8 discos para ouvir hoje: St. Vincent, Justice, Sega Bodega, Pet Shop Boys e mais

St. Vincent / Alex Da Corte

Confira alguns dos principais lançamentos da semana para atualizar a sua playlist de discos favoritos. Entre eles estão os novos trabalhos de: St. Vincent, Justice, Céu, Sega Bodega, Pet Shop Boys, Iron & Wine, Nisa e Bullion.

St. VincentAll Born Screaming
(Total Pleasure Records)

A cantora e compositora Annie Clark (a.k.a. St. Vincent) lança o seu sétimo álbum de estúdio, sucessor de Daddy’s Home e o primeiro totalmente produzido por ela. All Born Screaming representa sua expressão mais primal, abordando a desolação espiritual e a aceitação extasiante, refletindo sobre a ideia de nascer gritando como um sinal positivo de vida e protesto. A faixa de abertura, “Hell Is Near”, é um número de tom etéreo e melancólico que lembra uma combinação de David Bowie e Zero 7, contrastando com “Reckless”, uma balada sinistra ao piano que logo se transforma em batidas industriais intensas. “Broken Man” traz o lado mais roqueiro e grunge de Clark, com versos que soam como um mantra; “Big Time Nothing” é um funk sobre a exploração da auto-rejeição; “Flea” é um poderoso groove rock inspirado no Yes e com percussão estrondosa de Dave Grohl, revelando um relacionamento obsessivo e possessivo; “Sweetest Fruit”, com seus arpejos extravagantes de sintetizadores, é um tributo a SOPHIE; “So Many Planets” traz uma vibe tranquila e ska; e “Violent Times” lembra um possível tema de James Bond nas mãos da artista. All Born Screaming é um disco sobre vida, morte e amor. Descreve o nascimento como um ato de protesto e celebração, refletindo que o fim da vida é realmente apenas um novo começo.

JusticeHyperdrama
(Ed Banger Records / Because Music)

Após quase oito anos de hiato, o duo francês de música eletrônica Justice retorna com o álbum Hyperdrama, marcando um retorno ao seu som mais excitante desde o início. Com participações especiais de Tame Impala (“One Night/All Night”, “Neverender”), Miguel (“Saturnine”), Thundercat (“The End”), Connan Mockasin (“Explorer”, em uma trilha de horror que se transforma em um funk sinistro), RIMON (“Afterimage”) e o duo The Flints (“Mannequin Love”), o disco explora a estética de longa data de Gaspard Augé e Xavier de Rosnay (nas enérgicas “Generator” e “Incognito”) com ganchos melódicos, linhas de baixo funky e batidas eventualmente distorcidas, resultando em músicas sublimes e cinematográficas. O álbum é grandioso, transitando abruptamente entre música puramente eletrônica e completamente produzida por humanos várias vezes, desafiando estruturas de canções convencionais, além de demonstrar uma amplitude maior do que antes. Hyperdrama atende às expectativas, enriquecendo sua já notável sonoridade e consolidando-se como uma obra à altura de seu icônico álbum Cross.

CéuNovela
(Urban Jungle Records)

A cantora e compositora Céu retorna com o primeiro disco de inéditas após APKÁ!, lançando Novela. O registro, com produção assinada em conjunto por Pupillo e o norte-americano Adrian Younge, traz um recorte da vida, celebra encontros e discorre sobre os prismas infindáveis do amor. Suas composições abordam temas de cunho político, como em “Reescreve”, que questiona a perspectiva dos colonizadores nos livros didáticos de História do Brasil, e íntimos, como “Gerando na Alta”, inspirada pelo sambalanço do álbum Força Bruta, gravado por Jorge Ben Jor com o Trio Mocotó, com a participação da artista franco-senegalesa anaiis; romântico, com canções como “Crushinho” e “Corpo e Colo”, esta última composição de Kleber Lucas e Nando Reis; e até reflexões pós-pandemia, como em “Lustrando Estrela”. Cantadas em português e inglês, as músicas exploram a psicodelia dos anos 70, samba, reggae, jazz e soul em instrumentações elegantes à la Arthur Verocai, soando clássicos de outras eras (“Into My Novels”, com a participação Loren Oden, que fala da teledramaturgia do cotidiano, onde não há câmeras de TV registrando atos, tampouco roteiros predefinidos). Novela apresenta uma mistura de gêneros musicais e reafirma o compromisso de Céu com a diversidade da música brasileira.

Sega BodegaDennis
(ambient tweets)

Com seus dois primeiros álbuns, Salvador (2020) e Romeo (2021), o músico e produtor de pop experimental Salvador Navarrete (a.k.a Sega Bodega) introduziu uma reinvenção da música eletrônica impulsionada por uma espécie de lógica onírica que confundia a mente, mas fazia sentido para o corpo. Seu terceiro álbum, Dennis, surge após uma experiência de mania durante um período turbulento em sua vida pessoal, refletindo picos de euforia, noites sem dormir e entrega aos impulsos. O álbum traduz essa experiência, com uma sensação de desorientação e vulnerabilidade (“True”), com seu som único presente na produção de artistas disruptivos do pop nas produções etéreas e experimentais (“Deer Teeth”) e eufóricas (“Kepko”) de Bodega.

Pet Shop BoysNonetheless
(Parlophone)

Em Nonetheless, o 15º álbum de estúdio do icônico duo de eletropop Pet Shop Boys, Neil Tennant reflete sobre suas experiências em clubes gays, enquanto as batidas de disco ecoam uma melancolia extasiada com uma mensagem sobre a necessidade de enfrentar a solidão (“Why am I dancing?”) e encontrar maneiras de superá-la com amor e apoio (“Loneliness”). O álbum mantém o controle de qualidade da banda, com Tennant evocando os anos de sua juventude, quando se mudou para Londres em busca de reinvenção. Chris Lowe, brilhante em evocar a cena urbana inglesa, permanece fiel à fórmula, enquanto o produtor James Ford (Depeche Mode, Arctic Monkeys) adiciona texturas que lembram os anos 80 e enriquecedores instrumentos ao vivo e arranjos orquestrais, resultando em uma coleção gloriosa de pop atemporal. As histórias de pioneiros queer, como Oscar Wilde e Rudolf Nureyev, são contadas em faixas como “Love is the law” e “Dancing star”. Tennant brinca com letras inteligentes e uma leve dose de camp em músicas como “The secret of happiness” e “The schlager hit parade”Nonetheless está repleto de pérolas e certamente vai encantar tanto os fãs antigos quanto os novos, e sem dúvida está entre os melhores momentos na carreira da dupla.

Iron & WineLight Verse
(Sub Pop)

Quando a pandemia começou e o mundo parou, o processo de criação para Sam Beam, do Iron & Wine, também parou. Em seu lugar, veio uma domesticidade que o cantor não sentia há muito tempo, e embora fosse repleta de muitas recompensas, fazer música não era uma delas. Refletindo sobre esse tempo, Beam observa que ficou paralisado como compositor, incapaz de escrever sobre a COVID, mesmo que isso pairasse ao redor dele o tempo todo. A jornada de volta começou com uma sessão de gravação em Memphis para o EP Lori, com seu amigo e produtor Matt Ross-Spang. A experiência catártica reconectou Beam com seu amor pela música, e logo a paralisia passou. Light Verse foi gravado com uma série de músicos talentosos, incluindo Fiona Apple (“All in Good Time”), e apresenta uma série de reflexões pessoais e ficcionais (“You Never Know”, “Anyone’s Game”), oferecendo promessa, coração partido, lágrimas, risos, vida e amor. Embora seja um dos álbuns mais divertidos do Iron & Wine, Beam diz que o título reflete principalmente a maneira como as músicas nasceram com alegria após o peso e a ansiedade da pandemia.

NisaShapeshifting
(Tender Loving Empire Records)

No álbum de estreia Shapeshifting, cantora e compositora Nisa Lumaj (a.k.a. Nisa) embarca em uma jornada em direção à autoaceitação, autoconcretização e uma sensação coerente de identidade. O álbum reflete sua imersão em músicas pop que mesclam elementos de eletrônica (“Breach”, “Pressure Principle”), indie punk (“Smokescreen”) e grunge (“Dance Alone”) com guitarras marcantes, vocais etéreos (“Vertigo”) e escolhas melódicas incomuns. A gravação do álbum começou em janeiro de 2021 em um pequeno quarto em Brooklyn, enquanto Nisa enfrentava desafios emocionais e decidia se dedicar à música. O registro explora temas de crescimento pessoal, autodescoberta e o caminho emocionante, porém muitas vezes incerto, da transformação, em letras abstratas, inspiradas na poesia íntima de Sharon Olds e na linguagem lírica de Tirzah.

BullionAffection
(Ghostly International)

O produtor, cantor e compositor Nathan Jenkins, conhecido como Bullion, é uma das figuras cult da música eletrônica mais duradouras. Seus créditos vão desde Carly Rae Jepsen, Westerman, Nilüfer Yanya, Birdy, entre outros. Enquanto isso, seus lançamentos solo celebrados correram paralelamente em gravadoras como Young, The Trilogy Tapes, Jagjaguwar e sua própria DEEK Recordings. Em Affection, com colaborações de nomes como Panda Bear (“A City’s Never”), Carly Rae Jepsen (“Rare”) e Charlotte Adigéry (“World_train”), o artista adota uma abordagem intransigente, fortalecida em parte pelo suavizar. A masculinidade, a intimidade e outras preocupações contemporâneas são pontuadas por encantos do mundo antigo através de sua sonoridade eletrônica sonhadora, de sintetizadores luminosos e batidas vibrantes. O disco questiona fundamentalmente como entendemos as pessoas, mas, ao ser mais vulnerável, ao menos tenta se importar um pouco menos com o que elas pensam também (“Affection”).