50. Poppy
(I Disagree)
Poppy confronta a sua eletrônica dócil com a força brutal de guitarras abundantes e percussão agoniada. Reproduz um furacão de emoções, persuadida pelo nu metal (“Fill the Crown”) e rock industrial (“BLOODMONEY” com estética de uma produção do Nine Inch Nails), sem perder a parcela de graciosidade (“Nothing I Need”) de sua figura. Enquanto a maioria das bandas de rock começam a seguir cada vez mais um caminho pop, a pequena artista toma o caminho inverso e autoral num pop metal raivoso e borbulhante.
• Coloque para tocar: “Concrete”
49. Niia
(II: La Bella Vita)
A história do segundo álbum de Niia, II: La Bella Vita, nasce de uma separação. Especificamente, o fim de um relacionamento de seis anos, que tinha tudo para terminar em casamento, mas chegou ao fim. Com sua combinação moderna de jazz, R&B (“If I Cared”) e soul, coberta de elegância (“Whatever You Got”) e inspiração em Sade, a artista canta suas frustrações amorosas (“Obsession”) para sarar feridas íntimas (“Face”) e trilhar um novo objetivo na trajetória pessoal.
• Coloque para tocar: “If You Won’t Marry Me Right Now”
48. Nathy Peluso
(Calambre)
Calambre é uma caixinha de surpresas pronta para manifestar a versatilidade vocal e rítmica de Nathy Peluso. Apesar de manter-se focada em sons R&B e hip hop (“AMOR SALVAJE” e “LLMAME”), a artista argentina esquadrinha novas ideias com êxito para o repertório do registro. Há uma proposta de salsa em “PURO VENENO”, um tango variado em “AGARRATE”, rap dos anos 90 em “AMOR SALVAJE” e hip hop neo soul em “BUENOS AIRES”, deixando o material ainda mais selvagem e vistoso na essência.
• Coloque para tocar: “SANA SANA”
47. The Weeknd
(After Hours)
O canadense Abel Tesfaye (a.k.a. The Weeknd) lança o seu quarto disco de estúdio, o sucessor de Starboy e do EP My Dear Melancholy, persuadido por uma sonoridade pop dos anos 80 (“Blinding Lights”) em seu diário sentimental. Seu R&B atmosférico é acobertado por batidas sufocantes e sintetizadores nebulosos junto à letras sobre festas, sexo, drogas (“Heartless”) e relacionamentos malsucedidos com expectativa de reconciliação (“After Hours” e “Scared To Live” com o sample de “Your Song” de Elton John).
• Coloque para tocar: “Blinding Lights”
46. Dream Wife
(So When You Gonna…)
O trio de punk rock Dream Wife, com uma atitude punk e hinos feministas, volta saturado de adrenalina e emoção em When You Gonna…. As garotas são como um Yeah Yeah Yeahs com um DNA de Blondie (“Old Flame”, “Hasta La Vista”) e espírito das riot grrls dos anos 90. As guitarras distorcidas e irregulares (a faixa-título é inspirada em CSS), os versos competentes e os números mais sofisticados (“After The Rain”) refletem a produção e mixagem de Marta Salongi (FKA twigs, Björk). É um material com apelo pop, mas que mantém a conduta primordial das mocinhas.
• Coloque para tocar: “Hasta La Vista”
45. Gabriel Garzon-Montano
(Agüita)
Agüita é um autorretrato conceitual, pessoal e universal. Uma sequência diversa que vai de hinos de trap (“Agüita”), hip hop latino (“Mira My Look”), pop soul (“Someone”, “Moonless”), traços de bossa nova (“Bloom”) e reggaetón (“Muñeca”) em suas dez composições. A habilidade de Gabriel Garzón-Montano em executar uma ampla gama de estilos musicais, exibindo várias facetas de sua arte na mesma obra, é sua verdadeira arma secreta.
• Coloque para tocar: “Bloom”
44. Shamir
(Shamir)
Em seu álbum autointitulado, Shamir concebe um disco imprevisível ao seu agrado e com identidade própria. Transparece uma sensibilidade ímpar num garage punk synth pop com atributos dos anos 90 e letras diversas sobre relacionamentos fracassados (“On My Own”), amizades tóxicas (“Running”) e sentimentos de desamparo (“Other Side”, um número country com influência de Miranda Lambert). São dramas convenientes de um adolescente queer, pertencente à geração Z, exteriorizados de maneira crua e explícita.
• Coloque para tocar: “On My Own”
43. Tame Impala
(The Slow Rush)
Cinco anos depois de Currents, os australianos do Tame Impala lançam o seu quarto álbum de estúdio afortunados pela aura rock psicodélica particular (“It Might Be Time”). São sintetizadores ágeis, guitarras pinçadas, batidas assertivas e sons cósmicos que encaminham a produção de Kevin Parker à outra dimensão para resgatar memórias do passado (“Posthumous Forgiveness”), ilustrar romances esmorecidos (“Borderline”) e transformações pessoais (“It Might Be Time”).
• Coloque para tocar: “Lost In Yesterday”
42. Ela Minus
(acts of rebellion)
Executado, produzido e gravado inteiramente pela musicista colombiana Ela Minus, acts of rebellion é um manifesto complexo sobre a simplicidade, um chamado para lutar, para viver, para estar presente. Uma coleção sobre o pessoal como político, que abrange a beleza de pequenos atos de revolução em nossa vida cotidiana, em meio de paisagens sonoras eletrônicas alternadamente paliativas e excitantes (“megapunk”). Minus cria música complexa e técnica que emana uma vibração calorosa, junto com uma compreensão mais sombria (“they told us it was hard, but they were wrong.”), quase comemorativa (“el cielo no es de nadie”), de que nossas existências são finitas.
• Coloque para tocar: “el cielo no es de nadie”
41. Porridge Radio
(Every Bad)
Every Bad, do Porridge Radio, é uma inovação fantástica que envolve a voz e as letras de Dana Margolin em um turbilhão de paisagens sonoras agressivas e criativas. As letras se conectam através de sua franqueza e comoção, com a vocalista manifestando sentimentos complexos – com uma veia amistosa de PJ Harvey e Karen O – em frases descomplicadas, guitarras explícitas e percussão dinâmica.
• Coloque para tocar: “Nephews”
40. Georgia
(Seeking Thrills)
Sem delimitar-se a um gênero, Georgia compartilha o segundo disco de estúdio, o sucessor de Georgia, com interferência da cena house de Chicago dos anos 80 (“Started Out”), da dance music (“24 Hours”), do dub reggae e do pop atual – fabricado por nomes como Robyn e CHVRCHES – para transportar seus sentimentos sem desvios para as pistas de dança (“About Work The Dancefloor”). Destaque para as participações de Maurice em “The Thrill” e de Shygirl em “Mellow” no registro.
• Coloque para tocar: “24 Hours”
39. Jim-E Stack
(EPHEMERA)
Em seu segundo disco de estúdio, Jim-E Stack – conhecido por inúmeras contribuições no mundo da música que vão de HAIM a Diplo – conduz para o universo de EPHEMERA antigos amigos como Empress Of (“Note To Self”), Octavian, Bearface (do BROCKHAMPTON em “One Shot”), Bon Iver (“Jeanie”), Kacy Hill (“Can We”), entre outros numa espécie de troca de gentilezas em serviços realizados no passado. É um material pop sortido e adorável com refrões contagiantes e melodias encantadoras concebidas de forma primordial e singular para cada um dos convidados.
• Coloque para tocar: “Note To Self”
38. Samia
(The Baby)
Em seu registro de estreia, The Baby, Samia é a voz de uma geração tentando encontrar seu lugar no mundo. Nas composições evidencia lutas contra questões de imagem corporal (“Fit N Full”), misoginia, desgostos (“Triptych”), obsessão (“Waverly”) e solidão (“Poll”). É o som de uma jovem impiedosa, entrelaçado por uma teia de narrativas irônicas e versos arrebatadores, que peregrina pelo alt-pop, rock e country.
• Coloque para tocar: “Fit N Full”
37. Tennis
(Swimmer)
O duo indie pop Tennis, dos pombinhos Alaina Moore e Patrick Riley, volta com suas melodias nostálgicas, charmosas e introspectivas à la Carole King para cantar histórias de amor e crises existenciais que fortalecem os vínculos afetivos (“How to Forgive”). Em “Swimmer”, o casal abandona o romantismo dos trabalhos anteriores a favor do realismo, às vezes um tanto cruel em sua natureza (“Need Your Love”).
• Coloque para tocar: “Runner”
36. beabadoobee
(Fake It Flowers)
Nascida nas Filipinas e criada em Londres, Beatrice Kristi Laus começou a gravar música como beabadoobee em 2017. Com apenas 20 anos, ela construiu sua enorme base de fãs dedicados da geração Z com sua produção impecável de canções pop grunge confessionais (“Worth”) e estética lo-fi (“How Was Your Day?”). Fake It Flowers é apoiado por músicas que tem vestígios fortes nos instrumentos e um toque de sensibilidade no vocal puro da mocinha. É instantâneo, turbulento e, absolutamente, cativante (“Care”).
• Coloque para tocar: “Care”
35. Okay Kaya
(Surviving Is The New Living)
Surviving Is The New Living, sucessor dos extraordinários Both – um dos melhores de 2018 – e Watch This Liquid Pour Itself, é escoltado por melodias aliciantes, intimistas e experimentais num alt folk pop eletrônico guiado pelo vocal gracioso de Kaya Wilkins (a.k.a. Okay Kaya). São canções românticas em inglês, alemão e norueguês sobre relações falhas, fantasias sexuais durante a quarentena (“Kiss This Sky”) ou uma noite de sexo comparada às rimas musicais assertivas de Bill Withers (é assim a homenagem de Wilkins ao músico que faleceu em abril na faixa “Bill Withers”).
• Coloque para tocar: “Comic Sans”
34. Kelly Lee Owens
(Inner Song)
Em Inner Song, Kelly Lee Owens reproduz o que chama de “os três anos mais difíceis da vida”. A dissolução de um relacionamento destrutivo e a morte da avó, de quem ela era incrivelmente próxima, lançam uma sombra sobre a laboração deste segundo disco. Mergulhando em sua própria psique em belas texturas technopop, Owens canaliza perdas e mágoas em composições cruas e evocativas (“On”) abraçadas por melodias eufóricas (“Melt!”) e comoventes. Com toques experimentais de R&B e uma participação especial de John Cale do Velvet Underground (“Corner Of My Sky”), ela segue a planejar uma reputação própria em torno de uma mudança corajosa e de descobertas.
• Coloque para tocar: “On”
33. Destroyer
(Have We Met)
A banda de rock canadense Destroyer, liderada pelo cantor e compositor Dan Bejar, entrega Have We Met com suas características particulares em letras abstratas, poéticas e apocalípticas (“Foolssong”) moldadas a partir de vocais enigmáticos. O trabalho é concebido na companhia do produtor e colega de banda John Collins, que se encarrega das seções de sintetizadores e ritmos em camadas (“Cue Synthesizer”), tendo em mente trabalhos de Massive Attack, Björk e Air.
• Coloque para tocar: “Cue Synthesizer”
32. Charli XCX
(how i’m feeling now)
how i’m feeling now, álbum colaborativo criado durante o período de isolamento social, é uma montanha-russa de sensações para manifestar o estado de espírito da quarentena. Há momentos de puro êxtase na sonoridade eletrônica bombástica, pesada e hipnótica (“pink diamonds” e “anthems”), enquanto outros são revestidos por uma aura pop fascinante e alegre (“forever” e “claws”) com o carimbo própria da artista. A autenticidade de Charli XCX equilibra-se nas letras sobre amores, conflitos, medos (“detonate”) e reflexões (“i finally understand”) formadas durante o período em casa na companhia do namorado Huck Kwong.
• Coloque para tocar: “detonate”
31. Fontaines D.C
(A Hero’s Death)
Pouco mais de um ano após o disco do estreia, os irlandeses do Fontaines D.C. voltam com A Hero’s Death. A banda está determinada a não repetir a fórmula e experimentar novas abordagens estilísticas. Com produção de Dan Carey (Bat for Lashes, black midi), redescobre o post punk num trabalho menos explosivo, ousado e sombrio (“I Don’t Belong”) nos vocais sedutoramente temperamentais de Grian Chatten (“A Hero’s Death”). São números mais melódicos e menos viscerais, com uma visão inebriante e filosófica do mundo moderno e suas incertezas (“Televised Mind”).
• Coloque para tocar: “Televised Mind”
30. Caribou
(Suddenly)
Seis anos após o álbum Our Love, o compositor e produtor Dan Snaith (a.k.a. Caribou) volta com Suddenly. Mantendo a sua marca registrada expressiva (“Home”), em sintetizadores cintilantes e batidas dançantes (“Never Come Back”), o material retrata experiências pessoais e mudanças repentinas nas vivências do artista (“You And I”) que nos faz mergulhar em suas histórias através de uma eletrônica receptiva e polida.
• Coloque para tocar: “Home”
29. U.S. Girls
(Heavy Light)
O U.S. Girls, projeto pop experimental de Meg Remy, evidencia narrativas pessoais ao nutrir uma visão das relações humanas em Heavy Light. A artista reinventa-se com uma sonoridade soul, bossa nova e disco pop groove nostálgica em composições com qualidades melancólicas, tanto pessoal (“Overtime”, “Denise, Don’t Wait”) quanto cultural e política (“4 American Dollars”, “And Yet It Moves / Y Se Mueve”), em orquestrações deslumbrantes e um som que vaga como se ABBA, David Bowie, Patti Smith e Bruce Springsteen estivessem rondando o mesmo estúdio.
• Coloque para tocar: “4 American Dollars”
28. The Avalanches
(We Will Always Love You)
O The Avalanches proporciona uma espécie de celebração pop eletrônica mágica, nostálgica e cósmica em We Will Always Love You. Neste terceiro registro de estúdio, o duo australiano exibe um som fraterno e reflexivo realizado com uma variedade de gêneros musicais, cantores e escritores convidados, mas sem perder a mão nos característicos samples – que vão de Salty Miller (“Music Makes Me High”) a Sergio Mendes (“Wherever You Go”). Destaque para as parcerias com Jamie xx (“Wherever You Go”), Blood Orange (“We Will Always Love You”), Neneh Cherry (“Reflecting Light”), Leon Bridges (“Interstellar Love”) e Karen O (“Dial D For Devotion”).
• Coloque para tocar: “Interstellar Love”
27. Lomelda
(Hannah)
Com título inspirado no nome da cantora e compositora responsável pelo projeto indie rock, Hanna Read, Hannah evidencia eventos pessoais em reflexões sinceras sobre solidão, longas distâncias, encontros casuais e crises (“Stranger Sat By Me”). Tudo banhado com a quantidade adequada de profundidade emocional (“Kisses”), entrega lo-fi nos riffs bagunçados (“Wonder”), sonoridade crua e doses de bom humor (“é Low, é Yo La Tengo / é The Innocence Mission / Frank Ocean, Frankie Cosmos” como canta as influências em “It’s Lomelda”). As experiências de Read não precisam ser nossas para perceber a sensação do que está acontecendo.
• Coloque para tocar: “Wonder”
26. Lianne La Havas
(Lianne La Havas)
No álbum autointitulado, Lianne La Havas volta inspirada pela melancolia da música brasileira de Milton Nascimento dos anos 70 e pelas harmonias e empoderamento feminino de grupos como Destiny’s Child, segundo revela. A artista atinge o objetivo na combinação articulada de instrumentações refinadas (“Can’t Fight”), composições honestas (“Paper Thin”, “Bittersweet”), performances vocais versáteis e reinvenções sonoras (como no cover neo soul de “Weird Fishes” do Radiohead).
• Coloque para tocar: “Weird Fishes”
25. Amaarae
(THE ANGEL YOU DON’T KNOW)
Depois de uma extensa lista de singles e participações especiais em canções de outros artistas, a cantora ganense-americana Amaarae concebe o trabalho de estreia e investe no amor pela cultura pop dos anos 80 e dos clubes do anos 90. THE ANGEL YOU DON’T KNOW é uma coleção de números influenciados pela fusão da sofisticação do afropop, desenvoltura do dancehall, deslumbre do rap (“LEAVE ME ALONE”) e sedução do hip hop (“FANCY”) acompanhados pelo vocal amistoso e infantilizado da garota.
• Coloque para tocar: “LEAVE ME ALONE”
24. Laura Marling
(Song for Our Daughter)
Laura Marling descreve seu sétimo álbum solo como uma espécie de trabalho conceitual. Song for Our Daughter, diz ela, é sobre “trauma e uma busca duradoura para entender o que é ser mulher nesta sociedade”. As músicas são escritas para uma criança imaginária, oferecendo à ela “todas as confidências e afirmações que achei tão difíceis de me fornecer”. Mexe com o imaginário de seu ouvinte em melodias de violão, cantigas folk com sensibilidade pop (“Held Down”) e números poéticos de tom confessional através de palavras penetrantes (“Fortune”).
• Coloque para tocar: “Fortune”
23. Dua Lipa
(Future Nostalgia)
Depois do sucesso do primeiro álbum e um Grammy nas mãos, a britânica Dua Lipa tinha a difícil tarefa de lidar com a temida maldição do segundo disco da carreira. Com Future Nostalgia, a artista entrega um disco eufórico, despretensioso e festivo com o brilho dos anos 70 e 80 (“Don’t Start Now” e “Physical”). Passeia livremente pela disco music, funky à la Prince (“Future Nostalgia”) e eurodance – e ainda recorre a samples de White Town (“Love Again”) e INXS (“Break My Heart”) na aprimoração de sua fórmula – para abordar temas como sexo, empoderamento, vínculos afetivos e patriarcado.
• Coloque para tocar: “Hallucinate”
22. Lido Pimienta
(Miss Colombia)
Quatro anos após o premiado álbum de estreia, La Papessa, a musicista interdisciplinar colombiana Lido Pimienta, nascida em Toronto, volta com Miss Colombia. O título do álbum foi parcialmente inspirado pela gafe no Miss Universo em 2015, quando Steve Harvey concedeu por engano a coroa à Miss Colombia, em vez da Miss Filipinas. Isso fez com que Pimienta refletisse sobre a antinegritude que experimentou e como era vista como uma pessoa de fora na adolescência. O registro mergulha na história das músicas afro-latinas, de Palenque à cumbia, com sua eletrônica extática (“No Pude”) ao refletir o fracasso de seus compatriotas (“Eso Que Tu Haces”) em exigir que o governo deles seja responsável pela crescente desigualdade e violações dos direitos indígenas. O disco parece um esforço relativamente simplificado de uma artista que há muito faz questão de quebrar as fronteiras de gênero.
• Coloque para tocar: “Eso Que Tu Haces”
21. Adrianne Lenker
(songs / instrumentals)
Adrianne Lenker, a vocalista e guitarrista do Big Thief, lança songs e instrumentals. Duas coleções distintas, ambas escritas e gravadas em abril, depois que a turnê da banda foi interrompida devido ao coronavírus. Após retornar da Europa, Lenker mudou-se para uma cabana de um cômodo nas montanhas do oeste de Massachusetts, nos Estados Unidos. Nenhum processo digital foi utilizado na produção destas gravações de som, sendo 100% analógicas. São baladas folk rústicas e intimistas construídas no vocal afetivo da artista, violão acústico categórico, percussão mínima (“anything”) e letras referente a sentimentos tangíveis (“dragon eyes”). É Lenker encontrando beleza e afeição em pequenos momentos e na sua própria companhia enquanto o mundo ao seu redor sobrevive em desarranjo.
• Coloque para tocar: “anything”
20. Empress Of
(I’m Your Empress Of)
O Empress Of, projeto musical de Lorely Rodriguez, lança o terceiro registro de estúdio – “um pequeno milagre que aconteceu no caos e no meio de um monte de merda” como conta – confrontado o universo eletrônico R&B sonhador de suas produções com a cena dos clubes noturnos (“What’s the Point”, “Bit Of Rain”). Suas temáticas românticas esquivam-se na euforia house (“Give Me Another Chance”) e melodias festivas (“Love Is a Drug”), em números confiantes e ilesos por um pop dinâmico, mas que se resguardam também para instantes de pura introspecção (“Hold Me Like Water”).
• Coloque para tocar: “Give Me Another Chance”
19. Kali Uchis
(Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞)
Kali Uchis resgata suas origens latinas em Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞. O registro é uma imersão despretensiosa e eclética assertiva da artista por sonoridades que marcaram a sua história pessoal e da música latina – “la luna enamorada” é uma canção originalmente gravada pelo grupo doo wop cubano Los Zafiros na década de 1960. São números cinematográficos dramáticos, românticos e sensuais que passeiam por boleros (“que te pedí//”, cover da cubana La Lupe), cordas arrebatadoras com uma batida trip hop (“vaya con dios” com um gostinho de Portishead), reggaetón (“te pongo mal(prendelo)”) e trap (“¡aquí yo mando!” com a rapper Rico Nasty) que evidenciam o múltiplo talento da artista.
• Coloque para tocar: “fue mejor”
18. Grimes
(Miss Anthropocene)
O conceitual Miss Anthropocene gira em torno do personagem título, uma rainha demoníaca pop psicodélica, que transporta a artista por territórios dimensionais sombrios (na balada nu metal “My Name Is Dark” ou na eletrônica new age “So Heavy I Fell Through the Earth”) e incrédulos (na eletro bluegrass “Delete Forever”) para elucidar “uma encarnação diferente da extinção humana” até ela adequar-se com a humanidade destrutiva (na afetivamente eufórica “IDORU” de versos como “mesmo que vamos perder / mas eu te adoro”) que a castiga.
• Coloque para tocar: “IDORU”
17. Arca
(KiCk i)
KiCk i define uma nova era de harmonia multiplex para a artista venezuelana e uma visão do que a música pop pode soar no futuro. O disco é uma celebração não apenas da felicidade que Arca encontrou na vida, mas da jornada árdua que levou para conquistá-la. As lutas para conciliar heranças latinas e identidade trans emergem nas letras e experimentações sonoras com elementos de pop, reggaetón (“Mequetrefe”), noise, eletrônica (“Time”) e psicodelia (“Nonbinary”). Com participações de Björk, ROSALÍA (“KLK”), Shygirl e SOPHIE, esta é a primeira vez que Arca convida colaboradores para oferecer uma voz de apoio em seu extravagante universo.
• Coloque para tocar: “Mequetrefe”
16. Soccer Mommy
(color theory)
O Soccer Mommy, projeto indie rock da cantora e compositora Sophie Allison, lança o segundo disco estúdio, o sucessor da estreia Clean, com produção de Gabe Wax (Beirut, Palehound). Em sua sonoridade determinada de guitarras ardilosas e percussão marcante aponta desilusões amorosas (“lucy”), crises existenciais (“yellow is the color of her eyes”), memórias de infância (“bloodstream”) e relações obsessivas (“circle the drain”) no que chama de “verdades emocionais sombrias”.
• Coloque para tocar: “circle the drain”
15. HAIM
(Women in Music Pt. III)
O terceiro disco de estúdio das irmãs HAIM soa como um trabalho feliz feito por garotas tristes, algo que reflete o que é ser jovem e viver nos dias de hoje. Temas como depressão (“I Know Alone”, “Now I’m In It”), solidão e relacionamentos incertos (“The Steps”, “Dont Wanna”) refletem o universo de Women in Music Pt. III com um bocado de integridade. Na ampla paleta sonora que reúne pop, rock, jazz, folk e R&B (como na deliciosa “3am”), as meninas transportam uma natureza de obras clássicas de nomes como Joni Mitchell, Fleetwood Mac, Sheryl Crow, Tom Petty e Lou Reed (“Summer Girl”) para a obra.
• Coloque para tocar: “The Steps”
14. SAULT
(Untitled (Black Is))
O SAULT apresenta o terceiro registro de estúdio, o sucessor dos incríveis 5 e 7, para ser um discurso extra e trilha sonora dos protestos espalhados pelo mundo em apoio ao movimento Black Lives Matter. Há uma intensidade e comoção na coleção de números sólidos de Untitled (Black Is). É um testemunho de poder (“Us”) em cantos de protesto, militância (“Hard Life”) e mantras (“Black Is”) destinados a marcar um período da história que repreende a sociedade, questiona a brutalidade da polícia contra negros como política de Estado (“Wildfires”) e racismo sistemático. O disco brilha na produção de Inflo, nos vocais de Cleo Sol, nas parcerias com Michael Kiwanuka (“Bow”) e a poeta Laurette Josiah (“This Generation”) junto à deslumbrante gama de funk, hip hop, soul inspirado na Motown (“Miracles”), ritmos africanos e gospel (na instrumental “Only Synth in Church”) explorada com elegância e vigor pelo grupo.
• Coloque para tocar: “Bow”
13. Perfume Genius
(Set My Heart On Fire Immediately)
O quinto álbum de estúdio de Mike Hadreas (a.k.a. Perfume Genius) conta mais uma vez com a produção de Blake Mills (Alabama Shakes, Laura Marling) e recebe contribuições de músicos como Jim Keltner, Pino Palladino, Phoebe Bridgers e Matt Chamberlain. O material explora e subverte conceitos de masculinidade e papéis tradicionais e introduz influências musicais americanas cinematográficas para o universo esplêndido do artista. Deleita-se com temas sobre amor (“Some Dream”), sexo, memória e corpo (“On the Floor”) canalizando mitologias e criando de forma irreverente a sua própria (“Describe”) em um dos seus trabalhos mais dinâmicos.
• Coloque para tocar: “On the Floor”
12. Bob Dylan
(Rough and Rowdy Ways)
Rough and Rowdy Ways é o primeiro álbum de músicas inéditas em oito anos do lendário cantor e compositor Bob Dylan e o primeiro desde que ele recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 2016. O registro conta com dez faixas que transitam pelo folk, rock e blues escoltado pelo vocal rouquenho do músico em observações existenciais (“False Prophet”), históricas (na épica “Murder Most Foul” com seus 17 minutos em que retrata o assassinato de JFK) e poéticas (“I Contain Multitudes”). O disco conta com nomes como Fiona Apple, Blake Mills, Alan Pasqua, entre outros na lista de músicos convidados.
• Coloque para tocar: “I Contain Multitudes”
11. Rina Sawayama
(SAWAYAMA)
Três anos após rasgar elogios com o EP RINA, a artista pop Rina Sawayama apresenta o disco de estreia SAWAYAMA. O registro especula identidade, família, gênero, sexualidade e críticas sociais ajustado a um cenário pop voltado para o futuro sem medo de atravessar por novos universos musicais – da eletrônica moderna (“XS”), nostalgia dos anos 90 (“Comme des Garçons (Like the Boys)”), baladas intimistas sintetizadas (“Chosen Family”) e até nu metal “STFU!” – com confiança.
• Coloque para tocar: “XS”
10. Chloe x Halle
(Ungodly Hour)
As irmãs Chloe x Halle, pupilas de Beyoncé no selo Parwood, apresentam o segundo disco de estúdio influenciadas por atos R&B dos anos 1990 e início dos 2000 (“Do It”) – como Aaliyah, TLC e Destiny’s Child – para iluminar Ungodly Hour com suas harmonizações vocais. É perceptível o amadurecimento na sonoridade das meninas em canções sobre como navegar em situações confusas, amizades, romances e traições (“Forgive Me”). É ainda o início de uma longa e promissora – que já conta com a produção dos irmão do Disclosure na faixa-título – jornada das meninas.
• Coloque para tocar: “Ungodly Hour”
09. Róisín Murphy
(Róisín Machine)
Em Róisín Machine, a irlandesa Róisín Murphy concebe de forma sintetizada uma ode aos clubes noturnos do século passado com finesse, dinamismo e teatralidade audaciosa única. Operando dentro do prisma da cena disco, o álbum associa gêneros de diversas décadas. “Something More” é um house com piano eufórico que tem a artista no distrito de Grace Jones, “Incapable” joga-se por inteiro numa aura disco pop charmosa, “Narcisuss” é pura perfeição e requinte das noites do Studio 54, “Shellfish Mademoiselle” é um descarado convite funk groove para dançar com direito a palminhas e a deslumbrante “Murphy’s Law” brilha com pitadas da dance dos anos 90.
• Coloque para tocar: “Narcissus”
08. Yves Tumor
(Heaven To A Tortured Mind)
O Yves Tumor chega ao quarto registro de estúdio, expandindo sua trajetória e atravessando os limites de gênero musical, na companhia do produtor Justin Raisen (Sky Ferreira, Kim Gordon). Se em sua estreia pautava por um caminho experimental para posteriormente extrapolar os limites do pop, em Safe In The Hands Of Love, neste Heaven to a Tortured Mind revela-se um Deus do rock psicodélico (“Medicine Burn”) dos anos 1970. Assessorado por elementos do lo-fi R&B (“Super Stars”), glam e noise, manifesta-se confortável num mundo próprio para evidenciar seu repertório astroso, melancólico (“Romanticist”) e sensual (“Kerosene!” com Diana Gordon) num discurso de que se encontra paz em meio ao caos.
• Coloque para tocar: “Kerosene!”
07. Run The Jewels
(RTJ4)
RTJ4 chega em um cenário social perfeito com letras e ritmos objetivos quanto a população atual pede, que ilustra um mundo em um estado de fluxo, com o assassinato de George Floyd. A brutalidade policial na música do Run The Jewels (“Yankee & the Brave”) é um reflexo desolador de uma comunidade no caos (“ooh la la”), que ignora as realidades e é dominada pela ganância (“JU$T”), e segue na busca de mudanças de uma luta que não é meramente política e também espiritual (“pulling the pin”).
• Coloque para tocar: “ooh la la”
06. SAULT
(Untitled (Rise))
Diferente Untitled (Black Is), Untitled (Rise) transparece positividade extra ao direcionar grande parte do repertório para as pistas de dança com um brilho nostálgico das produções de Quincy Jones (Michael Jackson). Apesar do clima festivo com influências de disco, funky (“Fearless”), soul (“Son Shine”), batucada de samba (“Strong”) e orquestrações exuberantes (“Scary Times”), o SAULT não perde a mão da militância social (“Street Fighter”, “Rise Intently”) e racial (como nos versos “por que meu povo sempre morre? / preciso achar uma saída” em “I Just Wanna Dance”) nas composições. Untitled (Rise) é animação ao extremo em sua música atraente com uma mensagem lírica necessária e de consciência para as próximos gerações (“Little Boy”) em seus pequenos grandes protestos.
• Coloque para tocar: “I Just Want to Dance”
05. Moses Sumney
(græ)
Moses Sumney, dono de um vocal aveludado e potente, apresenta o álbum duplo græ. Sua mistura eclética de eletrônica meticulosa com elementos do jazz, blues e soul estampam melodias caóticas (“Virile”) e vulneráveis (“Polly”) auxiliadas de sua interpretação notável. Letras sobre sentir-se vivo através das fraquezas particulares (“Cut Me”), até mesmo em números mais mansos e delicados (“Me In 20 Years” e “Bless Me”), rebatem o estado sentimental frágil do artista.
• Coloque para tocar: “Cut Me”
04. Waxahatchee
(Saint Cloud)
Katie Crutchfield (a.k.a. Waxahatchee) fez uma grande mudança de estilo de vida no último ano e meio: ela abandonou a bebida. É através de sua recém-descoberta de sobriedade que conecta seu som alt-country com quem realmente é. Suas composições são contos meticulosos que tratam sentimentos de solidão, amor (“Can’t Do Much”), morte, conflitos pessoais (“Lilacs”) e inquietações (“Fire”) para ganhar forma em Saint Cloud.
• Coloque para tocar: “Lilacs”
03. Jessie Ware
(What’s Your Pleasure)
What’s Your Pleasure? é um registro pop moderno que paquera o passado e resgata a euforia funk, o brilho disco, sintetizadores apurados dos anos 80 e batidas eletrônicas dos 90 em suas doze faixas. “Oh La La” emana romance e nostalgia disco groove, “Save a Kiss” é envolvida por uma eletrônica pulsante e cordas crescentes, “Mirage (Don’t Stop)” soa apropriada para uma diva da era disco e “Soul Control” traz Ware inspirada pelo “som de Minneapolis” de Prince e pela imagem das discotecas de Donna Summer.
• Coloque para tocar: “Save A Kiss”
02. Phoebe Bridgers
(Punisher)
Punisher, o sucessor de Stranger In The Alps, conta com contribuições de Conor Oberst, Nick Zinner (do Yeah Yeah Yeahs), Blake Mills e as parcerias de boygenius – Julien Baker e Lucy Dacus. O disco é construído por baladas folk rock apuradas e assombradas por lembranças do passado (“Garden Song”), ressentimentos (“Kyoto”), altos e baixos dos relacionamentos (“Savior Complex”) e despedidas amorosas (“ICU”) até deparar-se com a apocalíptica “I Know the End” e uma visão desolada (com um final catártico musicalmente) do mundo.
• Coloque para tocar: “I Know The End”
01. Fiona Apple
(Fetch the Bolt Cutters)
Fetch the Bolt Cutters, o sucessor de The Idler Wheel… (2012), é definido como “cru”, “estranho” e “de percussão pesada”. É um trabalho musical catártico e caseiro – que reflete a “artística” capa do disco e sua gravação feita no conforto do lar da artista – em que Fiona Apple lida com temas como tolerâncias e conflitos femininos (“Ladies” e “Newspaper”), julgamentos sociais (“For Her” com suas camadas vocais que soam como fofocas), relacionamentos amorosos problemáticos (“Rack of His” e “Drumset”), a própria trajetória artística (“Fetch the Bolt Cutters”) e memórias da infância (“Shameika”).
Por mais francas que as letras de Fiona sejam, elas continuam não sendo facilmente decodificadas como pura biografia. Seu vocal expressivo pode ser meloso ou carregado de raiva nos insultos de suas frases (“Under the Table”). É nessa tensão de ânimos que Fetch the Bolt Cutters liberta uma energia desafiadora.
É saliente e hipnótico em notas de piano dissonantes, mudanças repentinas de tempos, barulhos com utensílios caseiros, latidos de cachorros (devidamente creditados) e vozes em camadas. É uma jornada sentimental intensa e emocionante pela mente inquieta (“e isolada”) de Fiona Apple que faz com que a produção arquiteta de Fetch the Bolt Cutters tenha um ar inovador – um som, um arranjo, série de vocais e um conflito melódico – a ser descoberto a cada audição desta obra-prima.
• Coloque para tocar: “Ladies”, “Shameika”, “Cosmonauts” e “Under the Table”.
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