Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: V V Brown, Sofia Kourtesis, The Kills, Katie Dey, Wild Nothing, Poppy, Black Pumas, DJ Shadow e Duran Duran.
• V V Brown – Am I British Yet?
(YOY Records)
Após seis anos afastada e desiludida com a indústria musical, a cantora e compositora britânica Vanessa Brown (a.k.a. V V Brown) retorna com seu quarto álbum de estúdio, marcando seu renascimento artístico. Am I Black British Yet? é um projeto inovador e espirituoso que explora a identidade negra, trazendo influências de James Baldwin, Erykah Badu, Soul II Soul, Roots Manuva e poetas da geração Windrush – imigrantes que vieram das colônias britânicas e ajudaram a reconstruir o Reino Unido no século passado – com samples icônicos. Através da música, palavras faladas (como o discurso de comício que abre o álbum em “Break Of The Night”) e poesia, o trabalho destaca as experiências de Brown (“Black British”), aborda temas de colonização e apropriação cultural (como quando ela canta “nós sabemos sobre esse Elvis, ele nos copiou apropriadamente” em “Twisted”). Usando uma variedade de estilos musicais, incluindo soul (“No Fear” com Liam Bailey), rap (“Marginalised”), reggae (“Just Be Good To Me”) e R&B (“Mission”), Brown explora suas raízes jamaicanas e britânicas (“Jamaica”), homenageando os heróis que lutaram por justiça e moldaram a comunidade negra (“History”). Com uma energia coletiva poderosa, ela desafia as convenções musicais tradicionais, explorando temas de identidade e independência de uma maneira pessoal, transcendo gerações. A artista lidera com sua impressionante voz e une artistas de diferentes épocas para criar uma experiência essencial que conecta história e ideias em uma jornada musical libertadora da identidade negra.
• Sofia Kourtesis – Madres
(Ninja Tune)
O álbum de estreia da artista berlinense de ascendência peruana Sofia Kourtesis, intitulado Madres, apresenta uma relação comovente no centro de sua narrativa. Dedicado em grande parte à sua mãe, que enfrentou uma situação de vida ou morte quando diagnosticada com câncer, há também outra pessoa fundamental para a criação do trabalho: Peter Vajkoczy, um neurocirurgião de renome mundial que se tornou uma figura inspiradora para a artista (“Vajkoczy”). A história por trás da presença desse renomado neurocirurgião que salvou sua mãe nas notas do álbum envolve tenacidade, milagres, amor incondicional e, por fim, esperança. Madres também aborda questões de igualdade de gênero, proteção de pessoas LGBTQ+ (“Estación Esperanza”, com sample de “Me Gustas Tu” de Manu Chao), acesso a abortos seguros no Peru, as raízes culturais e responsabilidade política da artista. O álbum é voltado principalmente para aqueles que apreciam sons de house, techno, ritmos latino-americanos e afro-peruanos (“El Carmen”), combinando alegria e tristeza com melodias cativantes, batidas dançantes, sintetizadores funky e vocais suaves que adicionam um toque particular ao conjunto. Kourtesis não fala sobre o motivo real de sua saída do Peru, mas espera que sua música e palavras ressoem com outras pessoas, uma vez que sua experiência, lamentavelmente, ainda é comum.
• The Kills – God Games
(Domino)
O áspero rock e blues da banda The Kills, liderada pela vocalista Alison Mosshart e pelo guitarrista/tecladista Jamie Hince, retorna com o sexto álbum de estúdio intitulado God Games, após sete anos do lançamento de Ash & Ice. Neste trabalho, a dupla adota uma abordagem típica com algumas inovações para sair de sua zona de conforto. Eles compõem principalmente no piano, experimentam novas texturas que remetem à música soul e incorporam elementos como metais e cordas (“New York”). Também contam com a colaboração de Paul Epworth (Florence and the Machine, Bloc Party) na produção e gravam parte do material em uma antiga igreja. No entanto, eles mantêm a identidade sonora que os define. Explorando temas como amor, mortalidade e devoção, mas deixando em aberto onde Deus pode ser encontrado (“103”, “God Games”), o álbum apresenta o característico rock dissonante do The Kills com guitarras envolventes, drum machines equilibrados e refrões matadores com um influência espiritual (“LA Hex” é um rock gospel psicodélico sem corais) e a versatilidade vocal de Mosshart, que vai desde o ressonante em “Bullet Song” até o airoso em “Blank”. Embora este álbum se diferencie na urgência de seus lançamentos anteriores, a banda demonstra estar em boa forma.
• Katie Dey – never falter hero girl
(katie day)
A cantora e compositora australiana Katie Dey, conhecida por suas músicas pop caseiras inventivas e não convencionais, apresenta seu sexto álbum de estúdio, intitulado never falter hero girl. O disco aborda estados emocionais tumultuados (“dawn service”), autorreflexão (“malfunction”), esperança (“hoarder”) e a passagem do tempo (“fragments”). Ela mescla de maneira surpreendente a beleza e o alívio emocional proporcionados pela instrumentação estilo MIDI de baixo custo (“hypothetical”), uma aura roqueira explosiva (“never falter hero girl”), sons de teclado que lembram flautas de pan (“metaphor”), e instrumentos de sopro baratos (“dance butterflies”), resultando em uma sonoridade criativa, discordante e espontânea (“open book”). O destaque continua sendo a marcante voz distorcida e artifical de Dey, que oscila entre momentos delicados e acentuados, adicionando uma sensação de fragilidade e perturbação às composições.
• Wild Nothing – Hold
(Captured Tracks)
Hold do Wild Nothing, projeto de dream pop liderado por Jack Tatum, foi escrito durante a pandemia e após o nascimento de seu filho, o que inevitavelmente trouxe elementos de reflexão e existencialismo à música. Durante o processo de gravação, o artista, conhecido por sua introspecção e elegância no synthpop, viu isso como uma oportunidade para explorar um novo maximalismo sonoro e uma variedade mais ampla de influências. As canções exploram temas pessoais, como relacionamentos (“Headlights On”, com participação de Hatchie), a busca por conexão em um mundo digitalmente carregado (“Dial Tone”), inquietações em relação a mudar-se para uma cidade pequena devido à pandemia (“Suburban Solutions”, com vocais de apoio de Molly Burch) e arrependimentos relacionados a grandes mudanças pessoais. A produção é majestosa, com influências sonoras dos anos 80 transmitindo contentamento (“Basement El Dorado”) e tranquilidade (“The Bodybuilder”), enquanto as letras adicionam uma profundidade emocional à música e uma visão positiva do mundo. Hold é um álbum que explora incertezas e medos, mas de maneira meditativa e assertiva, criando uma experiência comum.
• Poppy – Zig
(Sumerian Records)
Zig, sucessor de Flux e do EP Stagger, combina momentos delicados e impactantes, apresentando uma fusão de estilos distintos que abrangem desde o industrial do início dos anos 90 (“Church Outfit”), passando pelo garage rock, música eletrônica, eletropop metal (na faixa-título) e surpreendentes baladas (“Linger” e “Prove It”). O material foi gravado com o produtor Ali Payami (The Weeknd, Taylor Swift) e seu colaborador de longa data, Simon Wilcox. Representa uma expressão autêntica e significativa da criatividade de Moriah Rose Pereira (a.k.a. Poppy) e sua evolução musical. O disco está repleto de declarações urgentes que abordam temas de rebeldia, questões políticas, assuntos pessoais (“The Attic”, com ares de drum and bass), raiva, confiança (na eletroclash “Hard” e na dark pop “Knockoff”) e liberdade criativa (“Motorbike”). Poppy descreve o álbum como um trabalho de dance sombrio que abraça uma ampla variedade de gêneros e oferece algo, literalmente, para todos os gostos.
• Black Pumas – Chronicles Of A Diamond
(ATO Records)
Quando o Black Pumas lançou seu álbum de estreia autointitulado em 2019, o duo do Texas desencadeou uma reação quase tão explosiva e extasiante quanto sua própria música. Chronicles Of A Diamond tem o potencial de conquistar um lugar especial com suas faixas atemporais destinadas a se tornar parte da cultura norte-americana. Em vez de replicar o trabalho anterior, a banda o reinventa de maneira excepcional e expande sua paleta sonora para incluir uma deslumbrante variedade de formas musicais: híbridos celestiais de pop sinfônico e soul (“Hello”, “Mrs. Postman”), excursões alucinantes no jazz, funk, folk (“Angel”), hip hop (“Chronicles of a Diamond”), gospel (“Tomorrow”), psicodelia (“Gemini Sun”) e western spaghetti (“Sauvignon”) com arranjos refrescantes (“Ice Cream (Pay Phone)”, cuja letra interpola de forma divertida uma rima clássica de pular corda), vocais virtuosos (“More Than A Love Song”) e canções de amor apaixonadas que parecem ter vindo do cosmos numa mistura irresistível de nostalgia e inovação genuína. Chronicles of a Diamond é um álbum extraordinário, grandioso e, desde já, clássico.
• DJ Shadow – Action Adventure
(Mass Appeal Records)
Vinte e sete anos após o lançamento de seu álbum de estreia, Endtroducing…, que se tornou uma obra inspiradora no hip hop instrumental, o produtor norte-americano Joshua Davis (a.k.a. DJ Shadow) faz uma retrospectiva. Action Adventure é um projeto introspectivo feito apenas por ele, sem colaboradores. O álbum, predominantemente instrumental e criado durante o período de isolamento, explora sua relação com a música e sua vida como colecionador e curador de discos e K7s. Inspirado por uma coleção de fitas compradas no eBay que continham mixagens de uma estação de rádio de Baltimore dos anos 1980, o álbum possui um forte senso de nostalgia com uma essência retrofuturista, combinando elementos de hip hop, samples vocais (como a base de “Ozone Scraper” com “Katsu!” do Jimi Sumén Projekt como base) e influências de R&B daquela década (“You Played Me”).
• Duran Duran – DANSE MACABRE
(Tape Modern/BMG)
Os ícones do new wave do Duran Duran retornam com o álbum DANSE MACABRE, uma trilha sonora temática dançante de horror para a temporada de Halloween, repleta de “gostosuras e travessuras”. O álbum conta com participações especiais de Nile Rodgers, Victoria De Angelis (baixista do Måneskin), Andy Taylor e Warren Cuccurullo. O trabalho apresenta elementos do synthpop com teclados arrepiantes, groove disco gótico e linhas de baixo ameaçadoras. O registroinclui uma coleção sombria de faixas reimaginadas da banda, covers de músicas como “BURY A FRIEND” de Billie Eilish, “PAINT IT BLACK” dos Rolling Stones, “GHOST TOWN” do The Specials e “PSYCHO KILLER” dos Talking Heads, além de algumas músicas inéditas, como “BLACK MOONLIGHT” e a faixa-título.