9 discos para ouvir hoje: BABii, Faux Real, La Femme, The Linda Lindas e mais

ΒΑΒii / Reece Owen

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: BABii, Charli XCX, Faux Real, La Femme, Holly Macve, Harmony, Dua Saleh, The Linda Lindas e Tucker Zimmerman.

BABiiDareDeviil2000
(Boxset Recordings)

Após o sucesso de sua mixtape colaborativa SCREAMER – na qual abordou a luta de sua irmã com o transtorno de personalidade borderline, criando um álbum a partir da perspectiva dessa dor – e do álbum MiiRROR, a cantora e produtora britânica de pop experimental Daisy Emily Warne (a.k.a. BABii) amplia sua abordagem conceitual. Em seu terceiro álbum, DareDeviil2000, ela explora a ideia abstrata do mal, projetando-a em sua própria visão do inferno. BABii investiga a origem da violência e da criminalidade, bem como a relação do conceito de tormento com o mundo real. Cada faixa representa um pecado e é acompanhada por um personagem criminoso, como vândalos, gárgulas, duendes e um palhaço assustador chamado Tito Von Bricabrac. Todos habitam o universo fantástico de Nevaworld, um cenário futurista e distorcido onde o álbum se desenrola. O trabalho desafia os limites da música pop com uma abordagem experimental, apresentando batidas metálicas impactantes e sintetizadores nebulosos, aliados a canções de temas provocativos que contrastam com os vocais açucarados de Warne. “Scarface” carrega uma sonoridade vibrante de música eletrônica, com elementos de bass e grime na produção, e uma letra que aborda uma experiência familiar relacionada ao falecido pai. “Sweet Tooth” é construída sobre uma base de house e hip hop futurista, com versos sobre vício e indulgência. “TRA$$$her” trata da violência familiar em uma sonoridade auspiciosa voltada para os clubes, enquanto “XL Bully” reflete sobre o estereótipo do hooligan de futebol – um homem de direita e supremacista branco – em uma análise profunda sobre a maldade. “JOYRIDE” explora temas como sexo casual e elementos distópicos, incluindo pornografia deepfake. Já “Vyper Pro” e “Theft Act 1968” mergulham no universo do scam rap, acompanhados por batidas alucinantes que integram elementos desconstruídos de dancehall. DareDeviil2000 é uma reflexão sobre o inferno e os vilões que o habitam, ao mesmo tempo que celebra a sobrevivência.

Charli XCXbrat and it’s completely different but also still brat
(Atlantic)

Charli XCX revisita seu elogiado álbum BRAT com uma nova versão intitulada brat and it’s completely different but also still brat. Com diversos colaboradores, a artista remixou e reimaginou todas as faixas do álbum original, resultando em músicas que variam significativamente em relação às versões iniciais. “360”, com a cantora sueca Robyn e o rapper Yung Lean, descreve um estilo de vida glamoroso e único, destacando a influência e o impacto dos três artistas. Caroline Polachek transforma “Everything is romantic” em uma faixa eletrônica atmosférica, evocando uma atmosfera íntima e nostálgica, retratando momentos da vida em Londres com imagens vívidas e sensações marcantes. “Von Dutch”, com a participação de Addison Rae, mantém os sintetizadores vertiginosos da original, mas adota um ritmo mais leve. Já a contribuição de Ariana Grande para “Sympathy is a knife” expressa sua dor emocional diante das pressões da fama, abordando a expectativa de perfeição, críticas à aparência e conflitos entre fãs. “I might say something stupid” é remodelada em uma balada lenta e sensível pelo The 1975 e Jon Hopkins. “Talk talk”, com Troye Sivan e uma introdução de Dua Lipa, transforma a faixa em um animado house, com Sivan acrescentando versos que questionam os sentimentos de alguém e a incerteza sobre o futuro da relação. “Girl, so confusing” marca a reconciliação entre Charli e Lorde – que antes insinuava que a artista poderia ser uma rival – em versos em que ambas refletem sobre suas inseguranças e como acabaram projetando-as uma na outra. Billie Eilish torna “Guess”, uma faixa sobre adivinhar desejos íntimos e sensuais, ainda mais provocante. “B2B” vem como um synthpop eufórico com a contribuição de Tinashe, enquanto “365” recebe um tratamento hyperpop com o rap potente de Shygirl, refletindo a intensidade de uma experiência festiva e sensual. “Mean Girls” traz Julian Casablancas com vocais digitalizados, evocando sua era solo em Phrazes For The Young, além de um canto inspirado em “Owner of a Lonely Heart” do Yes. Bon Iver, por sua vez, faz referência a versos de “Nick of Time” de Bonnie Raitt, permitindo que Charli explore suas preocupações e reflexões sobre o futuro em “I think about it all the time”. brat and it’s completely different but also still brat, como o título sugere, é completamente diferente, mas ainda é BRAT.

Faux RealFaux Ever
(City Slang)

A estreia do duo de art pop Faux Real, formado pelos irmãos franco-americanos Virgile e Elliott Arndt, é descrita como uma “sinfonia em 11 partes para bater cabeça e suspirar”. O trabalho explora temas como desilusões amorosas, trabalho e lar, com harmonias cativantes, humor, batidas envolventes e um uso lúdico do “franglês”. A faixa “Faux Maux” combina elementos de pop psicodélico e riffs marcantes para expressar sentimentos de ansiedade social, exaustão emocional e desconexão no período pós-pandemia. “Rent Free”, com suas guitarras distorcidas, vocais autotunados e um ritmo contagiante de europop, é um lamento eufórico sobre insegurança e o desejo de conexão. “Full Circle” aborda a frustração de estar preso em ciclos repetitivos, nos quais o desejo de mudança é constantemente sabotado pela atração de reviver o passado. Misturando preocupações ecológicas com existencialismo, “Love On The Ground” apresenta a dupla em sua forma mais vulnerável e surreal, com harmonias elevadas, letras excêntricas e um melodrama peculiar. “Hi Tension” combina sintetizadores pulsantes com melodias eletrizantes, conduzida por motores acelerados e riffs com toques de punk, destacando letras afiadas que enfatizam a importância de viver plenamente e buscar sempre mais. Já “Scratch” é uma incursão pelo techno e darkwave, refletindo sobre autenticidade e a construção de narrativas. Faux Ever revela um som atraente, estranho e desordenado, apontando para um horizonte pop polido e criando um pastiche sonoro existencial com um brilho digital.

La FemmeRock Machine
(Disque Pointu)

A banda francesa La Femme, liderada por Marlon Magnée e Sacha Got, é conhecida por sua combinação de pop francês com influências de surf, krautrock e psicodelia. Após lançarem álbuns em espanhol (Teatro Lúcido) e inspirados pelo pop havaiano (Paris-Hawaï), o grupo apresenta seu sexto trabalho de estúdio, Rock Machine, com foco no mercado anglófono. Apesar do título sugerir rock, o material surpreende pela inovação constante e pela diversidade musical. “Clover Paradise” é uma viagem ao pós-punk dos anos 80, com toques intensos de rock clássico. “Ciao Paris”, cuja letra se despede de lugares icônicos da capital francesa, reflete o desejo do grupo de expandir sua carreira internacionalmente e avança com elementos de surf music dos anos 60 e do pop feminino yé-yé. “Love Is Over” é uma faixa com traços de new wave que mistura nostalgia e modernidade. “Sweet Babe” entrega um synthpop eufórico, complementado por saxofones sedutores, abordando a intensidade da paixão e a insegurança sobre a reciprocidade dos sentimentos. Já “My Generation” apresenta uma sonoridade disco com uma essência de punk britânico. Com Rock Machine, o La Femme continua a construir um universo próprio, além das tendências, mantendo frescor e estusiasmo enquanto ressalta sua estética e identidade sonora únicas.

Holly MacveWonderland
(Loving Memory Records)

A cantora e compositora irlandesa de indie folk Holly Macve apresenta seu terceiro álbum de estúdio, Wonderland, por meio de seu próprio selo, Loving Memory. O disco inclui a colaboração com Lana Del Rey em “Suburban House”, faixa anteriormente lançada no EP Time Is Forever, além dos singles “Beauty Queen”, “San Fran Honey” e a faixa-título. O álbum se destaca pelos arranjos ricos e variados, que incorporam influências do pop, rock clássico e cordas com nuances cinematográficas. As faixas são habilmente construídas, com produção colaborativa de Dan Rothman (guitarrista do London Grammar), que valoriza a voz aveludada de Macve. As letras funcionam como um diário musical, onde Holly explora temas de amor, perda e autodescoberta. Sua experiência pessoal, incluindo um acidente de carro que a levou a reavaliar sua vida, permeia as composições. Ela expressa um sentimento de gratidão por estar viva e reflete sobre a jornada de redescoberta após o fim de um longo relacionamento (“Almost A Miracle”, com uma sonoridade que resgata a sensibilidade de Mazzy Star), o que adiciona profundidade e sinceridade às canções. Wonderland representa tanto uma jornada pessoal quanto um marco criativo para a artista.

HarmonyGossip
(Fantasy Corp)

Com o fim das atividades da banda indie Girlpool, a cantora e compositora Harmony Tividad (a.k.a. Harmony) apresenta seu álbum de estreia solo, Gossip. “No Romeo” resgata o pop dos anos 2000 – à la Britney Spears em “Womanizer” – com uma letra em que Tividad expressa a frustração e desilusão de uma mulher que espera por um amor idealizado, comparando sua situação à história de Romeu e Julieta. Da mesma forma, “Stereo”, sobre uma garota festeira que se permite chorar na balada, poderia facilmente integrar o repertório de Lady Gaga ou Katy Perry“Thot Daughter” é uma fusão de house e techno que aborda questões de identidade de gênero, crítica social e autoconsciência. “Coke and Mentos” é um pop energético com elementos de eletroclash, no qual a artista se define como uma garota cheia de sonhos, mas com uma alma apocalíptica, comparando-se a uma explosão de Coca-Cola e Mentos. “Boys” oferece uma visão desiludida e sarcástica sobre o amor, ao mesmo tempo em que celebra a complexidade feminina, enquanto “Rockstar” critica, com ironia e sarcasmo, o estereótipo do “rockstar” masculino, retratando-o como narcisista e vazio. A irreverente dance pop “Technologique” – algo entre Britney Spears e Kesha de seus primeiros anos de carreira – explora temas de identidade, submissão e controle por meio de uma metáfora tecnológica. Já “Miss America” é um eletroclash em que a artista reflete sobre a vida entediada e superficial em Los Angeles, evidenciando a falta de satisfação na vida noturna, nas interações sociais e na busca pelo “sonho americano”. Gossip representa uma mudança significativa, tanto sonora quanto temática, ao mergulhar nas complexidades da virtude e do vício por meio de narrativas pessoais envoltas em uma estética pop dinâmica, glamourosa e inovadora.

Dua SalehI SHOULD CALL THEM
(Ghostly International)

A música de Dua Saleh – que interpreta Cal Bowman na série ‘Sex Education’ da Netflix – explora o eu interior e o mundo ao redor. Em seu aguardado álbum de estreia, I SHOULD CALL THEM, uma coleção de canções indie pop eletrônicas com influências de R&B, rock e rap, Saleh expressa amor, resiliência e espiritualidade em uma narrativa apocalíptica. “chi girl” estabelece a base para o projeto encantador, com um arranjo de cordas que se funde às vocais etéreos, seguido por uma transição em que a percussão eletrônica introduz uma narrativa de desejo. “want” é uma faixa que mistura de forma hipnotizante indie pop e eletrônica, refletindo uma sensualidade melancólica. Faixas como “time & time again”, com o artista de R&B indiano Sid Sriram, manifesta Saleh transitando com facilidade pelo alt-R&B, combinando cordas e percussão de forma sedutora e vagarosa, realçadas por harmonias etéreas. “bo peep” combina rap, eletrônica e instrumentos latinos, permitindo que sua amplitude vocal se destaque, enquanto suas letras oscilam entre doçura sugestiva e ousadia. “pussy suicide” expressa puro ciúme, destacando-se por um riff de guitarra repetitivo e uma batida trap melancólica. Já a catártica “2excited” retrata personagens da narrativa de Saleh abraçando um amor intenso em meio ao colapso do mundo, com uma explosão de percussão crescente e guitarras, acompanhada por suspiros de saxofone e gritos guturais. O projeto inclui colaborações com artistas como serpentwithfeet (“unruly”) e Ambré (“televison”), demonstrando a inventividade de Saleh. I SHOULD CALL THEM reflete experiências pessoais, identidade queer e ansiedades ambientais, resultando em uma obra vulnerável e expansiva que celebra a autenticidade e a resistência.

The Linda LindasNo Obligation
(Epitaph)

A banda The Linda Lindas, composta por quatro adolescentes – as irmãs Mila de la Garza (bateria, 14 anos) e Lucia de la Garza (guitarra, 17 anos), a prima Eloise Wong (baixo, 16 anos) e a amiga da família Bela Salazar (guitarra, 20 anos) – retorna com o álbum No Obligation, sucessor da estreia Growing Up. O disco mantém a trajetória alegre e enérgica do grupo, mesclando punk com alt-rock, garage rock, power pop, new wave e rock em espanhol. O álbum foi escrito e gravado durante férias e finais de semana prolongados, já que Lucia e Eloise ainda estão no ensino médio, e Mila acabou de concluir a escola. A faixa “Too Many Things” reflete sobre a transição para a idade adulta em meio a uma explosão de pop punk acelerado, enquanto “Nothing Would Change” aborda a nostalgia da infância e a perda de conexões ao crescer, com uma sonoridade de punk rock firme e uma sensibilidade pop. A faixa-título apresenta um pop punk vibrante, com Eloise Wong, vocalista e baixista, assumindo o vocal principal e expressando rejeição às expectativas alheias, afirmando sua independência. “Yo Me Estreso”, cantada inteiramente em espanhol, combina punk com música regional mexicana e traz uma colaboração especial com ‘Weird Al’ Yankovic no acordeão. “Resolution/Revolution” incorpora influências mais pesadas do punk, criando um som intenso e politizado que reflete a luta contra adversidades. Já “All In My Head”, inspirada no livro ‘Meu Ano de Descanso e Relaxamento’, evoca a sonoridade do Foo Fighters, trazendo um indie punk rock robusto nas guitarras, percussão e nos vocais enérgicos de Lucia. Com todas as integrantes contribuindo nas composições e nos vocais principais, No Obligation é um álbum variado e dinâmico, que renova a atitude do punk clássico.

Tucker ZimmermanDance Of Love
(4AD)

O cantor e compositor norte-americano Tucker Zimmerman é uma lenda viva do folk e blues, com uma discografia vasta e eclética que reflete suas experiências de vida. Seu álbum Ten Songs (1969), produzido por Tony Visconti (David Bowie, The Good, the Bad & the Queen), foi citado como um dos favoritos de Bowie. Após lançar alguns discos, Zimmerman se afastou dos palcos e passou a viver na zona rural da Bélgica, onde tem composto e escrito esporadicamente desde os anos 1980. Foi a banda indie folk Big Thief, grande admiradora de seu trabalho, que o incentivou a retornar ao estúdio, resultando no encantador Dance of Love. O álbum mantém a essência das composições e dos vocais sutis de Zimmerman (“Don’t Go Crazy (Go In Peace)”), ao mesmo tempo que incorpora o som característico da banda (“They Don’t Say It (But It’s True)”). A sintonia entre os artistas é evidente, especialmente nos duetos com Adrianne Lenker, como na bela “Lorelei”, uma balada country sobre encontrar conforto em meio ao caos, na delicada folk rock “Burial at Sea” e na animada “The Idiot’s Maze”, guiada por uma bateria vibrante e uma guitarra acústica. A sonhadora “The Season” combina sons de teclado, pedal steel e o som distante de uma tempestade, criando uma atmosfera meditativa. Já em “Leave It On The Porch Outside”, a esposa de Zimmerman, Marie-Claire, assume os vocais em um estilo folk nostálgico, transmitindo uma sensação acolhedora e autêntica, brincando com a ideia de deixar objetos, preocupações e decisões “na varanda”. Dance of Love é um registro multifacetado e sincero de um compositor que viveu uma vida rica em experiências e amor.