9 discos para ouvir hoje: Arctic Monkeys, Carly Rae Jepsen, Dry Cleaning, Nick Hakim e mais

Arctic Monkeys / Zackery Michael

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: Arctic Monkeys, Carly Rae Jepsen, Taylor Swift, Dry Cleaning, Tegan and Sara, Dawn Richard & Spencer Zahn, Nick Hakim, Jeen e Sleater-Kinney.

Arctic MonkeysThe Car
(Domino)

Após Tranquility Base Hotel & Casino e sua ópera space rock futurista inspirada nos anos 1960, o Arctic Monkeys avança uma década em The Car correndo solto em uma nova e suntuosa paisagem musical, na maioria das vezes, silenciosa. Com produção do parceiro de longa data James Ford (Jessie Ware, Foals), o registro apresenta algumas das performances vocais mais ricas e gratificantes da carreira de Alex Turner que soa como um destemido dramaturgo ao cantar inquietações (“The Ballad of What Could’ve Been”), amores (“Body Paint”) e prazeres esquecidos (“There’d Better Be A Mirrorball”) que o escoltam. Numa sonoridade retrô e enigmática, com pianos em primeiro plano e seções de cordas cinematográficas de Bridget Samuels (que trabalhou na música de ‘Midsommar – O Mal Não Espera a Noite’), a riqueza sonora remonta trilhas vintage de Burt Bacharach, o arranjador Paul Buckmaster (parceiro musical de David Bowie em “Space Oddity”) e Scott Walker. Além, o material é gratificado com paisagens vinculadas ao funky (“I Ain’t Quite Where I Think I Am”), sintetizadores ameaçadores (“Sculptures of Anything Goes”), yatch rock (“Jet Skis on the Moat”), spaghetti western (“The Car”) e até bossa nova (“Mr. Schwartz”). O que torna The Car distinto é como a banda aborda a essência conceitual da própria criatividade numa experiência imersiva.

Carly Rae JepsenThe Loneliest Time
(School Boy/Interscope Records)

Seu corpo de trabalho mais introspectivo até hoje, The Loneliest Time expande a composição afetiva potente e o som efervescente que Carly Rae Jepsen exibiu em registros anteriores. Para dar vida ao quinto registro de estúdio, a canandese recorre à baladas (“Western Wind” com produção de Rostam Batmanglij), influências do disco groovy (na viral de TikTok “The Loneliest Time” com Rufus Wainwright e que canta sobre sentir-se numa tragédia de Shakesperare), referências dos anos 80 (“Talking To Yourself”, “Far Away”) e sons extrovertidos rodeados de sintetizadores resplandecentes para conceber um pop puro de refrões pegajosos (“Beach House” e sua letra sobre encontros frustrados em aplicativos). O álbum denota o lado extraordinário da se apaixonar (“So Nice”) e as possíveis decepções (“Talking To Youself”) com um repertório adorável e despretensioso que só Jepsen é capaz de entregar.

Taylor SwiftMidnights
(Universal Music)

Midnights é uma coleção de canções escritas no meio da noite, uma jornada por terrores e bons sonhos como a própria Taylor Swift define. As andanças e demônios que ela confronta em treze noites (faixas) sem dormir. Voltando a trabalhar com Jack Antonoff (Lorde, Florence and the Machine), ela abandona o piano e violões que definiram a era folklore / evermore para regressar à uma sonoridade pop sombria e confessional. São sintetizadores nebulosos, grooves eletrônicos, batidas programas e sutis experimentações que estampam contos e contemplações sobre vida, o significado do amor (“Mastermind” que caberia em Melodrama de Lorde e “Snow On The Beach” com a participação tímida de Lana Del Rey), inseguranças (“Anti-Hero”), pensamentos vingativos (“Vigilante Shit”) e fama que afetam a mente inquieta nas primeiras horas da madrugada. Após três horas do lançamento oficial do álbum, Swift – uma marketeira de primeira linha – lançou o álbum Midnights (3 a.m. Edition) com sete faixas bônus.

Dry CleaningStumpwork
(4AD)

Stumpwork foi inspirado por uma infinidade de eventos, conceitos e desastres políticos, sejam eles representados na bagunça fria de elementos ambientais que refletem um certo desespero existencial ou o surpreendente calor em celebrar a vida de entes queridos perdidos no ano anterior. As letras poéticas e surrealistas embaladas por uma base pós-punk estão sempre na vanguarda, mas há uma sensibilidade agora para os temas de família (“Gary Ashby”), solidão (“No Decent Shoes for Rain”), política (“Anna Calls From The Arctic”), violência masculina (“Hot Penny Day”) e morte (“Icebergs”) nos versos cantados / falados de Florence Shaw. Furiosos hinos de rock alternativo combinam-se ao longo do disco com jangle pop e ruído ambiente, demonstrando a riqueza de influências que a banda alimenta e sua profunda musicalidade. Com a pressão do álbum de estreia (New Long Leg), o Dry Cleaning criou um trabalho ambicioso, focado e inteligente sem fugir radicalmente do anterior.

Tegan and SaraCrybaby
(Mom+Pop Music)

Crybaby, o décimo álbum de estúdio do Tegan and Sara, é um retorno à forma do duo indie pop e, ao mesmo tempo, algo totalmente novo ao resgatar às raízes indie pop rock dos antigos registros. Gravado com o produtor John Congleton (Whitney, St. Vincent, Regina Spektor) e com uma nova gravadora, as garotas encontram um equíbrio entre baladas (“All I Wanted”, “Yellow”), números pop extasiantes (“I Can’t Grow Up”, “I’m Okay”) e otimistas (“Fucking Up What Matters”) com um poder em ser emocional e vulnerável em sua musicalidade de sintetizadores, batidas eletrônicas e guitarras. No registro, compartilham pensamentos íntimos sobre vulnerabilidade juvenil, inseguranças, maturidade e os misteriosos caminhos do amor (“Faded Like A Feeling”) com maior domínio ao ponto de entreterem-se com os próprios sentimentos (“Smoking Weed Alone”).

Dawn Richard & Spencer ZahnPigments
(Merge Records)

Pigments é a colaboração entre a artista pop experimental Dawn Richard (dona de Second Line, um dos melhores discos do ano de 2021) e o multi-instrumentista, produtor e compositor Spencer Zahn. É um projeto sobre o poder da autoexpressão através da arte viva, da cinesia nas amplas paisagens sonoras ambientais criadas em orquestrações sonhadoradoras, sintetizadores, guitarras e saxofones numa carta de amor à Nova Orleans. Não estritamente clássico, jazz ou eletrônico ambiente nos vocais instintivos de Richard, mas sim um corpo de movimento. Uma peça sonora expressiva e atmosférica que é uma passagem imersiva pela cidade vista pelos olhos de uma jovem negra com sonhos de pintar seu futuro com os pigmentos dados à ela.

Nick HakimCOMETA
(ATO Records)

COMETA tem o amor como tema unificador, explorando suas muitas camadas e dimensões em um álbum que é tão direto e sério quanto agridoce em melodias sedutoras e letras cativantes. Um disco sobre encontrar o amor puro dentro de si mesmo quando o mundo ao nosso redor parece estar desmorando (“Vertigo”). Ao mergulhar tão profundamente nas especificidades do amor romântico, o artista neo soul Nick Hakim inspira-se em nomes como Stevie Wonder e na produção de David Bowie em Idiot (1977) de Iggy Pop para aclimatar a produção R&B, groove e soul psicodélica (“Feeling Myself”) enredada por uma eletrônica vibrante. COMETA revela canções com um grau de intimidade e detalhes (“Perfume” sobre se apaixonar pela fragrância de alguém) e transforma uma das experiências humanas mais profundas em algo fascinante (“Happen” com Alex G no piano).

JeenTracer
(Red Brick)

A artista canadense de indie alt pop Jeen lança o terceiro disco de estúdio, Tracer, que poderia ser parte de uma trilogia anexada aos trabalhos anteriores – Jeen e Dog Bite – com uma coleção de canções reflexivas e um apelo à música para navegar nesses últimos dois anos. Com influências de grunge, glam punk (“No Way Around”), garage (“On and On”), shoegaze (“Mountain”), industrial (“Heaven X Headrush”) e psych rock (“Tracer”), o registro exala o calor de algo familiar sem ser ou sentir-se nostálgico. Há uma qualidade mais vulnerável e frágil nos vocais calorosos da cantora. Talvez afetado pela experiência passada, talvez intencional. De qualquer forma, não se pode discutir o quão íntimo (“Little Idea”) é o espaço que se cria neste trabalho, vocal e sonoramente.

Sleater-KinneyDig Me In: A Dig Me Out Covers Album
(Sleater-Kinney)

O Sleater-Kinney celebra os 25 anos do terceiro disco de estúdio, Dig Me Out, com uma versão revisitada por alguns dos artistas favoritos da banda e que colocam a assinatura própria para cada uma das composições. Nos covers aparecem nomes como: St. Vincent (“Dig Me Out”), Wilco (“One More Hour”), Courtney Barnett (“Words and Guitar”), Self Esteem (“Heart Factory”), Low (“Dance Song ’97”), The Linda Lindas (“Little Babies”), Tunde Adebimpe do TV on the Radio (“The Drama You’ve Been Craving”), NNAMDï (“Jenny”) e muitos outros entregando um novo respiro para a clássica obra.