Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Kendrick Lamar, Father John Misty, Kim Deal, Michael Kiwanuka, Juana Molina, Amber Mark e a compilação TRANƧA.
(pgLang/Interscope Records)
Kendrick Lamar surpreende ao lançar sem aviso prévio o álbum GNX. Diferente de projetos como Mr. Morale & The Big Steppers ou To Pimp a Butterfly, o disco apresenta uma abordagem mais objetiva e impactante, reafirmando a genialidade do rapper de Compton. “wacced out murals”, com produção de Jack Antonoff e Sounwave, mistura uma sonoridade ameaçadora e intensa. A música começa com versos em espanhol, interpretados pela voz melancólica e vibrante da cantora mexicana e intérprete de mariachi Deyra Barrera (que também aparece em “reincarnated” e “gloria”) antes de Lamar entrar em cena com suas rimas afiadas, criticando o estado atual do rap, a polêmica em torno do show no Super Bowl – que alguns acreditavam que deveria ter sido protagonizado por Lil Wayne – e reafirmando sua confiança no futuro. Em “squabble up”, previamente apresentada no videoclipe “Not Like Us”, Kendrick utiliza um sample do clássico freestyle “When I Hear Music”, de Debbie Deb, para entregar uma declaração de resiliência, refletindo sobre sua trajetória e superação. Já “luther”, inspirado em “If This World Were Mine”, de Cheryl Lynn e Luther Vandross, traz letras de superação e empoderamento ao lado da pessoa amada, embaladas por uma melodia suave com guitarras dedilhadas, cordas luxuosas e vocais etéreos de SZA.
Na reflexiva “man at the garden”, com um loop de piano e batidas metálicas, Lamar explora temas de sacrifício, conquistas e dores persistentes. Em “hey now”, ele transmite autoconfiança sobre uma produção sinistra e intensa, reafirmando seu controle artístico. Já “reincarnated”, que contém um sample de Tupac, aborda vidas passadas e o legado de Kendrick, equilibrando rimas ferozes com uma instrumentação soul. A faixa “tv off”, com um flow agressivo que remete ao seu hit viral “Not Like Us”, apresenta uma transição melódica no meio da música, marcada pela entrada de Mustard – em forma de chamado – e um toque orquestral. Nela, Lamar critica distrações sociais e falsas lealdades.
Por sua vez, “dodger blue” é um rap impulsionado por uma sonoridade funk dos anos 80, funcionando como uma homenagem à cultura de Los Angeles e destacando bairros como Gardena e Compton. Em “peekaboo”, Kendrick utiliza batidas 808 e um sample soul para criticar a superficialidade na indústria e refletir sobre rivalidades, especialmente com Drake. “heart pt. 6” dá continuidade à sua série icônica, com versos introspectivos dedicados aos amigos e memórias da juventude, embalados por uma produção suave com guitarra flamenca e sintetizadores.
O álbum encerra com a balada soul “gloria”, que traz um toque latino e vocais de SZA, enquanto o rapper reflete sobre relacionamentos e experiências passadas. Com GNX, Kendrick Lamar reafirma sua genialidade ao equilibrar introspecção, crítica social e inovação sonora, entregando um álbum diversificado e impactante.
(Sub Pop)
O cantor, compositor e produtor Josh Tillman (a.k.a. Father John Misty) lança seu sexto álbum de estúdio, Mahashmashana. O título faz referência ao termo que simboliza o espaço onde os corpos são cremados, representando a transitoriedade da vida e o ciclo de morte e renascimento. A obra se apresenta como um espaço de reflexão, além de estar associada a práticas espirituais profundas e rituais fúnebres. As músicas, marcadas por arranjos cinematográficos e influências de jazz, psicodelia e orquestrações, criam atmosferas densas e repletas de camadas emocionais. A faixa-título, um épico de nove minutos de duração, abre o trabalho com um rock harmonioso e orquestral, repleto de cordas e saxofones inspirados nos anos 70, trazendo versos que retratam decadência e a busca por redenção em meio ao amor, à perda e a revelações espirituais. Já “She Cleans Up” apresenta um rock inspirado no blues, remetendo ao estilo de The Black Keys e St. Vincent. “Josh Tillman and The Accidental Dose” revela a identidade real de Father John Misty e alude à sua experiência pessoal com o tratamento da ansiedade por meio de LSD, destacando uma percepção alterada da realidade, apoiada no barítono do artista sobre cordas grandiosas. “Mental Health”, com arranjos de jazz e letras diretas, explora temas como insanidade e aceitação pessoal. Por sua vez, “Screamland” é uma balada épica com arranjos de cordas magistralmente executados, guitarra reverberada de Alan Sparhawk (do Low), pianos delicados e o vocal emocionante de Tillman. A faixa aborda temas como esperança, desilusão, amor e fé, em meio a uma sensação de derrota e alienação. Já “Summer’s Gone” é uma balada imersiva em cordas, em que o artista reflete sobre a perda da juventude e da inocência, a frustração com o passar do tempo e a mudança inevitável. Mahashmashana revela o amadurecimento e a sensibilidade de Tillman, que substitui o habitual sarcasmo por uma profunda introspecção. O álbum apresenta faixas longas e variadas, equilibrando o épico e o íntimo, e encontra liberdade na incerteza e na dualidade das experiências humanas.
(4AD)
Após uma série de vinis publicados há mais de uma década, a cantora e guitarrista Kim Deal, conhecida por seus trabalhos em bandas como The Breeders e Pixies, lança seu aguardado disco de estreia, Nobody Loves You More. Gravado ao longo de anos com colaboradores antigos e novos, incluindo Jack Lawrence e Fay Milton, o projeto culmina em sessões lideradas por Steve Albini. A faixa-título é uma balada pop clássica que revela um lado mais vulnerável da artista, marcada por cordas exuberantes, ritmos de bossa nova, metais vibrantes e o vocal afetuoso de Deal, que canta sobre um amor incondicional que vai além do espaço, das circunstâncias e das distrações. Com uma sonoridade diversificada, “Coast” combina um groove ao estilo de Blondie com lembranças nostálgicas de férias, enquanto “Crystal Breath” resgata a intensidade crua de seus primeiros trabalhos, com uma dose de distorção, batidas pulsantes e riffs difusos. “Are You Mine?”, inspirada no estilo doo-wop, é baseada nas palavras da mãe de Deal nos estágios finais do Alzheimer, explorando a desorientação e os laços de amor e maternidade, em versos como “eu não tenho mente / para nada além de amor”. “Disobedience” resgata suas origens no indie rock, assim como “Big Ben Beat”, que é impulsionada por uma intensidade nos sintetizadores e efeitos vocais. “Summerland” descreve uma jornada noturna repleta de deslumbramento e possibilidades, num chamber pop dos anos 1950, enquanto “Come Running” revela uma sensibilidade alt-country, com guitarras distorcidas e uma sensação de liberdade intensa e desejo de explorar o impossível. “A Good Time Pushed”, faixa que encerra o disco, se destaca por combinar uma vibração envolvente de pop e rock nas guitarras distorcidas, com a participação de Jim Macpherson e Kelley Deal, ambos membros do The Breeders, e os vocais emocionantes de Deal, que celebram o início e o fim de um relacionamento. O resultado é uma obra multifacetada que, com sua sonoridade diversificada e letras emocionantes, revela uma artista que, após anos de experiência, se entrega à vulnerabilidade e à liberdade criativa, culminando em um projeto que não só revisita suas raízes, mas também explora novos horizontes.
(Universal Music)
O cantor e compositor Michael Kiwanuka retorna com o álbum Small Changes, seu primeiro trabalho completo desde o premiado KIWANUKA. O material, produzido por Danger Mouse (Karen O, Norah Jones) e Inflo (SAULT, Little Simz), foca em explorações espirituais e introspectivas, com o artista examinando sua mente e alma. “Floating Parade” é um soul elaborado com um baixo marcante, orquestrações elegantes, pianos calorosos e o acolhedor vocal do artista, que canta sobre utilizar os sentidos para encontrar uma forma de escapar, especialmente em circunstâncias opressivas, seja espiritualmente ou fisicamente. “The Rest Of Me” fala sobre superação com a ajuda de alguém especial, encontrando amor e força para seguir em frente, enquanto em “Lowdown” – dividida em duas faixas, uma parte instrumental e outra cantada – alterna entre soul com guitarra, influências de psicodelia, teclados luminosos, arranjos orquestrais e versos que transmitem a importância de confiar em si mesmo e seguir a própria alma. “Rebel Soul” revela uma sensibilidade na linha de piano repetitiva, batidas suaves de trip hop, cordas elegantes e os vocais melancólicos de Kiwanuka, que refletem um desejo de libertação e superação, pedindo coragem para avançar e abraçar um espírito rebelde, mesmo diante das dificuldades. “Follow Your Dreams” é uma balada imersiva em violão dedilhado, cordas sutis e sintetizadores espaciais, junto a uma mensagem de esperança e superação, incentivando a busca por sonhos e o enfrentamento dos medos. “Four Long Years”, sobre o fim de um relacionamento após quatro anos e a busca por felicidade, é uma balada intimista que combina texturas ricas e profundidade emocional, influenciada pelo dream pop de Mazzy Star. Kiwanuka oferece um trabalho de profunda introspecção e crescimento pessoal, onde a busca por superação e autodescoberta se entrelaçam com arranjos sofisticados e letras emocionais.
(Little Butterfly Records)
Sete anos após o lançamento do álbum Halo, a multiartista argentina Juana Molina apresenta o EP EXHALO, composto por quatro faixas descartadas do disco de 2017. As músicas exploram ritmos e texturas sofisticados, melodias imprevisíveis e uma harmonia singular no universo pop. Enquanto desenvolve um novo trabalho, Molina revela um universo mágico e único, imaginado para essas composições. “Astro de la luz segunda”, com título inspirado em um poema de Macedonio Fernández, e “Invierno” destacam o folk distorcido e os beats eletrônicos hipnóticos característicos da artista. Já “Vagos lagos” se constrói a partir de um violão pausado e vocais etéreos, enquanto “Hope”, uma demo não gravada durante as sessões de Halo, traz uma atmosfera sonhadora com guitarra delicada e sintetizadores astrais, acompanhados por um canto sem palavras.
(Interscope Records)
A cantora, compositora e produtora Amber Mark lança Loosies, um projeto que ela descreve como “descontraído, suado e levemente voltado para a pista de dança”. Criado majoritariamente em casa, o EP nasceu de um surto criativo enquanto trabalhava em seu próximo álbum de estúdio, sucessor de Three Dimensions Deep. Com influências musicais diversas, a artista flerta com a disco, inspirada nas produções de Giorgio Moroder para Donna Summer, na animada e charmosa “Won’t Cry”; explora o jazz e o Jersey club em “Sink In”; experimenta psicodelia soul em “City Starlight”; e traz elementos de dance em “Stop Calling Me”, sempre guiadas por seu vocal poderoso e expansivo, que conduz cada uma das composições com paixão. Em Loosies, Mark demonstra sua criatividade ilimitada e talento inquestionável. Combinando ritmos cativantes ao seu som único, ela consolida sua posição como uma força inovadora no R&B alternativo e aumenta a expectativa pelo novo disco.
(Red Hot Org)
A organização Red Hot lança TRANƧA, uma coletânea descrita como “uma jornada espiritual celebrando pessoas trans”. O projeto inclui a primeira música inédita de Sade em anos (“Young Lion”), uma peça de 30 minutos de André 3000 (“Something Is Happening And I May Not Fully Understand…”), Moses Sumney e ANOHNI interpretando SOPHIE (“Is It Cold In The Water?”), uma faixa rara de Pharoah Sanders, Devendra Banhart, Blake Mills e Beverly Glenn-Copeland numa interpretação emocionante de “You Don’t Know Me”, de Caetano Veloso, e Ezra Furman e Sharon Van Etten recriando “Feel So Different”, de Sinéad O’Connor. Artistas como Fleet Foxes, Yaeji, Perfume Genius, Kelela, Sam Smith, Faye Webster, Julien Baker, Yaya Bey, Clairo e muitos outros. Dividido em oito capítulos – “Womb of the Soul”, “Survival”, “Dark Night”, “Awakening”, “Grief”, “Acceptance”, “Liberation” e “Reinvention” – e inspirado nas cores da bandeira do orgulho LGBTQIA+, TRANƧA foi concebida em 2021 pelos produtores Dust Reid e Massima Bell para homenagear e celebrar as contribuições de artistas trans e não-binários.