmente com Duncan Hay Jennings, seu colaborador de longa data. Juntos, compuseram Big Dog à distância, unindo Los Angeles e Toronto.
Graham Walsh (METZ, Alvvays) lapidou a fusão entre rock e eletrônico, enquanto Meg Remy (U.S. Girls) orientou os vocais, desafiando Salmena a extrair performances ainda mais intensas. O álbum vai além de seus trabalhos anteriores, assumindo um tom mais confessional. A sonoridade equilibra raízes punk com camadas atmosféricas, evocando desde Hole e Mazzy Star até o coldwave dos anos 80. Lee Ranaldo (do Sonic Youth) empresta sua guitarra em “See’er”, enquanto a voz de Salmena resplandece entre sintetizadores.
No fim, Big Dog não fala apenas sobre encontrar-se na dor, mas sobre descobrir que, mesmo nos momentos mais escuros, nunca se está verdadeiramente sozinho.

• Destroyer – Dan’s Boogie
(Merge Records)
O Destroyer, projeto musical do canadense Dan Bejar, retorna com o álbum Dan’s Boogie. Depois do aclamado LABYRINTHITIS, o cantor e compositor afastou-se por um tempo, aguardando que a inspiração surgisse organicamente. O fruto dessa pausa é um trabalho ousado e eclético, que mescla rock grandiloquente, baladas pianísticas introspectivas e experimentações sonoras surpreendentes.
A abertura, “The Same Thing As Nothing At All”, une vocais enigmáticos a uma produção majestosa, enquanto “Hydroplaning Off the Edge of the World”, com sua base synthpop atmosférica, explora temas como pertencimento e a efemeridade da vida. A faixa-título traz nuances de jazz, “The Ignoramus of Love” incorpora elementos country, e “Bologna”, uma balada intensa com participação de Simone Schmidt (do Fiver), retrata a complexidade de um relacionamento amoroso. Já “Sun Meet Snow” assume ares de ópera rock ao abordar a fugacidade da existência e os ciclos de afeto e despedida.
Em “Cataract Time”, uma estrutura pop se desdobra ao longo de oito minutos, entre harpas delicadas, guitarras etéreas e solos de saxofone hipnóticos, enquanto Bejar reflete sobre o cansaço de uma vida pautada pela superficialidade. O álbum se encerra com “Travel Light”, uma canção minimalista que evoca a elegância de Burt Bacharach, num convite a se desprender de amarras emocionais e embarcar em uma jornada sem rumo definido. Com nove faixas atemporais, Dan’s Boogie consolida o Destroyer como um projeto multifacetado, onde Bejar transita entre personagens em um disco que equilibra extravagância pop, sensibilidade e narrativas viscerais.

• Great Grandpa – Patience, Moonbeam
(Run For Cover)
Na início de 2021, o destino da banda de indie rock Great Grandpa parecia indefinido. Depois do lançamento de Four of Arrows (2019),os membros seguiram rumos diversos — mudanças para outros países, novas carreiras e etapas pessoais distintas. No entanto, a ligação cultivada em anos de amizade e criação musical prevaleceu. Reencontrando-se em 2023, optaram por descartar boa parte das gravações existentes e recomeçar, trazendo consigo a sabedoria adquirida no período de distância. O fruto desse processo é Patience, Moonbeam, um trabalho ousado e comovente que captura a jornada de artistas que evoluíram lado a lado.
Diferentemente do álbum anterior – produzido rapidamente em estúdio com um profissional externo -, Patience, Moonbeam foi gestado de maneira natural, a partir de demos minuciosamente trabalhados e da produção interna, liderada por Dylan Hanwright. Com maior autonomia, o grupo explorou texturas sonoras inéditas sem abandonar sua identidade: as estruturas inventivas e os ganchos melódicos de Pat Goodwin, os vocais hipnóticos de Al Menne e, agora, uma profundidade que espelha suas vivências pessoais.
O disco se notabiliza pela colaboração democrática entre os cinco integrantes. Se, no passado, as composições giravam em torno de Pat, desta vez prevaleceu uma dinâmica inclusiva, onde todas as vozes se fizeram presentes sem comprometer a unidade. O equilíbrio entre opostos – peso e delicadeza, ludicidade e introspecção – marca faixas como “Doom” (que alterna entre coros suaves e batidas intensas) e “Kiss the Dice” (onde batidas experimentais dialogam com cantos suaves).
O ponto emocional central é “Kid”, escrita por Pat e Carrie Goodwin após um aborto espontâneo. O verso “todas as coisas boas no tempo definem seu significado” tornou-se o lema do projeto, encapsulando resistência e serenidade. Com Patience, Moonbeam, o Great Grandpa celebra o vínculo que transcende a música, unindo artistas como irmãos. O álbum é a prova de que amadurecer e trilhar trajetórias individuais pode, paradoxalmente, fortalecer ainda mais os laços coletivos.

• Sam Akpro – Evenfall
(ANTI-)
Sam Akpro, o talentoso produtor musical do sul de Londres, finalmente apresenta seu aguardado álbum de estreia, Evenfall. Com dez faixas que tecem um universo sonoro rico em atmosfera e sensibilidade, o trabalho mescla a estética noir de sua cidade natal com camadas cortantes, sonhos psicodélicos e batidas pulsantes. Acompanhado por uma banda de músicos excepcionais – Cameron Jacobs e Joshua Lee (guitarras), Luke Chin-Joseph (baixo), Kyle Creaton (bateria) e Taylor Devenny (sampler e teclados) – e coproduzido por seu colaborador frequente, Shrink, Akpro absorve e ressignifica diversos gêneros em sua obra.
Da energia crua e pós-punk de “Death By Entertainment” ao trip hop envolto em camadas psicodélicas e melodias contagiantes de “Chicago Town”, passando pela batida dub de “City Sleeps” e as distorções imediatas de “Tunnel Vision”, Evenfall é um álbum sem fronteiras, onde a atmosfera é soberana. Tão inspirado por Sonic Youth quanto por J Dilla, o registro captura a essência das conexões humanas e da cena criativa das ruas de Londres, pintando um retrato vívido da vida urbana contemporânea.