Este foi o ano de celebrar a vida pós-pandemia e o retorno às pistas de dança com nomes como Jessie Ware, Kylie Minogue, Jungle e Róisín Murphy. Adentramos no universo melancólico e poético de Sufjan Stevens, contemplando também os trabalhos de estreia de Sofia Kourtesis, de Romy e das meninas do boygenius, além de novas obras de artistas já consagrados como ANOHNI and the Johnsons, Janelle Monáe, Mitski e Lana Del Rey.
Confira os 50 Melhores Discos de 2023:
50. Niia
(Bobby Deerfield)
A cantora, compositora e multi-instrumentista Niia lança o álbum Bobby Deerfield, sucessor de OFFAIR: Mouthful of Salt, inspirado no filme ‘Um Momento, uma Vida’ (Bobby Deerfield) de 1974, estrelado por Al Pacino e ambientado no mundo da Fórmula 1. Após assistir a uma exibição privada do filme no final de 2021, a artista foi tomada por uma sensação desconhecida: ela se viu imersa em um túnel emocional, mergulhando completamente no mundo de Bobby – repleto de carros, riscos e morte – fascinada pela mitologia encenada, imaginando-se como a filha de Bobby Deerfield, durante o período em que reconstruia seu relacionamento com o pai. O registro sombrio e introspectivo, com produção de Jonathan Wilson (Angel Olsen, Father John Misty), representa uma surpreendente catarse artística ao adotar elementos de folk, psicodelia, sensibilidade do rock, synthpop (“Targa” com Ian Isiah) e retro soul, marcando uma mudança em relação ao seu estilo R&B e jazz em trabalhos anteriores. O registro aborda temas como sexualidade (“Sick in my mind”), romances (“if we don’t make it”) e autoconhecimento (“Idk what to tell my friends”), além de a artista se permite a ser mais honesta com sua própria identidade e suas relações familiares. Em “Alfa Romeo”, ela canta sobre a reconciliação do relacionamento com o pai e como ela cuidou de si mesma, resultando no pedido de desculpas gravado por ele em “A Shadow of My Past”.
• Coloque para tocar: “Alfa Romeo”
49. Kylie Minogue
(Tension)
Dois anos após o lançamento de seu álbum DISCO, Kylie Minogue apresenta o décimo sexto álbum de estúdio, Tension, uma celebração impecável da música pop com batidas de dança intensas, letras vívidas e sintetizadores sedutores. O álbum combina uma variedade de gêneros, com inspiração do eletropop em “Padam Padam”, synthpop cósmico em “Things We Do for Love”, passando pela disco house em “One More Time” e house dos anos 90 da faixa-título, pop groove em “Hands” que evoca a parceria de Doja Cat e SZA em “Kiss Me More”, euro com toque moderno da música dance de “10 Out Of 10” com Oliver Heldens e homenagens ao pop nostálgico dos anos 80 em “Hold On To Now” e “You Still Get Me High”, com um refrão de “oh, oh, oh, oh, oh” digno de um clássico de Bruce Springsteen e que caberia no repertório de Carly Rae Jepsen. Tension é uma coleção de músicas empolgantes e cortes pop sensuais, celebrando a busca desinibida pelo prazer, capturando o momento e composições pop animadas. Kylie descreve-o como uma mistura de reflexão pessoal, abandono nas pistas de dança e momentos melancólicos. Ao contrário de seus últimos trabalhos, este não segue um tema específico, mas busca a individualidade de cada canção e sua liberdade criativa.
• Coloque para tocar: “Things We Do for Love”
48. Samantha Urbani
(Showing Up)
Em Showing Up, o aguardado álbum de estreia da ex-vocalista da banda Friends, Samantha Urbani defende suas crenças e canaliza uma década de tumulto e crescimento pessoal em um irresistível pop alternativo com uma estética retrô dos anos 80 (“More Than a Feeling”), que sempre foi sua especialidade. A capacidade inata de Urbani de combinar melodias pop cativantes com experimentação audaciosa torna Showing Up uma coleção de canções fascinante. O álbum abrange diversos estilos, desde o brilho celestial da era disco em faixas como “Isolation” e “Guiding Star”, até influências estilo Jam & Lewis em “c u clear” e funk pop à la Prince na faixa-título. Com nuances que lembram Blondie da era Rapture encontrando o LCD Soundsystem, “One Day At A Time” apresenta um baixo despretensioso e sintetizadores deslizantes ao estilo Talking Heads, enquanto “Evidence”, com batidas precisas, evoca a new wave e freestyle dos anos 80 com toques de Miami Sound Machine e Nu Shooz. Showing Up é um álbum profundamente inspirador, criado nos termos de Urbani, e um testemunho do espírito de superação.
• Coloque para tocar: “One Day at a Time”
47. cabezadenego, Leyblack & Mbé
(Mimosa)
Mimosa é uma iniciativa do multiartista mineiro Luiz Felipe Lucas, também conhecido como cabezadenego, em colaboração com os beatmakers e produtores do Rio de Janeiro, Mbé e Leyblack. O projeto é um registro de arqueologia antropológica e musical que resgata a potência dos ritmos afro-brasileiros, desde o terreiro até o samba (destacando “Hmm”, como uma reformulação da clássica “Manhã de Carnaval” de Luiz Bonfá e Antônio Mariasua), passando pelo hip hop, drum ‘n’ bass e pelas diversas vertentes do funk carioca por meio de samples e construção sonora. Mesmo realizado a uma grande distância, durante a imersão em uma residência artística no Etopia Centro de Arte e Tecnologia em Zaragoza, Espanha, o resultado é um disco manifesto sobre a potência dos ritmos afro-brasileiros.
• Coloque para tocar: “Hmm”
46. IAN SWEET
(SUCKER)
Em SUCKER, o álbum sucessor de Show Me How You Disappear, Jilian Medford, a mente criativa por trás do projeto IAN SWEET, faz uma transição para um som mais centrado no indie pop, permitindo, segundo ela, ser mais criativa. O álbum apresenta uma coleção de músicas sinceras e pessoais, carregadas de desespero, vulnerabilidade e remorso. A artista demonstra sua habilidade em criar belas composições que exploram várias fases de um relacionamento (“Your Spit”, “Smoking Again”, “FIGHT”), autorreflexão (“Bloody Knees”) e autodestruição (“Emergency Contact”). As canções são enriquecidas com camadas de sintetizadores vibrantes, batidas eletrônicas, guitarras intensas e baladas no piano, tudo combinado com seu vocal doce e melancólico com o sofrimento, anseio e caos emocional enfrentados de maneira corajosa.
• Coloque para tocar: “Your Spit”
45. U.S. Girls
(Bless This Mess)
O U.S. Girls, pseudônimo da artista pop experimental e multidisciplinar norte-americana Meg Remy, apresenta um conjunto dinâmico de melodias hábeis e uma resposta artística diferenciada às complexidades da maternidade. Bless This Mess, o sucessor de Heavy Light, foi criado em conjunto com a concepção e nascimento dos gêmeos de Remy. Ele expande a paleta sonora e temática do projeto, fundindo batidas de funky disco (“Tux (Your Body Fills Me, Boo)”), baladas emotivas (“Bless This Mess”, “RIP Roy G. Biv”), a mitologia (“Only Daedalus”) e a desorientação radical da alegria (“Screen Face”, “So Typically Now”) em sons pop retrôs e inventivos através de frustrações, dores e despertares. Apesar da instrumentação e produção eclética, o álbum é um marco pessoal sobre as adaptações e transformações que a maternidade traz (“Pump” – com o sample de uma bombinha de tirar leite –, “Futures Bet”).
• Coloque para tocar: “So Typically Now”
44. Letrux
(Letrux como Mulher Girafa)
Em Letrux como Mulher Girafa, Letrux explora samples animalescos e cria um som descontraído e animado, com influência do synthpop (presente na dançante “Zebra” em parceria com Lulu Santos) e o rock dos anos 80. As letras revelam a essência da artista, que se autodenomina girafa, por meio de contrastes entre desejo e realidade (“Leões”), decepções diante de traição e falta de reciprocidade (“Hiena”), relações sensuais (“As feras, essas queridas”) e um espírito selvagem em um país insano como o Brasil (“Teste psicológico animalesco”), que revela nossos instintos animais enquanto seres humanos
• Coloque para tocar: “As feras, essas queridas”
43. Alan Palomo
(World Of Hassle)
Alan Palomo, o músico e produtor por trás do projeto Neon Indian, lança o álbum World of Hassle, seu projeto de estreia sob seu próprio nome. Esta nova fase de pop sofisticado com toques de jazz mantém viva a fascinação de Alan pela vida noturna e pelos anos 80 (“Club People”), bem como pelo cinema (“Meutrière”, com Flore Benguigui do L’Impératrice) e a cultura pop da época, numa mistura de R&B, funky, jazz, disco e yacht rock, complementadas com sons de cumbias, sintetizadores cósmicos, seções de sopro e solos de saxofone. World of Hassle é um mundo fictício que transporta os ouvintes para uma dimensão ligeiramente surreal, cheia de ansiedade e caos nostálgico. São personagens e situações representadas com traços absurdamente oníricos, como guerrilheiros da liberdade acampados em um Rainforest Cafe e referências a ‘O Exterminador do Futuro 2’ em “The Wailing Mall”, uma ex-estrela pop em decadência em “The Return of Mickey Milan”, a busca por uma festa de nudismo na praia de Ibiza na divertida eletrofunk e chillwave “Nudista Mundial ’89” (com participação de Mac DeMarco) ou o fascínio por uma mulher na balada “La Madrileña”, inspirada em Luis Miguel. É um trabalho ambicioso que cria sua própria realidade única, mas também mostra como ela se mistura com o nosso mundo real.
• Coloque para tocar: “Club People”
42. Feist
(Multitudes)
Feist lança Multitudes, seu sexto álbum solo e o primeiro desde Pleasure, de 2017. Muitas das composições foram inspiradas pelo período turbulento da maternidade e pela reflexão sobre ciclos de vida e morte – a chegada da filha adotiva e a morte súbita do pai (“Become The Earth”). As letras são cheias de ponderações sobre envelhecer e encontrar significado nas rotinas diárias (“Hiding Out In The Open”). Com uma variedade de melodias que passam por colisões percussivas (“In Lightning”), instrumentações vibrantes e intimistas, vocais sussurrados e uma serenidade quase silenciosa acompanhada de cordas, instrumentos de sopro e elementos eletrônicos sutis. À medida que elimina de suas composições qualquer tendência a esconder verdades indesejadas, a canadense lentamente segue em direção a um apanhado de canções criadas a partir de um realismo imperfeito e soberano, mas que carrega uma beleza de outro mundo em busca de um novo recomeço (“Before Forever”) e aceitação (na catártica “Borrow Trouble” e na emotiva “Songs For Sad Friends”).
• Coloque para tocar: “Borrow Trouble”
41. Tkay Maidza
(Sweet Justice)
A australiana Tkay Maidza, a primeira rapper feminina contratada pelo selo 4AD, lança o segundo álbum de estúdio, Sweet Justice, após a elogiada série de EPs Last Year Was Weird. O álbum expressa sua determinação em não se conformar e focar em seus objetivos, refletindo uma sensação de plenitude, apesar dos desafios enfrentados ao longo de sua carreira na indústria da música (“Won One”, um R&B focado nos anos 90) com faixas que abordam desde o futuro incerto (“Love and Other Drugs”) até a independência (“Ring-A-Ling”). É um álbum empoderado que não se trata de vingança, mas sim de crescimento pessoal, permitindo à artista extravasar raiva (“WUACV”) e explorar o conceito de karma (“Out Of Luck” com participação de Lolo Zouaï e Amber Mark). Após romper laços com antigos amigos, Maidza encontrou novos produtores renomados, como KAYTRANADA (“Our Way”, “Ghost!”), o canadense STINT e Flume (“Silent Assassin”) para construir uma obra eclética, melódica e criativa que mescla diversos gêneros e influências musicais contemporâneas. O registro é uma obra de amadurecimento e renascimento, no qual a artista explora seu poder inato e confiança, canalizando suas emoções em uma experiência de cura.
• Coloque para tocar: “Won One”
40. Kevin Abstract
(Blanket)
Com o fim das atividades da boyband de hip hop BROCKHAMPTON após o lançamento do álbum The Family em 2022, o cantor e rapper Kevin Abstract, cofundador do grupo, retoma oficialmente sua carreira solo com o disco Blanket. Inspirado por bandas como Sunny Day Real Estate e Modest Mouse, o artista cria um álbum que proporciona uma sensação emotiva com seu indie rock e grunge dos anos 90, combinando sensibilidade pop e R&B com guitarras lo-fi, percussão intensa, vocais alterados e letras honestas e vulneráveis que exploram memórias do passado (“Blanket”) e efêmeros com a intenção de abraçar uma nova identidade (“Running Out”) em relação ao amor, relacionamentos e sexualidade. Há momentos em que as canções são envolvidas por uma aura das produções do The Smashing Pumpkins em “Running Out”, Nirvana em “Heights, Spiders, and the Dark”, Alex G na suave “What Should I Do?” e colaborações vocais de Kara Jackson e MJ Lendermen (do Wednesday) na íntima “My Friend”.
• Coloque para tocar: “What Should I Do?”
39. Romy
(Mid Air)
Depois de seus colegas do The xx, Jamie xx e Oliver Sims, terem lançado seus trabalhos solo, agora é a vez de Romy Madley Croft – ou simplesmente Romy – embarcar nessa jornada e apresentar seu primeiro álbum, Mid Air. O trabalho celebra a vida na pista de dança, abordando temas como o amor (em “Loverher”, onde a artista expressa seu amor por sua esposa), luto (“Strong”), relacionamentos (“Weightless”, “She’s On My Mind”), identidade (“Twice”) e sexualidade. A sonoridade se afasta do minimalismo característico do The xx e explora emoções intensas por meio de músicas dançantes. É uma homenagem às boates LGBTQ+ onde Romy encontrou comunidade, liberdade e segurança. O álbum representa um momento de autodescoberta e superação, passando por dores e tristezas em direção à euforia. Mid Air conta com a colaboração de produtores como Fred again.. e Stuart Price (conhecido por seu trabalho com Madonna e Jessie Ware), além de seu parceiro de banda Jamie xx na faixa “Enjoy Your Life”, que utiliza o sample de “La Vita” de Beverly Glenn-Copeland. É uma fusão de música emocional para dançar, unindo influências de clássicos das pistas de dança com toques da música das Ilhas Baleares (“She’s On My Mind”, “The Sea”) e composição tradicional, incorporando elementos do house e trance com atrativo pop. Mid Air equilibra emoção, romance, escapismo, tristeza e melancolia de forma radiante e honesta.
• Coloque para tocar: “Did I”
38. Jessy Lanza
(Love Hallucination)
Love Hallucination marca o controle total da canadense Jessy Lanza como compositora e produtora, demonstrando suas habilidades no estúdio ao reconstruir seu som com suas canções introspectivas em temas que vão desde a agorafobia (“Don’t Leave Me Now”), autodesprezo (no mantra de “I Hate Myself”) até a realização sexual (“Marathon”). O tema central é a importância de confiar em si mesmo no momento presente e usar a intuição como bússola para guiar o álbum. Ela descreve o disco como um momento de “confiança total” após se mudar para Los Angeles e encontrar uma nova autenticidade em sua música. Love Hallucination representa o florescimento artístico de Lanza, com letras diretas e pessoais nos vocais açucarados da artista e sua eletrônica de batidas inquietas, experimentações nas linhas de baixo, sintetizadores metálicos, referências ao UK garage (“Midnight Ontario”), samples dos anos 80 (“Limbo”, “Big Pink Rose”) house dos anos 90 e R&B (“Casino Niagara”). O registro conta com produtores notáveis, como David Kennedy, que contribui com arranjos elegantes para a pista de dança, o colaborador de longa data Jeremy Greenspan (do Junior Boys) e Paul White. Love Hallucination é um álbum ousado e imediato de Jessy Lanza, o mais claro, autêntico e melhor até o momento.
• Coloque para tocar: “Midnight Ontario”
37. Jungle
(Volcano)
Produzido pelo duo londrino, composto por Josh Lloyd-Watson e Tom McFarland, o quarto álbum do Jungle apresenta uma produção inovadora e vanguardista, indo desde ritmos deslocados e complexos até sintetizadores envolventes e melodias de funk soul (“Back On 74”), resultando em um trabalho atual, porém profundamente atemporal. Desta vez, eles buscaram incluir uma variedade mais ampla de vozes no álbum e não assumem mais os papéis de vocalistas, algo que afirmam ter sido desconfortável no passado. Isso resultou em um trabalho eufórico e alegre para as pistas de dança, com homenagens a gêneros como o dancehall (“Problemz”, “Every Night”). Além de Erick The Architect (“Candle Flame”), eles se reuniram com o rapper Bas (que já havia participado do single “Romeo” de Loving In Stereo) na faixa “Pretty Little Thing”, e também contaram com talentos como Roots Manuva (“You Ain’t No Celebrity”), Channel Tres (“I’ve Been In Love”) e Mood Talk (“Don’t Play”). Ao explorar uma nova gama de gêneros e estilos musicais, as reviravoltas inesperadas de Volcano colocam o Jungle no auge de sua constante evolução.
• Coloque para tocar: “Holding On”
36. Velvet Negroni
(Bulli)
O artista norte-americano Jeremy Nutzman, a mente por trás do Velvet Negroni, apresenta o segundo disco de estúdio, o sucessor de NEON BROWN. Criado durante um período particularmente tumultuado na vida de Nutzman, que envolveu abuso de drogas, fraude bancária e um incêndio em casa, não surpreende que o material ecoasse seu estado de espírito. Suas músicas resplandecem nos experimentos sonoros com brilho pop, enquanto mistura sons eletrônicos ondulantes com rock alternativo, power pop, R&B e hip hop – como um encontro de Blood Orange, Wyclef Jean e Steve Lacy. Dado o período de sua vida em que surgiu, é compreensível que Nutzman se sentisse tenso e incerto, mas não se engane: é um trabalho profundamente realizado que gira com paisagens sonoras fragmentárias avançando cada vez mais em algum lugar que parece vigente e vital.
• Coloque para tocar: “Sinker”
35. Liv.e
(Girl in the Half Pearl)
Em seu segundo álbum de estúdio, a cantora de neo soul Olivia Williams (a.k.a. Liv.e) persegue a libertação pessoal e o perdão após um romance que a jogou para todas as direções emocionais ao longo de quatro anos. As faixas são um documento de autoexame, enquanto a artista trabalha com as realizações provocadas pela dor e lida com a dinâmica de seu papel nas relações da vida. Com base na fundação que estabeleceu no disco de estreia (Couldn’t Wait To Tell You…), Girl in the Half Pearl transparece o processo de crescimento (“Wild Animals”), perdão, amor próprio (“Find Out”) e recuperação de senso de feminilidade. Como uma versão feminina combinada de D’Angelo e Q-Tip, Girl in the Half Pearl é uma jornada sonora experimental e imersiva que mescla vocais de R&B com batidas metódicas de drum ‘n’ bass (“Ghost”), industrial (“HowTheyLikeMe!”), trip hop, efeitos cósmicos e atmosfera jazzística (“A Slumber Party?”).
• Coloque para tocar: “Ghost”
34. Julie Byrne
(The Greater Wings)
The Greater Wings, o primeiro álbum em mais de seis anos da cantora e compositora Julie Byrne, é um testemunho de paciência, determinação e coragem de se erguer após a desolação da perda. Com uma sonoridade folk suave e texturas etéreas, o álbum mergulha em atmosferas expansivas e íntimas, refletindo experiências inspiradas pela vida na estrada, períodos de isolamento e pela morte de Eric Littmann (na faixa-título), produtor do álbum anterior da artista e parte deste – o trabalho foi concluído com a participação de Alex Somers, afiliado do Sigur Rós. As canções do registro são sustentadas pelo amor (“Moonless”) e pela conexão da família escolhida (“Summer Glass”), expressos nas letras poéticas de Byrne. Seu estilo característico de dedilhar o violão, combinado com sintetizadores ambiente, piano, harpa e cordas, resultam em um som transcendente. O vocal melancólico e expressivo da artista dá vida às letras, transmitindo a amizade, a lealdade e a força vital necessárias para enfrentar momentos irrepetíveis (“Death is The Diamond”), incentivando-a a continuar vivendo e lutando.
• Coloque para tocar: “The Greater Wings”
33. Lonnie Holley
(Oh Me Oh My)
Oh Me Oh My é um álbum sofisticado e feroz que transita habilmente entre momentos agitados e de alívio. Ao contar histórias globais e pessoais que encontram beleza poética no horror, Lonnie Holley traz à tona a angustiante, solitária e injusta juventude – desde a venda por uma garrafa de uísque até o abuso sofrido numa instalação correcional para garotos (“Mount Meigs”) – embalada pelo soul, a música de raiz americana e africana e o rock de vanguarda. No entanto, a música de Holley não é apenas uma performance de dor suportada, é uma demonstração de perseverança e esperança implacável. Uma conquista tremenda numa sonoridade própria e refinamento das letras impressionistas e cheias de consciência. Com colaboradores ilustres como Michael Stipe, Sharon Van Etten, Moor Mother e Justin Vernon (Bon Iver), o registro é uma prova da habilidade de Holley como uma força iconoclasta em toda a comunidade musical.
• Coloque para tocar: “Oh Me, Oh My”
32. Indigo De Souza
(All of This Will End)
A artista de indie rock Indigo De Souza lança All of This Will End, a aguardada continuação de seu aclamado álbum Any Shape You Take (2021). O trabalho marca uma era mais ousada e calorosa para Souza, que fala sobre seguir em frente do passado para um presente cheio de gratidão, sentindo tudo a cada passo e escolhendo incorporar a consciência amorosa. Atravessando gêneros musicais, com sintetizadores e instrumentações sombrias, é um trabalho agressivo e radicalmente otimista que lida com a mortalidade, a importância da comunidade (“Smog”), de se centrar no presente e buscar o prazer nas coisas simples. Como um estudo da mente humana, as faixas são inspiradas nos momentos mais significativos da vida da artista, desde memórias de infância (“The Water”), desapontamento com uma figura paterna (“Always”) até momentos em que teve que se defender o corpo e espírito numa relação tóxica (“You Can Be Mean”, “Younger & Dumber”) que tirou tanto dela. All of This Will End é uma sessão de terapia e a obra mais verdadeira de Indigo de Souza.
• Coloque para tocar: “Younger & Dumber”
31. L’Rain
(I Killed Your Dog)
A cantora, compositora e multi-instrumentista Taja Cheek, detentora do projeto L’Rain, retorna com seu terceiro álbum, I Killed Your Dog, o sucessor de Fatigue. O álbum é descrito pela artista como uma espécie de “anti-término de relacionamento” e explora o tema universal do amor. Ele inicia uma conversa com seu eu mais jovem (“Knead Bee”), emoções de luto (“Our Funeral”) e separações (“New Year’s UnResolution”) para examinar sua relação com a feminilidade e as convenções musicais, enquanto examina sua relação com a feminilidade e as convenções musicais que vão desde o sentimental até o catártico. I Killed Your Dog trata de emoções maduras e utiliza uma sonoridade subvertida que incorpora influências de gêneros como rock (“Pet Rock” com sua aura The Strokes e Pink Floyd), a linhagem do folk como música negra nos Estados Unidos (“5 to 8 Hours a Day (WWwaG)”), jazz (“Uncertainty Principle”), hinos de Igreja (“Sometimes”) e a bagagem de Cheek em bandas experimentais. O registro é um convite a explorar as emoções profundas da vida sob a perspectiva única de L’Rain, refletindo uma prática musical que desafia categorizações disciplinares e captura a complexidade da identidade humana.
• Coloque para tocar: “Pet Rock”
30. Black Pumas
(Chronicles Of A Diamond)
Quando o Black Pumas lançou seu álbum de estreia autointitulado em 2019, o duo do Texas desencadeou uma reação quase tão explosiva e extasiante quanto sua própria música. Chronicles Of A Diamond tem o potencial de conquistar um lugar especial com suas faixas atemporais destinadas a se tornar parte da cultura norte-americana. Em vez de replicar o trabalho anterior, a banda o reinventa de maneira excepcional e expande sua paleta sonora para incluir uma deslumbrante variedade de formas musicais: híbridos celestiais de pop sinfônico e soul (“Hello”, “Mrs. Postman”), excursões alucinantes no jazz, funk, folk (“Angel”), hip hop (“Chronicles of a Diamond”), gospel (“Tomorrow”), psicodelia (“Gemini Sun”) e western spaghetti (“Sauvignon”) com arranjos refrescantes (“Ice Cream (Pay Phone)”, cuja letra interpola de forma divertida uma rima clássica de pular corda), vocais virtuosos (“More Than A Love Song”) e canções de amor apaixonadas que parecem ter vindo do cosmos numa mistura irresistível de nostalgia e inovação genuína. Chronicles of a Diamond é um álbum extraordinário, grandioso e, desde já, clássico.
• Coloque para tocar: “Ice Cream (Pay Phone)”
29. PJ Harvey
(I Inside The Old Year Dying)
I Inside the Old Year Dying é o décimo álbum de estúdio de PJ Harvey e marca seu primeiro lançamento em sete anos, após o álbum The Hope Six Demolition Project. Neste trabalho, gravado com os colaboradores de longa data John Parish e Flood, a artista constrói um universo sonoro rock artístico a partir do romance ‘Orlam’, publicado por ela em 2022. Mistura sons naturais e dialeto de Dorset em um conjunto de canções assustadoras, com arranjos meticulosos, melodias sombrias e vocais expressivos, incluindo falsetes dramáticos (“A Child’s Question, August”). Desde o mundo rural místico e personas do passado retratados em “Lwonesome Tonight” até ambientes em constante evolução (“I Inside the Old I Dying”), o trabalho é marcado pela sensibilidade poética de Harvey, com uma série de imagens e metáforas que aludem à ressurreição e evocam nostalgia da infância. Através de suas letras, cria uma atmosfera misteriosa e simbólica, fazendo referências a Shakespeare (“The Nether-Edge”), explorando elementos da natureza, deuses, monstros e humanidade (“A Child’s Question, July”). Em I Inside The Old Year Dying, Harvey abandona a realidade enfrentada em seu registro anterior em troca de uma introspecção artística, resultando em algo profundamente inspirador e libertador.
• Coloque para tocar: “A Child’s Question, August“
28. FBC
(O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA)
Após fazer sucesso com o álbum BAILE e viralizar no TikTok com a música “Se Tá Solteira”, o rapper e cantor mineiro FBC retorna com O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA. Abandonando as rimas e a relação com o funk carioca do registro anterior, o projeto musical busca inspiração em playlists de house e dance music. O artista compartilha temas e questões filosóficas e introspectivas (“DESCULPA”), a influência das redes sociais nos relacionamentos – e na busca deles (“QUAL A CHANCE?”) -, as complexidades das relações atuais (“A NOITE NO MEU QUARTO”) e a compreensão de cada indivíduo sobre si mesmo neste universo (“O QUE TE FAZ IR PRA OUTRO PLANETA?”). Combinando elementos da música funky norte-americana clássica, disco, hip house e G-funk, e unindo sua forma de cantar com a presença marcante dos metais, o registro traz com originalidade e elegância uma sonoridade pop acessível, como se houvesse uma colisão entre os universos clássicos de Jorge Ben Jor e Cazuza com o contemporâneo do Jungle e Channel Tres. Com colaborações de Abbot (“ANTISSOCIAL”, “NÃO ME LIGUE NUNCA MAIS”, “CHERRY” e “A NOITE NO MEU QUARTO”), Don L (“ESTANTE DE LIVROS”, uma mistura de literatura com rima, com referências a romances literários brasileiros e a modernidade dos relacionamentos dos tempos atuais) e niLL (“DILMA NAS REDES”, que enfatiza a crítica sobre a influência das redes sociais no dia a dia), as canções retratam sentimentos de decepção, mágoa e desprezo com uma atmosfera futurista e, ao mesmo tempo, nostálgica. FBC reflete sobre a possibilidade de uma nova vida em outro planeta (“ATMOSFERA”) e idealiza a importância do perdão e do entendimento humano, compartilhando suas visões e encontrando conexão com o público através da música. O álbum duplo conta com uma versão instrumental de todas as faixas.
• Coloque para tocar: “QUÍMICO AMOR”
27. Nation of Language
(Strange Disciple)
O trio norte-americano Nation of Language lança o álbum Strange Disciple com produção de Nick Millhiser (do LCD Soundsystem e metade do Holy Ghost!). O trabalho faz um retorno com músicas de synthpop inspiradas pelo krautrock e influenciadas pelo shoegaze e pós-punk do início dos anos 80, expandindo seu som ao incorporar instrumentos ao vivo, como bateria e guitarra, com sintetizadores melódicos e batidas cativantes que vagueiam pelo universo nostálgico de New Order e OMD, além de se apoiar em contemporâneos como Cut Copy e LCD Soundsysten. Este terceiro disco da banda foi criado para evocar amores não correspondidos (“Weak In Your Light”, “Swimming In The Shallow Sea”), experiências prolongadas de paixão (“Sole Obsession”), ciclos de notícias negativas (“Too Much, Enough”), desafios da vida (“A New Goodbye”) e conflitos internos (“Stumbling Still”). Nos três curtos anos desde seu aclamado álbum de estreia, Introduction, Presence (2020), o grupo passou de cenas locais para palcos internacionais, e sua evolução musical representou três modos distintos de se mover pelo mundo. Agora, com Strange Disciple, o álbum é centrado em músicas com grooves, linhas de baixo ousadas e vocais crescentes de Ian Devaney, evocando a sensação de explorar novos lugares e se libertar através de suas paisagens sonoras retrôs e imaginativas.
• Coloque para tocar: “Sole Obsession”
26. Jamila Woods
(Water Made Us)
Em Water Made Us, a cantora, poetisa e ativista Jamila Woods explora o significado de entregar-se completamente ao amor e sua complexa jornada. A artista abraça novos gêneros, melodias animadas e jogos de palavras hipnotizantes enquanto navega pelas emoções tumultuadas do sentimento, desde sua turbulência até seu refúgio. O registro é uma obra de arte pessoal e vulnerável, um retrato expansivo e íntimo de autorreflexão, projetado de forma astuta para refletir as diferentes fases de um relacionamento: desde os primeiros dias de cumplicidade, flerte e diversão (“Tiny Garden” com duendita e na funky “Practice” com Saba); até a negociação cuidadosa em momentos de conflito ou incertezas (no dreampop “Boomerang”, coproduzida por NAO); aceitar as pequenas coisas que atrapalham o sentimento (“Bugs” e na balada R&B “Good News”); passando pelo luto do que foi perdido (“Wolfsheep”) e as experiências adquiridas (“I Miss All My Exes”); e pela terna realização de que, no final das contas, a pessoa que se foi nunca realmente parte, mas permanece com você enquanto você se prepara para tentar novamente, renovada e em paz.
• Coloque para tocar: “Practice”
25. Bully
(Lucky For You)
Lucky For You é o álbum mais visceral do Bully, projeto de alt rock da guitarrista e cantora Alicia Bognanno, até agora. Sucessor de SUGAREGG, o álbum reflete as experiências pessoais de sua criadora, mantendo o som massivo pelo qual ela se tornou conhecida ao longo da última década. Produzido em parceria com JT Daly (PVRIS), o trabalho apresenta sensibilidade melódica contagiante e letras pessoais, abordando temas como perda, luto e sobriedade. O resultado é um álbum é urgente, que combina elementos shoegaze, punk, garage rock e hinos clássicos pelos quais o Bully é conhecido. O foco temático recai sobre a tristeza e a perda: é amplamente inspirado pela morte do cachorro e melhor amigo de Bognanno, Mezzi, num momento em que sua vida já parecia estar passando por uma metamorfose (“Lose You”, parceria com Sophie Allison, mais conhecida como Soccer Mommy). “Days Move Slow” reflete o impacto da perda de seu fiel companheiro, enquanto “All I Do” se destaca por abordar seus compromissos com a sobriedade. Já em “Change Your Mind”, temos um rock expansivo onde ela luta para preservar um relacionamento. Lucky For You é um testemunho de perseverança diante das adversidades, sejam elas grandes ou pequenas.
• Coloque para tocar: “Change Your Mind”
24. Janelle Monáe
(The Age of Pleasure)
No álbum anterior, Dirty Computer, Janelle Monáe explorou conceitos ousados, cenários de ficção científica e temáticas políticas intensas. Em The Age of Pleasure, a artista se entrega aos prazeres carnais com grooves ensolarados e fluidos, elevando o hedonismo a níveis alucinantes, além de tratar de temas de autoaceitação (“Float”), autodescoberta (“Phenomenal”) e busca pelo prazer (“Lipstick Lover”). O trabalho é influenciado por gêneros como reggae, disco, trap, sons brasileiros, amapiano, afropop, contando até mesmo com a participação de Seun, filho de Fela Kuti, e sua banda Egypt 80 em algumas faixas. O trabalho também apresenta uma série de convidados para a festa de prazeres de Monáe, como Sister Nancy no interlúdio “The French 75”, Amaarae e Nia Long em “The Rush”, a rapper e cantora Doechii em “Phenomenal”, CKay em “Know Better” e Grace Jones falando sedutoramente em francês em “Ooh La La”. Em The Age of Pleasure, não há alter egos como em registros anteriores, é apenas Monáe assumindo o papel de sua própria persona e identidade sexual.
• Coloque para tocar: “The Rush”
23. Kali Uchis
(Red Moon In Venus)
Em Red Moon In Venus, a colombiana Kali Uchis retorna com o que faz de melhor: cantar a língua do amor como poucas. Seu universo distinto e sedutor é moldado pelo soul, R&B, hip hop, jazz, pop e texturas mais experimentais. O sucessor de Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞ é uma odisseia atemporal e ardente do desejo, insatisfação, confiança e honestidade ao refletir a feminilidade divina do cosmo. No registro, a artista simboliza os diversos níveis do amor: deixando alguém com carinho (“I Wish You Roses”), atraindo novos amores para a vida (“Love Between…” – interpolando “Love…Can Be So Wonderful” do The Temprees – e “Worth the Wait” com Omar Apollo), vivendo um estado de amor legítimo (“Fantasy” com Don Toliver), aceitando o autoamor após uma desilusão (“Deserve Me” com Summer Walker) e voltando a ser confiante (“Happy Now”). O resultado é um trabalho que, como Uchis vem aperfeiçoando ao longo de seu catálogo, transcende gênero ou classificação, um reflexo puro de sua alma.
• Coloque para tocar: “Hasta Cuando”
22. Joanna Sternberg
(I’ve Got Me)
O segundo álbum de Joanna Sternberg, gravado com o veterano produtor e guitarrista de indie rock Matt Sweeney, é uma coleção bem elaborado e comovente de pop baseado em piano, com toques de folk. O som é predominantemente simples, permitindo que os vocais comoventes – que trazem à memória Joanna Newsom – e suas letras honestas e universais sobre desgosto, ansiedade, insegurança e esperança brilhem. A balada de piano “Drifting on a Cloud” expressa a euforia passageira de receber uma receita de antidepressivo pela primeira vez, enquanto “Stockholm Syndrome” retrata o colapso lento de um relacionamento amoroso condenado ao fracasso, “The Song” é uma dedicatória e um antigo amigo, e a faixa-título abraça com orgulho as próprias falhas e imperfeições como parte da identidade. Sternberg é mestre em músicas tristes e emotivas, com letras reconfortantes e acessíveis que transmitem uma devastadora e crua profundidade emocional, como revela nos versos “estou tão feliz por ter te conhecido / você me ajudou a ver o quanto eu me odeio” em “People Are Toys To You”.
• Coloque para tocar: “Stockholm Syndrome”
21. Blondshell
(Blondshell)
Sabrina Teitelbaum (a.k.a. Blondshell) é uma compositora destemida em suas composições cruas, brutais e vulneráveis. As canções que compõem o registro não apenas confrontam traumas, mas também os rasgam pela raiz, trazendo detalhes precisos a sentimentos colossais com nuances de raiva (“Tarmac”, “Kiss City”), desejos destrutivos (“Sepsis“) e relacionamentos complexos (“Dangerous”, “Olympus”). São declarações perspicazes sobre revolver seu caminho em direção à confiança, autocontrole e alívio impulsionadas por melodias faiscantes, e coros gigantes envoltos por guitarras com conotações do rock alternativo dos anos 90 e um frenesi inspirado em PJ Harvey, Liz Phair (de Exile in Guyville) e Hole (de Live Through This). O material representa para Teitelbaum a oportunidade de compartilhar livremente emoções e experiências que estiveram guardadas por anos, proporcionado ao ouvinte uma introdução inquieta de uma artista talentosa, além de um álbum de estreia triunfante.
• Coloque para tocar: “Olympus“
20. Ana Frango Elétrico
(Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua)
Ana Frango Elétrico apresenta seu trabalho mais confiante até o momento, Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, que combina sonoridades do brazilian boogie com uma atmosfera pop moderna em sua expressão musical queer. Ana explora os sentimentos sobre o amor queer, como evidenciado na faixa “Insista em Mim”, e se expõe de forma subjetiva. No entanto, o foco principal recai sobre a produção musical. O álbum é coeso e permite aos ouvintes acompanhar as experiências de Ana em diferentes gêneros musicais, incluindo R&B com influências do funk em “Dela”, art pop em “Dr. Sabe Tudo”, synth groove orquestral em “Debaixo do Pano”), indie em “Coisa Maluca”, eletrônica construída em drum machines em “Let’s Go Before Again”, além do cover brazilian boogie com traços de Nile Rodgers em “Electric Fish” e a cordas cinematográficas elegantes à la Arthur Verocai em “Nuvem Vermelha”. O álbum também incorpora seções de sopro marcantes em faixas como “Boy Of Stranger Things” para explorar temas de identidade, sexo e relacionamentos, como evidenciado em “Camelo Azul”.
• Coloque para tocar: “Boy Of Stranger Things“
19. Noname
(Sundial)
Após cinco anos do lançamento do álbum de estreia, Room 25, a rapper, poetisa e produtora Noname retorna com o álbum Sundial. Inicialmente, a artista planejava lançar um álbum intitulado Factory Baby em 2019, mas descartou esse projeto, escrevendo nas redes sociais na época que poderia até desistir da música. Com 10 faixas e duração um pouco acima de 30 minutos, o álbum mantém uma variedade de influências musicais, incluindo bossa nova, jazz, soul e hip hop, para abordar questões raciais (“black mirror”) e de identidade (“gospel?”). Além disso, o trabalho destaca sua própria vulnerabilidade (“boomboom”) e faz críticas a figuras públicas como JAY-Z, Beyoncé, Rihanna e Kendrick Lamar, devido à associação com o Super Bowl e sua celebração das forças armadas dos EUA (“namesake”). O ex-presidente Barack Obama também não é poupado por suas ações militares em “hold me down”. conta com participações especiais, incluindo aparições billy woods, Common, Jay Electronica, Eryn Allen Kane, Jimetta Rose, The Voices of Creation, Ayoni, entre outros.
• Coloque para tocar: “namesake”
18. Kah-Lo
(Pain/Pleasure)
A cantora e compositora nigeriana Kah-Lo, indicada ao Grammy pelo single “Rinse & Repeat”, lança o seu disco de estreia Pain/Pleasure. Conhecida por suas influências musicais que abrangem gêneros como afrobeats, R&B, amapiano, dance, house e pop, ela incorpora esses estilos em seu trabalho, onde se aventura e exibe suas habilidades vocais e de composição de forma impressionante. O álbum trata da busca por redenção de Kah-Lo; é uma história sobre enfrentar aqueles que a prejudicaram e sair vitoriosa apesar deles, superando obstáculos e dor em busca do prazer. As canções transmitem mensagens de amor próprio e empoderamento feminino, destacando-se pelo estilo lírico direto e destemido da artista, além de sua afinidade com produções rítmicas e dançantes. O material equilibra a dualidade da atitude ousada e, por vezes, implacável da artista com seu relato sincero e confiante (“Karma”), abordando desde relacionamentos tóxicos (“Unbothered”) até temas de respeito (“My Name”) e identidade (“GD Woman”). O álbum é uma saga de retribuição, narrando o triunfo de Kah-Lo sobre a adversidade, independentemente dos desafios e da dor enfrentados em sua busca pela gratificação.
• Coloque para tocar: “fund$”
17. Fever Ray
(Radical Romantics)
Em Radical Romantics, o Fever Ray, projeto de música eletrônica experimental liderado por Karin Elisabeth Dreijer (do The Knife), explora as lutas fundamentais do amor em diversas perspectivas através de encontros, estranhezas, família, identidade e autopreservação. O álbum carrega a sonoridade eletrônica sombria, misteriosa (“Bottom of the Ocean”) e ritualística própria de Dreijer (“What They Call Us”) com um acréscimo relevante de uma equipe de produtores talentosos, como: Vessel (“Carbon Dioxide”), Nídia (“Looking For A Ghost”) e o irmão e companheiro de The Knife, Olof Dreijer (“Kandy”, “New Utensils”), além da colaboração de Trent Reznor e Atticus Ross – ambos do Nine Inch Nails – em duas faixas, trazendo a experiência em rock industrial para “Even it Out” e “North”. Enquanto em “North” reflete sobre a difícil tarefa de distinguir as palavras das ações de uma pessoa, “Even it Out” confronta um valentão da escola do filho. Combinando novos e antigos elementos do The Knife e Fever Ray, o álbum se mantém fiel ao coração intransigente de Dreijer.
• Coloque para tocar: “Kandy”
16. Lana Del Rey
(Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd)
Did You Know That There’s A Tunnel Under Ocean Blvd é emocionalmente complexo, sexy e espiritual ao abordar temas sobre família, memórias, paixões, perda e identidade, além de religiosos – como o interlude com um sermão do pastor Judah Smith, que fala sobre amor e luxúria – em canções que variam momentos de autoconfiança (“Kintsugi”), drama e tensão (“A&W”). Com uma atmosfera como uma performance ao vivo com a artista na frente de uma orquestra, as músicas soam como que saíssem diretamente das páginas de um romance, com a sensação de Lana Del Rey no palco. O disco conta participações da rapper Tommy Genesis (em “On Peppers” com sample de “Angelina”), Jon Batiste (em “Candy Necklace”), SYML (em “Paris, Texas” em que brinca com noções românticas de fugir para a Europa), Father John Misty (na balada americana apaixonada “Let The Light In”) e o Bleachers (em “Margaret” sobre a noiva de Jack Antonoff, a atriz Margaret Qualley). Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd é divinamente cinematográfico e, talvez, o trabalho mais pessoal da artista ao proporcionar uma experiência imersiva e impactante.
• Coloque para tocar: “A&W”
15. Young Fathers
(Heavy Heavy)
O Young Fathers – de Alloysious Massaquoi, Kayus Bankole e ‘G’ Hastings – retorna com o quarto álbum de estúdio e mais uma vez reinventando-se. Escrito e gravado ao longo de três anos, o tempo mais longo de um disco do grupo, Heavy Heavy é um tour de force do trio de Edimburgo. A combinação e experimentação de estilos – com pés fincados no art-pop, hip hop, R&B, soul, rock, jazz, trip hop, punk e na música da África Ocidental (“Ululation” é toda no idioma Yoruba e harmonias espirituais de “Rice”) – servem de apoio para hinos cinematográficos e trêmulos ancorados nas lutas do dia a dia. Heavy Heavy explora sentimentos de inquietação, a jornada de realização de mentes atormentadas (“Tell Somebody”), a turbulência ambiental e econômica (“Sink or Swim”, “Geronimo”), luta política (“I Saw”, em que atacam as forças por trás do Brexit) e as dificuldades que a vida lança sobre todos. Um álbum descaradamente comovente, tenso e direto, onde testemunha-se grandes mudanças ao desafiar verdadeiros demônios.
• Coloque para tocar: “I Saw”
14. Caroline Polachek
(Desire, I Want to Turn Into You)
Desire, I Want to Turn Into You desvela o ecletismo de Polachek em sons de gaitas de fole (“Blood And Butter”, “Butterfly Net”), breakbeats, sintetizadores, coros infantis (“Billions”), violões com influências da música dos Bálcãs (“Sunset”), guitarras distorcidas, demo com risadas de um bebê (a filha do coprodutor Danny L Harle em “Bunny Is A Rider”), o encontro do popular e o experimental ao trazer Dido e Grimes (na drum ‘n’ bass “Fly To You”), mas com um foco distinto na voz eufórica e operística da artista na frente e no centro de tudo. É perceptível a relação com outros universos musicais para construir a beleza etérea de Desire, I Want to Turn Into You – como Frou Frou (“Pretty In Possible” com um gostinho de “Tom’s Diner” e “Unfinished Sympathy” do Massive Attack), Kate Bush, Björk (“I Believe”, música sobre imortalidade dedicada à SOPHIE) ou Enya (“Crude Drawing Of An Angel”) -, mas Polachek tem o dom de reverter tudo a seu favor nesta jornada ao universalizar (e revolucionar) com contextos e elementos hodiernos a própria paleta avant pop clássica. Desire, I Want to Turn Into You é um disco pop com uma perspectiva e história orientada pelo espírito sentimental e excêntrico de Polachek.
• Coloque para tocar: “Bunny Is A Rider”
13. Genesis Owusu
(STRUGGLER)
Após o sucesso de seu álbum de estreia aclamado pela crítica, Smiling with No Teeth, o cantor e rapper Genesis Owusu, de origem ganês-australiana, apresenta STRUGGLER. O álbum é inspirado na experiência de um amigo próximo que enfrentou adversidades e emergiu transformado, além da natureza caótica e absurda da vida. Influenciado por obras literárias como “O Mito de Sísifo” de Albert Camus, “A Metamorfose” de Franz Kafka e “Esperando Godot” de Samuel Beckett, o disco explora temas de lutas mentais, opressão e a força da vontade humana. STRUGGLER abrange uma variedade de gêneros musicais, incluindo synthpop (“Leaving the Light”), post-punk (“Balthazar”), rap rock (“Stay Blessed”), garage rock, funk (“Tied Up!”), disco, pop psicodélico (“That’s Life (A Swamp)”), R&B (“See Ya There” – um número sensual sobre ir para o inferno -, “Stuck To The Fan”), dub reggae (“What Comes Will Come”) e mais. A produção envolve diversos produtores com experiência em diferentes gêneros musicais, como Jason Evigan (Troye Sivan, Dua Lipa), Mikey Freedom Hart (Jon Batiste, Empress Of), Sol Was (Beyoncé), além dos produtores originais Andrew Klippel e Dave Hammer. STRUGGLER é um convite profundo para uma jornada introspectiva, uma celebração da força humana diante dos desafios da vida, além de uma exploração das próprias fontes de ansiedade e do terror existencial, mesmo diante do inevitável fim.
• Coloque para tocar: “Stay Blessed”
12. Wednesday
(Rat Saw God)
Com título alusivo ao romance de Rob Thomas de 1996 e a um episódio da série de mistério ‘Veronica Mars’, Rat Saw God é o terceiro álbum de estúdio do quinteto norte-americano Wednesday. Fundamentado num som essencialmente country rock, mas construído com ruídos shoegaze e grunge, com pedal steel distorcido e a voz de Karly Hartzman cruzando a barulheira, a banda utiliza-se de memórias da infância (“Chosen to Deserve”), passado e identidade (“What’s So Funny”), estilos de vida mundanos de outras pessoas (“Quarry”) e referências religiosas (“Bath County”) para nutrir uma obra sem filtros que é ao mesmo tempo cômica e trágica. Rat Saw God captura a luminosidade que existe na dor retratando personagens – que buscam a liberdade através do uso de drogas, álcool e sexo em lugares inapropriados – com empatia e honestidade no meio de tanta dor e trauma.
• Coloque para tocar: “Chosen to Deserve”
11. Sofia Kourtesis
(Madres)
O álbum de estreia da artista berlinense de ascendência peruana Sofia Kourtesis, intitulado Madres, apresenta uma relação comovente no centro de sua narrativa. Dedicado em grande parte à sua mãe, que enfrentou uma situação de vida ou morte quando diagnosticada com câncer, há também outra pessoa fundamental para a criação do trabalho: Peter Vajkoczy, um neurocirurgião de renome mundial que se tornou uma figura inspiradora para a artista (“Vajkoczy”). A história por trás da presença desse renomado neurocirurgião que salvou sua mãe nas notas do álbum envolve tenacidade, milagres, amor incondicional e, por fim, esperança. Madres também aborda questões de igualdade de gênero, proteção de pessoas LGBTQ+ (“Estación Esperanza”, com sample de “Me Gustas Tu” de Manu Chao), acesso a abortos seguros no Peru, as raízes culturais e responsabilidade política da artista. O álbum é voltado principalmente para aqueles que apreciam sons de house, techno, ritmos latino-americanos e afro-peruanos (“El Carmen”), combinando alegria e tristeza com melodias cativantes, batidas dançantes, sintetizadores funky e vocais suaves que adicionam um toque particular ao conjunto. Kourtesis não fala sobre o motivo real de sua saída do Peru, mas espera que sua música e palavras ressoem com outras pessoas, uma vez que sua experiência, lamentavelmente, ainda é comum.
• Coloque para tocar: “Vajkoczy”
10. yeule
(softscars)
Se no disco anterior, Glitch Princess, yeule explorou temas de libertação do confinamento corporal por meio da transformação cibernética e da música eletrônica, em softscars ela mescla sua experiência humana com sua identidade cibernética, buscando inspiração em influências de sua infância, como Avril Lavigne, My Chemical Romance e Smashing Pumpkins. O álbum marca uma nova direção para yeule, explorando texturas delicadas e arranjos etéreos, com elementos de rock alternativo (na catártica “sulky baby”), shoegaze (“dazies”), eletro rock (“cyber meat”), post-punk (“cyber meat vampy”), baladas marcantes (na biográfica “software update” e “aphex twin flame”, uma homenagem clara a Aphex Twin) e glitch pop (“softscars”, “inferno”), que destacam sua voz etérea. O projeto examina de perto a anatomia de suas feridas emocionais profundas, resultando em um trabalho vulnerável, abordando temas como tecnologia, humanidade e identidade de gênero. Em softscars, yeule amplia, aperfeiçoa e assume plenamente o controle de sua visão artística com confiança.
• Coloque para tocar: “4ui12”
09. Róisín Murphy
(Hit Parade)
Após três décadas na indústria musical, Róisín Murphy lança o álbum Hit Parade, o sucessor de Róisín Machine. Este novo trabalho foi produzido remotamente em diferentes países em colaboração com o renomado Stefan Kozalla (a.k.a DJ Koze), conhecido por sua assinatura deep house e minimal techno. O sexto álbum de estúdio da artista explora uma ampla variedade de influências musicais, experimentando sons e permitindo uma ampla gama de estilos e alternâncias de tom. Desde elementos da música disco, como os presentes em “The Universe” e “The House”, até influências de hip hop e R&B em “Two Ways”, passando pelo house em “Hurtz So Bad” e “CooCool”, com seu ambiente funky groove, além do loop soul psicodélico de “Fader”, que inclui um sample de “Window Shopping” de Sharon Jones & the Dap-Kings, e também os hinos animados de dance e pop presentes em “Free Will”, “You Knew” e “Can’t Replicate”, o registro explora uma série de temas, incluindo luxúria, amor, relacionamentos conflituosos e livre arbítrio. Hit Parade representa um novo ponto na carreira de Murphy e se destaca por sua diversidade musical, demonstrando a alegria natural e originalidade da artista, bem como sua propensão para canções únicas, características que têm sido evidentes em cada novo projeto ao longo de sua consistente carreira.
• Coloque para tocar: “You Knew”
08. Kelela
(Raven)
Raven é a tão esperada sequência da estreia, Take Me Apart, de Kelela. Um trabalho criado a partir de um processo e sentimento de isolamento e alienação. Ela emerge das marés da órbita oceânica de seu eu superior com um trabalho de reprodução contínua, explorando autonomia, pertencimento e autorrenovação com um grupo seleto de colaboradores. A dupla OCA – dos produtores Yo Van Lenz e Florian TM Zeisig – proporciona uma sonoridade etérea (“Washed Away”, “Fooley”, “Holier”), LSDXOXO entrega o universo dos clubes e pistas em peças mais dançantes (“Happy Ending”, “Contact”, “Bruises”) e Bambii com samples e breaks de gêneros diversos (“On The Run”) – além de contribuições adicionais de KAYTRANADA, BADSISTA e Mocky (os dois últimos em “Enough For Love”) -, proporcionam uma aventura e fusão de R&B libertador com música dance e ambiente. Com todo o sensualismo sonoro, visual e físico que conquistou no primeiro disco, Raven encontra Kelela mais certa e à vontade com a excepcionalidade de sua fluidez criativa, afirmação da perspectiva da mulher negra queer em meio ao apagamento sistêmico e o som da vulnerabilidade transformado em autoridade.
• Coloque para tocar: “Happy Ending”
07. Mitski
(The Land Is Inhospitable And So Are We)
Mitski descreve o álbum The Land Is Inhospitable And So Are We, uma mudança sonora significativa em relação ao seu antecessor Laurel Hell, como o mais americano ao adotar influências da música country, folk e pop dos anos 60. Combinando arranjos e orquestrações mais ricas, corais (“Bug Like an Angel”), percussão sutil, sintetizadores discretos, violão acústico e vocais poderosos, o trabalho representa uma jornada profunda pela alma humana, explorando emoções acentuadas e complexas na solidão. Suas músicas capturam esperanças, medos, amores perdidos (“Star”) e sonhos despedaçados com melodias evocativas e letras comoventes. O trabalho traz inspiração de uma variedade de fontes, desde Arthur Russell até as trilhas sonoras dos filmes de faroeste de Ennio Morricone, além de incorporar influências de artistas como Hank Williams (“The Frost”), Patsy Cline (“Heaven”), PJ Harvey (“When Memories Snow”) e Fiona Apple (na cachorrada solta, literalmente, em “I’m Your Man”). Seja confrontando a solidão (“The Deal”) ou celebrando-a para aceitar que o amor próprio é fundamental para a felicidade (“I Love Me After You”) e a única coisa que levamos desse mundo após nossa morte (“My Love Mine All Mine”), The Land Is Inhospitable And So Are We é um retrato de intensas emoções, explorando a dor e o amor em sua dualidade.
• Coloque para tocar: “Bug Like an Angel”
06. Sampha
(Lahai)
O cantor, produtor e pianista Sampha lança seu segundo álbum de estúdio, intitulado Lahai, uma homenagem ao seu avô paterno e nome do meio do artista. Em contraste com seu álbum de estreia, Process, onde explorou temas de perda e luto, desta vez ele celebra a aceitação radical e a alegria da condição humana, valorizando a jornada em si, bem como as belas e difíceis realidades de simplesmente existir. O álbum aborda temas como o tempo (“Stereo Colour Cloud (Shaman’s Dream)”, “Time Piece”) e as conexões com o passado e o futuro (“Can’t Go Back”), a paternidade (“Evidence”) e crises existenciais (“Only”, “What If You Hypnotise Me?”). O registro incorpora uma variedade de gêneros musicais, como jazz, soul, rap, dance, jungle e música da África Ocidental, criando uma intrincada tapeçaria de sons que abraçam cada tecla de piano, batida eletrônica, orquestração e voz de apoio. Com 14 faixas e colaborações de amigos e parceiros próximos, como Yaeji, Léa Sen, Sheila Maurice Grey (Kokoroko), Ibeyi, Morgan Simpson (Black Midi), Yussef Dayes, Laura Groves e Kwake Bass, Lahai representa uma exploração inovadora da imaginação de Sampha e a beleza e as duras realidades de apenas existir (“Spirit 2.0”).
• Coloque para tocar: “Can’t Go Back”
05. boygenius
(the record)
the record é o primeiro trabalho completo do boygenius, supergrupo formado pelas amigas e almas gêmeas Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus, desde o EP de estreia de 2018. O disco é uma homenagem aos relacionamentos e mistura elementos de folk, country, pop e rock, com as três artistas recebendo créditos como compositoras e vestindo suas sonoridades distintas nas músicas. O trabalho é uma exploração das emoções comuns da geração atual, com letras intimas (“True Blue”, “Letter To An Old Poet”) e honestas (“Not Strong Enough”), permitindo que o trio crie um ambiente acolhedor para trazer à tona os sentimentos mais sombrios. O boygenius equilibra momentos de puro êxtase (“$20”) a outros mais delicados (“Emily I’m Sorry”), com cada integrante carregando sua essência, mas a combinação de suas vozes garante um resultado afinado que ultrapassa a qualidade musical de suas carreiras como artistas solo.
• Coloque para tocar: “Not Strong Enough”
04. Jessie Ware
(That! Feels Good!)
Jessie Ware conquistou um público fiel com o lançamento do álbum What’s Your Pleasure?, que assim como Dua Lipa, Kylie Minogue e Roísín Murphy, elevou os ânimos durante o período da pandemia, o isolamento social e acolheu as pistas de dança despovoadas. Com That! Feels Good!, seu quinto disco de estúdio, a artista proporciona uma celebração da vida, prazer, amor próprio e liberdade, aprimorando a habilidade sonora retrô no universo do soul (“Hello Love”), R&B (“Lightinig”), disco (“Pearls”), funk (com vocais Róisín e Kylie na introdução, “Begin Again”) e pop (“Free Yourself”), com referências a artistas como Funkadelic, Chaka Khan, Donna Summer e Stevie Wonder. Com uma instrumentação elegante e poderosa nos metais da banda KOKOROKO, linhas de baixo rápidas, guitarras envolventes e cordas orquestrais sublimes, os vocais confiantes de Ware revelam a mais pura elegância e magnestimo, mesmo em momentos mais descontraídos (como em “Shake The Bottle”, a versão safada de “Ooh La La”, em que a artista canta uma série de homens de dispensou por vários motivos). É um retorno à vida normal, onde as pistas de dança estão abertas novamente (“Beautiful People”), para nos sentirmos acolhidos e livres.
• Coloque para tocar: “Begin Again”
(Praise A Lord Who Chews But Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds))
Praise A Lord Who Chews But Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds) é uma obra-prima que mistura imaginativamete gêneros musicais discrepantes, como pós-punk, dance alternativo, pop sombrio e psicodélico, rock alternativo, dark wave e nu metal. O registro apresenta uma abordagem descomedida e subversiva, permitindo Yves Tumor atingir um novo patamar artístico, em cada riff sujo e nervoso de guitarra, ruído eletrônico, som ameno de piano, batida articulada da percussão, baixo trovejante, orquestração (“Ebony Eye”) e coral ao vivo (“Heaven Surrounds Us Like a Hood”). Produzido por Noah Goldstein – conhecido por trabalhos de ROSALÍA a Kanye West -, o material expande a sonância de Yves Tumor para ver o quão ilimitada pode ser: de instantes de leveza e dinâmica ou mais intensos e sombrios. Embora pareça mais fácil e direto que seus trabalhos anteriores, como Heaven To A Tortured Mind, a autenticidade está nos detalhes aprimorados das composições e na abordagem de temas como espiritualidade (“God Is A Circle”) e amor numa qualidade destemida (“Echolalia”).
• Coloque para tocar: “Lovely Sewer“
02. ANOHNI and the Johnsons
(My Back Was A Bridge For You To Cross)
Depois de lançar álbuns aclamados como I Am a Bird Now, ANOHNI experimentou com materiais solos, como o álbum Hopelessness de 2016. No entanto, para seu projeto mais recente, My Back Was a Bridge For You To Cross, a artista se reuniu com a banda de apoio The Johnsons pela primeira vez desde Swanlights de 2010. As letras do trabalho são emocionantes e provocativas, abordando temas como perda (“Can’t”, “Sliver of Ice” inspirada numa conversa com Lou Reed antes dele falecer), desigualdade (“Go Ahead”, “Scapegoat”), negação ecológica (“It Must Change”) e o poder da Terra ao expressar suas preocupações e buscar transmitir uma consciência compartilhada que faça as pessoas se sentirem menos sozinhas. Mergulhadas em um som jazz, soul, folk, blues e rock progressivo (“Rest”), as músicas apresentam ritmos desenfreados dominados por guitarras elétricas do produtor Jimmy Hogarth (Amy Winehouse, Duffy), cordas ornamentais arranjadas por Rob Moose (Phoebe Bridgers) e refrãos poderosos que evocam nomes como Nina Simone (“Why Am Alive No?”), Marvin Gaye e outros cantores da luta pelos direitos civis. Com My Back Was A Bridge For You To Cross, a artistarevela a capacidade de articular o político e o pessoal simultaneamente, oferecendo uma visão crítica e um apelo à transformação em meio a uma realidade ameaçadora e desafiadora.
• Coloque para tocar: “Can’t”
01. Sufjan Stevens
(Javelin)
Javelin marca o retorno de Sufjan Stevens a uma abordagem mais tradicional e íntima em sua carreira solo, refletindo sobre o passado e fazendo perguntas sem respostas sobre o futuro. Depois de uma série de projetos diversificados, incluindo colaborações, trilhas sonoras de balé e um álbum de meditação lançado durante a pandemia, o artista retorna ao formato de álbum solo tradicional. Este é o seu primeiro disco verdadeiramente dedicado à composição e interpretação desde Carrie & Lowell. Cada faixa em Javelin começa de forma íntima e emocionante, com o som delicado de um violão acústico e o ritmo de um piano suave, crescendo em uma riqueza de arranjos cinematográficos, abordagens eletrônicas, trompas atmosféricas e coros angelicais. O trabalho explora temas como amor romântico (“A Running Start”, “My Little Red Fox”), sofrimento (“Will Anybody Ever Love Me?”, “Goodbye Evergreen”), términos (“So You Are Tired”), religião (“Everything That Rises”, “Javelin (To Have And To Hold)”) e autorreflexão (na épica de oito minutos “Shit Talk”) ao longo de suas dez faixas. Ele encerra com uma reimaginação da música de Neil Young (“There’s A World”), uma forma de reflexão e contemplação nos vocais frágeis de Stevens, que percebe “poder existir coisas boas no ar” após a jornada comovente e melancólica de Javelin – dedicado a Evans Richardson, seu parceiro e melhor amigo, que faleceu em abril.
• Coloque para tocar: “Will Anybody Ever Love Me?”
Playlist com as faixas selecionadas de cada disco.