8 discos para ouvir hoje: Lido Pimienta, Ezra Furman, Tagua Tagua, Miso Extra e mais

Lido Pimienta / Ada Navarro Aguilera

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Lido Pimienta, Ezra Furman, MØ, Rico Nasty, Tagua Tagua, Miso Extra, tUnE-yArDs e SOFI TUKKER.

Lido PimientaLa Belleza
(ANTI-)

Após cinco anos do aclamado álbum Miss Colombia, a cantora e compositora colombo-canadense Lido Pimienta retorna com La Belleza. Produzido em colaboração com Owen Pallett (Sampha, Lana Del Rey), o disco é um trabalho inteiramente orquestral gravado com a Orquestra Filarmônica de Medellín e seu coral. Inspirado na trilha sonora de Luboš Fišer para o filme ‘Valerie e a Semana das Maravilhas’ (1970), o registro revela-se uma obra transcendente que dialoga com a música clássica europeia e sua vida pessoal.

Durante a pandemia, a artista redirecionou sua energia para La Belleza, refletindo sobre beleza, família e a fragilidade da vida. O título do álbum simboliza a resistência contra padrões opressivos e a redescoberta da conexão com a natureza e os entes queridos. O trabalho também celebra suas raízes indígenas, como em “Ahora”, que homenageia os rituais Wayuu, e caribenhas, em “Busca La Luz”, um hino à resistência.

“Mango”, canção que celebra o prazer sensual, o amor sem gênero definido e suculento de saborear uma manga doce, é uma canção suave e emocionante, conduzida por harpa e pelos vocais expressivos de Pimienta. La Belleza é uma jornada emocional, desde a abertura grandiosa de “Overturn (Obertura de la Luz Eterna)” até as faixas que exploram reconciliação amorosa, como “Quiero Que Me Beses” e “¿Quién Tiene La Luz? (El Perdón)”. Pimienta canta sobre ancestralidade, amor não correspondido (“Aún Te Quiero”) e renovação, criando um álbum que desafia categorizações.

Como ela mesma define, o registro é um tributo à beleza de ser indígena e negra, à alegria simples de morder uma manga madura e à resiliência de um povo que nunca se deixou apagar. Mesmo abordando temas densos, La Belleza é vibrante, repleto de amor, perdão e esperança, consolidando Pimienta como uma artista visionária e indispensável.

Ezra FurmanGoodbye Small Head
(Bella Union)

Antes de lançar Goodbye Small Head, Ezra Furman definiu o álbum como “cinematográfico e intenso”. Se estivesse na posição de crítica musical, a artista o descreveria como “uma fusão de emo e prog-rock orquestral, entremeado por samples”. As doze faixas, segundo ela, exploram diferentes facetas da perda de controle – seja pela fragilidade humana, doença, misticismo, BDSM, substâncias, desilusão amorosa ou simplesmente pela experiência de existir de olhos abertos em uma sociedade decadente.

“Grand Mal” une arranjos grandiosos de cordas e piano a letras visceralmente poéticas, capturando a entrega a emoções avassaladoras e visões transcendentais – inspiradas nas crises epilépticas de um amigo de Furman, tema que ecoa também em “Sudden Storm”, onde violinos frenéticos e guitarras incandescentes criam um turbilhão sonoro. Já “Jump Out” é um rock acelerado e angustiante com cordas tensas e guitarras cruas, contrastando com um refrão mais solto, enquanto narra a fuga desesperada da artista de um motorista ameaçador, saltando de um carro em movimento. “Power of the Moon” com uma batida eletrônica pulsante, guitarras inspiradas no surf rock dos anos 60 e letras intensas, traz a luta existencial contra as forças do universo, em busca de significado em meio a sinais contraditórios da vida.

A pressão para mascarar vulnerabilidades em um mundo implacável ganha voz em “You Mustn’t Show Weakness”, onde batidas nervosas e um violoncelo sombrio reforçam a mensagem. Em “Submission”, o som de um monitor cardíaco ambienta uma relação de dependência com a própria dor.

A delicadeza da dúvida sobre compromissos, identidade e futuro aparece na melancólica e acústica “Veil Song”, enquanto “You Hurt Me I Hate You”, uma balada pop carregada de nostalgia, expõe a crueza de um amor destrutivo. “A World of Love and Care”, com sua urgência dramática, questiona a falta de empatia e a marginalização na sociedade contemporânea. O álbum se encerra com “I Need the Angel”, um cover eletrizante do músico de noise pop Alex Walton, onde riffs potentes e vocais sufocados traduzem a angústia de Furman em sua busca por redenção e um lugar no mundo.

Plæygirl
(Sony Music)

A cantora e compositora dinamarquesa Karen Marie Ørsted (a.k.a. ) consolida sua trajetória de dez anos na música com o quarto álbum de estúdio, Plæygirl. O trabalho representa não apenas uma reinvenção artística, mas também uma redescoberta de sua essência, apresentando reflexões íntimas e sinceras sobre seu crescimento pessoal e profissional. Através de uma sonoridade diversificada, a artista navega entre a energia contagiante da juventude e as complexidades da maturidade, criando uma jornada que vai da despreocupação à introspecção.

A faixa “Who Said” é um synthpop fluido e aliciante, com sintetizadores hipnóticos, batidas eletrônicas pulsantes e um sample de The Knife, enquanto os vocais suaves de MØ transmitem uma mensagem de autonomia e questionamento sobre relações afetivas. Já “The Knife” lembra o estilo de Robyn, tanto na produção quanto na letra, ao explorar a dor de um amor fracassado. “Without You”, por sua vez, remete aos trabalhos de Timbaland para nomes do pop como Justin Timberlake, especialmente em “Medley: Let Me Talk to You / My Love”, ao retratar a dor de uma relação em crise.

“SWEET”, um dos pontos altos do álbum, conta com a participação de Biig Piig e mescla batidas industriais com sintetizadores desvirtuados oitentistas, contrastando com a doçura das vozes das artistas. A faixa-título, repleta de harpas e distorções eletrônicas, conta a história de uma mulher que vive no limite, muitas vezes à beira da autossabotagem. “Keep Moving”, produzida em parceria com The Dare, acelera o ritmo em relação a trabalhos anteriores, ironizando a cobrança por perfeição em uma sociedade caótica.

Enquanto “Lose Yourself” é um eletropop contagiante, com guitarras que evocam Joy Division e ressalta a importância de se entregar à música e à diversão, a eufórica “Hearbreak” celebra a busca por um amor ardente, mesmo diante do risco da decepção. Por fim, “Wake Me Up” homenageia Avicii, amigo e colaborador falecido, mantendo a essência da versão original, mas com uma roupagem renovada e batidas energéticas de synthpop.

Rico NastyLETHAL
(Fueled By Ramen)

Rico Nasty, celebrada por sua ousadia sonora e pela fusão de estilos, apresenta LETHAL, o aguardado sucessor de seu álbum Nightmare Vacation e da mixtape Las Ruinas. Este novo projeto surge como seu trabalho mais pessoal e refinado até hoje. Com produção assinada por Imad Royal (Chainsmokers, Panic! At the Disco) e estreia no renomado selo Fueled By Ramen, o disco inaugura uma fase audaciosa na carreira da artista, explorando desde a sutileza feminina até uma agressividade sem freios.

“TEETHSUCKER (YEA3X)” combina a potência do rock, a irreverência do punk e a cadência do rap, com Nasty adotando um tom desafiador diante de seus críticos. Já “ON THE LOW” mistura trap e pop, apresentando versos sagazes que abordam desejo e intriga, revelando apenas pistas de seus segredos. Em “SOUL SNATCHER”, ela alterna entre flows variados, exibindo autoconfiança e sensualidade. “SMOKE BREAK” explode com vocais cortantes e uma energia caótica inspirada no metal, enquanto “PINK” transborda feminilidade e “CRASH” entrega um pop rock contagiante com ganchos eufóricos.

O álbum também traz momentos de vulnerabilidade. “SMILE” é uma dedicatória emocionada ao seu filho, e “YOU COULD NEVER” reflete sobre sua jornada, destacando as conquistas que moldaram sua identidade. LETHAL é um projeto surpreendente em sua diversidade, mas unificado pela maturidade artística de Rico Nasty, que equilibra rap contundente, melodias sensíveis e a postura inabalável de quem domina seu próprio caminho.

Tagua TaguaRAIO
(Wonderwheel Recordings)

O produtor e compositor Felipe Puperi (a.k.a. Tagua Tagua) lança o álbum RAIO, com nove faixas inteiramente compostas, produzidas e gravadas no apartamento do artista, situado no centro de São Paulo, representando um novo momento em sua jornada criativa. Conservando as influências do neo soul, da tropicália e do psicodelismo que marcaram seus trabalhos anteriores, RAIO apresenta uma energia dançante inédita. Com inspirações em grandes nomes como Tim Maia, Cassiano e Bill Withers, Tagua Tagua também incorpora elementos contemporâneos que evocam o estilo de Daft Punk e da banda francesa de indie L’Impératrice.

O registro flui como uma festa sem fim, transitando entre o começo da noite e a madrugada. A faixa de abertura, “Dia de Sol”, estabelece o clima com uma suave atmosfera calorosa, funcionando como uma ponte entre seu álbum anterior, Tanto, e essa nova era. Já o single “Let it Go” combina batidas contagiantes com melodias etéreas, criando uma experiência ao mesmo tempo celestial e terrena com uma energia vibrante “disco à moda brasileira”.

Outros destaques incluem “Artificial” e “Química”, que mergulham no universo disco com letras em português e inglês, enquanto “Lado a Lado”, em parceria com a banda de rock norte-americana White Denim, celebra a serenidade em meio ao caos, enriquecida por guitarras, flautas e percussão. Com RAIO, Tagua Tagua consolida sua identidade sonora ao fundir passado e presente em um trabalho vibrante, íntimo e irresistivelmente dançante.

Miso ExtraEarcandy
( Transgressive Records)

A artista e produtora nipo-britânica Miso Extra lança seu primeiro álbum completo, Earcandy. Nascida em Hong Kong, filha de pai britânico e mãe japonesa, a cantora explora em seu trabalho temas como vulnerabilidade amorosa, amadurecimento e empoderamento, mesclando influências do K-pop, UK garage, sonoridades dos anos 80 e R&B em um projeto pop sofisticado e cheio de personalidade.

A faixa “POP”, produzida por Riccardo Damian e membros do coletivo indie MICHELLE, é um irresistível pop alegre, que une elementos do K-pop e UK garage. Com vocais que transitam entre inglês e japonês, a música captura a doce euforia de um amor à primeira vista. Já “Good Kisses”, em parceria com o Metronomy, aborda a insegurança de um relacionamento não correspondido, combinando o estilo fantasioso de Miso com batidas eletrônicas nervosas, arpejos etéreos, sintetizadores brilhantes e letras bilíngues em sua voz cativante.

“Certified” mistura synthpop e house, destacando a tentativa de sedução e a confiança necessária para isso. Enquanto isso, “Playboi” flerta com o R&B em uma jornada de autoconhecimento e reconhecimento de limites pessoais. “Done”, por sua vez, lembra os clássicos do TLC ou Destiny’s Child, com uma guitarra de influência espanhola, mas sem perder a identidade única da artista. “Slow Down”, feita em colaboração com DJ Boring, traz influências do UK garage com uma atmosfera pop intimista ao abordar um sentimento de alienação. “Ghostly”, com participação de A.K. Paul e referências a ícones como Madonna e Mary J. Blige, apresenta uma melodia anos 80 cheia de reverberação, com letras sobre superar expectativas alheias, romper ciclos tóxicos e buscar uma vida autêntica.

Encaminhando-se para o fim do álbum, “Don’t Care” reforça sua independência e determinação, enquanto “Candy Crushin'”, com participação de TYSON, e a faixa-título trazem uma atmosfera de R&B e soul, encerrando o projeto com leveza e serenidade. Earcandy apresenta Miso Extra como uma artista inovadora, capaz de unir referências diversas em um trabalho coeso e cheio de personalidade.

tUnE-yArDsBetter Dreaming
(4AD)

Entre distração e desencanto, o duo tUnE-yArDs constrói em Better Dreaming um manifesto artístico que dança sobre as fissuras do contemporâneo. Merrill Garbus molda o álbum como um ato de resistência criativa, onde pop adrenalizado, grooves de funk mutante e discursos políticos queer e antifascistas se fundem num convite irrecusável: liberar o corpo e a mente através da música nascida em tempos de fragmentação. A gênese das faixas fluiu com rara organicidade, alimentada pela nostalgia dos palcos e pelas transformações trazidas pela paternidade – e o resultado é uma explosão rítmica que resgata a eletricidade crua do início da banda, agora canalizada para um grito de alerta e celebração.

A abertura com “Heartbreak” combina harmonias vocais intensas de Garbus com uma batida densa e experimental, transmitindo a dor de um amor fracassado, mas também a resiliência para seguir adiante. Em “Swarm”, o duo reinventa o funk como colagem de sintetizadores nervosos e baixo provocador, enquanto a letra fala sobre lutar por suas crenças, lidar com a culpa de encontrar alegria em tempos sombrios. “Never Look Back” mergulha num groove hipnótico e misterioso, enquanto “Suspended” começa na delicadeza de brinquedos infantis e piano, só para crescer num rock intenso que confrontam a doçura da fantasia com o peso do real.

“Limelight” captura a energia contagiante do tUnE-yArDs, misturando funk e memórias familiares – como a voz da filha de Garbus e Brenner – em uma celebração de liberdade, renovação e laços transformadores. “How Big Is The Rainbow” é uma explosão de pop eletrizante, combinando disco e house em um groove contagiante que celebra a liberdade e a resistência das minorias.

Entre loops obsessivos e letras que ardem, tUnE-yArDs comprova que a música pode ser ao mesmo tempo refúgio e arma – um espaço onde o apocalipse cotidiano se dissolve em dança, e cada batida carrega a promessa de um futuro menos cruel.

SOFI TUKKERbutter
(SOFI TUKKER LLC)

A dupla SOFI TUKKER, composta por Sophie Hawley-Weld e Tucker Halpern, lança o álbum butter. O projeto é uma homenagem à riqueza da cultura e da música brasileira, trazendo uma proposta mais intimista e jazzística em contraste com o disco BREAD, quase como um seu “alter ego” sonoro.

Gravado no Brasil, butter mostra um lado diferente do duo. Conhecidos por sua perspectiva inclusiva e global da música eletrônica, o projeto permitiu que eles explorassem outros gêneros brasileiros que amam, como MPB, bossa nova e samba, além de ritmos latinos como bolero e bachata, e estilos contemporâneos como reggae e samba-reggae. Com uma atmosfera descontraída e solar, butter traz o SOFI TUKKER acompanhado de músicos brasileiros – como Liniker (“Intensity”), Seu Jorge (“Bread”), Silva (“Hey Homie”), entre outros -, utilizando quase exclusivamente elementos orgânicos – um contraste marcante com a sonoridade mais dançante e EDM dos registros anteriores – inclusive tirando a roupagem eletrônica de números viciantes como “Veneno” e “Jacaré”.

Após o lançamento de BREAD, Hawly-Weld e Halpern entraram em contato com o multi-instrumentista brasileiro Marcio Arantes, que colaborou na produção de butter. Para enriquecer as bases instrumentais do álbum, Arantes convidou Julio “Fejuca” Caesar (guitarra), Daniel Conceição (percussão), Lulinha Alencar (acordeão) e Will Bone (metais), trazendo uma sonoridade diversificada e cheia de texturas ao projeto.