Os 50 melhores discos de 2024

Do pop ao rock, do soul à música eletrônica, 2024 foi marcado pelo brilho de nomes icônicos como The Cure e Kim Deal, além das estreias impactantes de Dolores Forever e The Last Dinner Party. Charli XCX também liderou uma revolução cultural (verde BRAT), enquanto outros discos cativaram nossos sentidos. Aqui estão os 50 álbuns que mais se destacaram neste ano.

50. WILLOW
(empathogen)

WILLOW, filha de Will Smith e Jada Pinkett Smith, continua a desafiar as fronteiras dos gêneros musicais. Após explorar influências do folk e dos anos 90 em The 1st, explorar o pop experimental em WILLOW, abraçar o punk em lately i feel EVERYTHING e se aventurar pelo metal em ˂COPINGMECHANISM˃, a artista segue agora por uma nova direção alternativa. Suas composições mais recentes trazem influências de neo soul, rock e jazz contemporâneo, refletindo um profundo processo de autorreflexão e transformação (“symptom of life”), luta contra pensamentos negativos (“run!”, com uma influência de Me’Shell Ndegéocello), busca pela verdadeira identidade (“b i g f e e l i n g s”), enfrentamento de desilusões amorosas e a necessidade emocional de proximidade (em “pain for fun”, dueto com St. Vincent), além de viver com amor e confiança (“home”, parceria com Jon Batiste). A cada novo lançamento, WILLOW se consolida como uma artista completa, mantendo-se em constante transformação.

• Coloque para tocar: “b i g f e e l i n g s”

49. Rex Orange County
(The Alexander Technique)

O músico britânico Alex O’Connor, conhecido como Rex Orange County, lança o álbum The Alexander Technique, produzido por ele em colaboração com Teo Halm e Jim Reed, e com a participação de James Blake na faixa “Look Me In The Eyes”. Nomeado em referência a uma prática terapêutica usada para tratar dores nas costas e questões mais profundas, o álbum reflete essa ideia por meio de uma abordagem mais crua e confessional (“Alexander”). Misturando R&B e indie folk com sua já característica orquestração, The Alexander Technique marca o início de uma nova fase na carreira do artista, onde ele compartilha suas experiências pessoais de maneira honesta, quase como um diário musical (“Therapy”“Guitar Song”). Com uma longa duração e uma maior variedade em comparação aos seus trabalhos anteriores, o álbum captura o crescimento de O’Connor em tempo real, abordando não apenas canções de amor, mas também reflexões sobre a vida como um todo – principalmente após as acusações (já retiradas) de agressão sexual e o término de um relacionamento com sua namorada e musa inspiradora -, com um olhar nostálgico (“2008”).

• Coloque para tocar: “2008”

48. The Lemon Twigs
(A Dream Is All We Know)

O duo de indie pop psicodélico The Lemon Twigs, formado pelos irmãos Brian e Michael D’Addario, apresenta seu quinto álbum de estúdio, sucessor de Everything Harmony, reafirmando que a nostalgia das décadas de 60 e 70 continua relevante. Com influências harmônicas que remetem ao Beach Boys (como em “They Don’t Know How To Fall In Place” e “In The Eyes Of The Girl”, esta última com produção de Sean Lennon), Todd Rundgren (na faixa-título) e os Beatles (“Church Bells”), o álbum traz canções existenciais (“If You and I are Not Wise”) e românticas (“How Can I Love Her More?”) que evocam uma atmosfera atemporal em meio ao mundo digital. A Dream Is All We Know é uma celebração da era dourada do pop, misturando nostalgia com uma sensibilidade moderna em suas melodias cativantes, destacando-se como uma peça cinematográfica perdida na coleção dos grandes nomes que os influenciaram.

• Coloque para tocar: “They Don’t Know How To Fall In Place”

47. Jordana
(Lively Premonition)

Em seu quarto registro de estúdio, Lively Premonition, a artista Jordana Nye (ou simplesmente Jordana) mistura o folk de Laurel Canyon com o yacht rock, trazendo influências de artistas como Carole KingThe Mamas & The PapasThe Carpenters e Hall & Oates. Essa combinação confere ao álbum uma atmosfera retrô com um toque contemporâneo, sem perder a sensibilidade pop presente em seus trabalhos anteriores. “Like A Dog”, com seu piano marcado, sintetizadores ensolarados e baixo vibrante, adota uma sonoridade teatral ao explorar o tema da submissão à admiração de alguém, fazendo uma analogia ao comportamento de um cachorro em busca de atenção. “Multitudes Of Mystery”, por sua vez, aborda a cultura de festas e o uso de drogas nesse contexto, apresentando um groove funky com sintetizadores psicodélicos e uma interpretação vocal que remete a Daryl Hall. Já “Raver Girl” captura a atmosfera encantadora do disco, explorando os temas de paixão e desejo em meio à energia de uma pista de dança. “Wrong Love” é uma balada pop que reflete sobre a esperança em um romance, mesmo diante de sinais de desinteresse, enquanto “Anything For You” é uma canção de despedida que narra a luta para redescobrir a própria identidade após o fim de um relacionamento. Lively Premonition soa como uma obra atemporal, mesclando uma sonoridade nostálgica com a maturidade artística de Jordana ao explorar os ciclos do amor e as esperanças que persistem.

• Coloque para tocar: “Like A Dog”

46. Hinds
(VIVA HINDS)

A banda espanhola de indie rock Hinds, formada por Carlotta Cosials e Ana Perrote, superou uma série de dificuldades para lançar seu quarto álbum de estúdio. Após o lançamento de The Prettiest Curse em 2020, o grupo enfrentou o cancelamento de turnês durante a pandemia, a perda da gravadora e a saída da baixista Ade Martin e da baterista Amber Grimbergen. Ainda assim, VIVA HINDS mantém a energia vibrante que é marca registrada da banda: “En Forma” – a primeira canção inteiramente em espanhol – traz batidas pulsantes, guitarras distorcidas e vocais acelerados em um refrão potente que expressa a sensação de um ataque de pânico. “On My Own” imprime a energia espontânea e irresistível dos primeiros lançamentos do grupo, “Superstar” é um rock robusto que começa suave e delicado, antes de explodir em um grito de guerra, enquanto “The Bed, The Room, The Rain and You” mistura texturas que vão do dream pop mais onírico ao shoegaze mais denso, em uma busca constante pela presença de alguém especial. “Stranger”, com vocais de Grian Chatten (do Fontaines D.C.), e “Boom Boom Back”, que conta com a participação de Beck, também são destaques no álbum. Se, após uma série de reveses, o futuro da banda parecia incerto, VIVA HINDS é um recomeço e um novo capítulo empolgante para as meninas.

• Coloque para tocar: “Boom Boom Back”

45. James Blake & Lil Yachty
(Bad Cameo)

O cantor, compositor e produtor britânico James Blake e o rapper norte-americano Lil Yachty, conhecidos por suas abordagens inovadoras em seus respectivos gêneros, lançaram o instigante álbum conjunto Bad Cameo. Descrito como um trabalho ambiental e experimental, as vozes dos artistas, embora distintas, encontram harmonia em um registro alto similar, permitindo que os versos autotunados de Yachty se integrem perfeitamente às paisagens sonoras misteriosas e às batidas oníricas de Blake. Esse equilíbrio é evidente em faixas como a fantasmagórica “Midnight”. As letras do álbum exploram emoções profundas, a solidão e a importância de permanecer fiel aos próprios valores, como na vibrante “Twice”, que combina rimas ágeis com vocais angelicais antes de se transformar em algo etéreo, e na introspectiva “In Grey”Bad Cameo representa um passo ousado para Yachty e Blake, dois artistas que constantemente desafiam as normas da indústria e ultrapassam limites criativos.

• Coloque para tocar: “Woo”

44. Justice
(Hyperdrama)

Após quase oito anos de hiato, o duo francês de música eletrônica Justice volta com o álbum Hyperdrama, marcando um retorno ao seu som mais empolgante desde o início da carreira. Com participações especiais de Tame Impala (“One Night/All Night”“Neverender”), Miguel (“Saturnine”), Thundercat (“The End”), Connan Mockasin (“Explorer”, em uma trilha de horror que se transforma em um funk sinistro), RIMON (“Afterimage”) e o duo The Flints (“Mannequin Love”), o disco explora a estética característica de Gaspard Augé e Xavier de Rosnay. Faixas como as enérgicas “Generator” e “Incognito” apresentam ganchos melódicos cativantes, linhas de baixo funky e batidas ocasionalmente distorcidas, resultando em composições sublimes e cinematográficas. Hyperdrama é grandioso, alternando abruptamente entre músicas puramente eletrônicas e outras completamente orgânicas, produzidas por humanos, desafiando as estruturas convencionais de canções e demonstrando uma amplitude maior do que nunca. O álbum não só atende às expectativas como também enriquece a já marcante sonoridade da dupla, consolidando-se como uma obra à altura de seu icônico álbum Cross.

• Coloque para tocar: “One Night/All Night”

43. Hana Vu
(Romanticism)

A cantora e compositora Hana Vu lança o álbum Romanticism, sucessor de sua estreia Public Storage, aprofundando sentimentos de desilusão da juventude (“Care”), capturando o lamento pela impermanência dessa fase da vida (“22”) e explorando a busca por significado (“Hammer”). Diferentemente de seus trabalhos anteriores, a artista preservou uma visão singular ao evitar influências externas durante a criação de Romanticism, resultando em uma coleção unificada de músicas ricas em profundidade e intimidade. As faixas, ao mesmo tempo exuberantes e intensas (“Alone”), combinam elementos de indie rock pesado, com guitarras inspiradas nos anos 2000, a uma sensibilidade indie pop futurista evidenciada pelas camadas de sintetizadores (“Play”) e pelas instrumentações grandiosas (“Look Alive”), todas ancoradas na poderosa e ressonante voz de Vu. Segundo a própria artista, o objetivo é transmitir sua perspectiva de forma ousada, capturando a intensidade da tristeza na juventude.

• Coloque para tocar: “Care”

42. Hildegard
(Jour 1596)

Hildegard, o projeto colaborativo das artistas e multi-instrumentistas canadenses Ouri (Ourielle Auvé) e Helena Deland, retorna com Jour 1596, um álbum criado durante retiros anuais de uma semana em Quebec, composto ao longo de 1596 dias – origem do título – em contraste com os oito dias que levaram para produzir a estreia. O disco explora uma sonoridade mais expansiva, refletindo a resiliência da amizade, a alegria da colaboração e as inspirações musicais e pessoais, guiando os ouvintes de um estado contemplativo para um mais leve. Embora mantenha a essência do álbum anterior, o trabalho se afasta da eletrônica sombria ao incorporar elementos de jazz, valorizando texturas e associações musicais. “Bach In Town” estabelece uma atmosfera de reconexão, com uma sonoridade onírica e vocais suaves, refletindo sobre a incerteza de reencontrar alguém. “Cruel”, com sua instrumentação jazzística calorosa e sofisticada, apresenta versos que expressam um amor honesto e puro. “Remember Me” traz uma fragilidade nos versos sobre o valor do tempo e das conexões passadas, complementada pelos sons de harpa e pelos vocais, enquanto “Pour Your Heart Out”, com sua sonoridade jazz e boom-bap, reflete uma conexão íntima e acolhedora. Jour 1596 assegura, mais uma vez, a sintonia da dupla, explorando novos territórios e sua evolução emocional ao abordar relacionamentos e crescimento pessoal.

• Coloque para tocar: “Cruel”

41. Empress Of
(For Your Consideration)

Empress Of, a aclamada musicista reconhecida por sua capacidade de desafiar gêneros musicais e por colaborações com grandes nomes da indústria, lança seu quarto álbum, For Your Consideration, pelo próprio selo Major Arcana. Lorely Rodriguez, a talentosa artista hondurenha-americana por trás do projeto, incorpora com maestria influências de Cocteau Twins, Björk e Robyn em seu trabalho. O álbum é inspirado tanto por uma experiência pessoal de desilusão amorosa (“What’s Love”) quanto pelo glamour de Hollywood – após ter sido deixada por um diretor de cinema durante uma campanha do Oscar -, explorando temas universais como independência (“Fácil”) e desejo (“Femenine”). As colaborações com artistas como Rina Sawayama (“Kiss Me”) e MUNA (“What’s Love”) acrescentam camadas emocionais ao trabalho, que transita de forma elegante entre o inglês e o espanhol (“Preciosa”). For Your Consideration é uma celebração do amor e de sua natureza efêmera, capturando a essência da vida e dos romances em Los Angeles. O álbum revela Lorely em sua forma mais vulnerável e emocionante, consolidando seu status como uma compositora pop autêntica, sem perder suas raízes alternativas.

• Coloque para tocar: “Feminine”

40. Telenova
(Time Is A Flower)

A banda australiana Telenova, composta por Angeline Armstrong, Joshua Moriarty e Edward Quinn, estreou em 2021 após se conhecerem em um acampamento de composição. Agora, com o lançamento de seu álbum de estreia, Time Is a Flower, o grupo alcança um marco importante em sua trajetória. O trio se destaca por seu som majestoso, que combina elementos de trip hop, trance, indie, soul, pop e disco. O destaque do álbum, “Margot”, apresenta uma batida envolvente acompanhada por uma voz suave, culminando em guitarras distorcidas e ecos vocais que remetem ao new wave e ao acid pop dos anos 60. A faixa explora a figura da personagem-título, uma mulher aparentemente superficial, mas que desperta sentimentos intensos e conflitantes no narrador. Já “Preamble” traz um som psicodélico com uma abordagem mais sombria, permeada por sensações de déjà vu e introspecção. Por sua vez, “Discotheque Inside My Head” adiciona um toque funky e descontraído ao repertório, enquanto “Power” é marcada por cordas melodramáticas e uma forte influência disco. Time Is A Flower é um trabalho de pop alternativo grandioso e cinematográfico, totalmente cativante.

• Coloque para tocar: “Margot”

39. Cassandra Jenkins
(My Light, My Destroyer)

Cassandra Jenkins chegou a considerar abandonar sua carreira musical após o lançamento de seu álbum de 2021, An Overview on Phenomenal Nature, mas a recepção calorosa do público e o sucesso da faixa “Hard Drive” a motivaram a seguir em frente. Após uma turnê exaustiva, ela iniciou as gravações de My Light, My Destroyer, encontrando um novo impulso criativo com o apoio de colaboradores musicais e do produtor Andrew Lappin (L’RainYumi Zouma). Neste terceiro trabalho, a artista amplia sua paleta sonora, explorando elementos de indie, folk rock, spoken word, new age, pop e jazz. O álbum incorpora sons encontrados, como o barulho de trens, sons da natureza e conversas noturnas com sua mãe, que compartilha sua curiosidade pelo cosmos e introduz a faixa “Betelgeuse”. As letras poéticas abordam temas pessoais e universais, como a solidão (“Petco”“Delphinium Blue”), a dependência emocional e a luta contra os padrões repetitivos da vida e do amor (“Only Love”“Omakase”). My Light, My Destroyer é um lembrete poderoso para valorizar o tempo que temos na Terra, com toda a sua beleza e caos.

• Coloque para tocar: “Delphinium Blue”

38. Jamie xx
(In Waves)

Quase uma década após o lançamento de seu álbum solo de estreia, In Colour, o produtor e músico britânico Jamie xx retorna com In Waves, um trabalho desenvolvido ao longo da pandemia. Durante o período de isolamento, o artista redescobriu sua paixão pela música dance, iniciando uma jornada sonora voltada para as batidas das pistas. O álbum explora uma ampla gama de emoções, desde a intensidade da vida expressa na eletro house “Life”, com participação da sueca Robyn, até a busca por conexão em “Waited All Night”, ao lado de seus colegas do The xxOliver Sim e Romy“Dafodil”, com Kelsey Lu, a rapper John Glacier e Panda Bear (do Animal Collective), recria uma experiência romântica e mágica ao mesclar dance e soul. In Waves captura o desejo por celebração e intensidade, como em “All You Children”, com The Avalanches e um sample do poema de Nikki Giovanni, ou na vibrante “Baddy On The Floor”, com Honey Dijon. O álbum equilibra-se entre melancolia e êxtase, como em “Treat Each Other Right”, celebrando a conexão humana e o retorno à normalidade.

• Coloque para tocar: “Dafodil”

37. Nikka Costa
(Dirty Disco)

Nikka Costa, reconhecida por seu trabalho desde os anos 80 e pelo álbum Everybody Got Their Something (2001), retorna com seu nono álbum de estúdio, Dirty Disco. Após um hiato de seis anos desde seu último lançamento de originais, Pebble To A Pearl, Costa resgata suas raízes com um trabalho repleto de funk e soul envolventes e sensuais, que mistura a energia dos anos 70 e 80, influenciada por Prince e George Clinton, e acrescenta uma vibração pop contemporânea (“Keep It High”). A faixa-título é eufórica, com sintetizadores cintilantes e guitarras dançantes, onde a artista celebra a diversidade e a união através da música e da dança. O álbum segue com esse ritmo energético em faixas como “Dance ‘N Forget”, um convite para a pista de dança, e “It’s Just Love”, uma celebração do amor em suas várias formas, inspirada por uma experiência pessoal com homofobia. Em “Satellite Girl”, Nikka revisita sua fase mais roqueira da era Butterfly Rocket (1996), com um hino que incentiva as pessoas a brilhar e a serem autênticas, enquanto “Slow Emotion” mostra sua habilidade em criar baladas envolventes e sedutoras. Se “Glitter In My Eyes” é um número otimista sobre encontrar formas de se sentir vivo e conectado com os outros, apesar das adversidades, “Unsubscribe” se destaca pela sua mensagem de focar a energia nos aspectos positivos da vida, especialmente após a pandemia. Dirty Disco é um álbum animado e confiante, feito por uma artista que continua ativa e resiliente na indústria musical, pronta para agradar tanto os antigos quanto os novos fãs.

• Coloque para tocar: “Keep It High”

36. Mabe Fratti
(Sentir Que No Sabes)

A artista mexicana de art pop Mabe Fratti retorna com o seu primeiro trabalho solo desde o aclamado Se Ve Desde Aquí de 2022. Assim como em seus trabalhos anteriores, o material é influenciado por jazz, música clássica, post rock, eletrônica e outros estilos. Mabe transforma instrumentais complexos em música pop ao adicionar sua poderosa voz em espanhol, criando melodias envolventes. Desde o início, o álbum apresenta um forte senso de ritmo, destacado pelo brilhante violoncelo em “Kravitz”, que funciona como linha de baixo, acompanhada pela batida constante do bumbo. O álbum também incorpora astutas inserções de metais, assobios e outras interjeições, que pintam um quadro vívido de uma cidade em movimento. Cheio de sensibilidade pop moderna, ele reinterpreta sons do passado para o presente, com momentos que remetem a filmes de terror dos anos 1970 (“Kitana”) e ao pop dos anos 80 (“Pantalla Azul”). As letras, com suas pausas e recomeços, exploram as pequenas emoções da vida cotidiana, a distância emocional (“Enfrente”), o impacto psicológico do capitalismo (“Oídos”) e a busca por paz e beleza em um mundo desorientado. Mabe Fratti expressa um anseio espiritual por meio de metáforas pessoais e sua jornada sonora distorcida e cinematográfica.

• Coloque para tocar: “Oídos”

35. St. Vincent
(All Born Screaming)

Annie Clark (a.k.a. St. Vincent) lança seu sétimo álbum de estúdio, sucessor de Daddy’s Home e o primeiro inteiramente produzido por ela. All Born Screaming representa sua expressão mais visceral, explorando a desolação espiritual e a aceitação extática, ao refletir a ideia de nascer gritando como um sinal positivo de vida e protesto. A faixa de abertura, “Hell Is Near”, é um número etéreo e melancólico que evoca uma combinação entre David Bowie e Zero 7, em contraste com “Reckless”, uma balada sombria ao piano que evolui para intensas batidas industriais. “Broken Man” traz o lado mais roqueiro e grunge de Clark, com versos que funcionam como um mantra hipnótico; “Big Time Nothing” é um funk que explora a autonegação; “Flea” apresenta um groove poderoso de rock, inspirado em Yes e com a percussão estrondosa de Dave Grohl, abordando um relacionamento obsessivo e possessivo. Já “Sweetest Fruit”, com seus arpejos extravagantes de sintetizadores, presta homenagem à artista SOPHIE, enquanto “So Many Planets” adota uma vibe tranquila com influências de ska. Por fim, “Violent Times” soa como um possível tema de James Bond reimaginado por St. Vincent. All Born Screaming é um disco que aborda vida, morte e amor, descrevendo o nascimento como um ato de protesto e celebração, além de refletir que o fim da vida é, na verdade, apenas um novo começo.

• Coloque para tocar: “Broken Man”

34. Laura Marling
(Patterns in Repeat)

Laura Marling apresenta Patterns in Repeat, um álbum escrito após o nascimento de sua filha em 2023, refletindo sobre sua experiência como mãe e explorando profundamente as ideias e comportamentos transmitidos através das gerações na família. Quase inteiramente acústico, sem percussão e com sutis toques orquestrais, este é o trabalho mais focado, sutil e preciso de sua carreira. “Child of Mine” é uma balada folk intimista e acolhedora, marcada por violão delicado, suaves orquestrações e os vocais calorosos de Marling, que canta sobre o amor protetor de uma mãe por sua filha. “Patterns” reflete o ciclo contínuo da vida e das gerações, enquanto a afetuosa “No One’s Gonna Love You Like I Can” aborda a conexão entre Marling e sua filha recém-nascida. Em “The Shadows”, com violão inspirado pela música espanhola e uma atmosfera melancólica, a artista lamenta a perda de alguém importante e reflete sobre a memória que atravessa as gerações. “Looking Back” (composta pelo pai de Marling durante sua juventude) traz uma reflexão sobre o envelhecimento e a nostalgia, enquanto “Lullaby” é uma doce canção de ninar dedicada à sua filha. Patterns in Repeat revela não apenas a intimidade metafórica de seu conteúdo, mas também uma proximidade física e emocional, já que a filha da artista esteve frequentemente presente durante as sessões de gravação.

• Coloque para tocar: “No One’s Gonna Love You Like I Can”

33. Christopher Owens
(I Wanna Run Barefoot Through Your Hair)

I Wanna Run Barefoot Through Your Hair é o terceiro álbum solo do cantor e compositor Christopher Owens, ex-integrante da banda Girls. Após perder seu companheiro de banda e ex-colega Chet ‘JR’ White – em um acidente de moto -, enfrentar períodos de falta de moradia e lidar com vícios, o artista deixou São Francisco e se mudou para Nova Iorque. Na intimista “This Is My Guitar”, Owens reflete sobre a música como forma essencial de expressão e resiliência frente à solidão e à dor. Já em “I Think About Heaven”, com sua melodia ensolarada, guitarras suaves, sons de bongôs e vocais delicados, ele explora questões sobre fé e vida após a morte. Canções como a balada de influência blues rock “Beautiful Horses” e a faixa de pegada country “Distant Drummer” oferecem vislumbres de otimismo, embora esses momentos sejam fugazes. “No Good” traz uma sonoridade de garage rock marcada por explosões de alta energia, acompanhando o vocal vulnerável de Owens, que expressa a dor e a desilusão após o término de um relacionamento. Por outro lado “Two Words”, com suas guitarras reverberadas, aborda a tristeza de se sentir usado em um relacionamento, mas revela um desejo genuíno de felicidade para o outro, mesmo reconhecendo que o sofrimento é fruto de escolhas próprias. Encerrando o álbum, “Do You Need A Friend” interpola a clássica “It Must Have Been Love”, do Roxette, com uma mensagem otimista sobre a importância de buscar conexões e superar o passado para redescobrir a felicidade.

• Coloque para tocar: “This Is My Guitar”

32. Céu
(Novela)

Céu retorna com o primeiro álbum de inéditas desde APKÁ!, apresentando Novela. Produzido em parceria com Pupillo e o norte-americano Adrian Younge, o trabalho traz um olhar sobre a vida, celebra encontros e explora os infinitos prismas do amor. Suas composições transitam por temas políticos, como em “Reescreve”, que questiona a visão eurocêntrica nos livros de História do Brasil, e pessoais, como “Gerando na Alta”, inspirada no sambalanço de Força Bruta, gravado por Jorge Ben Jor com o Trio Mocotó, com a participação da artista franco-senegalesa anaiis. O álbum também aborda o romantismo em faixas como “Crushinho” e “Corpo e Colo”, esta última composta por Kleber Lucas e Nando Reis, além de trazer reflexões pós-pandemia, como em “Lustrando Estrela”. Cantadas em português e inglês, as músicas mergulham na psicodelia dos anos 70, samba, reggae, jazz e soul, com arranjos elegantes que remetem à sofisticação de Arthur Verocai. Em “Into My Novels”, com a participação de Loren Oden, Céu reflete sobre a teledramaturgia da vida cotidiana, onde não existem câmeras ou roteiros predefinidos. Novela combina diversos gêneros musicais e reafirma o compromisso de Céu com a riqueza e a diversidade da música brasileira.

• Coloque para tocar: “Corpo e Colo”

31. Vampire Weekend
(Only God Was Above Us)

Only God Was Above Us, o quinto álbum de estúdio do Vampire Weekend, é inspirado e impregnado pela essência de Nova Iorque, cidade natal da banda, embora tenha sido gravado ao redor do mundo, passando por Nova Iorque, Los Angeles, Londres e Tóquio. O álbum revisita a carreira da banda em vez de explorar novos territórios, trazendo de volta os riffs rápidos e distorcidos de guitarra, pianos arpejados, corais e elementos da música pop africana e clássica. Produzido por Ezra Koenig e pelo colaborador de longa data Ariel Rechtshaid (HAIM, Charli XCX, Sky Ferreira), o álbum aborda temas universais, como o impulso de questionar o mundo em que vivemos, permeado por um sentimento de alienação (“Capricorn”) e desajuste social (“Gen-X Cops”). “Mary Boone” apresenta uma batida de hip hop, com um sample de “Back to Life (However Do You Want Me)” do Soul II Soul. Já o indie pop vibrante de “Classical” traz um balanço que remete a “Walk on the Wild Side”, ao refletir sobre a natureza da mudança e da permanência na história, enquanto os fragmentos abstratos de piano em “Connect” transitam entre o jazz e a composição neoclássica. O álbum é ao mesmo tempo direto e complexo, revelando uma admirável maturidade e experimentação por parte da banda.

• Coloque para tocar: Classical

30. Geordie Greep
(The New Sound)

O álbum de estreia solo de Geordie GreepThe New Sound, oferece um pop alternativo divertido e de alta qualidade, com influências de samba e bossa nova em faixas como em “Terra”, equilibrando o avarento e o brilhante. Greep, membro da black midi, revela que a gravação deste álbum foi a primeira vez em que não precisou dar satisfações a ninguém, destacando a liberdade criativa que experimentou. O álbum contou com mais de trinta músicos e foi gravado em dois continentes, com metade das faixas registradas no Brasil, ao lado de músicos locais, em um processo rápido e espontâneo. Musicalmente, o trabalho traz influências de Frank ZappaFrank Sinatra e Scott Walker, e a faixa-título instrumental mistura jazz funk com elementos que poderiam facilmente acompanhar trilhas sonoras de séries ou musicais. As faixas variam de sussurros a gritos, sempre com um toque dramático e teatral. As histórias abordam temas de desespero e fantasia, com personagens imersos em situações bizarras, como canibalismo e o nascimento de uma cabra. O álbum também captura a vida urbana, ambientado em cafés, bares e museus excêntricos, unindo paródia e sermão. A música “Holy Holy” traz uma fantasia romântica com acordes indie e uma banda latina vibrante. Greep planeja continuar com essa abordagem experimental, usando músicos e locais diferentes em seus próximos projetos, ressaltando que nada será igual com ele no comando.

• Coloque para tocar: Holy Holy

29. Brittany Howard
(What Now)

No seu segundo álbum solo, sucessor de Jaime, a cantora e compositora Brittany Howard reflete sobre a incerteza do mundo atual. Conhecida por ser a líder da banda de blues rock Alabama Shakes, ela explora temas como relacionamentos, cura e autoconhecimento, enquanto todos tentam preservar suas almas em meio a um mundo cada vez mais extremo. What Now é uma emocionante e versátil exploração musical que transita entre o jazz (“Earth Sign”), R&B, neo soul (“I Don’t”), house (“Prove It To You”) e metal. Com um tom de maturidade e autoconfiança, Howard apresenta vocais etéreos em canções melancólicas (“To Be Still”), esperançosas (“Another Day”) e variações do amor (“Red Flags” e “What Now”, que soa como uma colaboração dos sonhos entre Chaka KhanFela Kuti e Prince). Com colaborações inspiradoras de sua talentosa banda e do produtor Shawn Everett (Kacey MusgravesSZA), Brittany abraçou a espontaneidade no processo criativo, permitindo que a música evoluísse de forma natural. O álbum é introspectivo e expansivo, escapando de classificações de gênero e expressão específica, destacando-se pela sua qualidade e ambição.

• Coloque para tocar: “What Now”

28. Waxahatchee
(Tigers Blood)

Em Tigers Blood, Katie Crutchfield (a.k.a. Waxahatchee) se afirma como uma poderosa contadora de histórias, abordando temas como relacionamentos, a luta pela sobriedade, inseguranças e autoaceitação com uma honestidade brutal, revelando percepções profundas e sem restrições. Embora seu som tenha evoluído do folk lo-fi para o country alternativo, em uma direção que remete ao repertório de Lucinda Williams, sua voz manteve-se inalterada: honesta, poética e marcada por um sotaque sulista. “Right Back To It” é uma faixa inspirada nos clássicos duetos de country, onde Crutchfield divide os vocais com MJ Lenderman para explorar paixão, insegurança e o desejo de preservar a conexão, capturando a complexidade dos relacionamentos duradouros. Já “Bored” traz um country rock descontraído em que Crutchfield expressa tédio e descontentamento, refletindo sua frustração com a vida e suas próprias limitações. Em “Evil Spawn”, ela expõe suas dúvidas sobre a trajetória na música e as incertezas em relação ao futuro, enquanto “Ice Cold” combina o country com grooves de rock, acompanhado por sua voz tensa que reflete uma batalha interna entre emoções conflitantes, desilusão e a busca por propósito. “365” é uma balada delicada que se destaca pelos dedilhados de guitarra, o órgão suave e os vocais emocionados de Crutchfield, que abordam o tema da codependência. Após anos de sobriedade e estabilidade, Crutchfield atinge seu auge como compositora, entregando-se à exploração de sua jornada pessoal de forma profunda e autêntica.

• Coloque para tocar: “Right Back to It”

27. Fontaines D.C.
(Romance)

Fontaines D.C. passou por uma transformação radical em sua abordagem após os três primeiros álbuns aclamados pela crítica. Eles se despediram do produtor Dan Carey e trouxeram James Ford, colaborador do Depeche Mode e Arctic Monkeys, para abrir novos horizontes para o grupo. A sonoridade garage e post-punk dos trabalhos anteriores dá lugar a um rock grandioso e cinematográfico, enquanto as composições exploram o conceito de amor em um mundo caótico, afastando-se das referências musicais e culturais da Irlanda. A faixa de abertura cria uma atmosfera ameaçadora, refletindo o tema central: a aceitação das possibilidades e limitações do romance. A instrumentação é rica e texturizada, com guitarras distorcidas, linhas de baixo pulsantes e sintetizadores imersivos. Grian Chatten, o vocalista, mantém sua intensidade e entrega letras poéticas e sombrias, como em “Death Kink”, que trata de um relacionamento abusivo, e em “Bug”, que reflete sobre seu afastamento de uma situação dolorosa e a sensação de ter sido deixado para trás. Faixas como “Starburster”“In the Modern World” e “Favourite” se destacam, com arranjos diversos que transitam do rock ao synthpop e shoegaze, sempre com uma abordagem moderna. Romance é descrito como niilista, mas ao mesmo tempo romântico, mostrando que, apesar da escuridão, a banda, em sua identidade renovada, ainda acredita no poder do amor.

• Coloque para tocar: “Starburster”

26. The Smile
(Wall Of Eyes)

No álbum Wall Of Eyes, o sucessor de A Light For Attracting Attention e que precede Cutouts, publicado no segundo semestre de 2024, o The Smile cria uma experiência envolvente e poderosa, com músicas exuberantes que se desenvolvem lentamente, criando uma atmosfera vigorosa que se intensifica ao longo do disco. As faixas são lindamente devastadoras, com momentos de beleza sublime, enquanto Jonny Greenwood e Thom Yorke, membros do Radiohead, combinam elementos familiares do som lendário da banda com novas explorações sonoras, ao lado do baterista Tom Skinner. O álbum marca a troca do produtor de longa data Nigel Godrich por Sam Petts-Davies (que trabalhou com Yorke na trilha sonora de ‘Suspiria’ de 2018), o que lhe confere um caráter mais sombrio, mas mantém a inventividade nos arranjos primorosos da London Contemporary Orchestra (“Read The Room” e “Under Our Pillows”). De acústico a eletrônico, Wall of Eyes apresenta uma sonoridade texturalmente coesa, com momentos como “Teleharmonic”, uma composição sobre o passado e a busca por um propósito, a fantasmagórica faixa-título, a progressão jazzística e os acordes de piano que evocam os Beatles em “Friend Of A Friend”, e Bending Hectic”, uma odisseia que atravessa diferentes estilos musicais, evocando um acidente de carro nas curvas perigosas das montanhas italianas, culminando em um solo fantástico de Greenwood. O resultado é um projeto paralelo de três músicos com ideias distintas que se encaixam perfeitamente, estabelecendo-se como uma força da natureza por si só.

• Coloque para tocar: “Bending Hectic”

25. Doechii
(Alligator Bites Never Heal)

A rapper e cantora Doechii lança a mixtape Alligator Bites Never Heal, sucessora do EP she / her / black bitch, pelo selo Top Dawg Entertainment. No trabalho, a artista explora uma ampla gama de influências, que vão do funk em “BOILED PEANUTS” e as harmonias de soul em “HIDE N SEEK” até a cultura ballroom em “NISSAM ALTIMA”, a bossa nova em “BEVERLY HILLS” e o hip hop dos anos 90 em “DENIAL IS A RIVER”. Combinando rimas inteligentes, fluxos dinâmicos e momentos em que revela suas habilidades vocais em faixas de R&B como “WAIT” e “PROFIT”, Doechii aborda temas provocativos e divertidos, como seus relacionamentos amorosos, saúde mental, carreira, uso de substâncias e autoestima, sempre com uma perspectiva honesta e autêntica. Alligator Bites Never Heal revela a versatilidade de Doechii, com um estilo que carrega influências de André 3000, Missy Elliott e Erykah Badu em sua interpretação. Sua sonoridade eclética, que flutua entre rimas intensas e baladas introspectivas, solidifica sua posição como uma artista completa, pronta para se tornar um dos grandes nomes da cena musical.

• Coloque para tocar: “NISSAN ALTIMA”

24. Jessica Pratt
(Here in the Pitch)

No seu quarto álbum, a cantora Jessica Pratt expande o horizonte de sua música, colocando suas composições mais afiadas até agora dentro de uma gama de influências que incluem jazz (“World on a String”), bossa nova (“Get Your Head Out”, “By Hook or by Crook”), melancolia folk (“The Last Year”), orquestrações pop dos anos 60 (“Life Is”) e o som característico dos anos 70 de Laurel Canyon (“Better Hate”). Com instrumentações delicadas e produção lo-fi, Pratt canta sobre sentimentos de incerteza e insegurança em relação à vida, a crença no poder do amor para superar desafios e a busca por uma confiança, mesmo que momentânea. Here in the Pitch é um trabalho fascinante que marca um ponto culminante na carreira de Pratt e evidencia sua habilidade excepcional como compositora e intérprete.

• Coloque para tocar: “World on a String”

23. Kim Gordon
(The Collective)

Kim Gordon apresenta seu segundo álbum solo, The Collective. O material dá continuidade à sua estreia solo em 2019, No Home Record, e mantém a colaboração com o produtor Justin Raisen (Yeah Yeah Yeahs, Yves Tumor), com produção adicional de Anthony Paul Lopez. O álbum mistura momentos de ritmo pulsante com atmosferas desconcertantes, avançando na criação de um universo sonoro único. A obra mescla bases distorcidas e explosivas de dub e hip hop com colagens intuitivas de palavras e mantras hipnóticos de Gordon, abordando temas como alienação moderna, consumismo e masculinidade tóxica. Em “BYE BYE”, a batida trap, os sintetizadores distorcidos e as guitarras abrasivas criam um clima angustiante, acompanhando versos que mais parecem uma lista de compras e outros itens aleatórios. Já em “I’m A Man”, construída sobre uma sonoridade sombria e intensa, com guitarras pulsantes e batidas cortantes, Gordon reflete sobre a “masculinidade tradicional” e o papel do capitalismo em seu declínio. Em “Shelf Warmer”, a alienação tecnológica e o desejo de conexão humana são os temas centrais. “Dream Dollar”, com sintetizadores marcantes, batidas eletrônicas explosivas e guitarras ruidosas que se desintegram para um final minimalista, explora a obsessão por dinheiro e sucesso, em meio a uma sensação de perda e incerteza. The Collective é uma jornada sonora intensa e desoladora, que busca expressar o caos do presente, com uma sensação de urgência e desconforto.

• Coloque para tocar: “Dream Dollar”

22. 070 Shake
(Petrichor)

A rapper e cantora Danielle Balbuena (a.k.a. 070 Shake) apresenta Petrichor, seu terceiro álbum de estúdio, um trabalho carregado de intensidade emocional e produção audaciosa. O projeto combina sintetizadores sombrios, guitarras elétricas, melodias cativantes e uma profunda introspecção existencial. A faixa de abertura, “Sin”, começa com acordes marcantes de piano e uma performance intensa de Balbuena, evoluindo para solos de guitarra e batidas impactantes, explorando temas como amor, perda e renovação em meio à desilusão. “Elephant” apresenta uma sonoridade sombria com toques de pop dos anos 80, refletindo os altos e baixos de um relacionamento conturbado. Já “Pieces of You” se destaca com uma eletrônica crua que captura a dor de um relacionamento desgastado. “Vagabond” aposta em arranjos cinematográficos com cordas e solos de guitarra intensos, enquanto “Winter Baby / New Jersey Blues” revisita o rock clássico dos anos 50, lembrando Buddy Holly, e incorpora elementos retrô dos anos 60, com guitarras e percussão que expressam o desejo de reconexão. “Song to the Siren”, um cover sombrio de Tim Buckley que segue os passos da versão do This Mortal Coil, conta com as participações especiais de Courtney Love e Melissa Auf der Maur, marcando a primeira colaboração das duas desde o Hole“Into Your Garden”, uma parceria etérea com JT, do City Girls, começa com um piano clássico e evolui para guitarras e batidas enérgicas. Por fim, a esperançosa “Never Let Us Fade”, com a participação da cantora country Cam, revela-se uma balada pop poderosa sobre memória e o desejo de nunca deixar um vínculo especial desaparecer. Petrichor consolida 070 Shake como uma das artistas mais visionárias da atualidade, apresentando um álbum que é ao mesmo tempo ousado e legítimo.

• Coloque para tocar: “Elephant”

21. Father John Misty
(Mahashmashana)

Father John Misty lança seu sexto álbum de estúdio, Mahashmashana. O título faz referência a um termo que simboliza o espaço onde os corpos são cremados, representando a transitoriedade da vida e o ciclo de morte e renascimento. A obra se apresenta como um espaço de reflexão, além de estar ligada a práticas espirituais profundas e rituais fúnebres. As músicas, marcadas por arranjos cinematográficos e influências de jazz, psicodelia e orquestrações, criam atmosferas densas e cheias de camadas emocionais. A faixa-título, um épico de nove minutos, abre o álbum com um rock harmonioso, repleto de cordas e saxofones inspirados nos anos 70, trazendo versos que retratam a decadência e a busca por redenção em meio ao amor, à perda e a revelações espirituais. Já “She Cleans Up” apresenta um rock inspirado no blues, remetendo ao estilo de The Black Keys e St. Vincent“Josh Tillman and The Accidental Dose” revela a identidade real de Father John Misty e faz referência à sua experiência pessoal com o tratamento da ansiedade por meio de LSD, destacando uma percepção alterada da realidade, sustentada pelo barítono do artista sobre cordas grandiosas. “Mental Health”, com arranjos de jazz e letras diretas, explora temas como insanidade e aceitação pessoal. Por sua vez, “Screamland” é uma balada épica com cordas magistralmente executadas, guitarra reverberada de Alan Sparhawk (do Low), pianos delicados e o vocal emocionante de Tillman. A faixa aborda temas como esperança, desilusão, amor e fé, em meio a uma sensação de derrota e alienação. “Summer’s Gone” é uma balada imersiva, na qual o artista reflete sobre a perda da juventude e da inocência, a frustração com o passar do tempo e a mudança inevitável. Mahashmashana revela o amadurecimento e a sensibilidade de Tillman, que substitui o habitual sarcasmo por uma profunda introspecção. O álbum apresenta faixas longas e variadas, equilibrando o épico e o íntimo, e encontra liberdade na incerteza e na dualidade das experiências humanas.

• Coloque para tocar: “She Cleans Up”

20. Jack White
(No Name)

Após uma série de experimentações em seus trabalhos solo anteriores, em seu sexto disco de estúdio, No Name, o cantor, produtor e guitarrista Jack White resgata o estilo explosivo e direto do White Stripes, entregando um rock de garagem incendiário e áspero, com influências de blues, mas sem pretensões artísticas sofisticadas em sua finalização. “Archbishop Harold Holmes” é um rap rock de versos cínicos, onde o músico interpreta um pregador prometendo uma bênção financeira especial à sua congregação. Já “Bombing Out” se revela como um country punk, em que Jack cita a letra de “A Change Is Gonna Come”, o icônico hino do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. Por sua vez, “Underground” é um country rock que expressa o desejo de compreender e se conectar com o que está oculto ou além do alcance da compreensão comum. “Number One With A Bullet” é um rock pesado que aborda a busca por conhecimento e informação como ferramentas para superar medos e limitações. Por fim, a soul rock “It’s Rough on Rats (If You’re Asking)”, com influências de Jimmy Page, reflete sobre as dificuldades e injustiças do mundo. Com este retorno às suas origens, Jack White carrega a bagagem de todas as suas bandas – do The White Stripes ao The Raconteurs – provando que ainda mantém intacta sua essência artística espontânea.

• Coloque para tocar: “That’s How I’m Feeling”

19. Adrianne Lenker
(Bright Future)

Bright Future marca o primeiro álbum de Adrianne Lenker, do Big Thief, desde songs e instrumentals de 2020. O trabalho conta com a coprodução de Philip Weinrobe e as contribuições de Nick Hakim, Mat Davidson e Josefin Runsteen. Gravado de forma analógica, o projeto começou como um experimento colaborativo, mas acabou se transformando em uma prova de que o coração de Lenker voltou repleto de emoções, levando-a a explorar o desconhecido. A íntima “Real House”, uma meditação no piano, reflete sobre as fantasias da infância, enquanto “Sadness As a Gift”, com suas guitarras suaves e vocais que evocam um sentimento de tristeza e otimismo, reconhece o fim de um relacionamento. A delicada “Free Treasure”, reforçada por vocais duplos e um violão dedilhado, celebra um relacionamento baseado em compreensão, paciência e amor incondicional. “Fool” é uma balada guiada por uma guitarra acústica, cordas sutis e os versos de Lenker, que expressam o sentimento de ser uma tola ao refletir sobre relacionamentos e conexões familiares. “Ruined” trata da vulnerabilidade e da dependência emocional, e “Evol” é uma meditação sobre a angústia inerente ao amor. O álbum também inclui uma versão intimista de “Vampire Empire”, do Big Thief, que revela um amadurecimento na narrativa, com uma abordagem mais reflexiva e madura. As gravações ao vivo capturam um momento de familiaridade musical, enquanto as composições reafirmam Lenker como uma das grandes compositoras da música folk contemporânea.

• Coloque para tocar: “Fool”

18. Billie Eilish
(HIT ME HARD AND SOFT)

HIT ME HARD AND SOFT, o terceiro disco de estúdio de Billie Eilish, permaneceu um mistério até o momento de seu lançamento. A artista optou por não lançar nenhuma das 10 faixas como single, desejando que seus fãs experimentassem o projeto em sua totalidade. “SKINNY” é uma balada introspectiva construída em torno de uma guitarra dedilhada, que evolui para uma elegante orquestração, abordando questões existenciais. O dinâmico funk synth-rock “LUNCH” explora temas de identidade, utilizando o sexo como metáfora para comida, ao retratar uma garota irresistível e sedutora que Billie deseja “devorar”. “CHIHIRO” começa suave, mas se intensifica com sintetizadores e batidas de house, lembrando produções do Daft Punk, para expressar sentimentos de perda e busca de reconciliação. Já “BIRDS OF FEATHER” é uma declaração de amor radiante, com uma sonoridade pop pura, e “THE GREATEST” lamenta um amor que se acreditava ser incondicional. “L’AMOUR DE MA VIE” transita de uma balada melancólica para uma explosão de sintetizadores oitentistas e vocais distorcidos, explorando as complexidades de um romance turbulento e a eventual libertação emocional. Por sua vez, “THE DINER” resgata a atmosfera gótica do álbum When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, enquanto “BLUE” descreve o fim de um relacionamento com mudanças habilidosas de ritmo e vocais emocionantes. Em HIT ME HARD AND SOFT, Billie Eilish reafirma seu lugar como uma das artistas mais criativas do pop contemporâneo, demonstrando maturidade como compositora e coragem ao ser honesta com seus sentimentos.

• Coloque para tocar: “CHIHIRO”

17. Becky and the Birds
(Only music makes me cry now)

O álbum de estreia de Becky and the Birds, projeto da artista e produtora sueca Thea Gustafsson, é uma verdadeira obra de arte, repleta de criatividade e expressão emocional. Com letras profundas que abordam sentimentos de desespero, paixão e vulnerabilidade, o disco se destaca pelo uso de uma ampla variedade de samples captados do cotidiano – desde demos antigas e gravações de telefone até sons urbanos naturais. Essa combinação única resulta em uma sonoridade experimental que une pop etéreo, neo soul e elementos de música eletrônica, criando uma atmosfera singular e carregada de emoções intensas. Faixas como “Everything”, com sua energia vibrante ao expor a falta de reciprocidade em um relacionamento, “Anymore”, uma balada atmosférica sobre superação emocional e reencontro consigo mesma após uma relação tóxica, e “To trust you”, mais melancólica e vulnerável ao revelar a falta de confiança no parceiro, evidenciam o alcance emocional comovente de Gustafsson. “When she holds me” traz vocais envolventes e uma produção atmosférica que traduz a sensação de apego e perda, enquanto “I made my baby cry”, escrita após um término de relacionamento e inspirada na intensidade emocional das primeiras produções de Bon Iver, expressa a dor de ver o sofrimento da outra pessoa. A abordagem inovadora de Gustafsson, que combina elementos eletrônicos, vocais modificados e batidas fragmentadas, enriquece ainda mais as composições, proporcionando uma experiência sonora encantadora. Only music makes me cry now transcende rótulos e consolida Gustafsson como uma artista única, transformando sua vulnerabilidade em uma fonte poderosa de inspiração criativa.

• Coloque para tocar: “I made my baby cry”

16. Clairo
(Charm)

A artista de indie pop Claire Cottrill (a.k.a Clairo) apresenta seu terceiro álbum de estúdio, coproduzido por Leon Michels (The Dap-KingsThe Arcs). O material, gravado de maneira totalmente analógica, é inspirado em artistas com Harry NilssonCaroline King e Blossom Dearie. As faixas são descritas como uma retomada dos sons instrumentais ao vivo encontrados no álbum Sling, com metais, instrumentos de sopro e sintetizadores vintage que conferem maior profundidade. Charm é uma coleção de grooves acolhedores com uma sonoridade influenciada pelos anos 70, transitando habilmente entre R&B (“Juna”), folk psicodélico (“Echo”), jazz (“Terrapin”) e soul (“Slow Dance”), tudo acompanhado pelos vocais etéreos e sentimentais da artista. O álbum evoca recordações com uma sonoridade nostálgica, na qual Clairo explora seus desejos (“Sexy to Someone”) e se entrega ao amor (“Nomad”), disposta a arriscar tudo com a mesma intensidade.

• Coloque para tocar: “Juna”

15. Beth Gibbons
(Lives Outgrown)

Beth Gibbons lança seu álbum solo de estreia, Lives Outgrown, composto por 10 canções inéditas gravadas ao longo de uma década. Produzido pela própria artista em parceria com James Ford (Arctic MonkeysFontaines D.C.) e com produção adicional de Lee Harris (Talk Talk), o registro é considerado a obra mais pessoal e vulnerável de Gibbons. Fruto de um período de introspecção e transformações, suas letras exploram despedidas – de familiares, amigos e de si mesma (“Reaching Out”) – em composições envoltas por uma atmosfera sombria de art folk, com guitarras acústicas dedilhadas, batidas percussivas intensas e arranjos de cordas inquietantes. “Rewind” apresenta-se como um lembrete melancólico da mortalidade, enquanto “Whispering Love” é um apelo para valorizar a vida e as pessoas ao nosso redor. As músicas refletem a perspectiva da meia-idade, quando o futuro parece menos promissor e o passado ganha maior clareza (“Burden of Life”). O álbum também aborda o envelhecimento feminino (“Lost Changes”), com foco especial na maternidade (“Floating on a Moment”) e na menopausa (“Oceans”), explorando seus efeitos no corpo e na mente. A voz sombria da líder do Portishead entrelaça-se a batidas tribais e coros fantasmagóricos, criando uma experiência sonora visceral e profundamente emocional.

• Coloque para tocar: “Reaching Out”

14. Kim Deal
(Nobody Loves You More)

Após uma série de vinis lançados há mais de uma década, a cantora e guitarrista Kim Deal, conhecida por seu trabalho nas bandas The Breeders e Pixies, apresenta seu aguardado álbum de estreia, Nobody Loves You More. Gravado ao longo de vários anos com colaboradores antigos e novos, incluindo Jack Lawrence e Fay Milton, o projeto culmina em sessões lideradas por Steve Albini. A faixa-título é uma balada pop clássica que revela um lado mais vulnerável da artista, com arranjos de cordas exuberantes, ritmos de bossa nova, metais vibrantes e o vocal afetuoso de Deal, que canta sobre um amor incondicional que transcende espaço, circunstâncias e distrações. Com uma sonoridade diversificada, “Coast” mistura um groove no estilo de Blondie com memórias nostálgicas de férias, enquanto “Crystal Breath” traz de volta a intensidade crua de seus primeiros trabalhos, com doses de distorção, batidas pulsantes e riffs difusos. “Are You Mine?”, inspirada no estilo doo-wop, é baseada nas palavras de sua mãe durante os estágios finais do Alzheimer, explorando a desorientação e os laços de amor e maternidade, com versos como “eu não tenho mente / para nada além de amor”“Disobedience” remonta às suas origens no indie rock, assim como “Big Ben Beat”, que é impulsionada por sintetizadores intensos e efeitos vocais. “Summerland” descreve uma jornada noturna cheia de deslumbramento e possibilidades, com um toque de chamber pop dos anos 1950, e “Come Running” traz uma sensibilidade alt-country, com guitarras distorcidas e uma sensação de liberdade intensa e desejo de explorar o impossível. “A Good Time Pushed”, a faixa de encerramento do álbum, se destaca por combinar uma vibração envolvente de pop e rock com guitarras distorcidas, contando com a participação de Jim Macpherson e Kelley Deal, ambos membros do The Breeders, além dos vocais emocionantes de Deal, que celebram o início e o fim de um relacionamento. O resultado é uma obra multifacetada que, com sua sonoridade variada e letras emocionantes, revela uma artista que, após anos de experiência, se entrega à vulnerabilidade e à liberdade criativa, culminando em um projeto que não só revisita suas raízes, mas também explora novos horizontes.

• Coloque para tocar: Crystal Breath

13. Kendrick Lamar
(GNX)

Em GNX, Kendrick Lamar apresenta uma abordagem direta e impactante, diferente de seus trabalhos anteriores. O disco reafirma sua genialidade ao mesclar introspecção, crítica social e inovação sonora. A faixa “wacced out murals”, produzida por Jack Antonoff e Sounwave, mistura uma sonoridade intensa com versos iniciais em espanhol cantados por Deyra Barrera, antes do rapper entrar em cena com suas rimas afiadas, criticando o estado atual do rap e reafirmando sua confiança artística. “squabble up”, com o sample do clássico freestyle “When I Hear Music” de Debbie Deb, reflete resiliência e superação, e “luther”, inspirado no dueto entre Cheryl Lynn e Luther Vandross, celebra o empoderamento ao lado da pessoa amada com vocais de SZA e uma melodia suave. Em “man at the garden”, com piano e batidas metálicas, Lamar aborda sacrifício e conquistas, “hey now” transmite autoconfiança sobre uma produção intensa e “reincarnated”, com sample de Tupac, reflete sobre legado e vidas passadas. “tv off” critica as distrações sociais com um flow agressivo – que remete ao viral “Not Like Us” – e toques orquestrais, enquanto “dodger blue” homenageia a cultura de Los Angeles com uma sonoridade funk dos anos 80. “peekaboo”, com suas batidas 808 e um sample soul, critica a superficialidade da indústria, manifestando sobre rivalidades, como a com Drake, ao mesmo tempo “heart pt. 6” é introspectiva, com versos sobre amigos e memórias da juventude, embalados por guitarra flamenca e sintetizadores. Com  GNX, Kendrick reafirma sua genialidade ao equilibrar introspecção, crítica social e inovação sonora, entregando um álbum diversificado e impactante.

• Coloque para tocar: “luther”

12. The Last Dinner Party
(Prelude to Ecstasy)

A banda londrina de art-rock The Last Dinner Party apresenta seu tão aguardado álbum de estreia, Prelude To Ecstasy, produzido por James Ford (Arctic MonkeysBlur). O grupo traz influências de artistas como Kate BushSiouxsie and the BansheesRoxy MusicFlorence and the MachineDavid Bowie e ABBA, refletidas em canções que transitam entre euforia, raiva, paixão e desilusão – composições que poderiam servir como trilha sonora de uma peça shakespeariana. O álbum se inicia com a faixa-título, um instrumental cinematográfico que prepara o terreno para o rock melodramático de “Burn Alive”, uma homenagem à figura de Joana d’Arc, cheia de referências à sua coragem e sacrifício. Em seguida, destaca-se a euforia teatral de “Caesar on a TV Screen”, onde Abigail Morris canta sobre a experiência de viver como homem e o desejo de ser compreendida. O disco passeia por diferentes atmosferas, do solo de guitarra em “Sinner” à sombria ópera rock “My Lady of Mercy”, passando pela crítica ao patriarcado em “The Feminine Urge”, pela melancolia de “Portrait of a Dead Girl”, que aborda temas de perda e saudade, e pelos vocais poderosos de Morris que se destacam em “On Your Side”. Prelude To Ecstasy é uma jornada musical que atravessa gêneros e séculos, unindo uma sonoridade nostálgica e, ao mesmo tempo, contemporânea. Eclético e coeso, o álbum apresenta cada faixa como uma pincelada em uma obra maior – um retrato de uma banda que não teme explorar todo o espectro da experiência humana.

• Coloque para tocar: “Caesar on a TV Screen”

11. The Cure
(Songs Of A Lost World)

Songs Of A Lost World, o aguardado retorno do The Cure após 16 anos, vai além da nostalgia, mergulhando nos aspectos sombrios da existência sob a visão de Robert Smith. Com oito faixas, o álbum aborda temas como isolamento, efemeridade, mortalidade e luto pela perda de entes queridos, proporcionando uma experiência surpreendentemente renovada. A faixa de abertura, a épica “Alone”, com sua longa introdução instrumental de tom fúnebre, teclados suaves, sintetizadores atmosféricos, percussão minimalista e as guitarras características da banda, cria um clima melancólico, junto a voz de Smith que reflete sobre a sensação de perda e o fim de um ciclo. “And Nothing Is Forever” traz acordes delicados de piano e cordas envolventes, tratando do amor e da nostalgia, remetendo a momentos da juventude. “A Fragile Thing” começa com uma melodia suave de piano e batidas delicadas, que ganham intensidade com o baixo e os vocais de Smith, explorando solidão e arrependimento. “I Can Never Say Goodbye” é uma homenagem ao seu irmão falecido, com letras repletas de vulnerabilidade, enquanto a intensa “Warsong” aborda relacionamentos desgastados, refletindo sobre a natureza humana. “Endsong”, com seus dez minutos de duração, encerra o álbum de maneira emotiva, iniciando com sintetizadores atmosféricos, bateria eletrônica e guitarras reverberantes, dando espaço à voz marcante de Smith em versos sobre morte e envelhecimento, oferecendo uma reflexão profunda. Com a produção sombria de Smith e Paul Corkett, a bateria de Jason Cooper, o baixo de Simon Gallup e as texturas de guitarra de Gabrels, Songs Of A Lost World cria uma atmosfera opaca e comovente, em sintonia com a temática do álbum, e abre caminho para um novo capítulo que se espera (possivelmente) para o próximo ano.

• Coloque para tocar: “A Fragile Thing”

10. Okay Kaya
(Oh My God – That’s So Me)

A cantora, compositora, produtora e atriz norueguesa Kaya Wilkins (a.k.a. Okay Kaya) possui uma habilidade única de unir a beleza à banalidade do cotidiano em suas composições. No álbum Oh My God – That’s So Me, ela aprofunda a abordagem introspectiva já presente em SAP (2022), assumindo grande parte da composição e produção de forma solo, frequentemente em isolamento, após se mudar para uma ilha no ano passado. Influenciada pela força emocional da solitude, Kaya captura expectativas, sentimentos, medos existenciais e realidades pouco glamorosas em músicas delicadas e impactantes, transitando de forma natural entre pop, rock, folk, neo soul e disco. “The Wannabe” expressa um desejo profundo de reconexão com si mesma e com as sensações físicas. “Undulation Days” é uma balada meditativa com notas minimalistas de piano e a doce voz de Wilkins, abordando temas como fertilidade, desejos e as complexidades da vida. “Check Your Face” brinca com suas ansiedades, mesclando uma energia nervosa ao anseio de reencontrar estabilidade e paz interior. Por outro lado, “And I Have a Blessed Life” explora a discrepância entre a aparência de uma vida perfeita e os sentimentos de desilusão, enquanto “Spacegirl (Shirley’s)” narra as descobertas pessoais que surgem ao desobedecer advertências maternas. Na faixa final, “The Art of Poetry”, Wilkins vive um momento de autocompreensão profundo e reconfortante, sintetizado na frase repetida que dá nome ao álbum: “oh meu Deus – isso é tão eu”.

• Coloque para tocar: “And I Have a Blessed Life”

09. Kali Uchis
(ORQUÍDEAS)

O álbum ORQUÍDEAS, nomeado em homenagem à flor nacional da Colômbia, é uma celebração das raízes ancestrais de Kali Uchis. O projeto abrange uma diversidade de gêneros latinos, como dembow, bolero, salsa e reggaeton, sendo o mais ambicioso em termos sonoros até agora, ao explorar elementos influenciados pelo dance dos anos 90 (“¿Cómo Así?”), disco (“Pensamientos Intrusivos” e “Igual Que Un Ángel” com Peso Pluma) e balada synth soul (“Perdiste”). Ao longo do registro, Uchis permanece em sua zona de conforto, trazendo sintetizadores brilhantes, linhas de baixo cativantes e uma atmosfera sedutora em seu vocal soul, presentes em faixas como “Igual Que Un Ángel” e “Heladito”, além de abraçar sua feminilidade divina na poderosa “Diosa”. Com participações especiais do rapper dominicano El Alfa e JT, das City Girls, na faixa de dembow “Muñekita”, a artista celebra a autoconfiança e a sensualidade feminina, apresentando uma mulher que não tem medo de expressar seus desejos. Na colaboração com KAROL G, no regaetoon “Labios Mordidos”, as artistas se mostram mulheres de atitude confiante e poderosa, destacando a habilidade de atrair todos ao seu redor. Revisitando também a faixa “No Hay Ley”, agora com Rauw Alejandro, o álbum reforça temas de autoconfiança e empoderamento. No bolero “Te Mata”, Uchis explora a temática de abandonar um relacionamento tóxico, marcado pela negligência constante. ORQUÍDEAS é um álbum tematicamente otimista, romântico e sedutor, apresentando uma rica variedade de ritmos que celebram tanto as raízes latinas quanto a versatilidade artística de Kali Uchis.

• Coloque para tocar: “Pensamientos Intrusivos”

08. Allie X
(Girl With No Face)

O quarto álbum de Allie X é uma ousada exploração de sua identidade. Trata-se de uma jornada intensa pela mente de uma artista que passou três anos em isolamento, rejeitando qualquer interferência externa enquanto assumia, pela primeira vez em sua carreira, os papéis de produtora, compositora e voz criativa solitária. O álbum retrata uma luta feroz por poder e controle – criativo, profissional, mental e físico. Inspirado pela tecnologia e pelo hedonismo da cena new wave dos anos 80, as músicas de Girl With No Face têm uma atmosfera gótica e retrô, mas são modernas em seu conteúdo: imprevisíveis e dançantes. Em vez de seguir tendências, a artista abraçou suas próprias preferências, buscando um som mais cru e direto, apresentando um ritmo mais acelerado e uma aura ameaçadora. “Weird World” é uma faixa pop sombria e agitada – que soa como uma versão gótica de “Holding Out for a Hero” de Bonnie Tyler – com sintetizadores astutos e batidas pulsantes inspiradas nos anos 80, acompanhados pelo humor irônico característico da artista. Na faixa-título, uma atmosfera aterrorizante é construída com riffs volumosos de guitarra, sintetizadores sombrios e vocais sedutores e dramáticos de Allie X, que detalham a personagem misteriosa e intrigante do álbum. “Black Eye”, com sua eletrônica que soa como uma fusão de “Blue Monday” do New Order com Kate Bush, fala sobre enfrentar desafios e adversidades, mantendo a coragem e a determinação. Já “Galina”, uma peça caótica e cheia de energia, com sintetizadores cintilantes, manifesta a dor de estar sem apoio após ser deixada para trás. A autodepreciação e o humor ácido suavizam o tom agressivo, especialmente em faixas como “You Slept on Me”, que poderia estar no repertório de The Weeknd, e “Off With Her Tits”, onde a artista aborda a luta com a própria imagem corporal, expressando o desejo de se libertar dos padrões impostos. No geral, o registro é uma obra que desafia convenções, mergulha profundamente na singularidade de Allie e entrega um som legítimo e envolvente.

• Coloque para tocar: “Off With Her Tits”

07. Magdalena Bay
(Imaginal Disk)

O duo de eletropop Magdalena Bay, formado por Mica Tenenbaum e Matthew Lewin, apresenta o álbum Imaginal Disk, sucessor de sua estreia Mercurial World. O trabalho traz uma narrativa de fundo, visível nos videoclipes, que gira em torno de uma personagem chamada True, explorando o significado de ser humano após receber uma atualização de consciência, representada por um disco implantado em sua testa. Com os vocais etéreos de Tenenbaum, sintetizadores espaciais, psicodelia pop dos anos 60/70 e influências de new age, a dupla cria uma jornada divertida e introspectiva em um cenário de ficção científica, que aborda autodescoberta (“Image”) e reflexão (“She Looked Like Me!”). “That’s My Floor” combina elementos retrô e futuristas, com uma eletrônica marcada por sintetizadores instáveis, um baixo grunge ruidoso e guitarras distorcidas que remetem a St. Vincent, expressando o anseio por escapar da monotonia e buscar novas experiências. Já “Love Is Everywhere” e “Killing Time” demonstram a versatilidade da banda, misturando pop, disco e prog rock com um toque experimental e maximalista. “Tunnel Vision” inicia como uma balada com sintetizadores caleidoscópicos, cordas arpejadas que lembram uma melodia de ninar e os vocais delicados de Tenenbaum, evoluindo para um synthrock agressivo. Interlúdios como “True Blue Interlude” e “Feeling DiskInserted?” conectam o ouvinte ao universo visionário da obra. Imaginal Disk é um álbum de pop conceitual e moderno que olha para o passado enquanto imagina um futuro incerto, repleto de questões existenciais frente à inteligência artificial e suas complexidades.

• Coloque para tocar: “Tunnel Vision”

06. Nathy Peluso
(GRASA)

A cantora e compositora argentina Nathy Peluso lança o álbum GRASA, sucessor do aclamado Calambre, inspirando-se em clássicos do cinema de máfia, como ‘O Poderoso Chefão’ e ‘Scarface’. No trabalho, a artista continua a demonstrar sua ousadia e versatilidade, incorporando elementos urbanos e explorando diferentes estilos musicais. Em “APRENDER A AMAR”, Peluso traz versos furiosos de rap sobre amor-próprio e desejo de revolução; no hip hop de “MANHATTAN”, com participação de seu conterrâneo Duki, aborda ambição e rejeição às críticas externas; já em “TODO ROTO”, com CA7RIEL & Paco Amoroso, celebra a força e a resiliência em meio às adversidades através do trap. A salsa marca presença em “LA PRESA”, onde a prisão é usada como metáfora para escapar de um relacionamento tóxico, enquanto o funk carioca ganha destaque em “MENINA”, com a brasileira Lua de Santana, exaltando a recusa em ceder às pressões sociais ou se arrepender dos próprios desejos. O álbum também apresenta baladas etéreas e introspectivas, como “EL DÍA QUE PERDÍ MI JUVENTUD”, com participação de Blood Orange. As letras transbordam poder e autoridade, abordando seus detratores e os desafios diários que enfrenta. Com GRASA, Nathy Peluso reafirma sua força como artista, enfrentando sem medo as dificuldades do crescimento pessoal e as crises criativas que vieram junto com a fama.

• Coloque para tocar: “EL DÍA QUE PERDÍ MI JUVENTUD”

05. Tyler, the Creator
(CHROMAKOPIA)

Tyler, the Creator lança seu sétimo álbum de estúdio, CHROMAKOPIA, marcando seu retorno após três anos desde CALL ME IF YOU GET LOST (2021). Com 14 faixas, o álbum desafiou convenções da indústria ao ser lançado em uma segunda-feira, trazendo colaborações de artistas como Daniel Caesar, Willow Smith, Donald Glover, Solange e Lil Wayne. Possivelmente inspirado em Chroma the Great, maestro do clássico infantil The Phantom Tollbooth, de Norton Juster, que cria cores com sua orquestra, a estética monocromática reflete uma jornada de autenticidade e evolução artística. CHROMAKOPIA mantém Tyler conectado às suas raízes no rap, mas amplia sua sonoridade com samples obscuros e minuciosidades musicais que potencializam sua evolução como artista. Faixas como “St. Chroma” e “Rah Tah Tah”, com uma sonoridade ameaçadora e rimas agressivas, exploram temas de autoaceitação e tensões entre persona pública e privada, enquanto “Noid” aborda a fama e a sensação sufocante de paranoia, com um sample de “Nizakupanga Ngzo” da banda zambiana Ngozi Family. Momentos como “Darling, I” e “Tomorrow” revelam vulnerabilidade e introspecção, enquanto “I Killed You” e “Take Your Mask Off” abordam a libertação de pressões externas e a busca por autenticidade. “Balloon”, com um sample de “I Wanna Rock” de Luke, é um dos momentos mais pop do disco e apresenta um momento de reflexão sobre vulnerabilidade, autoconhecimento e crescimento pessoal, com versos adicionais de Doechii. Por fim, “I Hope You Find Your Way Home” é uma reflexão sobre desafios pessoais e críticas à superficialidade da indústria. Em CHROMAKOPIA, Tyler mergulha em seus medos e inseguranças, apresentando um trabalho sincero e transformador.

• Coloque para tocar: “Balloon”

04. Dolores Forever
(It’s Nothing)

O duo Dolores Forever, formado pelas amigas Hannah Wilson e Julia Fabrin, lança seu enérgico e poderoso álbum de estreia, It’s Nothing. Descrito como “um disco de indie pop impactante sobre feminismo, amizade e como enfrentar um mundo caótico”, o álbum reflete esse espírito em faixas marcadas por sintetizadores vibrantes, guitarras intensas e os vocais empoderados e genuínos das artistas. O pop luminoso de “Go Fast Go Slow” explora a raiva feminina e a frustração de serem objetificadas, limitadas e definidas pelo gênero, enquanto “Rotten Peaches” narra a ansiedade e a busca por autoconfiança. A faixa “Not Now Kids” satiriza políticos paternalistas que se julgam superiores, criticando a desconexão entre líderes e a população. Em “Concrete”, as artistas cantam com ferocidade sobre a manipulação que as faz duvidar de suas próprias realidades, entregando um elegante “foda-se” ao gaslighting. Já “Split Lip” é uma balada honesta que celebra seus instintos protetores como amigas. Por fim, “Why Are You Not Scared Yet?” emerge como um hino urgente, oferecendo uma visão sombria da vida e da sociedade ao abordar temas como traição, falta de comunicação, morte, superficialidade e o descaso com o futuro. Com letras cheias de ironia e uma sonoridade pop fascinante, It’s Nothing é um grito de liberdade para um universo de garotas determinadas a viver o presente, ignorando regras impostas (“Stop Making It Worse”) ou preocupações com o futuro (“Someday Best”).

• Coloque para tocar: “Why Are You Not Scared Yet?”

03. Nilüfer Yanya
(My Method Actor)

Durante o processo de criação do My Method Actor, a britânica Nilüfer Yanya se isolou no estúdio ao lado de seu parceiro criativo Wilma Archer (Sudan Archives, MF Doom), após um ano de turnê com seu segundo álbum, PAINLESS. As músicas surgiram de formas inesperadas, ajudando Yanya a compreender as transformações em sua vida enquanto atravessa a entrada na casa dos trinta anos com um sentimento de incertezas (“Keep On Dancing”). O trabalho destaca a habilidade da artista em transitar por gêneros como rock alternativo, jazz, soul e eletrônico, complementados por sua composição pessoal e vulnerável, ao explorar as complexidades da vida e dos relacionamentos (“Call It Love”) com um tom introspectivo e melancólico. Do indie rock melódico com espírito dos anos 90 em Like I Say (I runaway)”, passando pelas guitarras distorcidas e ritmos ao estilo Radiohead de “Method Actor” até o charme libertador de folk e pop lo-fi com violão sedutor de “Just A Western”, os vocais roucos de Nilüfer reverberam ao compartilhar momentos de transição e a tentativa de encontrar respostas (como em “Mutations”, com guitarras à la The Strokes envoltas em uma atmosfera de trip hop). “Made Out Of Memory”, uma faixa cativante que aborda frustrações e desilusões em um mundo moldado por memórias e expectativas não correspondidas, reflete o talento de composição de Nilüfer e sua habilidade em transformar suas angústias diante do incerto em arte. O resultado é um álbum introspectivo e multifacetado que traduz as inquietações emocionais de uma artista em evolução em uma experiência musical rica e universal.

• Coloque para tocar: “Like I Say (I runaway)”

02. Beyoncé
(COWBOY CARTER)

Em COWBOY CARTER, Beyoncé dá continuidade à sua exploração (e resgate) de gêneros tradicionalmente pouco associados a artistas negros. Após celebrar a dance music e a house music em RENAISSANCE, este segundo ato de sua trilogia marca sua incursão no universo da música country. O álbum reafirma suas raízes sulistas, desafiando as normas da indústria com um manifesto que reivindica e homenageia o legado das pessoas negras no country. Por meio de faixas como “TEXAS HOLD ‘EM”, um country pop festivo que se revela uma carta de amor ao sul e às raízes da cantora, ela se torna a primeira mulher negra a alcançar o topo das paradas country nos EUA. Colaborações com lendas como Willie Nelson, Linda Martell (artista negra que se destacou na cena country nos anos 1970 com o lançamento de seu álbum Color Me Country”) e Dolly Parton (que menciona a rivalidade com a “Becky with the good hair”, em “DOLLY P”, antes da versão ousada do clássico “JOLENE”) trazem ainda mais profundidade ao registro. Essas colaborações, junto com referências à sua própria história, ampliam o impacto da obra. O álbum desafia rótulos e explora a história da música negra americana, misturando gêneros como rock, R&B, gospel, trap e folk, com momentos que vão desde baladas emocionantes, como “16 CARRIAGES”, até ritmos dançantes, incluindo um sample de funk carioca em “SPAGHETTII” (com sample de “Aquecimento das Danadas” do DJ O Mandrake). “YA YA”, com o sample de “These Boots Are Made for Walkin'” e interpolação de “Good Vibrations”, do Beach Boys, traz uma ousadia rock soul de Tina Turner, homenageando os artistas negros do Chitlin Circuit (uma rede informal de locais de entretenimento nos EUA que, entre as décadas de 1930 e 1960, oferecia espaços seguros para artistas afro-americanos se apresentarem durante a era das leis de Jim Crow). A interpolação de “I Fall to Pieces”, clássico de Patsy Cline e uma das primeiras artistas de country a transitar para o pop, ganha destaque na abertura de “SWEET ★ HONEY ★ BUCKIIN’”, um número frenético e autoconfiante em três partes ao lado de Shaboozey e Pharrell Williams, além de um cover de “BLACKBIIRD”, canção dos Beatles inspirada pelo estado infeliz das relações raciais nos EUA na década de 1960. O disco ainda conta com colaborações de artistas que também experimentaram o country em suas carreiras, como Miley Cyrus em “II MOST WANTED” e Post Malone em “LEVIIS JEANS”. COWBOY CARTER é uma ousada afirmação de identidade e legado, sinalizando a evolução contínua de Beyoncé – que, no passado, respondeu a uma série de críticas no meio country – como uma das grandes artistas da música. “Este não é um álbum country. Este é um álbum de Beyoncé”, já diria a própria.

• Coloque para tocar: “YA YA”

01. Charli XCX
(BRAT)

BRAT, sexto álbum de estúdio da inglesa Charli XCX, é uma montanha-russa sonora, alternando entre faixas vertiginosas e baladas introspectivas. O disco é moldado nos trabalhos anteriores da artista, com seu synthpop distorcido e hyperpop bombástico, mas com um retorno às raízes das raves do Reino Unido. Nas letras, Charli revela uma identidade mais madura, abordando os perigos da fama e as inseguranças da indústria em “Rewind”, pensamentos sombrios e a luta por controle e paz em meio a uma tempestade emocional em “Sympathy is a knife”, e preocupações e reflexões sobre o futuro em em “I think about it all the time”. Em “Club classics” ela detalha a empolgação de uma noite de balada, embalando o ouvinte ao som de uma batida rave, ao celebrar seus ídolos e amigos (A.G. CookSOPHIE e Hudson Mohawke). Na eletroclash “Von dutch”, Charli reconhece ser o centro das atenções, enquanto “Talk talk” e “Apple” resgatam suas origens no eletropop. “Everything is romantic” começa com cordas cinematográficas e versos acelerados antes de ser impulsionada por uma fusão de funk brasileiro e elementos industriais. “B2b” mergulha no hard techno e acid house, explorando a complexidade emocional de deixar para trás um relacionamento passado. Já “So I” é uma balada pulsante e devastadora, que entrelaça a faixa “It’s Okay to Cry” de SOPHIE, em uma homenagem carregada de arrependimento e saudade à amiga e colaboradora falecida em 2021. BRAT é um testamento da influência de Charli XCX na música pop da nossa geração, reafirmando sua sonoridade única e seu papel como uma das artistas mais inovadoras da atualidade.

• Coloque para tocar: “Von dutch”

Playlist com as faixas selecionadas de cada disco.