
Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Obongjayar, Garbage, caroline, yeule, Shura, Sea Lemon e Ben Kweller.

• Obongjayar – Paradise Now
(September Recordings)
O artista nigeriano Steven Umoh (a.k.a. Obongjayar) lança seu segundo álbum de estúdio, Paradise Now. O trabalho mergulha em temas como identidade, resiliência, solidão e a busca por significado, tudo envolto em uma sonoridade eclética que passeia entre o eletrônico, o soul, o afrobeat, o punk e orquestrações grandiosas.
A abertura do disco, “It’s Time”, começa com sintetizadores delicados e batidas suaves, enquanto Obongjayar embarca em uma jornada introspectiva em busca do seu paraíso pessoal. Já “Life Ahead”, com guitarras marcantes e sons metálicos, expõe uma inquietação existencial sobre máscaras sociais, cicatrizes familiares e a solidão, tudo entregue pela voz visceral do artista.
“Peace In Your Heart” retrata um amor que se transforma em conflito, enquanto a balada “Moon Eyes” é uma ode romântica pura, onde a admiração pela parceira se mistura com a incredulidade diante da sorte de tanta beleza. Em “Holy Mountain”, Obongjayar explora sua relação com a fé em uma faixa animada, destacando um riff de violão acústico e um baixo pulsante.
O álbum toma um rumo mais ácido em “Jellyfish”, uma explosão de synth-punk em que o artista critica a falsidade e a submissão, celebrando a autenticidade e denunciando hipocrisias sociais e políticas. Em “Talk Olympics”, parceria com Little Simz – com quem colaborou recentemente no single “Flood” – ele satiriza a cultura dos discursos vazios e a superficialidade das redes sociais.
“Sweet Danger” traz um groove contagiante do afrobeats, com cantigas infantis e uma vibe sedutora, onde Obongjayar se apresenta como um “bad boy” irresistível, mas alerta sobre seu lado problemático. “Not In Surrender”, com uma atmosfera que evoca a transcendência de Prince, é uma celebração de noites libertinas, cheia de batidas sincopadas e energia contagiante.
Em “Instant Animal”, a fusão de punk, grunge e ritmos africanos cria uma atmosfera intensa, simbolizando a transformação de vítima em predador. “Strong Bone” é um hino de resistência, com uma batida de clave e violão sombrio, enquanto “Just My Luck” mistura guitarras brilhantes e sintetizadores dançantes, com uma atmosfera de clássicos de Hall & Oates, em uma reflexão sobre solidão e criatividade.
O álbum se encerra com “Happy Head”, uma faixa poderosa e guiada por guitarras, na qual Obongjayar encontra paz ao aceitar que não se pode ser tudo para todos o tempo todo. Paradise Now é um trabalho denso e multifacetado, consolidando-se como uma obra marcante na carreira do artista.

• Garbage – Let All That We Imagine Be The Light
(BMG)
Três décadas após o álbum de estreia, que rendeu clássicos como “Stupid Girl” e “Only Happy When It Rains”, o Garbage retorna com Let All That We Imagine Be The Light. O oitavo trabalho da banda reflete sua maturidade artística, unindo sua sonoridade poderosa e letras incisivas em um equilíbrio entre força e fragilidade.
Abrindo o disco, “There’s No Future In Optimism” é um rock intenso com nuances industriais, onde os vocais ao mesmo tempo ameaçadores e sedutores de Shirley Manson ecoam a busca por esperança em meio ao caos, sugerindo que o amor é uma chave para a transformação. Já “Chinese Fire Horse”, que carrega uma energia semelhante a faixa anterior, é um ataque furioso à misoginia e ao ageísmo, respondendo com veemência a quem um dia sugeriu que a vocalista deveria se aposentar.
“Hold” resgata a energia clássica do Garbage, com uma sonoridade que remete aos primeiros trabalhos da banda, enquanto retrata um estado de angústia e desespero diante de um mundo em colapso. Em “Have We Met (The Void)”, sintetizadores sombrios e arpejos cortantes sustentam uma narrativa sobre um encontro noturno perturbador com uma figura fantasmagórica.
“Sisyphus” revisita o mito grego (Sísifo) sob uma perspectiva íntima, abordando questões de saúde e o medo do fracasso, tudo envolto em uma atmosfera synthpop e com a potência do grupo. “Radical”, uma balada conduzida por guitarras reverberantes e batidas densas, alterna entre imagens de despedida e um apelo por redenção, transformando dor em força.
“Love To Give” combina uma instrumentação ameaçadora com os vocais passionais de Manson, resultando em um refrão contagiante num manifesto de resistência poética em um mundo hostil. “Get Out My Face AKA Bad Kitty” mergulha no rock alternativo, com influências eletrônicas e post-punk, enquanto a letra celebra a libertação de um relacionamento tóxico, exaltando resiliência e união.
“R U Happy Now” é um protesto incisivo contra o patriarcado e o cenário político dos EUA no pós-eleição de Trump, carregado de ferocidade. Por fim, “The Day That I Met God” descreve um encontro com o divino marcado pelo uso de opioides, em uma sonoridade alucinógena e sinistra. Let All That We Imagine Be The Light é a prova de que o Garbage ainda sabe transformar escuridão em luz e o caos em beleza.

• caroline – caroline 2
(Rough Trade Records)
Três anos após o lançamento do álbum de estreia, o grupo londrino caroline, formado por oito integrantes, retorna com caroline 2, explorando uma sonoridade mais ousada e multidimensional. Enquanto o primeiro trabalho se apoiava na repetição, na lentidão e na ambientação, este novo disco mergulha em contrastes ainda mais intensos — entre o orgânico e o eletrônico, o bruto e o polido —, incorporando nuances pop sem abrir mão de sua raiz experimental.
Em “Total Euphoria”, a sincronia é desafiada, transformando o caos em uma catarse poderosa, com guitarras e percussão em um embate post-rock, enquanto repetições reforçam um conflito latente. Já “Song two” captura um momento de indecisão e turbulência interior, uma balada melancólica onde guitarras, violas, trombones e vozes se entrelaçam em camadas dissonantes.
O single principal “Tell me I never knew that”, com participação de Caroline Polachek, revela uma faceta mais acessível do grupo: uma balada luminosa, com frases vocais repetidas que se sobrepõem sobre o arranjo minimalista de um violão. Em “When I get home”, a suavidade dos vocais, violões, metais e cordas contrasta com uma batida distante e pulsante, criando um diálogo interno sobre conexão e solidão.
“U R UR ONLY ACHING” alterna entre riffs incisivos de guitarra e uma delicadeza folk pop, com vocais processados que acrescentam camadas de textura. “Coldplay Cover” começa íntima na sala e se expande para a cozinha, criando uma colisão de versões simultâneas que ecoam a letra sobre quem fica preso em ciclos por medo de se enxergar. “Two Riders Down”, um folk americana emocionante e que encaminha para uma sonoridade crescente e turbulenta, é enraizada na memória e na dor da perda. Por fim, “Beautiful ending” encerra o álbum como uma leveza com metais e cordas aconchegantes, com versos onde a busca por um ‘final bonito’ revela a paz em aceitar que algumas coisas não precisam ter resolução.
Com uma ousada combinação de camadas instrumentais, distorções vocais e oscilações entre êxtase e melancolia, em caroline 2, o grupo domina a arte de parecer disruptivo enquanto mantém uma coesão impressionante, equilibrando caos e aconchego.

• yeule – Evangelic Girl is a Gun
(Ninja Tune)
Nat Ćmiel (a.k.a. yeule), artista não-binárie de Singapura, combina elementos de glitch-pop, rock alternativo e trip hop, criando paisagens sonoras únicas. Seu álbum Evangelic Girl is a Gun, sucessor do aclamado softscars, surge como seu trabalho mais intenso e emocionalmente exposto, explorando temas de identidade autodestrutiva e os limites da pós-modernidade.
Diferente de seus trabalhos anteriores, repletos de distorções digitais, yeule opta por uma voz crua e sem tratamento neste álbum, abandonando o auto-tune para transmitir uma autenticidade visceral. Essa escolha artística marca uma ruptura com seu estilo anterior, imprimindo em sua música “um corte bruto e humano”, como descreve.
Em “Tequila Coma”, yeule mergulha em um pop ritualístico, com batidas orgânicas e texturas psicodélicas – criando uma sonoridade à la Massive Attack -, evocando seus múltiplos alter egos (“offline, eu os conto / todos os nomes que escolhi”). Já “The Girl Who Sold Her Face” traz um art-rock sombrio, de guitarras distorcidas e sons de telefone, criticando a fama e a objetificação artística.
“Eko” é uma faixa eletrônica com influências pop, marcada por batidas aceleradas, baixos pulsantes e sintetizadores brilhantes, enquanto os vocais ecoantes abordam obsessão e amor. Em “1967”, yeule resgata a estética crua do pop dos anos 90, retratando a fragilidade masculina e o desespero silenciado do serviço militar obrigatório em Singapura, contrastando a suposta maturidade com desejos suicidas e experiências traumáticas.
“VV” oferece uma melodia doce e orgânica, com letras sombrias sobre morte e promessas de vínculos eternos. Em “Dudu”, o pop alternativo de yeule esconde uma agressão passional sob um refrão hipnótico, com repetições melódicas (“dudu-dudu”) e guitarras reverberantes, criando um clima de angústia e amor não correspondido.
Faixas como “What3vr” e “Saiko” (coproduzida por A. G. Cook) retratam um espiral autodestrutivo, misturando vícios e relacionamentos tóxicos com uma devoção quase religiosa. A faixa-título flerta com o industrial gótico e o electroclash, combinando versos sussurrados e uma batida caótica para retratar um relacionamento intenso e destrutivo, repleto de simbolismos que unem sensualidade e violência.
Por fim, “Skullcrusher” encapsula a essência de yeule, mesclando glitch-pop, alt-rock e trip hop em uma letra que explora um amor que se consome até o fim, revelando a tensão entre a realidade e as ilusões dos sonhos.

• Shura – I Got Too Sad For My Friends
(Play It Again Sam)
Quase seis anos após seu último álbum de estúdio, a cantora e compositora Shura retorna com I Got Too Sad For My Friends – seu terceiro trabalho, que mescla chamber pop, folk dos anos 1960 e americana acústica, elevando sua poesia introspectiva a paisagens sonoras expansivas. Mais tranquilo que o soul envolvente de forevher e mais orgânico que o synthpop melancólico de sua estreia (Nothing’s Real, 2016), o disco reflete tanto maturidade musical quanto o estado emocional da artista durante sua criação: um misto de solidão e delicada melancolia.
Em “Leonard Street”, Shura capta a angústia silenciosa de ser invisível em uma cidade movimentada, enquanto “I Wanna Be Loved By You”, uma balada de piano intimista e vocais de apoio calorosos, navega entre a raiva e o desejo de afeto. Já. “Recognise”, com influências dos anos 80, une batidas suaves, sintetizadores etéreos e vocais serenos para explorar autoconhecimento e fragilidade. Já “World’s Worst Girlfriend” mantém o vigor pop ao tratar de inseguranças, culpa e o medo de decepcionar quem se ama, mesmo quando a razão diz que esses temores são exagerados. Em “Richardson”, a artista mergulha em temas como isolamento, dificuldades financeiras e a busca por pertencimento em meio ao desencanto.
Produzido por Luke Smith (Foals, Depeche Mode), o álbum conta com participações de Cassandra Jenkins (“Richardson”), Becca Mancari (“Bad Kid”) e Helado Negro (“If You Don’t Believe In Love”). A obra é um espelho das transformações vividas por Shura – incluindo uma turnê cancelada, problemas de saúde durante a pandemia e sua experiência morando em Nova Iorque (“America”) —, traduzindo vulnerabilidade em canções que ressoam como confissões universais.

• Sea Lemon – Diving For A Prize
(Luminelle Recordings)
Sea Lemon, projeto solo de dream pop de Natalie Lew, estreia com Diving For A Prize, um álbum de dream pop que mistura a densidade do shoegaze com melodias pop irresistíveis. Influenciada por artistas como Enya, Caroline Polachek, Air e My Bloody Valentine, a música da artista é uma experiência envolvente, repleta de personalidade e camadas sonoras.
A abertura do álbum, “Thought For You”, começa com cordas delicadas e uma instrumentação suave, gradualmente mergulhando em uma atmosfera dream pop que prepara o terreno para o que está por vir. Já “Stay” combina guitarras densas, sintetizadores etéreos e uma batida relaxante, enquanto Lew canta sobre a pressão da rotina, convidando o ouvinte a uma pausa reflexiva.
“Silver”, uma das faixas mais nostálgicas, fala sobre a inocência da infância e a desilusão da vida adulta, com Lew relembrando sua mãe dizendo que “o mundo era uma ostra”. Enquanto isso, “Give In” explora pensamentos intrusivos e a tentação de ceder ao desconhecido, tudo embalado por uma produção etérea e melancólica. Em “Blue Moon” a artista reflete sobre a fragilidade das coisas e a dificuldade de reconhecer quando algo não está certo. Já “Cynical” traz uma batida pulsante e riffs de guitarra expansivos, contrastando com letras que expressam frustração em um relacionamento desgastado.
Uma das colaborações mais marcantes é “Crystals”, com Ben Gibbard (Death Cab for Cutie), onde os dois trocam versos sobre uma base atmosférica e densa. “Sweet Anecdote”, por sua vez, mistura guitarras brilhantes e sintetizadores hipnóticos, criando uma narrativa sobre obsessão e conexões imaginárias.
Diving For A Prize é um álbum que equilibra introspecção e grandiosidade sonora – seja pela produção imersiva ou pelas letras poéticas -, com Lew usando o dream pop como veículo para explorar temas como nostalgia, desilusão e a busca por significado.

• Ben Kweller – Cover The MirrorsTo Live A Lie
(The Noise Company)
O cantor e compositor Ben Kweller retorna com Cover The Mirrors, seu primeiro álbum desde a trágica perda de seu filho, Dorian Zev, que faleceu aos 16 anos em um acidente de carro em 2023. A faixa de abertura, “Going Insane”,combina pianos e cordas que envolvem a voz de Kweller, introduzindo o turbilhão emocional que permeia o disco.
Em “Dollar Store”, com participação de Katie Crutchfield (a.k.a. Waxahatchee), o tom melancólico e lo-fi remete ao rock dos anos 90, explorando temas como apatia e a monotonia do cotidiano. Já “Trapped”, coescrita por Dorian – que começava sua carreira musical antes do acidente –, mescla doçura e tristeza ao falar de um amor complicado e destrutivo.
Com um estilo folk rock despojado, “Park Harvey Fire Drill” transmite uma sensação de alívio ao evitar interações sociais, enquanto “Depression”, em parceria com Coconut Records (projeto do ator, produtor e roteirista Jason Schwartzman), é uma balada minimalista com teclados sutis e uma batida tranquila, abordando a luta contra o vazio interior.
“Don’t Cave” destaca-se pelos arranjos orquestrais e indie pop, encontrando esperança nas lembranças. Em contraste, “Optimystic” traz a energia crua do garage rock, com guitarras intensas e percussão marcante, refletindo a dualidade entre a busca pela felicidade e o desespero. A dor da distância e o desgaste das relações aparecem em “Brakes”, enquanto “Killer Bee”, uma balada acústica que lembra Elliott Smith e conta com a participação do The Flaming Lips, presta homenagem à jovem musicista canadense Nell Smith, também vítima de um acidente automobilístico.
Faixas como “Letter To Agony” e “Oh Dorian!” – esta última enriquecida pelos arranjos de guitarra de MJ Lenderman – abordam a perda de forma poética e luminosa, reforçando por que Kweller considera este seu trabalho mais pessoal e significativo. Cover The Mirrors é um álbum que enfrenta o luto com amor, resiliência e um toque de esperança.